Genéricos
são a linha de frente da política de medicamentos
A ação
do Ministério da Saúde no setor de medicamentos não
envolve apenas a distribuição de remédios para
hospitais públicos e o controle da qualidade dos produtos
vendidos nas farmácias. É um setor chave, com reflexos
na indústria nacional, em políticas de pesquisa e
desenvolvimento, nas universidades e, é claro, na área
de saúde pública. O papel que caberá a cada
um desses atores é um reflexo do jogo do mercado e da atuação
do Ministério da Saúde (MS), definida principalmente
na Política Nacional de Medicamentos.
As
diretrizes listadas na Política Nacional de Medicamentos
são: "a adoção de uma lista de medicamentos
essenciais; regulamentação sanitária
de medicamentos; reorientação da assistência
farmacêutica; promoção do uso racional
de medicamentos; desenvolvimento científico e tecnológico;
promoção da produção de medicamentos;
garantia da segurança, eficácia e qualidade
dos medicamentos; e desenvolvimento e capacitação
de recursos humanos".
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Publicada
em uma portaria de outubro de 1998, a Política Nacional de
Medicamentos é parte da Política Nacional de Saúde,
sendo composta pelas principais diretrizes e prioridades do ministério
para o setor. A partir delas, seriam definidas ações
tendo em vista garantir "a necessária segurança,
eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção
do uso racional e o acesso da população àqueles
considerados essenciais".
Os
medicamentos genéricos, a Relação
Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) - lista dos remédios
que o Sistema Único de Saúde (SUS) se utiliza para
compra - e a descentralização da distribuição,
com a consequente redefinição dos papéis dos
sistema gestores federal, estadual e municipal, são as principais
medidas que o MS está tomando.
A partir
dessas medidas - principalmente da Lei de Genéricos - o secretário
de gestão de investimentos em saúde do MS, Geraldo
Biasoto Junior (veja entrevista
completa), identifica um crescimento da participação
das indústrias nacionais em virtude do mercado de genéricos.
"Com os genéricos, acabamos desenvolvendo alternativas
aos grandes laboratórios multinacionais", afrima Biasoto.
Segundo ele, a idéia do MS é que essas indústrias
nacionais, fortalecidas com os genéricos, possam também
passar a investir em pesquisa e desenvolvimento para a geração
de medicamentos inovadores. A indústria nacional lidera a
produção de genéricos no Brasil.
Faturamento
da indústria farmacêutica no Brasil
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Fonte:
Abifarma
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A lucratividade
geral da indústria farmacêutica, no entanto, segundo
dados da Associação Brasileira da Indústria
Farmacêutica (Abifarma), vem caindo. Em 1998, as vendas brutas
de medicamentos no mercado brasileiro chegaram a US$ 10,35 bilhões,
com 1,65 bilhões de unidades vendidas. Em 1999, após
a aprovação da lei dos genéricos e de outras
medidas do governo federal, os lucros foram de US$ 7,61 bilhões,
com 1,60 bilhões de unidades vendidas - número próximo
ao do ano anterior . Em 2000 os lucros cairam ainda mais, US$ 7,48
bilhões com 1,47 bilhões de unidades vendidas.
O grupro
de empresas do Pró Genéricos, ligadas ao ligado ao
Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no
Estado de São Paulo (Sindusfarma), reclama do controle de
preços instituído em janeiro de 2001 e da variação
cambial decorrente da alta do dólar. "A iniciativa de
alongar o prazo do controle de preços é totalmente
contraditória com a política de estímulo à
produção de genéricos. É de amplo conhecimento
público que a margem de ganho das empresas produtoras de
genéricos é estreita em função dos preços
com que eles são ofertados ao público. Não
faz sentido, portanto, asfixiar ainda mais as margens de nossas
empresas", afirma Paola Franchin, secretária executiva
do Pró Genéricos.
A Associação
dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac),
indica como limitantes do crescimento da produção
brasileira de medicamentos as tímidas campanhas informativas
sobre genéricos, voltadas à população
e aos médicos; desinteresse das farmácias na venda
de produtos baratos; demora para a realização de testes
de bioequivalência, necessários para a comercialização
dos medicamentos; ausência de financiamentos para a compra
de equipamentos; e a liberalização da importação
de genéricos, que ocorreu em novembro do ano passado.
Com
relação à importação de genéricos,
Geraldo Biasoto coloca a ressalva de que ela foi atrelada a um compromisso
com a internalização da produção e é
uma medida válida apenas por um ano. Para ele, o setor de
medicamentos precisa ter certos graus de liberdade com relação
aos capitais internacionais. "Se o setor é completamente
dominado pelo capital externo você está muito permeável
a ter comportamentos tipicamente empresariais alterando todo o seu
perfil de oferta de medicamentos", ressalta.
Biasoto
também considera importante a participação
dos laboratórios estatais na produção de medicamentos.
Segundo ele, os laboratórios oficiais têm duas funções
nobres: produzir medicamentos de importância para a saúde
publica, como os de aids e produzir medicamentos que são
necessários para uma camada de população com
nível de renda muito baixo. Nesse cenário, a função
das multinacionais seria trazer para o Brasil principalmente medicamentos
inovadores, que são comercializados em todo o mundo. Biasoto
dá o exemplo do laboratório Bristol-Myers Squibb,
que teria poucos medicamentos inovadores e apresentava a maior lucratividade
do mercado brasileiro. "Se um laboratório não
inovador é o que tem melhor lucratividade, está tudo
de ponta cabeça", indigna-se.
Um
papel importante na Política Nacional de Medicamentos tem
tido também a Relação Nacional de Medicamentos
Essenciais (Rename). Ela visa a padronização da prescrição
dos remédios por parte dos médicos e a manutenção
de maior controle da oferta mínima para a sociedade. Os remédios
que constam nela são considerados básicos e indispensáveis
para atender a maioria dos problemas de saúde da população.
A partir da definição de quais são os medicamentos
essenciais podem ser definidas também as prioridades no desenvolvimento
científico e tecnológico mais adequadas ao país.
A Rename
é tida como favorecedora do processo de descentralização
da gestão do fornecimento dos medicamentos que o MS busca
promover. Ao governo federal caberia a implantação
da Política Nacional de Medicamentos, ao estado caberia a
execução e formulação de uma política
de insumos e equipamentos para a saúde e a definição
de uma lista estadual de medicamentos a partir da Rename, enquanto
que aos municípios caberia fornecer os medicamentos destinados
à atenção básica da saúde da
população.
(RE)
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