A
participação do petróleo na matriz energética
brasileira
Dados
fornecidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP)
mostram que o petróleo ocupa uma posição de
destaque na matriz energética brasileira, com aproximadamente
30% da produção de energia primária. Pode-se
verificar também que, nos últimos quatro anos, a participação
aumentou, em média, de 2% a 3% ao ano. Ainda de acordo com
informações da ANP, no final de 2001 o Brasil possuía
um volume de reservas totais de petróleo da ordem de 13 bilhões
de barris, o que equivale dizer que nos últimos dez anos
o país registrou um crescimento médio anual da ordem
de 5,3% na suas reservas.
Dentro
desse percentual de participação na matriz energética,
o diesel é o derivado que tem a maior participação
no consumo, cerca de 43%. A opção pelo transporte
rodoviário como principal meio de transporte em um país
de dimensões continentais como o Brasil explica o alto consumo
de diesel. Além disso, toda a frota de maquinários
agrícolas e trens de carga emprega esse combustível.
A gasolina participa com 15% e o óleo combustível
com aproximadamente 10%.
O coordenador
de Novos Negócios da Refinaria de Paulínia (Replan),
Antonio Buonfiglio, explica que, de 1999 a 2001, os derivados que
apresentaram índices de aumento no consumo foram o diesel
e o querosene de aviação, reafirmando a tendência
de uma maior utilização do transporte de cargas e
passageiros de grande volume. Segundo ele, a gasolina A (sem adição
de álcool) permanece com um consumo médio de aproximadamente
16 milhões de m³/ano. O consumo de óleo diesel
projeta uma variação de 5,8 milhões de m³/ano
e o querosene de aviação 0,7 milhões de m³/ano.
Dependência
externa
"O Brasil é, atualmente, importador e exportador de
petróleo e se considerarmos a produção de petróleo
brasileira em 2001 e o consumo de derivados no país nesse
mesmo ano, podemos afirmar que atingimos a auto-suficiência",
afirma Buonfiglio.
Segundo
a ANP, de janeiro a outubro de 2002, o Brasil importou 373,2 mil
barris/dia e exportou 244,6 mil barris/dia, ou seja, a importação
é da ordem de 22,6% e a exportação é
14,9%. Pode-se considerar a auto-suficiência quando a exportação
superar a importação.
O petróleo
brasileiro é tipicamente um óleo pesado que, quando
fracionado na refinaria, produz uma quantidade muito grande de nafta,
gasolina, óleo combustível e, em quantidade menor,
o óleo diesel. Já o petróleo importado é
um óleo leve, cujas características são essenciais
para a produção de diesel. Buonfiglio ressalta que,
"apesar de importar petróleo, o Brasil não depende
mais de grandes contratos com países produtores. A importação
é feita de acordo com as normas de mercado. Procuramos o
tipo de petróleo que nos interessa e negociamos o preço
no mercado, com condições mais atraentes".
Para
reduzir a dependência externa, quer seja pela importação
de petróleo ou de derivados, a Petrobras está adaptando
o parque de refino para processar o petróleo nacional e produzir
mais derivados médios como o óleo diesel e o querosene
e, dessa forma, compatibilizar o perfil de consumo ao tipo de petróleo
nacional. Para exemplificar, pode-se citar os investimentos da ordem
de US$ 370 milhões feitos na Refinaria de Paulínia
, na construção da segunda Unidade de Coqueamento
Retardado e Hidrotratamento de Instáveis que, a partir de
2004, aumentarão a produção de óleo
diesel e reduzirão o óleo combustível. A Petrobrás
também investe recursos na adaptação de outras
refinarias, de modo a obter derivados de melhor qualidade.
Outro
fator importante que tornará o país auto-suficiente
na produção de petróleo é a recente
descoberta de poços na costa do Espírito Santo, inclusive
o poço gigante denominado Jubarte. O complexo petrolífero
da bacia de Campos, no litoral do Espírito Santo, soma 900
milhões de barris, de acordo com informações
fornecidas pela Petrobrás. "Até o final de 2004
a auto-suficiência será uma realidade", ressalta
o coordenador da Replan.
A tecnologia
é a aliada da Petrobras na busca desse objetivo. A empresa,
que é especialista em prospecção e exploração
de petróleo em águas profundas, levou três meses
para extrair o petróleo do campo Jubarte e fazê-lo
chegar à refinaria para testes. "É fantástico,
pois esse é um processo que há alguns anos atrás
levaria mais de um ano para ser concluído" comemora
Buonfiglio.
Álcool
Apesar de ser considerada uma excelente alternativa para superar
problemas futuros como a extinção do petróleo,
a produção de álcool combustível ainda
não se traduz em confiabilidade para o mercado consumidor.
De acordo com relatório preparado pela ANP, com o final dos
programas de incentivos governamentais o consumo de álcool
hidratado combustível, que no período de 1992-97 era
de 9,5 milhões m³, caiu para 3,3 milhões de m³
no período de 2000-2001.
A paralisação
do Programa Nacional do Álcool (Proalcool), no final da década
de 80, resultou numa queda brutal da produção de veículos
movidos a álcool. Segundo a Associação Nacional
dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea),
no triênio 1984-86 a produção de veículos
movidos à álcool hidratado representava 90% do total
da produção de veículos no Brasil. No triênio
1999-2001 esse número chegou a 1% da produção
total.
Com
o fim dos incentivos por parte do governo para a produção
de álcool combustível, aliado ao excelente mercado
internacional do açúcar, aconteceu a migração
da produção. Além do álcool combustível,
da cana-de-açúcar também é extraído
o açúcar refinado.
A principal
participação do álcool hidratado combustível
concentra-se na mistura com a gasolina A, na proporção
de 22% de álcool para cada litro de gasolina. Essa mistura
é considerada de excelente qualidade para a queima em motores
automotivos. A participação dos produtos derivados
da cana-de-açúcar, como o álcool e o bagaço
de cana, representa 9% na matriz energética brasileira. É
um índice muito pequeno se considerarmos que se trata de
energia primária renovável.
Antonio
Buonfiglio acredita que na próxima edição do
Balanço Energético Nacional o percentual de participação
do gás natural supere o óleo combustível. Com
relação ao álcool, provavelmente, tendo em
vista que o crescimento deste energético deve atingir a casa
dos 10% na matriz energética.
(JB)
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