Poder
das multinacionais inibe a indústria brasileira, mas fitoterápicos
podem ser uma solução.
A indústria
farmacêutica mundial, que tem um faturamento anual de US$
300 bilhões, é a que mais investe em pesquisa e desenvolvimento
(P&D) injetando US$ 36 bilhões ao ano nessa atividade.
No maior mercado farmacêutico do mundo, os EUA, essa indústria
aplicou, em 2000, cerca de 21% de seu faturamento em P&D, enquanto
que a indústria de informática investiu cerca de 10,5%,
a de produtos elétricos e eletrônicos cerca de 8,4%,
a de telecomunicações 5,3% e a aeroespacial e de defesa
3,8%, segundo dados da Pharmaceutical
Research Manufacturers of America (PhRMA).
No
Brasil, a Aché, maior indústria farmacêutica
nacional, que tem faturamento anual médio de R$500 milhões,
investiu cerca de R$ 400 milhões em pesquisa de novos produtos
nos últimos quatro anos. Já a Roche, laboratório
farmacêutico suíço, investiu, em 1994, US$ 500
milhões na produção do Xenical, remédio
que combate a obesidade. Destes, US$ 300 milhões foram gastos
apenas em testes clínicos, como lembra Alexis González,
autor de uma dissertação sobre a indústria
farmacêutica, defendida na Unicamp.
De
fato, o custo de produção de uma inovação
farmacêutica não pára de crescer. Uma das causas
são as exigências quanto aos testes clínicos.
A Food and Drug Administration (FDA), órgão do governo
americano que autoriza a venda de uma nova droga, tem exigido testes
clínicos (em humanos) cada vez mais rigorosos que implicam
no uso de um número cada vez maior de amostragens. Trinta
testes clínicos eram necessários entre 1977 e 1984.
Esta quantidade dobrou de 1989 até 1992. Além disso,
exige-se a aplicação de tecnologias cada vez mais
avançadas, que elevam a complexidade dos testes e os custos
de investimento. Recentemente, a FDA determinou, por exemplo, que,
para medicamentos de uso pediátrico, passassem a ser feitos
testes clínicos em crianças com vistas a aumentar
sua segurança. Até então novos medicamentos
só eram testados em adultos.
Em
busca de aumentar a rentabilidade e o poder de investimento em P&D,
as grandes corporações farmacêuticas passaram,
desde meados dos anos 80, por sucessivas fusões e/ou aquisições
de empresas menores (veja tabela), processo que põe em situação
cada vez mais difícil as empresas farmacêuticas nacionais.
Fusões
e Aquisições farmacêuticas na década
de 90
|
Ano
|
Fato
|
Laboratórios
envolvidos
|
1993
|
Aquisição
|
Merck
comprou a distribuidora de medicamentos Medco Containment
Services
|
1994
|
Aquisição
|
American
Home Products (EUA) comprou a American Cyanamid (EUA) por
US$ 10 bilhões
|
1995
|
Aquisição
|
Glaxo
(UK) comprou a Wellcome (UK) por US$ 14,9 bilhões
|
1996
|
Fusão
|
Pharmacia Aktiebolag (Suíça) e Pharmacia &
Upjohn (US)
|
1996
|
Fusão
|
Sandoz
(Suíça) e Ciba (Suíça) formando
a Novartis
|
1997
|
Aquisição
|
F.
Hoffman-la Roche (Suíça) comprou Boehringer
Manheim (Alemã) por US$ 11 bilhões
|
1999
|
Fusão
|
Astra
AB (Suíça) e Zeneca (UK) fromando a AstraZeneca
(UK)
|
1999
|
Fusão
|
Hoechst
Marion Roussel (Alemã) e Rhône-Poulenc (França)
fromando a Aventis (Alemanha)
|
1999
|
Fusão
|
Monsanto
com a Pharmacia & Upjohn
|
2000
|
Aquisição
|
Pfizer
(EUA) comprou a Warner-Lambert por US$90 bilhões
|
2001
|
Fusão
|
Glaxo
Wellcome com a SmithKline Beecham
|
Fonte:
Tese de mestrado de Alexis González, 1999; Pfeizer
e Abifarma
|
As
onze maiores indústrias (veja quadro) deste setor respondiam,
em 2000, por 48.9% do mercado, em comparação com 36.1%
três anos atrás. Embora estas empresas estejam, em
princípio, competindo, os submercados (definidos por diferentes
classes farmacêuticas: antibióticos, antiinflamatórios,
cardiovasculares, hormônios e outros) em que elas atuam são
pouco competitivos, pois não há muita variedade de
medicamentos em cada classe. Além disso, várias marcas
de medicamentos já cativaram a confiança dos médicos,
farmacêuticos e dos consumidores, o que torna a sua substituição
mais difícil.
Maiores
Indústrias (1999)
|
Origem
|
Participação
(em%)
|
GlaxoSmithKline
|
Reino
Unido
|
7.3
|
Pfizer
|
EUA
|
6.6
|
Merck
& CO
|
EUA
|
5.1
|
AstraZeneca
|
Inglaterra
|
4.8
|
Aventes
|
França/Alemanha
|
4.3
|
Bristol-Myers
Squibb
|
EUA
|
3.9
|
Novartis
|
Suíça
|
3.8
|
Roche
|
Suíça
|
3.6
|
Joknson
& Johnson
|
EUA
|
3.5
|
Eli
Lilly
|
EUA
|
3.0
|
Pharmacia
|
Inglaterra/EUA
|
3.0
|
Total
das 11 maiores
|
48.9
|
Fonte:
Panorama Setorial 2000
|
Contando
com o monopólio permitido pelas patentes de medicamentos,
as multinacionais praticam uma política de altos preços,
ainda que haja variações ao redor do mundo. Isso acontece
por razão de diferenças no custo de vida local, na
prática médica, volume do produto, taxas de importação
e exportação, impostos, termo de patente e sua data
de expiração, economia local, oferta e demanda, atuação
do governo e muitas outros fatores que devem ser levados em conta.
O preço médio de medicamentos no Brasil, em 1999,
era de US$ 4.76, na Argentina US$ 9.82, na Alemanha US$ 11.74, nos
Estados Unidos US$ 13.51 e no Japão alcançou elevados
US$ 48.
Com
a nova Lei de Patentes brasileira, em vigor desde 1996, (veja
reportagem sobre patentes) empresas nacionais passaram a buscar
associações com as indústrias estrangeiras
na área de P&D (além de produção
e marketing), como é o caso da Aché, que vem investindo
em alianças com empresas farmacêuticas multinacionais
para introduzir medicamentos inovadores nos mercados brasileiro
e latino-americano. Além disso, as empresas têm buscado,
pouco a pouco, fazer parcerias com universidades e centros de pesquisa,
para o desenvolvimento de produtos de biotecnologia e fitomédicos.
A produção
de genéricos e de fitofármacos parece ser o grande
filão para a indústria nacional. O segundo, sobretudo,
permite explorar os recursos da vasta biodiversidade brasileira.
Embora com altos custos de investimento, ele representa um nicho
que ainda está para ser explorado mundialmente. Apenas 5%
da indústria farmacêutica mundial é representada
pelos fitofármacos (leia artigo sobre
o tema). Conforme comenta o Diretor Geral da Aché, José
Eduardo Bandeira de Mello, "a biotecnologia e a fitoterapia
são o futuro da indústria farmacêutica e o Brasil
tem um enorme potencial para se desenvolver nessas áreas".
(GB)
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