Editorial:

Fármacos e Medicamentos: Urgências
Carlos Vogt

Reportagens:
Genéricos são a linha de frente da política de medicamentos
Instrumentos de regulamentação dos genéricos
Descentralização na distribuição de medicamentos enfrenta falta de estrutura
Luta contra a Aids terá de buscar novas formas de financiamento
Aids nos países pobres: lições da experiência brasileira
Poder das
multinacionais inibe a indústria brasileira
Inovação e fomento à indústria estão entre os principais desafios
Fundação produz medicamentos de qualidade para a população carente
Falta de garantia faz Ministério acabar
com os similares
Investimento em pesquisa de fármacos
no Brasil ainda é pequeno
A questão das
patentes na política brasileira de fármacos
Conhecimento tradicional e direito à propriedade intelectual
Fitoterápiocos: o mito
do natural
Artigos:
Aproveitamento das inovações farmacêuticas no Brasil
Antônio Camargo

Fitoterápicos: alternativa para o Brasil
Lauro Barata

Cronofarmacologia e Melatonina - o hormônio que marca o escuro
Regina Pekelmann Markus
Farmacologia perde integração com a cultura
Ulisses Capozoli
Notícias e "notícias" na comunicação pública da saúde
Isaac Epstein
Inovação e Gestão em um Mundo Globalizado
Antônio Buainain
Sergio Paulino de Carvalho

Acesso aos antiretrovirais na América Central
Eloan Pinheiro
Fernanda Macedo
Cristina D'Almeida

Poema
Bibliografia
Créditos

 

Descentralização na distribuição de
medicamentos
enfrenta falta de estrutura

Desde o início dos anos 90, a Secretaria de Saúde de São Paulo e o Ministério da Saúde, trabalham no sentido de garantir tratamentos de alto custo aos pacientes portadores de doenças crônicas. Em 1997, a Secretaria Estadual de Saúde descentralizou a autorização, distribuição e compra de medicamentos para os centros universitários previamente definidos.

O Hospital de Clínicas da Unicamp, escolhido para desempenhar a tarefa de compra e distribuição desses medicamentos para a região de Campinas, era o responsável por essa atividade até fevereiro último, quando passou a enfrentar dificuldades em virtude da burocracia no repasse dos recursos pela Secretaria Estadual de Saúde. Desde então, o HC da Unicamp assumiu a função de apenas distribuir os medicamentos, mediante repasse da Secretaria.

"É um programa no qual o número de entradas mensais é muito superior ao número de saídas", informa o assessor médico da Farmácia do HC, Gil Guerra Júnior.

Com a descentralização do programa, é crescente o número de pacientes beneficiados. Em janeiro de 1998, o número de pessoas atendidas era de 2.200. Atualmente, são 4.608 pacientes atendidos e uma fila de espera de 1.055. São, em sua maioria, doentes renais crônicos, transplantados, portadores do HIV ou de hepatite crônica, pacientes que utilizam hormônio do crescimento, portadores de vários tipos de câncer, entre muitos.

Guerra Júnior explica que o paciente demora, em média, três meses para receber o medicamento, desde a entrada da documentação até o momento do recebimento. "Isso se deve principalmente ao espaço físico reduzido e ao pequeno número de funcionários. Mesmo sendo uma obrigação do HC atender à demanda de pessoas, seria muito interessante o investimento da Secretaria Estadual de Saúde no espaço físico e em pessoal, uma vez que atendemos toda a região de Campinas e não apenas o público da universidade", afirma.

Ele fala ainda sobre outra proposta, que está sendo discutida com as prefeituras da região, para descentralizar ainda mais a distribuição dos medicamentos. Cidades como Jundiaí, Bragança Paulista, Americana, e outras, poderiam realizar a entrega dos medicamentos aos pacientes da própria localidade e dos municípios próximos. "É uma forma de amenizar o trabalho, agilizar a entrega e dar comodidade ao paciente", destaca o médico.

