Campanha
Global contra Epilepsia
Liga Internacional contra Epilepsia / Comitê Internacional
para Epilepsia / Organização Mundial de Saúde
Hanneke
M.,de Boer e L.L. Prilipko (MD)
Tradução: Leonardo Bonilha
Epilepsia
é a doença cerebral mais comum e um problema global,
acometendo pessoas de todas as idades, raças, classes sociais
e países. Isto implica em enorme carga física, psicológica,
social e econômica tanto para os indivíduos portadores
da doença como para as famílias e nações,
principalmente devido aos maus entendidos, medo e estigma. Esses
problemas são universais, porém mais intensos em países
em desenvolvimento, onde vivem 85% dos cinqüenta milhões
de pacientes com epilepsia e onde até 90% ou mais não
recebe diagnóstico ou tratamento.
A Campanha
Global contra Epilepsia - "Fora das Sombras" - é
uma iniciativa conjunta da Liga Internacional contra Epilepsia (ILAE),
do Comitê Internacional para Epilepsia (IBE) e da Organização
Mundial de Saúde (WHO). Cada uma das organizações
envolvidas tentou, no passado, promover alguma modificação,
mas nenhuma de fato foi bem sucedida. O lema oficial da Campanha
é: "Melhorar a aceitação, diagnóstico,
tratamento, serviços e prevenção de epilepsia
em todo o mundo". Afinal de contas, 70-80% das pessoas com
epilepsia poderiam levar vidas normais se tratadas corretamente.
Os
objetivos da Campanha são:
- Aumentar a consciência pública e profissional de
epilepsia como doença do cérebro universal e tratável
- Elevar a epilepsia a um novo nível de aceitação
no domínio público
- Promover educação pública e profissional
sobre epilepsia
- Identificar as necessidades das pessoas com epilepsia nos âmbitos
regional e nacional
- Encorajar governos e departamentos de saúde a contemplar
as necessidades das pessoas com epilepsia, incluindo consciência,
educação, diagnóstico, tratamento, cuidados,
serviços e prevenção.
A Campanha
inclui componentes internacionais, regionais e nacionais, os quais
estão inter-relacionados.
A
estratégia
A estratégia da Campanha inclui duas vias paralelas e simultâneas.
A primeira, promove uma plataforma para consciência e compreensão
geral de epilepsia ao organizar:
- lançamento da segunda fase da Campanha no ano de 2001
- conferências regionais sobre Aspectos de Saúde Pública
E dentro
da segunda via, a Campanha assistirá departamentos de saúde
a identificar as necessidades e promover educação,
treinamento, serviços, pesquisa e prevenção
ao:
- fornecer informação e suporte para iniciativas nacionais
- iniciar Projetos de Demonstração
Durante
o estágio inicial, a estratégia da Campanha foi essencialmente
focalizada em atividades jurídicas e de conscientização,
o que é claro pelas atividades que ocorreram nesta fase.
A experiência do estágio inicial da Campanha, no entanto,
criou a base para a sugestão do lançamento da segunda
fase da Campanha com objetivos novos e mais ambiciosos: melhorar
os serviços de saúde, tratamento, prevenção
e aceitação social de epilepsia em todo o mundo.
As
principais atividades para a obtenção desses objetivos
são o início e a implementação de Projetos
Demonstrativos em alguns de países selecionados.
Atividades
Globais
Lançamento - No dia 12 de Fevereiro de 2001, o lançamento
da segunda fase da Campanha CGCE ocorreu na sede da OMS em Genebra,
com participação ativa do Diretor-Geral da OMS, Dr.
Gro Harlem Brundtland, do Diretor Executivo do aglomerado da OMS
de Doenças Não-Transmissíveis e Saúde
Mental, Dr. Derek Yach, e do Diretor do Departmento de Saúde
Mental e Dependência Química, Dr. Benedetto Saraceno.
Além desses, membros da equipe senior da OMS de vários
aglomerados e departamentos relacionados à CGCE estavam participando,
assim como os assessores regionais em Saúde Mental de todos
os seis escritórios regionais da OMS; John Bowis, MEP (Membro
do Parlamento Europeu), representando governos nacionais e o Parlamento
Europeu e ambos os Comitês Executivos da IBE e ILAE.
