O
petróleo e a agressão ao meio ambiente
A utilização do petróleo traz grandes riscos
para o meio ambiente desde o processo de extração,
transporte, refino, até o consumo, com a produção
de gases que poluem a atmosfera. Os piores danos acontecem durante
o transporte de combustível, com vazamentos em grande escala
de oleodutos e navios petroleiros.
No
Brasil, os piores acidentes aconteceram em oleodutos da Petrobras,
na Baía de Guanabara e no Paraná. Para enfrentar os
riscos ambientais a Petrobras criou o Programa Pégaso e várias
universidades brasileiras desenvolvem pesquisas para criar formas
eficientes para a limpeza de áreas degradadas.
O mais
recente vazamento de petróleo com graves conseqüências
ambientais aconteceu no final de novembro, com o afundamento de
um petroleiro na costa da Espanha que transportava 77 mil toneladas
de óleo combustível. O acidente pode se tornar uma
das maiores catástrofes ambientais da história causadas
por vazamento de óleo. O navio Prestige, das Bahamas, afundou
no dia 19 de novembro a 250 quilômetros da região da
Galícia. O vazamento de óleo já atingiu as
praias e as encostas da Espanha. Segundo as organizações
ambientais, entre 10 a 15 mil pássaros foram afetados.
Em
termos de catástrofe ambiental, um dos maiores acidentes
aconteceu com o petroleiro Exxon-Valdez em 1989, quando o vazamento
destruiu parte da fauna da costa do Alasca.
Para o Greenpeace, o uso de combustíveis fósseis não
renováveis sempre oferecerá riscos para a natureza,
como afirma John Butcher, da Campanha de Substâncias Tóxicas
do Greenpeace brasileiro. "O problema é muito maior,
a questão para evitar acidentes não se resume à
manutenção e fiscalização. Sempre haverá
um risco contínuo com esses tanques enormes. O problema é
a matriz energética e o Greenpeace defende a substituição
e a eliminação gradual dos combustíveis fósseis
por fontes renováveis alternativas como a energia eólica,
solar e a energia das marés", diz Butcher.
Para
minimizar os efeitos dos acidentes e vazamentos, existem várias
iniciativas governamentais no Brasil. A principal delas é
a Recupetro (Rede Cooperativa em Recuperação de Áreas
Contaminadas por Atividades Petrolíferas). Com a coordenação
do Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade Federal da
Bahia (UFBA), a Recupetro reúne 13 Redes Cooperativas de
Pesquisa do Setor de Petróleo e Gás Natural nas Regiões
Norte e Nordeste financiadas pelo CT-Petro (veja texto), CNPq e
a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Ao
todo, são 226 pesquisadores e cerca de 2,2 mil participantes
indiretos, a maioria atuando em universidades federais. A Recupetro
começou a se formar após o edital da Finep, em julho
de 2001, convocando grupos para a formação da rede.
Os trabalhos de pesquisa começaram em setembro.
O
objetivo é contribuir com avanços tecnológicos
para auxiliar nos impactos ambientais causados pela atividade da
indústria petrolífera. Além disso, a rede se
propõe a realizar a formação e capacitação
de recursos humanos especializados para gerenciar os problemas do
meio ambiente causados pelas atividades de exploração,
produção, refino e transporte de petróleo e
seus derivados nas regiões do país onde acontecem
estas atividades.
A rede
formada nas regiões Norte e Nordeste é oportuna, porque
essas são regiões grandes produtoras de petróleo
e onde ocorrem desastres ecológicos com certa freqüência.
O coordenador da rede é o professor Antônio Fernando
Queiroz da UFBA. "Na Bahia, há vários derramamentos
de óleo nas regiões de produção de petróleo,
como em São Francisco do Conde", afirma Queiroz. Ele
diz que cada um dos grupos desenvolve trabalhos específicos,
como por exemplo, pesquisas com microorganismos para a limpeza de
óleo despejado na natureza.
Um
dos grupos que fazem parte da Recupetro é a Universidade
Federal do Ceará (UFC), através do Padetec (Parque
de Desenvolvimento Tecnológico). O pesquisador Afrânio
Craveiro, do Padetec, coordena os estudos sobre polímeros
naturais, de quintina e quintosana, para a remoção
de óleo do mar. O projeto ainda está na fase laboratorial
e consiste em produzir fibras de carapaça de crustáceo
para a absorção do petróleo despejado no meio
ambiente.
Quanto
às possibilidades desse método ser usado em grandes
acidentes como o da Espanha, Afrânio Craveiro diz que, "sem
dúvida, este é um caso aplicável, mas no momento
ainda não temos a produção de matéria
prima, estamos em uma fase piloto, que depois poderá ser
produzida em escala industrial".
A próxima
etapa do projeto é produzir microorganismos para digerir
o óleo absorvido pelas fibras. Ele fica imobilizado nas fibras
e não se espalha no meio ambiente. Essa outra parte da pesquisa
está sendo desenvolvida na Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), com a coordenação da pesquisadora Maria do
Carmo de Barros Pimentel.
Petrobras
No Brasil, os dois últimos graves acidentes em oleodutos
da Petrobras aconteceram no ano de 2000 e causaram grandes vazamentos
na Baía da Guanabara e na Paraná. Naquele mesmo ano,
a Petrobras criou o Programa de Excelência em Gestão
Ambiental e Segurança Ocupacional (Pégaso). O programa
é formado por dez grupos de gerência, 80 especialistas
de todos os escalões da empresa. Segundo a Petrobras, o Pégaso
já investiu R$ 2,3 bilhão e a previsão é
um total de investimento no valor de R$ 3,2 bilhões até
2003.
O programa
engloba cerca de três mil projetos em todos as unidades da
empresa. As atividades acontecem desde a revisão de sistemas,
construção e ampliação de instalações,
até a automação de todos os dutos da companhia.
Também foram criados nove Centros de Defesa Ambiental (CDA)
nas principais áreas de atuação, em vários
estados do país, para o aprimoramento dos sistemas de redução
de resíduos e emissão de poluentes na atmosfera.
Os
CDAs ficam em alerta 24 horas, com equipamentos de segurança,
barcos, balsas recolhedoras de óleo, dispersantes químicos,
agentes biorremediadores e grandes extensões de barreiras
de contenção e absorção. A Petrobras
mantém à disposição um helicóptero
com sensores infravermelhos para a detecção de hidrocarbonetos
na água e uma embarcação, na Baía de
Guanabara, especializada em controle de vazamentos, com capacidade
para recolher até 200 mil litros de óleo por hora.
Para
evitar a repetição dos últimos acidentes ambientais
nos oleodutos, esse programa inclui a revisão, substituição
de peças e automação. Segundo a Petrobras,
cerca de 70% dos dutos da empresa já estão com supervisão
automatizada e a meta é chegar a 100% até o final
de 2002. O trabalho de monitoramentos dos oleodutos envolve também
a avaliação das condições geotécnicas
das faixas de terra por onde passam os dutos, que podem ser afetados
por condições climáticas como chuva, erosão
e marés.
(GP)
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