Pesquisa petrolífera do Brasil na fronteira
do conhecimento
O Brasil é líder mundial em tecnologia offshore.
Vários são os elementos que, unidos, conseguiram colocar
em destaque a pesquisa em petróleo no Brasil. Um deles é
o Plano Nacional de Ciência e Tecnologia de Petróleo
e Gás Natural (CT-Petro), criado em 1997, que veio estimular
a cadeia produtiva do setor, através dos recursos provenientes
de seus royalties. O núcleo de pesquisas na área
é formado pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo
A. Miguez de Mello (Cenpes) na Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Centro de Estudos em Petróleo (Cepetro) na Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) e o Instituto Alberto Luiz Coimbra
de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe)
na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Esse núcleo
acaba de proporcionar à Petrobras, pela segunda vez, o Prêmio
da "Offshore Tecnology Conference" (OTC), por sua excelência
na exploração e produção de petróleo
em águas profundas.
Plataformas
Durante as últimas eleições brasileiras, uma
das questões levantadas foi sobre a atual capacidade brasileira
para a produção de plataformas de petróleo.
A produção nacional destas poderia significar a geração
de empregos no Brasil, ao invés estimulá-los no exterior
pela contratação de empresas estrangeiras. No dia
28 de agosto foi realizado na Coppe/UFRJ encontro técnico
sobre a Construção de Plataformas Offshore no Brasil.
Inicialmente a Petrobras expôs sua demanda para os próximos
anos, após o que representantes de estaleiros e empresas
de engenharia puderam discutir a viabilidade de construção
das plataformas semi-submersíveis P-51 e P-52 no país.
No evento, foi lembrado que, nos anos 80, o Brasil já esteve
entre os maiores produtores de navios, ostentando o segundo lugar
no ranking mundial. No entanto, por decisões políticas
e econômicas, o governo federal decidiu privilegiar a importação,
alegando falta de capacidade técnica do Brasil. Isso, somado
à falta de controle nos gastos das empresas privadas e à
ineficiência administrativa dos estaleiros nacionais, levou
à falência os construtores nacionais e impediu o necessário
salto tecnológico que daria maior competitividade à
construção naval brasileira.
No entanto, de acordo com os engenheiros da Coppe Luiz Pinguelli
Rosa e Segen Estefen, hoje o Brasil possui "capacitação
nacional para que cascos e conveses possam ser aqui construídos".
Com esse quadro em mente, eles alertam que não devemos correr
o risco de perder a oportunidade de inserir nossa indústria
no competitivo mercado de fabricação de plataformas
flutuantes para a indústria do petróleo. Competência
técnica e científica já estão demonstradas.
Cabe apenas gerar os incentivos para que o setor nacional não
seja excluído antes de tentar.
Estado da arte em pesquisas
O Tanque de Provas Numérico (TPN), recém-inaugurado
pela Escola Politécnica da USP, contou com a união
e participação de várias instituições
de pesquisa como a Coppe, PUC-Rio, IPT e Cenpes/Petrobras. Com ele
será possível a realização de simulações
matemáticas de estruturas flutuantes de produção
de petróleo e gás. O tanque, idealizado para a indústria
naval, coloca o Brasil entre os países que lideram as pesquisas
simuladas na construção de plataformas petrolíferas,
pois vai trabalhar em conjunto com LabOceano da Coppe.
O TPN é um sistema que vai permitir tanto a simulação
de projetos de plataformas tradicionais, quanto a instalação
e manutenção de estruturas flutuantes, considerando
quase todos os fenômenos físicos ambientais do oceano,
vento, onda e corrente, inclusive acima de 2000m de profundidade.
São 60 computadores que, juntos, geram uma média de
21 bilhões de operações por segundo. As informações
são transmitidas para a sala de projeções,
que mostra as imagens em 3D e estéreo, dando a sensação
exata de se estar trabalhando dentro da plataforma.
Divulgação
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Vista em 3D stereo da plataforma
- projeto TPN
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O TPN será um importante aliado dos Tanques
de Provas Físicos, afirma o professor Kazuo Nishimoto, do
Departamento de Engenharia Naval da Escola Politécnica da
USP e coordenador do projeto. Os tanques de provas físicos
são compartimentos com água onde os modelos de estruturas
flutuantes em escala reduzida são testados, sob a ação
de agentes ambientais, como vento, ondas e correntes oceânicas.
Mas, não oferecem as condições ideais previstas
como as que são oferecidas na simulação de
profundidades obtidas com o TPN, devido aos recursos de visualização
em três dimensões oferecidos pelos modelos computacionais.
Pesquisas no CENPES
O Cenpes é o centro de pesquisas da Petrobras, criado oficialmente
em 1966. A partir de 1992, passou a receber 1% do faturamento bruto
da empresa para desenvolvimento de pesquisa. Entre os muitos projetos,
o Programa Tecnológico Empresarial de Desenvolvimento em
Exploração de Águas Ultraprofundas (Procap),
já está indo para sua terceira fase - Procap-3000
- na qual pretende-se atingir até 3.000 metros de profundidade.
O Procap-2000, criado em 1993, chegou a alcançar 1.867 metros
de profundidade em Roncador, na bacia de Campos, de onde são
extraídos 70% da produção nacional de petróleo.
O Procap inicial, de 1988, foi posto em prática nos campos
gigantes de Marlin e Albacora, a profundidades típicas de
1.000 metros.
