Setor privado internacional é grande
investidor
Os
maiores investidores em nanotecnologia são o Japão
e os Estados Unidos. Só os Estados Unidos aplicaram, este
ano, US$ 604 milhões. Embora não se saiba exatamente
o montante de investimentos do setor privado, o envolvimento de
grandes corporações americanas, como a Xerox, IBM
e a HP, e das mega-empresas japonesas indicam que as aplicações
pelo setor privado são superiores ao do setor público.
Nesses
países, o setor privado e público investem em áreas
distintas da nanotecnologia. O setor privado, especialmente as empresas
de alta tecnologia, tem direcionado seus esforços para a
miniaturização dos componentes eletrônicos,
ou seja, na corrida para gerar sistemas computacionais de maior
desempenho e mais compactos. Embora algumas empresas, como a Hewlett-Packard,
Kodak e Xerox, já invistam em pesquisas de desenvolvimento
de dispositivos moleculares, a nanotecnologia molecular, para se
tornar competitiva, ainda depende do investimento do Estado.
De
acordo com chefe do departamento de Química Fundamental da
Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Grupo de
Química e Nanotecnologia Supramolecular, Henrique Eisi Toma,
a nanotecnologia pode ser considerada uma evolução
da microtecnologia atual e portanto um caminho natural a ser seguido
pelas empresas de alta tecnologia. O que não significa que,
nessa transição, as indústrias não passem
por uma série de obstáculos para desenvolvê-la.
As
previsões na década de 90, segundo o professor da
USP, eram de que as dificuldades tecnológicas de miniaturização
acabariam impondo uma barreira física quase intransponível
na transição da microeletrônica atual para a
nanoeletrônica. "Essas dificuldades parecem estar sendo
vencidas, e muitas das previsões, que impunham um limite
de décimos de mícrons na miniaturização,
estão sendo abandonadas. Hoje, o problema da miniaturização
esbarra principalmente na evolução exponencial do
custo da tecnologia", afirma.
O alto
custo da miniaturização, que exige cada vez mais equipamentos
sofisticados, faz com que os setores industriais de maior porte,
como as grandes multinacionais, sejam os que têm investido
mais pesadamente em nanotecnologia.
Na
nanotecnologia molecular, explica Toma, através do uso de
moléculas como blocos de montagem (a exemplo das peças
do brinquedo Lego que vão se encaixando e gerando estruturas
criativas), podem ser projetadas estruturas funcionais e materiais
revolucionários na área de eletrônica molecular,
sensores e catalisadores, dispositivos emissores de luz e dispositivos
para foto-conversão de energia. Do ponto de vista tecnológico,
essa área é nova. Porém, é a mais antiga
em termos da evolução química e biológica
do planeta. "Não é exagero dizer que a vida é
a expressão maior da nanotecnologia molecular, onde cada
biomolécula atua como uma nanomáquina, e em conjunto
fazem da célula, uma verdadeira fábrica", comenta.
Novos
produtos
As nanoestruturas possuem propriedades interessantes a serem exploradas
comercialmente. Toma explica que as nanopartículas, pelas
suas dimensões reduzidas, quando incorporadas em polímeros,
levam a materiais conhecidos como nanocompósitos. Esses materiais
são muitas vezes transparentes e têm propriedades mecânicas
superiores à dos plásticos convencionais. Espera-se
que, em curto prazo de tempo, os nanocompósitos estejam substituindo
os copos e garrafas plásticas descartáveis usados
atualmente.
Alguns
produtos, como nanocompósitos de polímeros que incorporam
nanopartículas de óxidos metálicos ou de argila,
já podem ser encontrados no mercado, embora sem a conotação
de um produto de nanotecnologia. O pneu, por exemplo, pode ser considerado
um nanocompósito de borracha. Nele, o teor de fumo (carbono)
é essencial para dar as propriedades mecânicas exigidas
para o pneu, que a borracha sozinha não possui.
"Nanocompósitos
estão sendo projetados para as mais diversas finalidades,
como a produção de plásticos que retardam a
chama, que não riscam facilmente (para uso em óculos),
mais resistentes e leves (para revestimentos de garrafas). Visores
luminescentes são produtos de nanotecnologia, pois trabalham
com filmes extremamente finos, de dimensões moleculares.
Nanocápsulas, que aprisionam fármacos e biomoléculas,
já estão sendo introduzidas no mercado, na área
de medicamento e cosméticos", exemplifica o professor.
A expectativa
é que surjam novos produtos no setor eletrônico e eletroóptico,
baseado em filmes finos, arquiteturas moleculares e nanoestruturas
capazes de armazenar e processar informações. A empresa
California Molecular Tecnology (Calmec) anunciou a produção
de dispositivos moleculares de memória, com dimensão
de um dado de 1 cm3, com capacidade de armazenar 1.8 terabytes,
o que equivale a 30 discos rígidos de 60 gigabytes cada.
Na
área de energia, a grande promessa são as microcélulas
a combustível, que terão o tamanho de um pequeno dado.
