Reportagens






Editorial:
O petróleo é nosso
Carlos Vogt
Reportagens:
Petróleo: fonte renovável de guerras
Países da Opep vivem constantes instabilidades
Quebra do monopólio divide interesses
Participação do petróleo na matriz energética brasileira
História do Petróleo no Brasil
Pesquisa petrolífera do Brasil na fronteira do conhecimento
Royalties de petróleo: sustentabilidade ou barganha política?
O petróleo e a agressão ao meio ambiente
Setor de petróleo recebe apoio de grandes programas
Mercado competitivo requer profissional mais capacitado
Bacia sedimentar do Amazonas é a terceira em produção de petróleo
As mil e uma utilidades de um líquido negro que vale ouro
Artigos:
Mudança institucional e política industrial no setor petróleo
André Tosi Furtado
A base legal do novo setor de petróleo no Brasil
Natália A. M. Fernandes Vianna
Abertura e política de preços no setor de petróleo
Adriano Pires e Leonardo Campos Filho
Petróleo: por que os preços sobem (e descem)?
Adilson de Oliveira
O combustível automotivo no Brasil
Luiz Pontes
O fim do petróleo e outros mitos
Newton Müller Pereira
Conhecer as incertezas: o desafio da indústria do petróleo
Saul B. Suslick
A indústria petroquímica brasileira
Saul Gonçalves d'Ávila
CT-Petro: novo instrumento de política no setor petrolífero nacional
Adriana Gomes de Freitas
Poema:
Hercúleo
Carlos Vogt
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Mercado competitivo requer profissional mais capacitado

A quebra do monopólio do petróleo pela lei 9.478, de 6 de agosto de 1997, trouxe como exigência a ampliação do mercado de trabalho. Num país em que o desemprego ronda todas as profissões, as pessoas com conhecimento no setor de petróleo, seja em nível técnico ou superior, encontram uma área em plena expansão após a abertura econômica, responsável pela entrada de empresas estrangeiras no Brasil.

Quando a Petrobras surgiu, em 1953, no governo de Getúlio Vargas, havia a dificuldade de contratar pessoal preparado para atuar no setor. A alternativa foi buscar profissionais em outros países e, por um tempo, enviar empregados da companhia para fazer cursos de pós-graduação - mestrado e doutorado - em outros países. No começo, a Europa era a referência e, mais tarde, com o crescimento e o fortalecimento da indústria norte-americana, os estudos eram realizados mais nos Estados Unidos, o que gerava um custo excessivo pela quantidade de pessoas mandadas para o exterior.

A criação de dois centros internos de treinamento, um no Rio de Janeiro e outro na Bahia, solucionou em parte o problema de formação de mão-de-obra especializada. Iniciou-se, nessa época, o processo de preparação de um quadro de funcionários e o público-alvo eram engenheiros de áreas diversas e geólogos. Eles chegavam à companhia e, de um ano a um ano e meio tornavam-se engenheiros de petróleo. Depois, periodicamente, faziam cursos de reciclagem, que ainda hoje são oferecidos aos empregados sem formação acadêmica.

Os centros de treinamento internos foram os embriões da Universidade Corporativa Petrobras, que tem como objetivo, por meio da execução de programas de educação continuada, formar o funcionário segundo uma perspectiva humano-empresarial, de forma que ele conheça os valores internos e sinta-se parte do processo de desenvolvimento da companhia. O trabalho de ensino e capacitação é realizado em parceria com empresas, universidades e consultorias.

Parcerias que deram certo
O grupo Petrobras possui, aproximadamente, 34 mil funcionários em atividade. Oito mil têm nível superior, a maior parte na área de engenharia, e os demais cargos são ocupados por pessoas de nível médio, entre elas operadores, mecânicos, eletricistas e técnicos. Na década de 1980, a empresa começou a fazer convênios com universidades brasileiras e promover o fortalecimento de centros de excelência, que receberiam verbas orçamentárias da Petrobras e, com o tempo, caminhariam com as próprias pernas. Nasceram cursos de pós-graduação em diversas universidades, entre elas a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Campo aberto a novas idéias
Na opinião do professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências da Unicamp (IG), Newton Müller Pereira, a entrada de empresas estrangeiras no país abre um campo atrativo para os profissionais (leia outras opiniões do pesquisador). Há mais de 20 empresas que contratam no setor de petróleo. Até 1997, um geólogo só tinha como perspectiva trabalhar na Petrobras. Atualmente, há várias empresas que requerem mentes, como a ambiental. Ele enfatiza que o convênio da Petrobras com o IG e com a Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp (FEM), em 1986, para a criação do curso de pós-graduação na área de petróleo prosperou e a universidade se estruturou de maneira a seguir o seu rumo. "É um caso de sucesso de cooperação universidade-empresa", destaca.

