Tratamento
na rede básica receberá investimentos
A descentralização
do atendimento aos portadores de epilepsia pode ser a alternativa
para controlar a epilepsia, comum a 1,5% da população
brasileira. Para que a condição possa ser diagnosticada
e tratada na rede básica de saúde, o governo deverá
investir na capacitação dos profissionais. O Ministério
da Saúde está elaborando um programa que será
aplicado a essas equipes.
"A
epilepsia tem tratamento e prevenção eficazes, daí
a necessidade de ampliar o atendimento, deslocando-o dos serviços
especializados para a rede básica. Como o diagnóstico
da epilepsia é essencialmente clínico, é necessária
a capacitação das equipes da rede básica de
modo a poderem identificar e atender os casos", afirma Pedro
Delgado, coordenador da Área de Saúde Mental da Assessoria
Técnica da Secretaria de Assistência à Saúde
(ASTEC/SAS), do Ministério da Saúde.
Pela
política do governo, o diagnóstico e o tratamento,
que inclui a distribuição de medicamentos, deverão
ser realizados pelos centros de saúde da rede básica.
Já os exames complementares (eletroencefalograma e ressonância
magnética) só estarão disponíveis em
unidades de referência, localizadas em municípios maiores.
O tratamento
preferencial para a epilepsia é o medicamentoso. O uso das
drogas anticonvulsivas é eficaz em 70% a 80% dos casos. O
Ministério da Saúde repassa recursos para os estados
ou municípios para aquisição dos medicamentos.
Embora não mencione cifras, Delgado garante que os recursos
destinados à medicação são regulares
e suficientes.
O coordenador
da Área de Saúde Mental admite, no entanto, a ocorrência
de alguns casos de falta de medicamentos na rede pública.
"Pode haver problemas de distribuição, que vão
sendo aos poucos corrigidos. A questão não é
o medicamento, mas o diagnóstico e tratamento adequados",
diz ele.
A Relação
Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename),
elaborada pelo Ministério da Saúde para servir de
base para a lista de remédios das secretarias estaduais e
municipais, sugere a distribuição das seguintes drogas:
fenitoína, fenobarbital, carbamazepina, ácido valpróico,
carbamazepina e clonazepam.
Os
medicamentos distribuídos gratuitamente pelos governos estaduais
são os de uso mais comum e os mais baratos comercialmente.
A carbamazepina (que tem o nome comercial de Tegretol) é
um dos mais usados no mundo para controlar crises parciais de epilepsia.
No Brasil, movimenta US$ 23 milhões/ano, com a venda de seis
milhões de unidades. O preço do produto comercial
é R$ 8,29. Os laboratórios Biosintética, Eurofarma
e Knoll produzem genérico com este princípio ativo.
O preço médio do genérico é de R$ 6,95.
Já
o fenobarbital e a fenitoína, por terem preços baixos
no comércio, não são produzidos como genéricos
pelos laboratórios particulares. As marcas, Gardenal (fenobarbital)
e Hidantal (fenitoína) são vendidas, respectivamente,
por R$ 2,81 e R$ 4,07. O lançamento mais recente do laboratório
Biosintética é o Gabapentina, que não está
entre os distribuídos pelo governo. O produto comercial,
Neurotin, vende cerca de 116 mil unidades por ano no Brasil, movimentando
aproximadamente US$ 2,5 milhões, segundo dados da Biosintética.
O medicamento de marca custa R$ 60,40, enquanto o genérico
sai por R$ 41,53.
Opção
pela cirurgia
Para
os pacientes com epilepsia refratária às drogas anticonvulsivas
(20% a 30% dos casos), o tratamento indicado é o cirúrgico.
Dependendo do tipo de epilepsia, a cirurgia pode ser bem sucedida
em até 80% desses pacientes.
A cirurgia
se desenvolveu, principalmente, a partir dos anos 80 com o avanço
da tecnologia nos exames de imagens. A ressonância magnética
estrutural e a funcional (SPECT), além do monitoramento em
vídeo, permitem fazer um diagnóstico exato do foco
epiléptico.
