Editorial:

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Carlos Vogt

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Poema:
Inconcluso
Carlos Vogt
 
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Agricultura Orgânica pode ser alternativa aos transgênicos

Produzir alimentos livres de agrotóxicos e gerar relações mais justas na venda e consumo de vegetais. Desafio que a agricultura orgânica se propõe para oferecer uma alternativa ao agronegócio tradicional. Para isso, agricultores do Brasil precisam vencer obstáculos como a dificuldade de conseguir sementes livres de tratamento químico ou manipulação genética e de aproximação do consumidor final, estreitando contatos para que um conheça as necessidades do outro, premissa básica nesse tipo de produção. Os resultados, para o produtor e para o consumidor podem ser compensadores.

A Agricultura Orgânica é definida como a prática de produção de alimentos sem o uso de insumos de origem sintética, respeitando os ciclos da natureza. O manejo agrícola é baseado no respeito ao meio ambiente e na preservação dos recursos naturais. O produtor busca alternativas naturais para a adubação, controle de pragas e recomposição do solo. As relações humanas também são levadas em conta neste tipo de produção: há uma preocupação em estabelecer relações de trabalho mais justas a partir do campo e em aproximar o consumidor final do produtor.

O solo é a base do produto orgânico e recebe atenção especial: a terra é fertilizada com resíduos como restos de vegetais, esterco, aparas, materiais que, decompostos, fornecem nutrientes para as plantas. A palha é utilizada como proteção contra ervas daninhas, evitando assim o uso de herbicidas. A Embrapa Meio Ambiente, de Jaguariúna, acompanha produtores orgânicos de cidades do Estado de São Paulo, ensinando o manejo adequado do solo. "Na agricultura orgânica é importante que a terra esteja equilibrada, o que pede a diversificação dos extratos acrescentados", explica o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Pedro Valarini. O esforço dos produtores é compensado: até mesmo o tomate, produto difícil de cultivar, mesmo na agricultura tradicional, pela sua baixa resistência as pragas, apresenta bons resultados com a agricultura orgânica. Algumas propriedades da região de Serra Negra, interior de São Paulo, estão utilizando extrato de solo de mata para pulverizar o solo e as plantas. "O solo de mata é rico em microorganismos que ajudam a recompor o solo e são inimigos naturais de outros que prejudicam a vegetação", explica o pesquisador.

A produtividade da agricultura orgânica é menor que a da agricultura convencional e é necessário empregar mais pessoas para o cuidado das plantações. Uma das dificuldades dos produtores é encontrar sementes que se adaptem ao não uso de insumos sintéticos. A venda de sementes "adaptadas" garante também aos grandes conglomerados internacionais de tecnologia agrícola a venda de seus insumos e herbicidas aos agricultores que buscam uma produtividade cada vez maior. Esses produtos muitas vezes são causa de graves intoxicações, principalmente entre os produtores com menor grau de instrução, que usam as substâncias de forma indiscriminada. A terra também é afetada. O descarte de embalagens pode contaminar o solo e a água.

A obtenção de sementes sem tratamento químico é uma das partes mais difíceis da agricultura orgânica. No Brasil há poucas empresas que produzem sementes adaptadas ao cultivo orgânico. Uma delas pertence a um assentamento do MST no Rio Grande do Sul. "Muitos agricultores usam a semente tradicional, já que é difícil obter a semente orgânica", diz Pedro Valarini. O problema é maior para quem planta hortaliças. Já a soja sem tratamento químico é mais fácil de ser obtida, pois as sementes podem chegar limpas ao produtor com maior facilidade.

Opção viável para os pequenos
O medo da contaminação foi um dos motivos que levaram a família de Kátia Ono, de Vargem, pequena cidade a uma hora de Campinas, no interior paulista, a reduzir o uso de agrotóxicos. Dona de uma pequena propriedade, a família produzia hortaliças quando o filho caçula teve um problema de saúde, que os médicos acreditavam ser uma reação alérgica. O problema desapareceu com a eliminação dos agrotóxicos da propriedade. A agricultura orgânica apareceu como uma oportunidade de retomar a produção agrícola, depois de um período de dez anos em que não houve cultivo, o que ajudou na reestruturação do solo. O uso de técnicas que o pai trouxe do Japão e a orientação de agrônomos conhecidos da família levaram à produção orgânica, sem o uso de agrotóxicos, muito caros para a realidade da propriedade.

A propriedade recebeu o selo de certificação há quatro anos e vende seus produtos em Atibaia e Bragança Paulista. A luta agora é para ganhar novos adeptos. Em Vargem eles são os únicos produtores a trabalhar com agricultura orgânica: "mas sabemos que tem muita gente com condições de adotar a agricultura orgânica na região. No geral, pequenos produtores que não usam insumos sintéticos até mesmo porque não podem pagar por eles", afirma Kátia. Oferecer oportunidades aos pequenos produtores é um dos pontos fortes da agricultura orgânica. Alijados do processo convencional, voltado para atender o mercado, os pequenos agricultores podem restabelecer laços fortes com a terra, fixando-se nela e obtendo preços justos por sua produção: vegetais orgânicos chegam a custar 30% a mais que os convencionais, e a demanda cresce cada dia no Brasil, principalmente nas grandes cidades.

Consumidor participativo
A filosofia que envolve a agricultura orgânica coloca este modo de produção como uma alternativa aos apelos do mercado e da política econômica predominante, sem no entanto desconsiderar sua viabilidade. O consumidor desses produtos procura saúde, qualidade de vida e um contato respeitoso com a natureza. Os grupos de consumidores são importantes: eles ajudam a definir o preço dos produtos, conhecem as formas de produção e sensibilizam-se com a sazonalidade dos produtos, entendendo que não há como oferecer todos os vegetais durante o ano todo. A convivência em grupo facilita também a troca de informações visando a aumentar a qualidade de vida de todos, selecionando produtos melhores ou definindo o que será produzido. Alguns grupos influenciam até mesmo a certificação das propriedades. "O consumidor que chega até nós já tem um grau de informação. O desafio agora é atingir as camadas mais pobres da sociedade, aquelas que mais precisam fazer um elo entre alimentação e saúde, entender a importância de preservarmos o meio ambiente e que não tem acesso", reflete Katia.

Pedro Valarini lembra que além da obtenção de sementes, a distribuição é um fator preocupante para os agricultores: "A produção orgânica possui um valor agregado maior, mas os agricultores encontram dificuldades em distribuir seus produtos. As grandes redes de supermercado garantem a compra mas pagam o que querem, e as perdas (produtos não vendidos) são arcadas pelo próprio produtor. Por isso há o interesse em evitar essa intermediação com o consumidor final".

Uma propriedade na região de Petrópolis, Rio de Janeiro, está vencendo o desafio. O Sítio do Moinho tem 105 pessoas envolvidas no processo de produção, embalagem e distribuição de seus produtos. O Sítio atende as cidades de Petrópolis e Rio de Janeiro com a distribuição de cestas semanais. Os consumidores podem pagar suas compras por meio de boleto bancário e fazer suas encomendas por telefone e pela Internet.

(A.S.)

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Atualizado em 10/05/2002

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