Alimentadas por uma cápsula de metanol, conseguem produzir
energia suficiente para mover máquinas mantendo, por exemplo,
computadores funcionando sem o uso de outra fonte de energia.
Tecnologia
essencial
Não é possível definir o número
exato de empresas dedicadas à nanotecnologia. Nos países
desenvolvidos, é difícil encontrar uma empresa de
alta tecnologia que não esteja envolvida com a atividade.
Hoje, isso é um fator de sobrevivência e de lucratividade.
A tendência
é que, aos poucos, a nanotecnologia se transforme numa tecnologia
de base imprescindível para qualquer ramo da indústria.
O impacto deverá ser sentido mais rapidamente na área
de cosméticos e farmacêutica, visto que as drogas nanoencapsuladas
- ou projetadas em escala nanométrica - prometem atingir
pontos inacessíveis, além de atuarem com maior eficácia
no organismo.
A nanotecnologia
tem também despertado o interesse de pequenas empresas, sustentadas
com capital de risco. O professor Toma, que participou, em novembro
de 2001, da Conferência de Nanotecnologia do Foresight
Institute e, em setembro de 2002, da Conferência Integrated
Nanosystems, assistiu ao anúncio de surgimento de várias
dessas empresas. Para ele, muitas das novidades dos próximos
anos estarão relacionadas com as pequenas empresas. O que
não será uma surpresa, já que grandes empreendimentos
atuais na eletrônica e informática surgiram de iniciativas
conduzidas em "garagens domésticas".
A interação
com centros de pesquisas é grande nos países desenvolvidos,
tanto pelas empresas de alta tecnologia quanto pelas empresas emergentes
financiadas com capital de risco. Mesmo as empresas de alta tecnologia,
que possuem laboratórios próprios de pesquisa e desenvolvimento,
têm recorrido aos centros de pesquisa. No Laboratório
Nacional de Berkeley (Califórnia), de acordo com Toma, diversas
alas foram alocadas pelas empresas para o desenvolvimento de projetos
de nanotecnologia, principalmente de nanolitografia.
As
parcerias entre indústrias e universidades são comuns
nos Estados Unidos. A Zyvex Corporation recentemente se associou
a Honeywell International para dividir os custos do National
Institute of Standards and Technology (NIST, Instituto Nacional
de Normas e Tecnologia, em inglês). Elas contarão com
a colaboração de pesquisadores de universidades do
Texas (University of Texas at Dallas e University of North Texas)
e de um centro de pesquisa (Rensselaer Polytechnic Institute
Center for Automation Tecnhnologies, Centro Politécnico
Rensselaer para a Automação Tecnológica, em
inglês) para acelerar a produção e comercialização
a baixo custo de componentes e subsistemas de micro e nanoescalas.
Empresas
americanas que já produzem e comercializam nanomateriais:
|
Empresas
|
Produção
|
Advanced
Powder Technologies
|
nanopartículas de metais e óxidos
|
Altair
Technologies
|
nanopartículas de dióxido de titânio para baterias solares
|
Argonide
Nanometals
|
nanopartículas metálicas e cerâmicas
|
Carbolex
|
nanotubos de carbono
|
Carbon
Nanotechnologies
|
nanotubos de carbono
|
Deal
International
|
nanotubos de carbono
|
Dynamic
Enterprises
|
fullerenos
|
Espin
|
nanofibras poliméricas
|
FeRx
|
nanopartículas de ferro para transporte/ liberação de
medicamentos
|
Hybrid
Plastics
|
nanomateriais de silício
|
Hyperion
Catalysis
|
nanofibras de carbono
|
Invest
Technologies
|
metais ultrafinos
|
Mach
1
|
óxido
de ferro superfino
|
Materials
& Electrochemical Research
|
nanotubos de carbono e fullerenos
|
Materials
Modification
|
partículas metálicas ou cerâmicas para revestimento
|
Nanocor
|
nanocompósitos poliméricos com argila
|
Nanogram
|
nanomateriais derivados de óxidos, nitretos, carbetos
e sulfetos
|
NanoLab
|
nanotubos de carbono
|
Nanomaterials
Research
|
nanomateriais derivados de óxidos, carbetos, nitretos
e boretos
|
Nanophase
Technologies
|
nanocristais inorgânicos
|
Nanopowder
Enterprises
|
nanomateriais derivados de metais, óxidos, carbetos
e nitretos
|
Nanopowder
Industries
|
nanopartículas de metais preciosos
|
Nanoprobes
|
nanopartículas de ouro para uso biológico
|
Nanosphere
|
coberturas para liberadores de drogas
|
NanoSystems
|
drogas nanocristalinas
|
Nanox
|
nanomateriais inorgânicos e materiais luminescentes
|
NexTech
Materials
|
nanocerâmicas
|
Quantum
Dot
|
nanopartículas de semicondutores
|
Rheox
|
nanopartículas de óxido de zinco
|
SES
Research
|
fullerenos e nanotubos de carbono
|
Southern
Clay Products
|
argilas nanoparticuladas para fabricação de compósitos
|
Triton
Systems
|
nanocompósitos e revestimentos
|
|
(LC)
|