Qualidade
das águas utilizadas nas cidades é cada vez pior
A
água é um recurso fundamental para a sobrevivência
dos homens. A disponibilidade de água para o consumo sempre
foi um fator determinante na escolha dos locais de fixação
de comunidades humanas. Apesar de abundante, o acesso a esse recurso
é limitado por fatores geográficos e econômicos.
A água não está ao alcance de todos e, nas
áreas urbanas, é cada vez menos acessível.
A densidade populacional nas grandes cidades tem crescido, aumentando
a demanda por água e alimento e a produção
de esgoto e lixo; muitas atividades industriais e agrícolas
também usam muita água e descarregam muita poluição
nos rios.
O fornecimento
de água para as populações de muitas nações
industrializadas é fortemente prejudicado pela poluição
da água disponível e pela falta de planejamento urbano.
O uso
racional da água nos centros urbanos e os programas de despoluição
e recuperação ambiental dos rios e bacias fluviais,
ajudariam a melhorar a qualidade de vida, mantendo a higiene nas
cidades, garantindo a qualidade para o consumo e higiene pessoal,
prevenindo enchentes e garantindo água para fins recreativos.
De forma geral, podemos caracterizar o sistema urbano de fornecimento
de água como tendo algumas etapas principais: captação,
tratamento para uso, utilização, tratamento para posterior
descarga nos rios, lagos ou litorais. Este sistema parece ser muito
simples, mas na realidade, muitos fatores interferem no ciclo; muitas
cidades não tratam nada do esgoto, e raras são as
que tratam 100 por cento; em vários trechos de rios, há
cidades que captam rio abaixo das descargas de outras cidades, o
que vai tornando o tratamento cada vez mais difícil
No
Brasil, não faltam exemplos de problemas. As bacias hidrográficas
dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí estão situadas
em uma região que, além de ser densamente povoada
é uma das regiões do país com maiores índices
de desenvolvimento econômico. O "comitê de bacia",
ou comitê gestor desta Unidade de Gerenciamento dos Recursos
Hídricos (UGRH) composta pelas bacias hidrográficas
desses rios, encontra grandes dificuldades no que diz respeito à
garantia atual e futura da oferta de água para os usos doméstico,
industrial e agrícola. Cerca de 30 mil litros por segundo
da água da bacia do Piracicaba é transposta para a
Bacia do Alto Tietê e garante mais de metade do abastecimento
da grande São Paulo, o que torna a situação
ainda mais drástica para as cidades do interior, na região
de Campinas. A relação entre demanda de água
total das bacias e a disponibilidade mínima estimada caracteriza
a região como crítica. Muitos trechos dos rios Piracicaba,
formado pelos rios Jaguari e Atibaia, mais o Jundiaí e o
Capivari têm água de péssima qualidade devido
às descargas lançadas diariamente - a maior parte
dos esgotos urbanos não é tratada e parte dos efluentes
industriais despejados ainda carregam compostos tóxicos.
O professor
da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, Oswaldo Sevá,
dimensiona a situação: "Na região da cidade
de Campinas, somos cerca de 1 milhão de habitantes, dos quais
uns 80 mil talvez tenham seu esgoto tratado". A escassez de
água ocorre devido à redução da vazão
dos rios Atibaia e Jaguari, que no seu trecho inicial, ainda na
Serra da Mantiqueira fornecem água para a capital paulista,
e a isto se soma a deterioração dos rios devido ao
não tratamento dos esgotos urbanos e industriais.
Nessa
região, o sistema de esgotos, quando existe, começa
na casa do usuário e vai para a rede de coleta de esgoto
nos bairros. Cada rede de coleta leva o esgoto para um tubo de dimensões
maiores que se chama tronco coletor e o conduz até uma estação
de tratamento. Porém, como nessa região as estações
de tratamento de esgotos (ETEs) são raras, ele acaba sendo
despejado diretamente nos rios. O problema, é que a água
consumida por populações que habitam muniícipios
rio abaixo, vem desses mesmos rios.
Quando
não há rede de esgoto os dejetos vão para a
fossa. Estas, se forem bem projetadas e mantidas, funcionam bem
para casas no meio rural e loteamentos não muito densos.
Segundo
Sevá, "Na região, não há muita
diferença entre as estações de tratamento de
esgoto (ETE) e as estações de tratamento de água
(ETAs), pois a própria água do rio já é
um tipo de esgoto, às vezes mais diluído. Se você
for analizar as ETAs da Sanasa, elas quase funcionam como uma ETE".
O esgoto tratado nas ETEs, antes de ser descarregado nos rios, passa
por processos biológicos, físicos e químicos
para reduzir o impacto ambiental e o risco de doenças. Já
a água captada pelas ETAs apresenta alta acidez devido a
presença de matéria orgânica em fermentação,
vinda do despejo dos esgotos não tratados e das indústrias.
Antes de serem adicionados produtos químicos específicos
para torná-la potável, essa água passa por
processos de tratamento muito parecidos com o processo que ocorre
nas ETEs. Para transformar a água suja dos rios em água
potável para os consumidores, as ETAs acumulam grande quantidade
de lodo - que contém produtos quimicos - que muitas vezes
é despejado novamente nos rios. Somente agora, a Sanasa anunciou
em Campinas, o investimento em uma ETL - estação de
tratamento do lodo gerado nas suas duas maiores ETAs, no distrito
de Souzas.