Estavam
ainda representados:
- 13 membros nacionais de missões da OMS
- 24 organizações nacionais membros da IBE/ILAE
- Quatro ONGs nacionais em neurologia/neurociência
- 17 representantes do setor privado
Uma
conferência de imprensa ocorreu e propiciou à Campanha
tempo em rádio e TV em todo o país, assim como espaço
na mídia impressa.
Recursos
nacionais para epilepsia - Um questionário sobre recursos
nacionais para epilepsia foi desenvolvido por um grupo de especialistas
com o objetivo de mapear os recursos para epilepsia em todo o mundo.
Esse questionário foi enviado para todos os membros nacionais
da OMS e todos foram convidados a completá-lo. Atualmente
os dados estão sendo avaliados no escritório da IBE
em Heemstede.
Sessões
e aulas em conferências internacionais - A Campanha segue
uma política ativa no que diz respeito à participação
em conferências e congressos. Acredita-se que a criação
e o incremento de consciência nunca termina e, de fato, é
essencial para a Campanha ser conhecida pelo maior número
possível de pessoas envolvidas com os cuidados de epilepsia,
bem como o maior número possível de pessoas conscientes
acerca dos problemas que envolvem epilepsia, assim como falta de
tratamento adequado.
Desde
o início, várias sessões sobre a Campanha foram
organizadas em congressos regionais, nacionais e internacionais.
Várias apresentações envolvendo o secretariado
da CGCE foram realizadas, em uma variedade de congressos sobre epilepsia
ou relacionados à neurologia nacionais, regionais e internacionais.
Informaçõs
sobre a Campanha podem ser obtidas em várias fontes:
- Boletin
em Saúde Mental OMS
- Ambos os sites da ILAE
e da IBE
- Site da OMS
Publicações
- Mais de 40 artigos foram publicados sobre a Campanha em si
ou sobre a Campanha ao redor do mundo enquanto vários artigos
apareceram em jornais dos membros nacionais da IBE/ILAE. Vários
outros artigos estão em confecção.
Atividades Nacionais e Regionais
A Campanha Global provê uma rede para ação orquestrada
em nível regional, nacional e internacional para trazer a
epilepsia para "fora das sombras". Essas atividades provam
mais uma vez a importância de parcerias: a parceria entre
a ILAE, a IBE e a OMS; a parceria entre os escritórios regionais
da OMS com as comissões regionais da IBE/ILAE; entre os escritórios
locais da OMS e os membros regionais da IBE/ILAE; e ainda as parcerias
com outras ONGS em neurologia e neurociência, com o governo,
provedores de saúde e setor privado.
Os
principais atuantes da Campanha Global são os representantes
locais da IBE/ILAE, e o escritório regional da OMS, que sabem
melhor dos problemas regionais, necessidades e soluções
para pessoas com epilepsia em seus próprios países.
Atividades
em vários países que estão participando da
Campanha variam da tradução da materiais, organização
de campanhas em posters e até discussão com ministros
da Saúde que, em numerosas ocasiões, se envolveram
e iniciaram atividades em seus próprios países. Há
também campanhas na mídia.
Regionais
(EURO, AFRO, AMRO, WPRO, SEARO) - Em cinco de seis regiões
da OMS, atividades regionais foram organizadas em relação
à epilepsia e à Campanha. Atividades na sexta região
(Escritório Regional do Leste Mediterrâneo) estão
previstas para iniciarem este ano.
Europa
- Lançamento do Livro Branco sobre Epilepsia. Seguindo
recomendação da Declaração Européia
sobre Epilepsia, o Manuscrito Branco sobre Epilepsia foi desenvolvido
pela European Concerted Action and Research in Epilepsy (EUCARE)
em parceria com a IBE e a ILAE, em apoio à Campanha Global.
O lançamento ocorreu no Parlamento Europeu em Bruxelas, Bélgica,
em 22 de março de 2001. Um Livro Branco pode ser definido
como uma declaração sobre um tópico em especial,
com recomendações para ações políticas;
é uma ferramenta que pode ser usada para a aproximação
com governos, profissionais de saúde e provedores de saúde.
O Livro identifica os problemas mais importantes para as pessoas
com a doença e define a forma pela qual o governo pode melhor
alocar recursos de maneira a reduzir o peso da epilepsia para a
sociedade.