Os
pacientes, durante a avaliação médica, são
monitorados 24 horas por dia. Os exames realizados durante as crises
fornecem informações para que se estabeleça
qual a provável área cerebral em que se originam as
crises epilépticas.
Na
vídeo-eletroencefalografia (vídeo-EEG) é feito
o registro simultâneo das crises e do eletroencefalograma.
A ressonância magnética permite diagnosticar a presença
de lesões no cérebro que possam estar causando as
crises. Com o SPECT cerebral, examina-se o fluxo de sangue no cérebro
que na hora da crise pode estar aumentado e fora da crise, ao contrário,
pode estar normal ou diminuído.
Associado
aos exames, o paciente passa por testes neuropsicológicos,
através dos quais são avaliadas as funções
cerebrais, as anormalidades ou disfunções cerebrais,
permitindo sugerir quais as áreas envolvidas na geração
das crises.
Somente
após esses exames é possível afirmar se há
um único foco que gera as crises epilépticas, e principalmente,
se é possível sua remoção sem causar
prejuízo para outras funções cerebrais. A cirurgia
só é realizada se a epilepsia for localizada (focal),
não sendo realizada quando a doença é generalizada
no cérebro (multifocal). Como em qualquer outra doença,
os médicos só optam pela cirurgia quando a expectativa
de benefícios supera, em muito, os riscos.
Embora
não haja uma idade determinada para a cirurgia, a tendência
mundial é de se operar precocemente o portador de epilepsia.
De acordo com o diretor do Centro de Cirurgia de Epilepsia (Cirep)
do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto, Américo Sakamoto, a importância da cirurgia
precoce é a reintegração do paciente na sociedade
mais rapidamente. Das 100 cirurgias realizadas anualmente no Cirep,
cerca de 20% são em crianças e adolescentes.
Outra
alternativa de tratamento indicada para crianças é
a dieta citogênica. É uma dieta rica em gorduras, com
quantidades reduzidas de açúcares e proteínas,
calculada de acordo com a idade e peso do paciente. Aproximadamente,
um terço dos pacientes submetidos ao tratamento com a dieta
tem suas crises controladas, enquanto outro terço apresenta
uma melhora significativa.
Cobertura
pelo SUS
O
Sistema Único de Saúde (SUS) cobre os custos do tratamento
cirúrgico realizado em sete centros credenciados pelo Ministério
da Saúde. São eles: Instituto de Neurologia de Goiânia;
Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná;
Hospital São Lucas, de Porto Alegre; Fundação
Faculdade de Medicina de São Paulo; Hospital de Clínicas
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto; Hospital Universitário
da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto
e Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas.
Preço
dos medicamentos
Tegretol/Carbamazepina...R$
8,29
Gardenal/Fenobarbital.......R$
2,81
Hidantal/Fenitoína.............R$
4,07
Neurotin/Gabapentina.......R$
60,40
Depakene/Valpróico..........R$
8,66
Valpakine/Valpróico..........R$
8,00
Lamictal/Lamotrigina.........R$
50,26
Sabril/Vigabateína.............R$
121,57
Topomax/Topiranomato.....R$
58,44
Frisium/Benzodiazepina.....R$
5,81
Rivotril/Benzodiazepina.....R$
4,92
Trileptal/Oxicarbazepina...R$
20,22
Auram/Oxicarbazepina......R$
22,71
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Desde
dezembro de 2001, o Cirep do Hospital de Clínicas da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto está funcionando como
Centro Regulador de Cirurgias de Epilepsia para todo o país.
O serviço foi escolhido pelo Ministério da Saúde
para ser o órgão consultor desse tipo de cirurgia
junto à Central Nacional de Regulação de Alta
Complexidade (CNRAC).
