Cidade
tenta unir tecnologia e exclusão social
No
Brasil, os contrastes sociais não são novidade para
ninguém. A falta de infra-estrutura básica acarreta
problemas de saúde, educação, transporte ,
alimentação e tantos outros. Vivemos em um país
com um índice crítico de analfabetismo. Segundo o
IBGE, o país conta com 20 milhões de pessoas incapazes
de ler e escrever. Essa precariedade de condições
a que uma grande camada da população está submetida,
engrossa as estatísticas de desemprego. Os índices
de desempregados sem qualificação e com dificuldades
para retornar ao mercado de trabalho retraído, crescem de
forma assustadora, assim como o trabalho informal.
Algumas
cidades do país, no entanto, apresentam ou deveriam apresentar
um diferencial com relação ao resto do país.
Um exemplo é a cidade de São Carlos, no interior de
São Paulo, pólo de ciência e tecnologia. Por
suas características peculiares, tem potencial para, um dia,
receber o título de cidade sustentável, o que significa
garantir para sua população educação,
saúde, trabalho e segurança.
São
Carlos, Capital da Tecnologia
A cidade
de São Carlos, chamada de capital da tecnologia, tem uma
situação peculiar se comparada ao restante do estado
de São Paulo,e mesmo do país. Com 190 mil habitantes,
a cidade concentra o maior número de doutores por quilômetro
quadrado do país: em média, um doutor para cada 220
habitantes.
A cidade
conta com duas universidades públicas, uma federal e outra
estadual, mais duas particulares, dois centros de pesquisa da Embrapa
e uma fundação de alta tecnologia. Apesar disso, a
população de baixa renda não tem acesso a infra-estrutura
básica, como esgoto, água e escola para todas as crianças.
Muito menos à tecnologia.
O prefeito
de São Carlos, Newton Lima, cujo slogan de governo é
"Sustentabilidade com Cidadania", mostra as reais condições
da cidade. Segundo ele, São Carlos está longe de ser
considerada uma cidade com desenvolvimento aplicado à cidadania.
Em seus 143 anos de existência, chega agora ao quarto ciclo
de desenvolvimento - que teve início com o café, passou
pela indústria de máquinas pesadas, entrou na era
do desenvolvimento da tecnologia, com a criação da
Fundação Parque de Alta Tecnologia, Parq Tec e, finalmente,
alcançou há dois anos o ciclo da indústria
aeroespacial.
São
Carlos jamais teve um planejamento urbano. Na capital da tecnologia,
o esgoto nunca foi tratado. Para reverter esse quadro, algumas ações
já estão sendo implementadas. Segundo o prefeito Newton,
"estamos engatinhando na direção de transformar
São Carlos em uma cidade sustentável".
Mas
cabe a pergunta: como ser capital da tecnologia quando os problemas
sociais são gritantes? O diretor da Fundação
Parq Tec, professor Silvio G. Rosa, fala de suas preocupações
e descreve os programas que estão sendo desenvolvidos junto
a comunidade. A Fundação Parque de Tecnologia, foi
criada em dezembro de 1984, por iniciativa do então Presidente
do CNPq Ronaldo Cavalcanti de Albuquerque, que cria ao todo 5 fundações
no país: São Carlos, Campina Grande, Manaus, Santa
Maria e Blumenau.
A criação
do Science Park, o primeiro da América Latina, tem como base
dez metas a serem desenvolvidas em dez anos, sendo a grande maioria
delas voltadas para a população excluída. Na
área de educação: erradicar o analfabetismo
da cidade, dez anos de educação com qualidade para
toda criança de São Carlos, um investimento de 10
milhões de reais nas escolas do Senai e Escola Técnica
para formação de técnicos para as indústrias
de base. Na área da saúde: a meta é reduzir
a mortalidade infantil a zero e elevar a expectativa de vida para
2 anos acima da média regional, água e luz e esgoto
tratado. Na área de informação: ligar em uma
só rede todas as universidades, laboratórios centros
de informação e prefeitura. Na área administrativa:
auxiliar a prefeitura na implantação de um plano diretor
para a cidade. O objetivo é ter, no final, cerca de duzentas
empresas de base tecnológica na cidade, usando a mão
de obra formada no local. Segundo Rosa, "não podemos
ser a capital da tecnologia enquanto estivermos rodeados pela pobreza"
A criação
de um banco de dados pela prefeitura em convênio com o Departamento
de Ciências Sociais da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar), vai mapear os bolsões de pobreza e cadastrar
famílias, podendo assim registrar e identificar as necessidades
dessa população e dar melhor atendimento. O título
de capital da tecnologia simplesmente não coloca a cidade
de São Carlos e suas vizinhas na categoria de cidade- padrão,
mas os recursos tecnológicos e humanos podem transformá-la
em uma cidade sustentável em curto espaço de tempo.
Há
outros pólos tecnológicos espalhados pelo Brasil.
Sua situação não é muito diferente da
encontrada em São Carlos. Há indícios de que
as autoridades federais têm percepção desse
contraste e dos problemas que, com ele, se amplificam. Uma demonstração
dessa preocupação é a reunião, no próximo
mês de abril, na cidade de Florianópolis, do ministro
de Ciência e Tecnologia Sardenberg com os secretários
de Ciência e Tecnologia de todo o país para tratar
de formas de acesso mais eficazes e que alcancem de forma efetiva
a população de baixa renda do país. O objetivo
é acabar com a fronteira tecnológica que, basicamente,
só permite a passagem daqueles que possuem passaporte financeiro.
(LO)
Para
saber mais
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DAVIDOVICH,
Fany R. "Transformações do quadro urbano
brasileiro: período 1970-1980". In Urbanização
e Metropolização no Brasil, 1986.
BAGGIO,
Rodrigo. Conhecimento para um Brasil melhor. Valor Econômico,
São Paulo, 26/10/00. E-mail: cdi@cdi.org.br
BAGGIO,
Rodrigo. Valor Econômico, São Paulo, 25/05/00.E-mail:
cdi@cdi.org.br
ALBUQUERQUE,
Roberto Cavalcanti de O Brasil e a Globalização.
Recife, 1999.
Fundação
Parque de alta tecnologia - Parq Tec
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