Descentralização
na distribuição de
medicamentos enfrenta
falta de estrutura
Desde
o início dos anos 90, a Secretaria de Saúde de São
Paulo e o Ministério da Saúde, trabalham no sentido
de garantir tratamentos de alto custo aos pacientes portadores de
doenças crônicas. Em 1997, a Secretaria Estadual de
Saúde descentralizou a autorização, distribuição
e compra de medicamentos para os centros universitários previamente
definidos.
O Hospital
de Clínicas da Unicamp, escolhido para desempenhar a tarefa
de compra e distribuição desses medicamentos para
a região de Campinas, era o responsável por essa atividade
até fevereiro último, quando passou a enfrentar dificuldades
em virtude da burocracia no repasse dos recursos pela Secretaria
Estadual de Saúde. Desde então, o HC da Unicamp assumiu
a função de apenas distribuir os medicamentos, mediante
repasse da Secretaria.
"É
um programa no qual o número de entradas mensais é
muito superior ao número de saídas", informa
o assessor médico da Farmácia do HC, Gil Guerra Júnior.
Com
a descentralização do programa, é crescente
o número de pacientes beneficiados. Em janeiro de 1998, o
número de pessoas atendidas era de 2.200. Atualmente, são
4.608 pacientes atendidos e uma fila de espera de 1.055. São,
em sua maioria, doentes renais crônicos, transplantados, portadores
do HIV ou de hepatite crônica, pacientes que utilizam hormônio
do crescimento, portadores de vários tipos de câncer,
entre muitos.
Guerra
Júnior explica que o paciente demora, em média, três
meses para receber o medicamento, desde a entrada da documentação
até o momento do recebimento. "Isso se deve principalmente
ao espaço físico reduzido e ao pequeno número
de funcionários. Mesmo sendo uma obrigação
do HC atender à demanda de pessoas, seria muito interessante
o investimento da Secretaria Estadual de Saúde no espaço
físico e em pessoal, uma vez que atendemos toda a região
de Campinas e não apenas o público da universidade",
afirma.
Ele
fala ainda sobre outra proposta, que está sendo discutida
com as prefeituras da região, para descentralizar ainda mais
a distribuição dos medicamentos. Cidades como Jundiaí,
Bragança Paulista, Americana, e outras, poderiam realizar
a entrega dos medicamentos aos pacientes da própria localidade
e dos municípios próximos. "É uma forma
de amenizar o trabalho, agilizar a entrega e dar comodidade ao paciente",
destaca o médico.
O problema
encontrado, de acordo com Guerra Júnior, é que as
prefeituras também não possuem espaço físico
nem funcionários capacitados para a entrega. "Até
o momento, temos apenas um projeto-piloto que está sendo
realizado em Americana (SP). Acho que nesse ponto a participação
da Secretaria Estadual de Saúde seria fundamental",
afirma o assessor médico.
Uma
das iniciativas que contribuirão para a melhoria no atendimento
dos pacientes é a criação da farmácia
especializada na distribuição de medicamentos aos
portadores do vírus HIV (Aids). O número de portadores
do HIV atendidos pela Farmácia de alto custo do HC já
se aproxima de mil. "Eles terão um espaço próprio
e adequado às suas necessidades, uma vez que não se
trata apenas de distribuir os medicamentos a esses pacientes. Eles
necessitam um acompanhamento direto e eficaz", explica Guerra.
Ele
enfatiza que o principal problema atual no programa de distribuição
de medicamentos de alto custo do HC não está em conseguir
recursos financeiros para comprar o produto, nem mesmo na falta
do medicamento. "Nosso maior problema é estrutural,
físico e humano. A função da Secretaria Estadual
de Saúde de comprar os medicamentos é fundamental,
mas é preciso que ela se envolva mais diretamente nas questões
estruturais para que um maior número de pessoas possam receber
um atendimento rápido e de qualidade", diz.
De
janeiro de 2000 a fevereiro de 2001 foram gastos aproximadamente
R$ 15 milhões com a compra dos medicamentos de alto custo.
Atualmente, o volume mensal de recursos gastos tem sido, em média,
R$ 1,2 milhão. Segundo informações do assessor
médico, esse número cresce de 5 a 10% ao mês.
Hospital
Dia
Iniciativas
no sentido de aprimorar o atendimento aos portadores do vírus
HIV estão sendo tomadas. Uma delas é a construção
de um Hospital Dia com capacidade para triplicar o atendimento realizado
hoje que está entre 40 a 50 pessoas por mês.
Segundo
o médico Rogério de Jesus Pedro, coordenador da Unidade
de Pesquisa Clínica em Moléstias Infecciosas do HC,
o Ministério da Saúde destinou uma verba de R$ 900
mil para a construção desse hospital, que terá
1400 m² de área construída e será uma
obra modelo para todo o país.
"O
Hospital Dia será uma unidade modelo, que complementará
todas as atividades que já estão sendo realizadas
pelo HC da Unicamp. O HC já possui uma ala especial de Moléstias
Infecciosas destinada aos pacientes graves. É bom lembrar
que esse recurso financeiro para a construção do Hospital
Dia teve a participação importante de toda a bancada
paulista de deputados federais, que apresentaram uma emenda ao orçamento
e conseguiram a aprovação", explica o médico
Pedro
A data
de entrega prevista para a obra completa é fevereiro de 2002.
Outra
iniciativa considerada importante é a construção
de uma área especialmente destinada ao atendimento dos portadores
do HIV, localizada no prédio da Unidade de Pesquisa Clínica
(DST/AIDS). Essa área contará com infraestrutura para
atendimento dos pacientes por uma assistente social, área
para medicação, área de acompanhamento de reações
colaterais aos medicamentos e também uma farmácia
que fará a distribuição dos medicamentos especializados.
"Distribuímos
14 tipos de medicamentos anti-retrovirais e outros medicamentos
para infecções oportunistas decorrentes da ação
do HIV. Acompanhamos os pacientes constantemente, os medicamentos
são fortes, provocam reações colaterais. Esse
espaço será dedicado a um tratamento diferenciado
e mais humano aos portadores do vírus da AIDS", afirma
Pedro.
Além
disso, o especialista mostra que a participação de
toda a comunidade envolvida no processo é o principal fator
na busca de um atendimento especializado de alta qualidade. "Para
a Unicamp, seria impossível fazer tudo. Mas ela participa
intensamente, fornecendo recursos humanos, pessoal altamente qualificado
para a pesquisa e atendimento. Participa, também, fornecendo
mão-de-obra para a construção e reforma dos
espaços físicos. Outra participação
importante é da indústria farmacêutica que,
ao investir recursos financeiros na investigação clínica
em novos medicamentos na nossa unidade, transforma recursos privados
em recursos públicos. Todo o dinheiro que entra através
dos projetos de pesquisa são empregados no atendimento aos
portadores do vírus."
(JB)
|