A indústria petrolífera alimenta outras indústrias, entre elas a de fornecedores de peças e serviços. A mudança no mercado gera novos cursos, novas possibilidades de formação de mão-de-obra, de pesquisadores, de profissionais capacitados para atender o mercado diversificado. O professor ressalta o incentivo da Agência Nacional de Petróleo ao oferecer bolsas de iniciação científica, com estímulo à formação de pessoal técnico, o que alimenta esse mercado promissor no país.

Os Fundos de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, chamados de Fundos Setoriais são, sob o ponto de vista do pesquisador do DPCT-Unicamp, mais um recurso válido de estímulo à formaçao profisssional, pois garantem recursos para o financiamento de projetos em C&T e favorecem a integração entre as universidades, os centros de pesquisa e o setor produtivo. "Através desses fundos, se está qualificando e criando competências na universidade", acredita.

De acordo com o professor Newton Pereira, a instalação do Centro de Estudos do Petróleo (Cepetro) em 1987, e a criação dos cursos de mestrado e doutorado pela Unicamp concorrem para a formação de pessoal capacitado na área de petróleo, com a peculiaridade de oferecer um curso em que o estudante sai com diploma de pós-graduação em Ciências e Engenharia do Petróleo, preparado para enfrentar os desafios apresentados pelo cenário nacional. A Unicamp formou, desde 1986, mais de 200 mestres e mais de dez doutores com pós-graduação em engenharia de petróleo.

Hoje a Petrobras conta com 1,2 mil pessoas com títulos de mestrado e doutorado. O gerente-executivo de Recursos Humanos, José Lima, informa que há um esforço constante de capacitação de pessoal de níveis superior e médio, com cursos de reciclagem para renovar e ampliar o conhecimento. Segundo ele, a nova realidade competitiva fez a empresa repensar o papel da Universidade Corporativa, que deixa de formar apenas tecnicamente para investir também em treinamento em gestão e visão empresarial. Para ele, essa e outras iniciativas permitem à empresa dispor do maior centro de pesquisa da América Latina e possuir tecnologia de ponta em várias áreas. "Nós acreditamos que grande parte desse sucesso se deve a essa preocupação em formar competência", explica.

Os professores Oswaldo Guerra e Francisco Teixeira da Faculdade de Ciências Econômicas, da UFBA, dizem que tal cenário é distinto daquele visto no setor petrolífero antes da lei que quebra o monopólio. Ele cria, ao mesmo tempo, novas perspectivas de negócios e imensos desafios competitivos para os fornecedores nacionais de bens e serviços para a indústria do petróleo e apreensões em relação às contas externas do país. Nesse sentido, uma maior capacitação dos recursos humanos para o setor parece uma boa medida.


A Agência Nacional do Petróleo também tem investido em capacitação para o setor de petróleo e gás. Segundo Raimar van den Bylaardt (conheça outras opiniões de Bylaardt), coordenador-geral do Núcleo de Desenvolvimento Tecnológico da Agência, R$ 50 milhões já foram destinados a esse fim, na concessão de 2 mil bolsas de pesquisa. Ele ressaltou que a taxa de empregabilidade das pessoas formadas para esse setor é bastante alta. Segundo ele, muitos alunos que receberam bolsas dentro do programa já foram absorvidos pela indústria.

Em sua opinião, isso ocorre porque os alunos vão às empresas, conhecem as necessidades dessa área, desenvolvem pesquisas voltadas a corrigir as deficiências apontadas, descobrem as tendências do setor e acabam sendo contratados após o término dos estudos. Ou mesmo antes, em alguns casos.

O Programa de Recursos Humanos da ANP inclui a implementação em universidades e escolas técnicas, programas com ênfase no setor, a concessão de bolsas de pesquisa e ao estabelecimento de uma rede nacional integrada de instituições de ensino e pesquisa, abrangendo todo território nacional, privilegiando as competências regionais e o desenvolvimento de uma cultura de ensino e pesquisa aplicada ao setor de petróleo e gás natural.

 

(RB)

 
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Atualizado em 10/12/2002
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