África
- Uma reunião consultiva sobre a Implementação
da CGCE na região africana foi realizada pela Escritório
Regional da OMS na África (AFRO), em colaboração
com o Secretariado da Campanha, em Harare, Zimbabwe, em junho de
2001. O objetivo principal foi facilitar a implementação
da Campanha Global contra Epilepsia (CGCE) OMS/ILAE/IBE nos países
da região africana.
Américas
- Um encontro de pesquisadores, a respeito da implementação
de um Projeto Demonstrativo na Argentina foi realizado pelo Escritório
Regional da OMS nas Américas (AMRO/PAHO) em colaboração
com o Secretariado da Campanha, em Buenos Aires, Argentina, em julho
de 2001. O objetivo do encontro foi discutir o prospecto o progresso
do Projeto Demonstrativo na Argentina.
Região
Pacífico Oeste - Uma reunião de Consultoria em
Epilepsia foi realizada pelo Escritório Regional da OMS no
Pacífico Oeste (WPRO) em colaboração com o
Secretariado da Campanha, em Manila, Filipinas, em novembro de 2001.
Os objetivos principais foram revisar a situação atual
da epilepsia na região, discutir um esboço de uma
Declaração Regional sobre Epilepsia, revisar a implementação
da CGCE na Região, desenvolver uma rede de ação
para os países da Região.
Região
do Sudeste Asiático - Uma Consulta Interpaíses
sobre o Desenvolvimento de Estratégia para Serviços
Neuropsiquiátricos baseada na Comunidade foi organizada pelo
Escritório Regional do Sudeste Asiático da OMS (SEARO)
em Bangkok, Tailândia, em novembro de 2001. Os objetivos desse
encontro foram: revisar as experiências dos países
participantes em serviços neurológicos e psiquiátricos
baseados na comunidade, para doenças prioritárias,
desenvolver uma estratégia ampla para a implementação
de serviços neurológicos e psiquiátricos baseados
na comunidade, desenvolver guias para teste piloto das estratégias
em países selecionados.
Projetos Demonstrativos
As atividades principais para atingir os objetivos da Campanha são
o início e a implementação de Projetos Demonstrativos
em alguns países selecionados. Seguindo os planos de ação
da Campanha e as recomendações do Gabinete da OMS,
esses Projetos Demonstrativos servem de modelo para a redução
na defasagem de tratamento e no estigma, e melhoria na educação,
treinamento, oferta de cuidados de saúde e promoção
de prevenção. Eles proporcionam assistência
dos Departamentos de Saúde no desenvolvimento de programas
nacionais em epilepsia.
Os
objetivos dos projetos demonstrativos são:
- Reduzir a defasagem no tratamento e a morbidade física
e social das pessoas sofrendo de epilepsia, através de intervenção
em nível comunitário.
- Treinar e educar profissionais de saúde
- Dissipar estigma e promover atitudes positivas com relação
a pessoas com epilepsia na comunidade
- Identificar e avaliar o potential para prevenção
- Desenvolver modelo para promoção de controle de
epilepsia em todo o mundo e integrá-lo nos sistemas de saúde
dos países participantes
Durante
a primeira fase desses Projetos, dentre outros, a prevalência
de epilepsia e o tamanho da defasagem no tratamento serão
mensurados. Os primeiros resultados de avaliações
provêm da República Popular da China (PRC) e mostram
números reais ao invés das previsões iniciais.
No passado, a prevalência de epilepsia foi estimada em aproximadamente
4.4/1.000 e a partir desses números foi estimado que haveria
cerca de cinco milhões de pessoas com epilepsia no país.
No entanto, as estimativas sobre o número de pessoas com
epilepsia na PRC aumenta para 9.000.000 uma vez que a prevalência
durante a vida foi descoberta ser 7/1.000.
De
grande preocupação são os números acerca
da defasagem no tratamento. Era previamente estimado que, na PRC,
50% das pessoas com epilepsia não recebiam tratamento. A
pesquisa realizada pelo Projeto demonstrou que, no entanto, a defasagem
no tratamento é de fato 2,6%. Em vista das experiências
desse estudo, a prevalência mundial da epilepsia e a defasagem
no seu tratamento podem ser imensamente subestimadas.
Hanneke
M.,de Boer é Chairperson of the GCAE Secretariat e
L.L. Prilipko (MD) é do Department of Mental Health and
Substance Dependence, Organização Mundial da Saúde
em Genebra, Suíça
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