Mercado
competitivo requer profissional mais capacitado
A quebra
do monopólio do petróleo pela lei 9.478, de 6 de agosto
de 1997, trouxe como exigência a ampliação do
mercado de trabalho. Num país em que o desemprego ronda todas
as profissões, as pessoas com conhecimento no setor de petróleo,
seja em nível técnico ou superior, encontram uma área
em plena expansão após a abertura econômica,
responsável pela entrada de empresas estrangeiras no Brasil.
Quando
a Petrobras surgiu, em 1953, no governo de Getúlio Vargas,
havia a dificuldade de contratar pessoal preparado para atuar no
setor. A alternativa foi buscar profissionais em outros países
e, por um tempo, enviar empregados da companhia para fazer cursos
de pós-graduação - mestrado e doutorado - em
outros países. No começo, a Europa era a referência
e, mais tarde, com o crescimento e o fortalecimento da indústria
norte-americana, os estudos eram realizados mais nos Estados Unidos,
o que gerava um custo excessivo pela quantidade de pessoas mandadas
para o exterior.
A criação
de dois centros internos de treinamento, um no Rio de Janeiro e
outro na Bahia, solucionou em parte o problema de formação
de mão-de-obra especializada. Iniciou-se, nessa época,
o processo de preparação de um quadro de funcionários
e o público-alvo eram engenheiros de áreas diversas
e geólogos. Eles chegavam à companhia e, de um ano
a um ano e meio tornavam-se engenheiros de petróleo. Depois,
periodicamente, faziam cursos de reciclagem, que ainda hoje são
oferecidos aos empregados sem formação acadêmica.
Os
centros de treinamento internos foram os embriões da Universidade
Corporativa Petrobras, que tem como objetivo, por meio da execução
de programas de educação continuada, formar o funcionário
segundo uma perspectiva humano-empresarial, de forma que ele conheça
os valores internos e sinta-se parte do processo de desenvolvimento
da companhia. O trabalho de ensino e capacitação é
realizado em parceria com empresas, universidades e consultorias.
Parcerias
que deram certo
O grupo Petrobras possui, aproximadamente, 34 mil funcionários
em atividade. Oito mil têm nível superior, a maior
parte na área de engenharia, e os demais cargos são
ocupados por pessoas de nível médio, entre elas operadores,
mecânicos, eletricistas e técnicos. Na década
de 1980, a empresa começou a fazer convênios com universidades
brasileiras e promover o fortalecimento de centros de excelência,
que receberiam verbas orçamentárias da Petrobras e,
com o tempo, caminhariam com as próprias pernas. Nasceram
cursos de pós-graduação em diversas universidades,
entre elas a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp).
Campo
aberto a novas idéias
Na opinião do professor do Departamento de Política
Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências
da Unicamp (IG), Newton Müller Pereira, a entrada de empresas
estrangeiras no país abre um campo atrativo para os profissionais
(leia outras opiniões do pesquisador).
Há mais de 20 empresas que contratam no setor de petróleo.
Até 1997, um geólogo só tinha como perspectiva
trabalhar na Petrobras. Atualmente, há várias empresas
que requerem mentes, como a ambiental. Ele enfatiza que o convênio
da Petrobras com o IG e com a Faculdade de Engenharia Mecânica
da Unicamp (FEM), em 1986, para a criação do curso
de pós-graduação na área de petróleo
prosperou e a universidade se estruturou de maneira a seguir o seu
rumo. "É um caso de sucesso de cooperação
universidade-empresa", destaca.
A indústria
petrolífera alimenta outras indústrias, entre elas
a de fornecedores de peças e serviços. A mudança
no mercado gera novos cursos, novas possibilidades de formação
de mão-de-obra, de pesquisadores, de profissionais capacitados
para atender o mercado diversificado. O professor ressalta o incentivo
da Agência Nacional de Petróleo ao oferecer bolsas
de iniciação científica, com estímulo
à formação de pessoal técnico, o que
alimenta esse mercado promissor no país.
Os
Fundos de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
chamados de Fundos Setoriais são, sob o ponto de vista do
pesquisador do DPCT-Unicamp, mais um recurso válido de estímulo
à formaçao profisssional, pois garantem recursos para
o financiamento de projetos em C&T e favorecem a integração
entre as universidades, os centros de pesquisa e o setor produtivo.
"Através desses fundos, se está qualificando
e criando competências na universidade", acredita.
De
acordo com o professor Newton Pereira, a instalação
do Centro de Estudos do Petróleo (Cepetro) em 1987, e a criação
dos cursos de mestrado e doutorado pela Unicamp concorrem para a
formação de pessoal capacitado na área de petróleo,
com a peculiaridade de oferecer um curso em que o estudante sai
com diploma de pós-graduação em Ciências
e Engenharia do Petróleo, preparado para enfrentar os desafios
apresentados pelo cenário nacional. A Unicamp formou, desde
1986, mais de 200 mestres e mais de dez doutores com pós-graduação
em engenharia de petróleo.
Hoje
a Petrobras conta com 1,2 mil pessoas com títulos de mestrado
e doutorado. O gerente-executivo de Recursos Humanos, José
Lima, informa que há um esforço constante de capacitação
de pessoal de níveis superior e médio, com cursos
de reciclagem para renovar e ampliar o conhecimento. Segundo ele,
a nova realidade competitiva fez a empresa repensar o papel da Universidade
Corporativa, que deixa de formar apenas tecnicamente para investir
também em treinamento em gestão e visão empresarial.
Para ele, essa e outras iniciativas permitem à empresa dispor
do maior centro de pesquisa da América Latina e possuir tecnologia
de ponta em várias áreas. "Nós acreditamos
que grande parte desse sucesso se deve a essa preocupação
em formar competência", explica.
Os
professores Oswaldo Guerra e Francisco Teixeira da Faculdade de
Ciências Econômicas, da UFBA, dizem que tal cenário
é distinto daquele visto no setor petrolífero antes
da lei que quebra o monopólio. Ele cria, ao mesmo tempo,
novas perspectivas de negócios e imensos desafios competitivos
para os fornecedores nacionais de bens e serviços para a
indústria do petróleo e apreensões em relação
às contas externas do país. Nesse sentido, uma maior
capacitação dos recursos humanos para o setor parece
uma boa medida.
A
Agência Nacional do Petróleo também tem
investido em capacitação para o setor de petróleo
e gás. Segundo Raimar van den Bylaardt (conheça
outras opiniões de Bylaardt),
coordenador-geral do Núcleo
de Desenvolvimento Tecnológico da Agência,
R$ 50 milhões já foram destinados a esse fim,
na concessão de 2 mil bolsas de pesquisa. Ele ressaltou
que a taxa de empregabilidade das pessoas formadas para esse
setor é bastante alta. Segundo ele, muitos alunos que
receberam bolsas dentro do programa já foram absorvidos
pela indústria.
Em
sua opinião, isso ocorre porque os alunos vão
às empresas, conhecem as necessidades dessa área,
desenvolvem pesquisas voltadas a corrigir as deficiências
apontadas, descobrem as tendências do setor e acabam
sendo contratados após o término dos estudos.
Ou mesmo antes, em alguns casos.
O
Programa de Recursos Humanos da ANP inclui a implementação
em universidades e escolas técnicas, programas com
ênfase no setor, a concessão de bolsas de pesquisa
e ao estabelecimento de uma rede nacional integrada de instituições
de ensino e pesquisa, abrangendo todo território nacional,
privilegiando as competências regionais e o desenvolvimento
de uma cultura de ensino e pesquisa aplicada ao setor de petróleo
e gás natural.
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(RB)
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