A carga
de esgoto depositada diariamente nos rios, não é proveniente
somente do usuário doméstico. Grande parte é
proveniente de esgotos liberados pelas indústrias locais,
a maioria das quais não tratam e descarregam diretamente
nos rios ou estão ligadas na mesma rede coletora do município.
Sevá chama a atenção para a importância
do tratamento local do esgoto: " Cada indústria, cada
universidade, ou condomínio, ou presídio, enfim, cada
unidade geradora de esgoto em maior quantidade, deveria realizar
o tratamento, e mesmo assim, isso ainda não bastaria para
resolver o problema de forma estrutural".
O estudo
realizado pelo pesquisador Bastiaan Philip Reydon e seu grupo no
Departamento de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp),
mostra que a implantação de Estações
de Tratamento de Esgoto (ETEs) e Estações de Tratamento
de Água (ETAs) nessas bacias, hoje, teria um custo econômico
bem menor do que daqui a alguns anos, quando os mananciais estarão
mais degradados, podendo inclusive perder sua capacidade natural
de regeneração. No entanto, os pesquisadores salientam
que o tratamento dos esgotos não é suficiente para
a despoluição dos mananciais. É necessário
um esforço conjunto de integração dos diversos
municípios e das instituições responsáveis
pela gestão de recursos hídricos e de saneamento.
Vale lembrar que, apesar da situação ser desastrosa,
essa é uma região brasileira relativamente desenvolvida
se comparada com cidades de outras regiões.
Breve
histórico
É
possível que os primeiros sistemas de água e
esgoto tenham surgido em 3000 a.C., e que a reutilização
de águas para irrigação das produções
agrícolas já exista há cerca de 5000
anos. Até 1850, os sistemas e água e esgoto
eram muito precários. A falta de planejamento para
reutilização da água, aliada a falta
de água adequada para o consumo e ausência de
tratamento, resultaram em epidemias catastróficas como
a cólera asiática ou o tifo, que assolaram a
Europa durante os anos de 1840 e 50. Na década de 1850,
foram descobertas as relações entre as formas
de utilização e poluição da água
disponível e as epidemias que vinham causando grande
mortalidade nas cidades. O período de 1850 a 1950 foi
marcado por intensa pesquisa sobre o assunto e desenvolvimento
de novas alternativas como a progressiva introdução
da filtração da água para o consumo e
a maior utilização de aquedutos nas cidades.
Após 1960, surgiu o que alguns pesquisadores chamam
de "era do reaproveitamento e reciclagem da água",
em que o aproveitamento máximo da água disponivel
é uma medida já reconhecida pela legislação
de vários estados norte americanos e da União
Européia. Atualmente, o aumento do interesse em maximizar
o uso da água é uma resposta às crescentes
pressões da sociedade pelo consumo de água de
alta qualidade, e à dependência de água
pela agricultura e indústria.
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Alguns
cientistas chamam a época em que vivemos de "Era da
reciclagem e reutilização da água". As
pesquisas tem se intensificado para que sejam encontradas novas
alternativas. O objetivo é maximizar os processos de tratamento
de água e esgoto nas regiões urbanas. No entanto,
o desenvolvimento de pesquisas e novas tecnologias não é
suficiente. Os países de Terceiro Mundo dificilmente terão
acesso a essas tecnologias.
Os
pesquisadores Olli Varis, da Universidade Tecnológica de
Helsink, Finlândia, e Lászlo Sómlyódy,
da Universidade Tecnológica de Budapeste, Hungria, publicaram
um estudo que trata da infra estrutura dos sistemas de água
utilizados nas zonas urbanas de cidades pertencentes a países
de Terceiro Mundo (Jacarta, na Indonésia) e Primeiro Mundo
(Copenhagen, na Dinamarca). Segundo eles, os países de Primeiro
Mundo geralmente contam com alta tecnologia, capital e estrutura
sócio-econômica para a tomada de decisões sobre
o uso da água pelas populações urbanas. No
Terceiro Mundo, muitas cidades não contam com sistemas de
esgoto que, quando existem, são ineficientes e geralmente
mal dimensionados. Mesmo os países do Primeiro Mundo estão
encontrando cada vez mais dificuldades para conseguir o que alguns
cientistas chamam de um uso "sustentável" da água
nos centros urbanos.
A questão
da água no contexto da urbanização não
consiste somente nos aspectos de fornecimento de água e saneamento.
Em uma visão mais ampla, os problemas relativos ao uso da
água urbana fazem parte de um contexto maior de utilização
dos recursos naturais nas sociedades humanas. Mesmo depois da criação
da expressão "desenvolvimento sustentável",
hoje perseguido por muitos cientistas, a situação
não é animadora. Enfim, nos resta uma pergunta chave
, feita por Sevá: "É possível construir
um ambiente limpo em um lugar que já está violentamente
deteriorado"?
Algumas
doenças causadas pela falta se saneamento
Doença
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Agente
causador
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Forma
de contágio
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Cólera
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Bactéria
Vibrio colerae
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Ingestão
de água contaminada
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Febre
tifóide
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Bactéria
Salmonella typhi
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Ingestão
de água contaminada
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Hepatite
A
|
Vírus
da hepatite A
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Ingestão
de alimentos contaminados, contato fecal-oral
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Dengue
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Aedes
aegypti
|
Picada
do inseto
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Esquistossomose
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Asquelminto
Schistosoma mansoni
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Ingestão
de água contaminada, através da pele
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Amebíase
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Protozoário
Entamoeba histolytica
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Ingestão
de água ou alimentos contaminados por cistos
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(JS)
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