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             Educação 
              e fiscalização garantem 
              a sobrevivência de espécies 
             
              Proteger espécies da extinção é o propósito de diversos projetos 
              desenvolvidos no Brasil. Os resultados revelam que, aos poucos, 
              a população aprende a respeitar a fauna nacional e pode encontrar 
              nela até mesmo meios de desenvolvimento econômico e social.  
            O 
              Projeto Tamar, criado 
              em 1980 em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente 
              e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), é uma das inciativas 
              que está dando certo. Em mais de 20 anos de existência equipes profissionais, 
              que contam com a participação das comunidades locais, conseguiram 
              manter vivas em torno de 4 milhões de tartarugas marinhas, ameaçadas 
              de extinção. Na lista de espécies em risco estão a tartaruga oliva 
              (Lepidochelys olivacae), a cabeçuda (Caretta caretta), 
              a verde (Chelonia mydas), a de pente (Eretmochelys imbricata) 
              e a de couro (Dermochelys coriacea). Foram anos buscando 
              formar uma consciência geral e que envolveram as comunidades, universidades, 
              centros de pesquisa, empresas e parcerias que dão sustentação às 
              ações. 
            
               
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            É 
              o que informa o biólogo e coordenador-técnico do Tamar em Salvador 
              (BA), Gustave Lopez. O Tamar-Ibama possui 21 bases de proteção e 
              pesquisa - que são o local para que os animais se alimentem e se 
              reproduzam -, nos estados da Bahia, Pernambuco (onde está o Parque 
              Nacional Marinho de Fernando de Noronha), Sergipe, Ceará, Rio Grande 
              do Norte, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. Aliado à preocupação 
              educativa quanto ao meio ambiente, o projeto possui um caráter social. 
              Mantém, na sua sede nacional, na Praia do Forte (BA), uma creche 
              para crianças da região e, em Regência (ES), emprega jovens e mulheres. 
             
              No Norte do País, existem os projetos do Peixe-Boi 
               e o de proteção de quelônios (tartarugas) de água doce, que 
              também funciona em Goiás - na vazante dos rios da Bacia Amazônica 
              e as sub-bacias dos rios Araguaia e Tocantins - e no Mato Grosso. 
              Em 21 anos, o Projeto Quelônios soltou na natureza mais de 30 milhões 
              de filhotes de tartarugas - como a da Amazônia e a tracajá -, como 
              informa o biólogo Isaías José Reis, técnico da área de criação de 
              quelônios em cativeiro do Centro Nacional de Quelônios da Amazônia 
              (Cenaqua/Ibama), sediado em Goiânia (GO). 
             
              Ele destaca que os turistas e os pescadores são os que mais dificultam 
              o trabalho. Na região Norte, esclarece o biólogo, existe o costume 
              de se comer tartarugas (que já começam a ser servidas também em 
              restaurantes de outros estados). Criações comerciais, monitoradas 
              pelos técnicos, procuram evitar a pesca predatória. A 
              médica veterinária e integrante da coordenação da área técnica do 
              Cenaqua, Vera Lúcia Ferreira Luz, diz que há 80 criadouros comerciais 
              registrados no Norte e no Centro-Oeste, 21 deles em fase de comercialização. 
              O objetivo é educar a população para proteger as espécies e para 
              fazer o manejo de maneira autônoma. Há, nas duas regiões, 115 sítios 
              reprodutores de quelônios. 
             
              Com mais de 20 anos, o Projeto Peixe-Boi levou pesquisadores, técnicos 
              e fiscais a dar ao peixe-boi chances de sobrevivência, sustentado 
              por estudos, campanhas educativas e dedicação das pessoas envolvidas. 
              Em 1998, o Centro Peixe-Boi/Ibama transformou-se em Centro Nacional 
              de Pesquisa, Conservação e Manejo de Mamíferos Aquáticos, voltado 
              para a proteção dos dois tipos de peixe-boi encontrados no País, 
              o peixe-boi marinho, na costa nordeste, e o peixe-boi da Amazônia. 
              No entanto, a população desses animais ainda diminui com o passar 
              do tempo, devido à degradação do seu habitat. 
             
              O estado do Paraná, apesar de ter uma costa marinha reduzida, sedia 
              vários projetos de preservação de golfinhos, jacarés, aves e a criação 
              de recifes marinhos artificiais. Os responsáveis são, 
              desde 1997, a ONG Ecoplan, 
              em conjunto com o Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal 
              do Paraná (UFPR).  
            Assim, 
              busca-se garantir a sobrevivência de vários peixes, entre eles o 
              mero, que pode pesar até 250 quilos e está na lista de animais em 
              extinção. Por meio da recriação de ambientes naturais, permite-se 
              a existência de outros animais, como esponjas, crustáceos, pequenos 
              corais e moluscos. 
             
              Segundo o biólogo e consultor científico da Ecoplan, Ariel Scheffer 
              da Silva, um dos problemas enfrentados no litoral do Paraná é que 
              barcos de Santa Catarina e de São Paulo prejudicam o meio ambiente 
              com a pesca de arrasto de camarões e com as frotas pesqueiras industriais 
              que comprometem a pesca artesanal. Uma das vantagens dos recifes 
              artificiais é que eles dificultam esse tipo de prática e, com o 
              projeto, os pescadores da região retomam um antigo método de pesca. 
              "Eles estão mudando a tecnologia de uma pesca menos seletiva para 
              uma metodologia mais seletiva, com anzol e rede", afirma o pesquisador. 
             
              A Ecoplan possui também o Projeto Delphi, de monitoramento da população 
              de golfinhos nas baías de Guaratuba e Paranaguá. Além destes existem, 
              o Projeto Jacaré, acompanha o jacaré-de-papo-amarelo, ameaçado de 
              extinção, e o Projeto Guará tenta recuperar a ave guará, outro espécime 
              que pode acabar no País. 
             
              Vivendo na Mata Atlântica, o mico-leão dourado, é também um animal 
              que poderá ser considerado extinto se, até 2025, o Brasil não tiver 
              pelo menos duas mil espécies. Para tanto, é preciso aumentar o hábitat 
              disponível de 16.600 hectares para 25.000 nos próximos 24 anos. 
              Hoje, existem cerca de 480 animais vivendo em cativeiro e outros 
              1000 vivendo livremente em uma área equivalente a 2% do habitat 
              natural. Pesquisadores do projeto, desenvolvido pela Fundo Mundial 
              para a Natureza (WWF) e outros parceiros desde 1971, comemoraram 
              o nascimento do milésimo mico-leão-dourado, em abril deste ano, 
              na Reserva Biológica de Poço das Antas, no Rio de Janeiro.  
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