Setor
de petróleo recebe apoio de grandes programas
O crescimento
do setor petrolífero brasileiro tem recebido o apoio de vários
planos e programas nacionais que contribuem para o desenvolvimento
de pesquisas, tecnologia e uso racional do petróleo e seus
derivados. Tais programas incentivam a associação
entre setor privado e público para o desenvolvimento de ciência
e tecnologia e têm apresentado resultados positivos, tornando
as atividades mais eficientes e, até mesmo, mais lucrativas.
No
momento, o grande estímulo para essa associação
entre setor privado e instituições públicas,
rumo ao desenvolvimento científico e tecnológico do
setor de petróleo e gás natural é o Plano Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CT-Petro.
Criado em 1998, na esteira da Lei do Petróleo, o CT-Petro
foi o primeiro dos Fundos Setoriais, que hoje são 14.
A principal
razão da expectativa em relação a tal instrumento
é que os recursos devem vir não do orçamento
do ministério, mas sim de percentuais sobre royalties
decorrentes da exploração do petróleo e gás.
O incentivo à participação do setor privado
no sistema e sua interação com universidades e institutos
de pesquisa, se dá via instituições públicas,
uma vez que o Governo não pode repassar recursos diretamente
para o setor privado. Então, as empresas se associam a instituições
- em geral universidades - para desenvolverem os projetos conjuntamente
e quem recebe os recursos são essas instituições.
Outra
medida relevante dos fundos setoriais é o estímulo
à desconcentração da pesquisa, obtida com a
obrigatoriedade de parte dos recursos serem destinados às
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. No CT-Petro, por
exemplo, 40% dos recursos atenderam às demandas dessas regiões,
assim como foram lançados editais para capacitação
de recursos humanos e para fixação de pesquisadores
nessas regiões.
O primeiro
edital do CT-Petro foi divulgado em 1999 e beneficiou praticamente
apenas a Petrobras. Em 2000 foram quatro editais (veja tabela) e
o volume total de recursos foi de R$ 100 milhões. O apoio
do CT-Petro inclui o estímulo à capacitação
de recursos humanos, bem como à fixação de
profissionais em áreas onde há carência de especialistas
no setor.
Principais editais do CT-Petro
|
|
Ano
|
Projetos
apresentados
|
Projetos
aprovados
|
Recursos
aprovados
(em R$)
|
Implantação
de laboratórios
de pesquisa e monitoramento
da qualidade de combustíveis |
2000
|
25
|
12
|
20
milhões
|
Pesquisa
e desenvolvimento
de novos instrumentos para análise da qualidade de combustíveis |
2000
|
13
|
6
|
5
milhões
|
Pesquisa
e desenvolvimento nas áreas temáticas prioritárias |
2000
|
585
|
126
|
55
milhões
|
Apoio
à infra-estrutura das
universidades das regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste e do Espírito Santo |
2000
|
31
|
16
|
20
milhões
|
Carta-convite
às empresas da cadeia produtiva vinculada ao setor petróleo
e gás natural |
2001
|
191
|
169
|
48,5
milhões
|
Redes
cooperativas de pesquisa do setor P&GN
no Norte e Nordeste |
2001
|
166
|
95
|
40
milhões
|
Inovação tecnológica na Cadeia Produtiva
do setor petróleo e gás natural |
2001
|
93
|
12
|
10
milhões
|
Fonte:
Site da FINEP |
Mas,
alguns entraves ainda cercam o CT-Petro. No ano passado, houve um
contingenciamento dos recursos desse Fundo para que as contas do
Ministério fechassem o ano com superávit e em novembro
deste ano, o Ministério do Planejamento enviou um Projeto
de Lei (PL 7188/02) que trata da desvinculação de
despesas inerentes ao Fundo Setorial do Petróleo. Ou seja,
os recursos que estavam previstos para o CT-Petro (vinculados a
esse Fundo Setorial) podem ser utilizados em outras áreas.
|
Raimar
expressa sua preocupação com corte de recursos
sofrido pelo CT-Petro
|
crédito:
Haroldo Abrantes |
Segundo
Raimar van den Bylaardt, coordenador-geral do Núcleo de Desenvolvimento
Tecnológico da Agência Nacional do Petróleo
(ANP), o principal argumento do PL é que o preço do
barril está em alta e que, assim, o setor vai ter recursos
demais, que poderiam ser revertidos para pesquisas em outras áreas.
