O grande
avanço da ciência e da tecnologia nas últimas
décadas tem levado a pesquisas cada vez mais precisas na
escala nanométrica, que, além de seu interesse meramente
acadêmico, podem propiciar o desenvolvimento de novos produtos
e sistemas de alto impacto tecnológico em um futuro não
muito distante. Um dos grandes desafios da pesquisa na área
da nanociência e nanotecnologia é conseguir integrar
esforços para otimizar os estudos, pois geralmente os equipamentos
necessários são extremamente caros, e são necessários
pesquisadores altamente especializados em certas áreas do
saber. Seguindo a tendência mundial, as pesquisas nessa área
requerem uma articulação centralizada, que consiga
mobilizar os pesquisadores das universidades e centros de pesquisa,
os empresários e as fontes financiadoras, principalmente
governamentais. Esse tipo de ação já foi implementada
nos Estados Unidos da América (http://www.nano.gov),
Europa (http://www.esf.org)
e outros países. Novos resultados têm aparecido diariamente
como resultado desse esforço.
Ao
acompanhar a rápida evolução mundial nessa
área, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) iniciaram essa ação no Brasil ao promover uma
reunião em 22/11/2000 para discutir a pertinência e
encaminhamento mais adequado para uma ação coordenada
em nanociência e nanotecnologia por parte do Governo Federal.
Nessa reunião foi criado um grupo de articulação,
coordenado por Anderson Gomes que, em abril de 2001, entregou um
documento preliminar para discussão pela comunidade científica
nacional. Esse documento
foi divulgado pelo CNPq e indicava a situação do momento,
sugerindo uma série de ações que deveriam ser
tomadas. Uma das sugestões mais importantes era a de que
o MCT/CNPq deveria, no mais curto espaço de tempo possível,
desencadear um processo coordenado de ações para criar
um programa de apoio na área de Nanociências e Nanotecnologias
no Brasil. Tal programa, além de aproveitar os grupos de
pesquisa e infra-estrutura já existente, deveria ser de longo
prazo, para apoiar pesquisa e desenvolvimento em nanoescala que
permitissem levar a resultados de impacto em áreas como tecnologias
da informação, fabricação de componentes
metálicos e não metálicos, medicina e saúde,
meio ambiente e energia, nanoeletrônica, nanobiotecnologia,
agricultura e nanometrologia, por exemplo. Além disso, propôs-se
utilizar a estratégia de criação de centros
e redes de excelência para um futuro próximo.
Naquele
momento o CNPq respondeu prontamente a algumas recomendações
desse documento, e realizou, ainda no ano de 2001, uma chamada para
formar redes de pesquisadores com objetivos comuns na área
de nanociências (chamada CNPq
01/2001). Essa chamada tinha como objetivo fomentar a constituição
e consolidação de redes cooperativas integradas de
pesquisa básica e aplicada em nanociências e nanotecnologias,
organizadas como centros virtuais de caráter multidisciplinar
e abrangência nacional. Por meio dessas redes o CNPq pretendia:
a) dar início a um processo de criação e consolidação
de competências nacionais, b) identificar grupos ou instituições
de pesquisa que desenvolvam ou possam vir a desenvolver projetos
relacionados com a área de nanociências e nanotecnologias,
e c) estimular a articulação desses grupos e instituições
com empresas potencialmente interessadas ou atuantes no setor, além
de seu intercâmbio com centros de reconhecida competência
no país e no exterior.
Houve
uma rápida resposta da comunidade científica brasileira,
que rapidamente se organizou para formar diversas redes com os mais
variados temas. As propostas de pesquisa foram julgadas em uma primeira
fase, e foram pré-classificados doze projetos, das mais diversas
áreas do conhecimento envolvidos com a escala nanométrica.
Todos os coordenadores desses projetos foram reunidos para reorganizar
essas redes, e finalmente vários projetos foram aglutinados
para formar quatro redes temáticas na área de nanociência
e nanotecnologia (Rede de Materiais Nanoestruturados, Rede de
Nanotecnologia Molecular e de Interfaces, Rede de Pesquisa em Nanobiotecnologia,
Rede Cooperativa para Pesquisa em Nanodispositivos Semicondutores
e Materiais Nanoestrutrados). Para maiores detalhes clique aqui.
Cada
uma das redes recebeu em torno de R$ 750.000,00, para um ano de
atividades. Esses recursos podem ser considerados bastante limitados,
tendo em vista o número de pesquisadores envolvidos em cada
uma delas, e os custos dos equipamentos necessários para
as pesquisas na área.Por
exemplo, a Rede de Materiais Nanoestruturados conta com mais de
cem pesquisadores doutores com grupos consolidados em diversas universidades
brasileiras. Se o dinheiro fosse dividido igualmente para cada pesquisador,
o dinheiro bastaria apenas para comprar um computador por pesquisador!
Ou seja, os recursos financeiros das redes não foram destinados
para a compra de grandes equipamentos, mas de um modo geral esses
recursos têm servido para realizar alguns consertos de emergência,
para comprar pequenos equipamentos, para permitir o intercâmbio
de pesquisadores e estudantes, e principalmente para a realização
de reuniões, congressos e oficinas de trabalho que têm
servido para integrar de uma maneira mais efetiva os pesquisadores
dessas redes, e estimular colaborações e projetos
comuns para as diversas áreas no futuro.
Essas
redes ainda estão ativas, e os resultados das ações
que foram tomadas somente irão aparecer em alguns meses.
Mas certamente a idéia das redes foi muito interessante para
realizar um trabalho de prospecção da área
no Brasil, para identificar os grupos que atuam nesse setor, auxiliar
no conhecimento mútuo entre os grupos, estimular colaborações
científicas, e agregar pesquisadores com interesses comuns.
Aparecerão sem dúvida novas idéias e projetos,
que deverão ser futuramente atendidos com novos recursos
específicos, e com ações centralizadas pelo
CNPq/MCT que visem uma efetividade maior no uso dos recursos financeiros
e da infra-estrutura instalada, bem como uma participação
cada vez maior do país em pesquisas na área de nano
C&T.
Marcelo
Knobel é professor do Instituto de Física Gleb Wataghin,
da Unicamp.
|