O problema encontrado, de acordo com Guerra Júnior, é que as prefeituras também não possuem espaço físico nem funcionários capacitados para a entrega. "Até o momento, temos apenas um projeto-piloto que está sendo realizado em Americana (SP). Acho que nesse ponto a participação da Secretaria Estadual de Saúde seria fundamental", afirma o assessor médico.

Uma das iniciativas que contribuirão para a melhoria no atendimento dos pacientes é a criação da farmácia especializada na distribuição de medicamentos aos portadores do vírus HIV (Aids). O número de portadores do HIV atendidos pela Farmácia de alto custo do HC já se aproxima de mil. "Eles terão um espaço próprio e adequado às suas necessidades, uma vez que não se trata apenas de distribuir os medicamentos a esses pacientes. Eles necessitam um acompanhamento direto e eficaz", explica Guerra.

Ele enfatiza que o principal problema atual no programa de distribuição de medicamentos de alto custo do HC não está em conseguir recursos financeiros para comprar o produto, nem mesmo na falta do medicamento. "Nosso maior problema é estrutural, físico e humano. A função da Secretaria Estadual de Saúde de comprar os medicamentos é fundamental, mas é preciso que ela se envolva mais diretamente nas questões estruturais para que um maior número de pessoas possam receber um atendimento rápido e de qualidade", diz.

De janeiro de 2000 a fevereiro de 2001 foram gastos aproximadamente R$ 15 milhões com a compra dos medicamentos de alto custo. Atualmente, o volume mensal de recursos gastos tem sido, em média, R$ 1,2 milhão. Segundo informações do assessor médico, esse número cresce de 5 a 10% ao mês.

Hospital Dia

Iniciativas no sentido de aprimorar o atendimento aos portadores do vírus HIV estão sendo tomadas. Uma delas é a construção de um Hospital Dia com capacidade para triplicar o atendimento realizado hoje que está entre 40 a 50 pessoas por mês.

Segundo o médico Rogério de Jesus Pedro, coordenador da Unidade de Pesquisa Clínica em Moléstias Infecciosas do HC, o Ministério da Saúde destinou uma verba de R$ 900 mil para a construção desse hospital, que terá 1400 m² de área construída e será uma obra modelo para todo o país.

"O Hospital Dia será uma unidade modelo, que complementará todas as atividades que já estão sendo realizadas pelo HC da Unicamp. O HC já possui uma ala especial de Moléstias Infecciosas destinada aos pacientes graves. É bom lembrar que esse recurso financeiro para a construção do Hospital Dia teve a participação importante de toda a bancada paulista de deputados federais, que apresentaram uma emenda ao orçamento e conseguiram a aprovação", explica o médico Pedro

A data de entrega prevista para a obra completa é fevereiro de 2002.

Outra iniciativa considerada importante é a construção de uma área especialmente destinada ao atendimento dos portadores do HIV, localizada no prédio da Unidade de Pesquisa Clínica (DST/AIDS). Essa área contará com infraestrutura para atendimento dos pacientes por uma assistente social, área para medicação, área de acompanhamento de reações colaterais aos medicamentos e também uma farmácia que fará a distribuição dos medicamentos especializados.

"Distribuímos 14 tipos de medicamentos anti-retrovirais e outros medicamentos para infecções oportunistas decorrentes da ação do HIV. Acompanhamos os pacientes constantemente, os medicamentos são fortes, provocam reações colaterais. Esse espaço será dedicado a um tratamento diferenciado e mais humano aos portadores do vírus da AIDS", afirma Pedro.

Além disso, o especialista mostra que a participação de toda a comunidade envolvida no processo é o principal fator na busca de um atendimento especializado de alta qualidade. "Para a Unicamp, seria impossível fazer tudo. Mas ela participa intensamente, fornecendo recursos humanos, pessoal altamente qualificado para a pesquisa e atendimento. Participa, também, fornecendo mão-de-obra para a construção e reforma dos espaços físicos. Outra participação importante é da indústria farmacêutica que, ao investir recursos financeiros na investigação clínica em novos medicamentos na nossa unidade, transforma recursos privados em recursos públicos. Todo o dinheiro que entra através dos projetos de pesquisa são empregados no atendimento aos portadores do vírus."

(JB)

Atualizado em 10/10/2001

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