Mas ele questiona essa ação. "No ano passado
foram 25% a menos, este ano 50% e no ano que vem? O corte será
de 75%?"
Para
Bylaardt, tal medida desconsidera que o preço do barril pode
também ficar extremamente baixo em certos períodos,
o que faria com que os recursos diminuíssem. Além
disso, ele explica que as pesquisas nesse setor são extremamente
caras e, quanto mais recursos estiverem disponíveis, melhor.
Outra observação de Bylaardt é que tal medida
descaracteriza totalmente o modelo dos fundos setoriais. "O
Ministério do Planejamento quer mexer naquilo que é
o principal diferencial dos fundos em relação a programas
anteriores. A estabilidade do financiamento tem sido o carro-chefe
dos fundos setoriais e, se isso mudar, o programa poderá
ser comprometido", completa.
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Pereira considera que o CT-Petro tem um grande apelo social
|
crédito:
Jeverson Barbieri
|
Para
Newton Müller Pereira, coordenador do Análise da Planificação
e Implementação dos Editais CT-Petro, um aspecto interessante
do Fundo é que contempla com uma grande quantidade de recursos
um setor que vem se tornando cada vez mais dinâmico. Para
ele, essa quantidade de recursos pode promover não só
a capacitação técnica e gerencial, mas acena
também para a abertura de uma quantidade grande de empregos
nesse setor. "O fundo vem com um grande apelo social. A proposta
de desenvolvimento tecnológico nesse setor, nos capacitando,
nos tornando um pouco mais independentes da tecnologia das empresas
internacionais é o grande objetivo", afirma Pereira.
Mas ele destaca que, como são programas de P&D (pesquisa
e desenvolvimento), pelo menos no texto, eles deveriam estar mais
próximos da empresa do que realmente estão.
Quanto
às dificuldades, segundo Pereira, elas não são
diferentes de outros programas que se iniciam nessas áreas
de apoio, aqui e em outros países. No CT-Petro há
um grande desequilíbrio entre os atores. "Há
uma forte presença estatal, através de suas agências,
que dominam os comitês e os assessores gerenciais e, também,
uma fortíssima presença das universidades, mas há
uma baixíssima presença empresarial. A não
ser aquelas empresas já envolvidas com o setor e com a Petrobras
que, por sua vez, é quem domina o setor empresarial de petróleo
e gás", diz o pesquisador.
Um
fato observado é que, com essa discrepância entre os
atores, os projetos acabaram se voltando muito para a infraestrutura
laboratorial e menos para pesquisas mais direcionadas ao desenvolvimento
tecnológico. Os dois primeiros editais de 2000 foram voltados
à infraestrutura laboratorial, mas os projetos, de uma maneira
geral, na visão de Pereira, tiveram grande foco na infraestrutura.
A presença
mais intensa das universidades e institutos de pesquisa nos editais
em detrimento do setor privado, se deu em grande medida, devido
ao desconhecimento das empresas em relação a esse
tipo de instrumento de fomento. Além disso, na opinião
de Pereira, os mecanismos de divulgação do CT-Petro
não foram capazes de sensibilizar as empresas e, as que foram
sensibilizadas, não conseguem preencher os formulários,
que levam dias para serem completados. A empresa não tem
quem saiba lidar com esse tipo de burocracia, que a universidade
já domina, acaba desistindo.
Capacitação
Pereira também comentou a desvinculação dos
recursos do CT-Petro. "Quando, em 1997, já se delineava
um boom de exploração no Brasil, deveria se articular
uma política, através do fundo, de desenvolvimento
da indústria para a área petrolífera, como
foi realmente feito. Mas eu acho que não é o suficiente.
Se começar a desvincular, desvincular, desvincular, vai se
perder esse esforço e poucos vão ficar trabalhando
nessa área".
Para
ele, trata-se de um setor no qual se prevê gastar vários
bilhões de dólares em pouco tempo e a a empresa quer
engenheiros, geólogos, que ainda não são encontrados
em número suficiente no Brasil. Ele cita um estudo da Onip
(Organização Nacional da Indústria do Petróleo)
que revelou que seria preciso nos próximos cinco anos uns
10 mil engenheiros, voltados para a indústria do petróleo
(leia também reportagem sobre capacitação
de recursos humanos). Nesse sentido, "as 800 bolsas que a ANP
concede ao ano são absolutamente nada, diante da demanda
do mercado", comenta Pereira. Mas já demonstra uma preocupação
com a questão.