O Cirep
é o responsável pela consultoria aos demais serviços
de saúde especializados nessa área. Por exemplo, se
um paciente do Amapá precisar de tratamento especializado
em epilepsia, o Cirep o encaminhará ao serviço mais
indicado. O pedido de atendimento será remetido à
Secretaria de Saúde do Amapá que, por sua vez, conectada
à Internet, enviará on line a solicitação
ao Ministério da Saúde. O Cirep recebe, também
por via eletrônica, todas as informações do
paciente, tendo três dias úteis para emitir um parecer.
O Cirep
foi inaugurado em 1995, construído com tecnologia adquirida
através de acordo de cooperação com a Cleveland
Clinic, dos Estados Unidos, e o Epilepsia-Zentrum Bethel, da Alemanha.
Totalmente informatizado, possui seis estações de
trabalho, capacidade para cinco leitos, com registro de 64 canais
de EEG/leito, simultaneamente, e uma equipe multidisciplinar de
40 profissionais. São realizadas, anualmente, cerca de 250
monitorizações e 10 mil consultas, além de
100 cirurgias.
(LC)
Matéria-prima
da carbamazepina é produzida no Brasil
O
princípio ativo (matéria-prima) da carbamazepina
(cujo nome comercial é Tegretol), que antes era comprado
no mercado internacional, hoje é produzido no Brasil.
A fabricação da matéria-prima é
feita pela empresa brasileira Nortec, com tecnologia desenvolvida
pelos pesquisadores de Far-Manguinhos, que é responsável
pela produção final do medicamento.
Far-Manguinhos
produz anualmente 43 milhões de comprimidos de carbamazepina
e 21 milhões de comprimidos de fenobarbital (que tem
nome comercial de gardenal). Para a produção
de fenobarbital, o laboratório compra a matéria-prima
no mercado internacional. A diretora de Far-Manguinhos, Eloan
dos Santos, explica que o preço da matéria-prima
desse medicamento é baixo no exterior, não compensando
a produção no país.
Há
dois anos, Far-Manguinhos produz os medicamentos carbamazepina
e fenobarbital. Os medicamentos são vendidos para a
rede pública. A produção é adquirida,
principalmente, pelas Secretarias Estaduais de Saúde
do Rio de Janeiro e Bahia, além do Hospital Psiquiátrico
Phillipe Pinel (do Rio de Janeiro).
Não
há atualmente na instituição pesquisas
sobre novos medicamentos para epilepsia. Normalmente, novos
produtos são desenvolvidos para atender a demanda das
Secretarias de Saúde ou do Ministério da Saúde.
Como exemplo, Eloan dos Santos cita os medicamentos produzidos
para doentes transplantados, de acordo com o Programa de Alto
Custo, do Ministério da Saúde e os remédios
para pacientes de Hepatite C, desenvolvidos para atender pedidos
da Secretaria de Saúde de São Paulo.
"O
objetivo desses programas é garantir medicamentos mais
baratos. No caso dos remédios para Hepatite C, o preço
no mercado era R$ 1.500, com 500 comprimidos. O que produzimos
sai por R$ 93,00, com a mesma quantidade de comprimidos",
diz a diretora.
Na
opinião de Santos, o Brasil não precisa criar
cooperativas para compra de medicamentos, como as existentes
na Argentina e Uganda. "Esses países não
têm laboratórios estatais. O Brasil é
um dos poucos países com política estatal direcionada,
com laboratórios públicos atendendo à
saúde pública. A cooperativa é uma maneira
de diminuir os preços dos medicamentos, adquirindo
grandes volumes", afirma.
Os
programas do Ministério da Saúde, segundo a
diretora de Far-Manguinhos, estão alcançando
os objetivos de garantir medicamentos para a população
mais carente. No programa Saúde da Família,
constam 32 itens de medicamentos encaminhados para 15 mil
equipes em todo o país. Através da Política
de Registro de Preços, as secretarias de saúde
dispõem de uma listagem de laboratórios privados
que oferecem os menores preços. A política dos
genéricos diminuiu em 40% o preço dos medicamentos
nas farmácias.
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(LC)
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