A
fabricação de nanoestruturas
Para
fabricar artefatos extremamente diminutos, podem ser necessárias
técnicas bastante diferentes das usadas para objetos macroscópicos.
Para a nanotecnologia, que utiliza objetos com diâmetros de
até alguns poucos átomos, há varias técnicas
possíveis, dependendo do que se quer construir.
Uma muito usada aproveita o fenômeno do crescimento por deposição:
quando um gás é colocado na presença de um
objeto sólido, em certos casos as moléculas do gás
depositam-se lentamente na sua superfície (chamada substrato),
fazendo crescer estruturas minúsculas. Trata-se de um fenômeno
que acontece naturalmente, quando o gás e o substrato são
escolhidos de forma adequada. O processo pode ser tão lento
que as moléculas depositam-se uma por uma, como é
o caso das técnicas usadas em nanotecnologia. A forma e o
tamanho da nanoestrutura obtida podem ser controlados com precisão.
É possível, assim, obter artefatos na forma de fitas
(nanofitas), quando o substrato tem a forma de uma superfície
plana; de esferas; ou ainda de tubos (nanotubos), quando o substrato
tem a forma de diminutas partículas. As estruturas obtidas
não são necessariamente feitas do mesmo material que
o gás original (ou seja, constituídas das mesmas moléculas
ele), pois o processo pode envolver reações químicas
que alteram a molécula. As dimensões estão
tipicamente entre um e algumas dezenas de nanômetros (um nanômetro
é igual a um milionésimo de milímetro).
Nanofitas
e nanotubos
Um exemplo dessa técnica aparece nas pesquisas com as
nanofitas feitas no Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica
e Cerâmica do Departamento de Química da Universidade
Federal de São Carlos (Ufscar), em São Paulo. Segundo
o pesquisador Edson Roberto Leite, essas nanofitas são feitas
de óxido de estanho (SnO2) e têm largura de cerca de
50 nanômetros, espessura de 10 nanômetros e comprimento
de alguns milhares de nanômetros. Uma das aplicações
possíveis é como sensores de substâncias químicas,
como monóxido de carbono (CO) e NOx em escapamento de carros.
Outra utilidade vem da capacidade de as nanofitas aumentarem a condutividade
elétrica e térmica de alguns materiais, como o vidro
ou polímeros, quando elas são inseridas e espalhadas
dentro de uma matriz constituída desses materiais (veja notícia
na ComCiência).
Como se constrói fitas tão diminutas? O gás
necessário para a deposição é obtido
aquecendo-se óxido de estanho (SnO2) a 1100 graus. O SnO2
evapora, só que não na forma original, mas como monóxido
de estanho (SnO). Este SnO é o gás que irá
se depositar no substrato. O processo é feito na presença
de carbono, cujo papel é servir de catalisador (facilitador)
do processo de evaporação. A deposição
forma uma finíssima película sobre o substrato - a
nanofita. Nessa deposição, o SnO sofre uma reação
química, e o depósito é feito na forma original,
SnO2.
Um processo semelhante havia sido desenvolvido por pesquisadores
nos Estados Unidos em 2001, publicado na revista Science
(vol. 291, pág. 1974), mas no qual não se usava o
catalisador de carbono. Segundo Edson Leite, o grupo da UFSCar foi
o primeiro a conseguir reproduzir os resultados daquela pesquisa,
com algumas modificações - como o uso do carbono -
o que elevou a eficiência do método (por exemplo, conseguiram
usar uma temperatura 300 graus menor do que no processo norte-americano).
O trabalho da UFSCar foi publicado em 2002 na revista Journal
of Nanoscience and Nanotechnology (volume 2, página 125).
Os nanotubos são obtidos por uma técnica do mesmo
tipo. Nanotubos de carbono são uma das maiores estrelas da
nanotecnologia, pois a cada ano vem se descobrindo mais e mais utilidades
para eles. Segundo Edson Leite, trata-se do material com maior resistência
mecânica (resiste à deformação e à
quebra) conhecido atualmente. Eles podem ser usados para construir
circuitos lógicos, do tipo usado em computadores comuns -
no ano passado, conseguiu-se construir o primeiro desses circuitos
usando nanotubos de carbono. Essas estruturas são também
capazes de conter hidrogênio dentro de si e, por isso, podem
ser um meio de guardar essa substância de uma forma segura,
para o caso de se usá-la como combustível (o hidrogênio
é altamente inflamável e, em depósitos tradicionais,
pode explodir). Além disso, é um material condutor.
Assim, como as nanofitas, podem dar condutividade elétrica
a materiais isolantes, quando são inseridos e espalhados
no seu interior.
Para se obter um nanotubo, o substrato necessário tem a forma
de pequeninas partículas. Essas partículas já
são, por si só, artefatos nanotecnológicos,
tendo que ser elas também construídas por técnicas
especiais. Esses substratos também servem como catalisadores,
sendo por isso chamados nanocompostos catalisadores. Já o
gás pode ser alguma substância que contenha carbono
em sua molécula. Através de reações
químicas entre o gás e as substâncias de que
são feitas as nanopartículas, o carbono é depositado
ao redor destas. O processo é tal que o material depositado
toma naturalmente a forma de diminutos tubos, ao redor das nanopartículas.
O diâmetro do nanotubo será determinado pelo diâmetro
da nanopartícula. Em geral, está entre 1 e 1,5 nanômetros.
Nanopartículas
e nanofios
Nem todos os artefatos nanotecnológicos são construídos
por deposição. As nanopartículas catalisadoras
usadas para o crescimento dos nanotubos são formadas por
decomposição de uma substância submetida a temperaturas
muito altas. De acordo com Edson Leite, na UFSCar, essa substância
é um polímero que tem, espalhados dentro de si, íons
(átomos carregados eletricamente) de algum metal adequado,
como ferro ou cobalto, além de uma matriz de sílica
ou de óxido de titânio. Submetido a alta temperatura,
esse material se decompõe e produz um óxido (de silício,
por exemplo), e mais as nanopartículas que serão usadas
no crescimento dos nanotubos.
Os pesquisadores da Ufscar fizeram um pedido de patente desse processo
para a Fapesp (Fundação para o Amparo à Pesquisa
no Estado de São Paulo). Segundo Edson Leite, algumas indústrias
nacionais também manifestaram interesse na técnica.
Uma técnica inteiramente diferente é usada para produzir
filamentos nanométricos no Laboratório Nacional de
Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas. A principal motivação
para se estudar essas estruturas é que, segundo se imagina,
aparelhos eletrônicos nanotecnológicos deverão
conter, entre outras coisas, partes na forma de fios. Como o ouro
resiste muito bem à corrosão, usa-se esse metal para
fazer essas nanoestruturas. Segundo Daniel Ugarte, líder
dessas pesquisas no LNLS, a técnica para a obtenção
desses nanofios consiste basicamente em fazer vários buracos
diminutos em uma chapa muito fina. A parte entre dois buracos próximos
toma a forma de um filamento composto de alguns átomos de
espessura. Os buracos, eles próprios com alguns nanômetros
de diâmetro, são feitos por feixes ("jatos")
de elétrons, obtidos de um microscópio eletrônico.
Na
verdade, os pesquisadores do LNLS observaram que esses nanofios
"esticam-se" antes de se quebrarem e, logo antes do rompimento,
chegam à espessura de um único átomo. Para
provocar esse rompimento, os cientistas fazem vários buracos
na placa, até que ela se torne muito fraca e os espaços
entre os orifícios (os nanofios) comecem a se partir.
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