O CT-Petro
tem beneficiado também programas que já estavam em
andamento. Um exemplo é o Proter (Programa de Tecnologias
Estratégicas do Refino) que tem desenvolvido pesquisas e
gerado tecnologias da ordem de US$ 1 bilhão (no período
de 1996 a 2002) pela melhoria do desempenho e estabilidade dos catalisadores,
redução dos custos operacionais e substituição
de petróleos leves importados por óleos brasileiros
mais pesados.
O Proter
foi criado em 1994, para desenvolver tecnologia de processamento
de óleo pesado de maneira competitiva. "Isso significa
o desenvolvimento de novas tecnologias e a otimização
do parque existente, para aumentar a conversão de frações
residuais e maximizar o volume de combustíveis nobres e produtos
de alto valor agregado", explica Luiz Fernando Leite, coordenador
do Proter. O programa é peça chave para a Petrobras
atingir a meta de produzir, até 2005, 2,2 milhões
de barris de óleo por dia.
Uma
das características desse programa é a presença
de parcerias no Brasil e no exterior, "Aspecto essencial para
um programa tecnológico deste porte, pois une competências
e conhecimentos complementares, fertilizando idéias, através
do trabalho com equipes de outra formação e cultura",
opina Leite.
O pesquisador
explica que o Proter é baseado num Comitê Gerencial
composto pelos gerentes dos órgãos operacionais e
do Centro de P&D, que estabelecem as diretrizes e determinam
os recursos para cada área. "A partir destas diretrizes,
um Comitê Operacional prioriza e aprova a carteira de projetos
e acompanha o seu andamento. Esta gestão compartilhada direciona
melhor o foco dos projetos à sua aplicação,
reduzindo o tempo de lançamento". Ele salienta ainda
a importância da participação das universidades,
centros de pesquisa, empresas de engenharia, clientes, fornecedores
e outras empresas de petróleo para reduzir os custos de inovação
e alavancar a capacitação de sua equipe.
Além
da atuação do CT-Petro, outras iniciativas também
têm sido importantes para o desenvolvimento do setor, como
é o caso do Conpet (Programa Nacional de Uso Racional de
Derivados de Petróleo e de Gás Natural) que se dedica
principalmente à sensibilização para o uso
racional do petróleo e gás natural
O Conpet
foi criado em 1991 pelo Governo Federal.para incentivar o uso eficiente
desses recursos naturais - que podem se esgotar se não forem
utilizados racionalmente. João Eudes Touma, gerente executivo
do setor de Conservação da Energia Renovável
da Petrobras e responsável pelo suporte ao Conpet, explica
que o programa atua no desenvolvimento de projetos nos setores de
transporte, industrial, residencial e comercial. "A Petrobras
apóia o programa estabelecendo parcerias com órgãos
govenamentais e não-governamentais. Além do apoio
financeiro, também fornece apoio técnico para os setores
públicos e privados", diz Touma.
Para
ele, o Conpet tem conseguido atingir suas metas. Ele cita o exemplo
do "Projeto Economizar", elaborado para racionalizar o
consumo de óleo diesel nas empresas de transporte rodoviário
de cargas e passageiros no Brasil. O projeto é resultado
da associação entre os setores público e privado.
A Petrobras fornece apoio técnico para melhor utilização
dos combustíveis e lubrificantes, além de treinamento
para os mecânicos e motoristas das empresas de transportes.
Para a sua operacionalização, são utilizadas
unidades móveis equipadas com mini laboratórios e
técnicos especialmente treinados pela Petrobras, que visitam
as garagens periodicamente para verificar a qualidade do óleo
diesel utilizado pela empresa e a emissão de fumaça
negra pelo escapamento dos veículos (prejudicial ao meio
ambiente). Eles também dão instruções
para manuseio correto e estocagem do combustível, controle
de emissões de gases poluentes, entre outros.
Touma
diz que as empresas aderem voluntariamente ao programa e devem arcar
com as despesas mensais dos técnicos e manutenção
dos laboratórios móveis. Por outro lado, conseguem
uma média de economia anual de cerca de 144 milhões
de litros de diesel e redução significativa das taxas
de emissão de fumaça negra. Atualmente, existem 41
unidades móveis espalhadas pelo Brasil e é possível
que esse número dobre no próximo ano. Segundo Touma,
a Petrobras já investiu, desde o surgimento do programa,
em 1996, pelo menos R$ 50 milhões.
Leia
também artigo que explica os editais
do CT-Petro.
(JS
e SP)
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