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             Novo 
              código florestal desagrada ambientalistas  
            A 
              revisão do Código Florestal Brasileiro continua gerando polêmica. 
              De um lado a bancada ruralista do Congresso Nacional, representada 
              pelo relator da Comissão Especial deputado federal Moacir Micheletto 
              (PMDB-PR), e de outro as entidades ambientalistas. Depois de adiada 
              três vezes, em função da pressão da opinião pública, a votação no 
              Congresso está marcada para o dia 21 de junho. A repercussão também 
              foi internacional. No período de negociação a proposta do relator 
              recebeu protestos na Internet, com e-mails assinados por moradores 
              de vários países como Espanha, Argentina, Venezuela, Canadá e Estados 
              Unidos.  
            
              
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                   Micheletto 
                    - O relator do projeto é da bancada ruralista 
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            Mesmo 
              com a data de votação já marcada as entidades ambientalistas apostam 
              no adiamento. "A nossa expectativa é de que o Ministério do Meio 
              Ambiente dê um parecer favorável ao adiamento", afirmou a coordenadora 
              do programa Brasil Socioambiental, do Instituto 
              Socioambiental (ISA), Adriana Ramos. Enquanto não ocorre a votação, 
              as Organizações Não-Governamentais se mobilizam em defesa do atual 
              texto da Medida Provisória, considerado o mais viável e representativo 
              dos diversos segmentos da sociedade. Na opinião dos ambientalistas, 
              o novo percentual de preservação, a ser fixado no Código, será decisivo 
              para o futuro das florestas do País. 
             
              Um dos itens mais polêmicos da minuta do deputado Micheletto é a 
              redução de 80% para 50% da área de reserva legal nas pequenas propriedades 
              situadas na Amazônia e fixação em 35% para as áreas do cerrado amazônico 
              e em 20% para as demais regiões. Na última audiência pública, em 
              24 de maio, as ONG's acenaram com a possibilidade de aceitar parte 
              da proposta. "Desde que as áreas de preservação permanente tenham 
              características definidas, baseadas no Zoneamento Econômico-Ecológico. 
              Só dá para abrir mão de alguma coisa, se tiver garantia de outras", 
              enfatizou Adriana Ramos.  
            A 
              proposta da Federação dos Agricultores do Paraná poderá ser agregada 
              à minuta do relator. Atualmente é exigido do agricultor com propriedade 
              de até 30 hectares na Mata Atlântica 20% de reserva legal, além 
              da área de preservação permanente. É definido como área de preservação 
              permanente toda vegetação existente em encostas de morros e margens 
              de rios. Já reserva legal é um percentual da propriedade que deve 
              ser mantida como floresta. A finalidade dessas áreas é propiciar 
              o equilíbrio ecológico.  
            Está 
              em negociação, a possibilidade do percentual de reserva legal já 
              inclua a área de preservação permanente. Ou seja, se o agricultor 
              tiver 15% de área de preservação permanente completará o restante 
              (5%) com reserva legal. Se a área de preservação permanente já for 
              superior a 20% não precisará dispor de reserva legal.  
            Para 
              os ambientalistas não é possível fixar percentuais de preservação 
              sem antes definir critérios técnicos e parâmetros para o Zoneamento 
              Econômico-Ecológico. O que tem ocorrido, segundo Adriana Ramos, 
              é a utilização de critérios políticos. Como exemplo, ela cita o 
              ZEE de Rondônia, já aprovado pela Assembléia Legislativa. Nos estudos 
              técnicos uma determinada área de um município de Rondônia foi considerada 
              de vocação florestal, mas os políticos a aprovaram como de vocação 
              agrícola. "Com certeza os proprietários pressionaram os políticos 
              para retirarem suas propriedades da área de vocação florestal. Não 
              podemos aceitar que o zoneamento seja mudado dessa forma", disse. 
             Desmatamentos 
              na Amazônia 
              Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais 
              (Inpe) mostram que a região Amazônica 
              sofreu entre agosto de 1999 e agosto de 2000 o segundo maior processo 
              de devastação da década de 90. Por meio de análise de fotos satélites, 
              os especialistas concluíram que sumiram do mapa um total de 2000 
              quilômetros quadrados de mata, o equivalente a destruição de um 
              campo de futebol a cada oito segundos. O estado líder na participação 
              no total de devastação da Amazônia é o Mato Grosso (40%), seguido 
              do Pará com 30%.  
            O 
              desmatamento na região, na opinião do coordenador do projeto Madeira 
              do Instituto do Homem e Meio 
              Ambiente da Amazônia (Imazon), Paulo Amaral, é conseqüência 
              da falta de rigidez na fiscalização associada ao desrespeito à vocação 
              econômica. "Nossa vocação é florestal, não é para atividades pecuárias 
              e agricultura. Precisamos definir uma política de uso da região, 
              tendo como base o Zoneamento Ecológico", declarou.  
            Na 
              região Amazônica, segundo Amaral, por enquanto apenas os estados 
              do Mato Grosso e Acre estão desenvolvendo o ZEE com bases técnicas, 
              tendo condições de gerar bons mapas temáticos. Nos outros Estados, 
              as informações coletadas ainda são fracas para definir o potencial 
              econômico. 
             
              Os riscos de se aprovar alterações no Código Florestal que venham 
              a diminuir ainda mais as áreas de proteção ambiental é grande. Por 
              isso, os ambientalistas defendem a fixação de percentual após a 
              conclusão do ZEE. "Só depois de termos o zoneamento de cada Estado 
              é que vamos conhecer o potencial de cada um e poder promover o desenvolvimento 
              sustentável que garanta a viabilidade econônomica", afirmou Amaral. 
             
              O raciocínio de que é preciso diminuir a área de reserva legal para 
              que os proprietários tenham condições de aumentar a produção é questionada 
              pelo pesquisador do Imazon, principalmente se tratando da Amazônia. 
              O primeiro passo para se obter o crescimento econômico, na opinião 
              de Amaral, seria o investimento em tecnologia e capacitação de mão-de-obra. 
               
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