Outra tecnologia que vem sendo aperfeiçoada desde 1992,
através do Programa Estratégico de Recuperação
Avançada de Petróleo da Petrobras (Provap), visa aumentar
o índice de recuperação do óleo que
fica perdido dentro das jazidas - cerca de 30%. Isso ocorre porque
o petróleo nacional é composto de óleo pesado,
com maior viscosidade, excesso de nafta e gasolina. Um petróleo
leve, como o árabe, é mais fino e produz maior quantidade
de diesel. Ainda nesse projeto, são estudadas as melhorias
da eficiência na injeção de água e a
aplicação de técnicas avançadas de caracterização
de reservatórios e monitoração sísmica
das reservas.
A preocupação em transformar óleos pesados
em derivados de alta tecnologia foi um desafio para os pesquisadores,
uma vez que as refinarias existentes no país foram compradas
quando quase todo o óleo cru era importado do Oriente Médio,
onde o óleo é leve. Essa é a pesquisa que vem
sendo feita no Programa de Desenvolvimento de Tecnologia Estratégicas
de Refino (Proter). Há cinco anos o Proter tem investido
na adaptação do parque de refino para trabalhar com
cargas pesadas, reduzir a necessidade de paradas para manutenção
e ampliar o número de unidades de conversão, aumentando
a oferta de diesel e gás de cozinha.
O Programa Tecnológico para a Ampliação de
Fronteiras Exploratórias (Profex), desde 1995 vem buscando
tecnologias de processamento, filtragem e aquisição
sísmica. O projeto já apresenta resultados na identificação
da ação de bactérias causadoras do aumento
da viscosidade do petróleo, sendo de importância fundamental
na exploração em águas profundas e ultra-profundas.
Em parceria com a IBM, o Cenpes está desenvolvendo um software
capaz de simular a evolução de bacias sedimentares
durante os processos de geração, migração
e acumulação de petróleo.
Segundo a Assessoria de Comunicação do Cenpes, acaba
de ser implantada a Gerência Geral de Desenvolvimento Sustentável,
que envolve os setores de pesquisa e desenvolvimento para as áreas
de Gás e Energia; Biotecnologia e Tratamento Ambiental; Monitoramento
Ambiental; e Química. Dentro dessa nova gerência, estão
os projetos de pesquisa voltados para fontes de energia renováveis
e energia alternativa, tais como célula combustível,
energia eólica, otimização do gás natural,
biodiesel e outros. A estratégia da Petrobras, a ser atingida
até 2010, é tornar-se uma empresa de energia.
Pesquisas na Coppe
A Coppe/UFRJ é o maior centro de ensino e pesquisa em engenharia
da América Latina. Foi a principal parceira da Petrobras
no desenvolvimento de tecnologias para a exploração
de petróleo no mar, cujos resultados levaram o país
à liderança na área offshore. No início
deste ano, Coppe e Petrobras comemoraram o marco de mil projetos
concluídos em parceria. O Programa CT-Petro trouxe grande
incentivo aos grupos de pesquisa da instituição que
atuam em áreas voltadas para o setor de óleo e gás.
Em 1994, foi criado o Grupo Interdisciplinar em Tecnologia Submarina,
que possibilitou a união de especialistas no Laboratório
de Tecnologia Submarina, através da Rede Cooperativa de Pesquisa
em Tecnologia Submarina (Recope). A Rede vem trabalhando em projetos
de robótica, soldagem, hidro-acústica, umbilicais
submarinos, tubos flexíveis, separador de fundo e infra-estrutura.
O Laboratório de Tecnologia Oceânica (LabOceano) está
em operação desde setembro último. O laboratório
conta com um tanque oceânico, projetado para realização
de experimentos, ensaios de modelos de estruturas e equipamentos
usados na produção de gás e petróleo
offshore. O LabOceano apresenta condições que
permitem simulações das condições encontradas
no fundo do mar. Com 15 metros de profundidade e um poço
central com mais 10 metros adicionais, sendo o tanque mais profundo
no mundo, permitirá o desenvolvimento de inovações
com maior eficiência e menor risco de erros, consolidando
a liderança do Brasil na área.
Cepetro
Com o apoio da Petrobras, foram criados na Unicamp, em 1987,
o Centro de Estudos em Petróleo (Cepetro), o Departamento
de Engenharia de Petróleo e o Curso de Mestrado em Engenharia
de Petróleo, todos na Faculdade de Engenharia Mecânica.
Além de participar de projetos, o Cepetro contribui de forma
decisiva na formação de mão-de-obra qualificada
para o mercado do petróleo. O Cepetro desenvolve suas pesquisas
em Economia dos Recursos Minerais, Engenharia de Poços, Geofísica
Computacional, Modelagem Geológica de Reservatórios
de Águas Profundas, Perfuração e Completação
de Poços de Petróleo, Produção de Óleo
e Gás, Reservatórios, Termodinâmica de Processos
de Separação e Mistura.
(LO)
Links
Petrobras
- http://www.petrobras.com.br
CENPES - http://www2.petrobras.com.br/portal/tecnologia.htm
COPPE - http://www.coppe.ufrj.br/
CEPETRO - http://www.cepetro.unicamp.br/
LabOceano - http://www.laboceano.coppe.ufrj.br/site/apresentacao/index.shtm
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