Vantagens
e riscos da nanotecnologia ao meio ambiente
A manipulação
da matéria na escala nanométrica, num bilionésimo
de metro, tem produzido efeitos positivos na área ambiental.
As resinas magnéticas têm a capacidade de remover metais
de um meio aquoso, o que pode ser utilizado no tratamento de efluentes.
As nanopartículas são capazes de remover contaminantes
onde não há eficácia de outros processos químicos.
Há quem defenda a nanotecnologia como a garantia de que o
mundo atingirá, enfim, o desenvolvimento sustentável.
Ao mesmo tempo que as vantagens dessa tecnologia são nítidas
para o meio ambiente, alguns especialistas começam a atentar
para o impacto dos nanomateriais na saúde do ser humano e
na natureza.
Nanopartículas
As nanopartículas carregam a promessa de solucionar problemas
ambientais. Um projeto coordenado pelo professor e pesquisador Paulo
César de Morais, da Universidade de Brasília (UnB),
futuramente poderá ser usado no processo de despoluição
de águas que receberam derramamento de óleo. Desde
janeiro de 2001, 20 pesquisadores da UnB, da Universidade Federal
de Goiás (UFG) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) trabalham no desenvolvimento de compósitos magnéticos
(materiais que resultam de dois ou mais materiais), para serem utilizados
na remoção de óleo derramado em água,
e de uma tecnologia de remoção da mistura de óleo
e compósito usando campo magnético externo. O projeto
está sendo financiado com recursos do Fundo Nacional do Petróleo
(CTPetro) administrado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
O projeto
utiliza uma matriz de polímero poroso na forma de micro-esferas,
no qual são depositadas nanopartículas magnéticas
através de síntese química. As micro-esferas
poliméricas têm sua superfície externa tratada
quimicamente para que se comporte de forma hidrofóbica. Assim,
quando são colocadas numa mistura de água e óleo,
as micro-esferas fogem da fase aquosa para as manchas (ou fases)
de óleo. Nas manchas de óleo, as micro-esferas hidrofóbicas
tendem a se dispersar homogeneamente, formando o que os cientistas
chamam de fluido reológico. Como as micro-esferas são
magnéticas porque contêm nanopartículas magnéticas
em sua estrutura nanoporosa, elas são atraídas por
um imã e acabam arrastando consigo o óleo, que também
se comporta hidrofobicamente. "Esse comportamento é
a base para as estratégias de retirada de óleo [petróleo
ou derivados] da água, e poderá auxiliar na implementação
de tecnologias de despoluição de águas após
o derramamento dessas substâncias", explica Morais.
Segundo
o pesquisador, o projeto já está sendo testado no
Departamento de Engenharia Mecânica da UnB. "Testes preliminares
em um pequeno canal d'água estão produzindo resultados
bastante promissores", afirma Morais. Ele explica que os testes
finais deverão ser realizados em uma bancada de testes com
espelho d'água de cerca de 2,5 metros quadrados. O projeto,
na forma como foi concebido, não prevê a realização
de testes de campo. Porém, a equipe envolvida nesse trabalho
aguarda a parceria com empresas privadas para uma próxima
etapa no desenvolvimento da tecnologia, na qual a prática
será contemplada.
Nanocatalisadores
O desenvolvimento de nanocatalisadores também contribui para
retirar do ambiente substâncias poluentes, como os compostos
do petróleo. O professor Jairton Dupont, da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), desenvolveu nanocatalisadores
que diminuem a concentração de compostos aromáticos
durante as fases de refino do petróleo. Eles são úteis
a um processo de catálise que resulta no ciclo-hexano, molécula
menos danosa ao meio ambiente. Dessa forma, a combustão de
motores à gasolina é mais completa e não deixa
no ar resíduos poluentes, que podem ser cancerígenos
e contribuir para a formação da chuva ácida.
Os
nanocatalisadores foram formulados pelo Laboratório de Catálise
Molecular da UFRGS, e são constituídos de grupos de
300 átomos de irídio (elemento químico com
diâmetro médio de dois nanômetros, ou dois milionésimos
do milímetro). Esses grupos recebem o nome de nanoclusters
e são eficientes para substituir os dispendiosos processos
industriais nas refinarias para eliminar os compostos aromáticos.
Até fevereiro deste ano, o projeto contou com financiamento
do CTPetro. Dupont agora está negociando a produção
em escala comercial com uma grande empresa.
Riscos
Ainda é bastante incipiente a discussão sobre os aspectos
negativos da nanotecnologia no meio ambiente. Porém, na metade
do mês de março, numa reunião realizada na US
Environmental Protection Agency (EPA), órgão do governo
dos Estados Unidos para a proteção do meio ambiente,
pesquisadores relataram que foram encontradas nanopartículas
no fígado de animais usados em pesquisas. Segundo a EPA,
elas podem vazar em células vivas e, talvez, entrar na cadeia
alimentar através de bactérias.
Os
cientistas reclamam que o uso comercial do carbono em escala nanométrica
não possui regulamentações, ou um corpo de
leis para supervisionar essa nova tecnologia. Mesmo sem esse cuidado,
empresas já estão produzindo toneladas de nanomateriais
para que sejam usados como catalisadores, em cosméticos,
tintas, revestimentos e tecidos. Outro agravante apontado por eles
é o fato de que alguns materiais são compostos familiares
que nunca foram comercializados, enquanto outros materiais são
produzidos a partir de elementos atomicamente modificados que não
existem na natureza. Portanto, seus efeitos negativos são
ainda desconhecidos pelos cientistas. Por exemplo, algumas das novas
formas de carbono, como nanotubos, estão sendo produzidas
pela primeira vez.
"A
nanotecnologia, incluindo a nanobiotecnologia, tem sido divulgada
pelas indústrias e pelos governos como a próxima revolução
industrial, a maior e a mais rápida do mundo. Mais de 450
empresas dedicadas à nanotecnologia já estão
no mercado produzindo uma gama de produtos da 'nano velha', como
partículas usadas em cosméticos e atomizadores, e
produtos da 'nano nova', como chips, sensores e novas formas de
carbono. É preciso que o setor industrial se empenhe para
que as preocupações relativas à saúde
e ao meio ambiente não se desviem do progresso da nanotecnologia",
afirmaram os pesquisadores na reunião da EPA. A US National
Science Foundation estima que, dentro de dez anos, todo o setor
de semicondutores e a metade do setor farmacêutico dependerão
da nanotecnologia e que, até 2015, o mercado global envolvido
por ela será de um trilhão de dólares.
(SN)
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