Nanociência
e nanotecnologia: a rede de nanotecnologia molecular e de interfaces
(RENAMI)
Oscar
Loureiro Malta
A
recente iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) lançando a criação
de redes nacionais de pesquisa em nanociência e nanotecnologia
é, sem dúvida, um marco importante na história
do papel desempenhado por essa agência no desenvolvimento
científico e tecnológico do país. Essa iniciativa
é o ponto de partida para a inserção do Brasil
numa área que está em explosão no mundo científico
e tecnológico. Entende-se que, enquanto os países
da Europa, América do Norte e o Japão, juntos investem
atualmente nessa área recursos acima de um bilhão
de dólares por ano, os modestos recursos alocados inicialmente
pelo CNPq destinam-se à estruturação dessas
redes, através de um levantamento de competências,
de modo geral, e de grupos de pesquisa atuantes que tenham interesses
comuns ou complementares em temas da nanociência e da nanotecnologia.
Nesse processo inicial de estruturação, o CNPq busca,
sobretudo, fomentar as interações e intercâmbios
entre esses grupos.
A rede
de nanotecnologia molecular e de interfaces (RENAMI) tem o propósito
geral de estudar e desenvolver materiais nanoestruturados, interfaces
e sistemas de nanotecnologia molecular, através da união
de modelos teóricos e técnicas experimentais. Ela
é o resultado da fusão de três redes originalmente
nucleadas no Departamento de Química Fundamental da UFPE
e na COPPE-RJ, no Instituto de Química da USP, e no Instituto
de Macromoléculas da UFRJ. Os seus objetivos mais específicos
estão bem delineados: a caracterização e o
estudo das propriedades físico-químicas de interfaces,
a modelagem, preparação e caracterização
de sistemas moleculares e supramoleculares com funcionalidade, e
a preparação de materiais híbridos para serem
utilizados como materiais fotônicos e materiais magnéticos.
O organograma abaixo esquematiza de modo sintético esses
objetivos.
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O desenvolvimento
desses temas certamente contribuirá para colocar o país
em condições de produzir de forma integrada dispositivos
para, por exemplo, intensificação de processos catalíticos,
reconhecimento molecular, mimetização de sistemas
biológicos, sensores e dosímetros, imunoensaios biológicos
e conversão de energia. A primeira reunião geral da
RENAMI, realizada em março deste ano em Recife, onde esses
temas foram discutidos, contou com a participação
de mais de quarenta pesquisadores e teve uma participação
expressiva de estudantes. O objetivo desse primeiro encontro foi
promover a exposição das linhas de pesquisa dos membros
da rede, de suas necessidades e das facilidades que cada grupo pode
colocar à disposição, com o intuito de fomentar
intercâmbios e colaborações entre pesquisadores.
A RENAMI
envolve quinze instituições nacionais, entre universidades
e centros de pesquisa, e conta com a participação
de consultores de quatro instituições estrangeiras,
totalizando em torno de sessenta pesquisadores. A preocupação
com o envolvimento de estudantes é uma das tônicas
do projeto inicial da RENAMI, buscando-se assim contribuir para
a formação de recursos humanos de alto nível.
Uma parte dos recursos alocados à rede foi destinada para
a concessão de bolsas de iniciação científica
(doze bolsas já foram implementadas pelo CNPq). Uma outra
preocupação diz respeito à interação
com o setor empresarial, através da oferta de consultorias
e do estabelecimento das bases para a futura produção
de dispositivos nanotecnológicos em escala industrial. Este,
obviamente, é um processo que não ocorre do dia para
a noite. Requer amadurecimento e, sobretudo, a consolidação
das redes de nanociência e nanotecnologia que estão
sendo estruturadas. Vale a pena aqui salientar que pequenos passos
nessa direção têm sido dados, a exemplo da empresa
Ponto Quântico Sensores e Dosímetros Ltda, sediada
em Recife, que está lançando um dosímetro de
uso pessoal para radiação ultravioleta, baseado em
compostos com íons lantanídeos. O projeto foi desenvolvido
em colaboração com o grupo do programa de metalurgia
e engenharia de materiais da COPPE-RJ.
Várias
colaborações entre grupos da RENAMI estão em
andamento, a exemplo da colaboração entre o grupo
do Instituto de Macromoléculas da UFRJ e o grupo do Departamento
de Engenharia de Materiais da UFPB que estão produzindo argilas
nanoestruturadas com alto valor agregado. Recentemente foi firmado
um acordo entre a RENAMI e a rede de nanotecnologia que está
sendo nucleada no Instituto de Baixas Temperaturas e Pesquisas Estruturais
da Academia Polonesa de Ciências, e na Faculdade de Química
da Universidade de Wroclaw (Polônia). O acordo inclui a realização
conjunta de tele-conferências. A parte operacional da rede
é gerenciada através de um ambiente virtual (www.renami.com.br).
Neste ambiente dispõe-se de escaninhos virtuais, sala de
debates, espaço de notícias, informações
sobre a rede e sobre dados pessoais de seus membros, e espaço
de solicitações financeiras.
A atividade
científica é, mais do que nunca hoje em dia, uma atividade
social. A forma de desenvolver temas de pesquisa científica
e tecnológica através do sistema de redes tem levado
a mudanças de paradigmas. Tem dado certo em vários
países desenvolvidos, e pode dar certo também no Brasil,
tendo em vista o número crescente de pesquisadores e de grupos
de pesquisa de alto nível já existentes no país,
nas diversas áreas do conhecimento científico. Entretanto,
para isso é necessário o estabelecimento de uma política
científica clara que preveja pelo menos regularidade no financiamento
aos projetos científicos. Vale a pena lembrar que nos países
em que os problemas sociais foram em grande parte resolvidos, houve
um grande investimento em ciência e tecnologia.
Oscar
Loureiro Malta é pesquisador do Departamento de Química
Fundamental da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
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