Nos
EUA, investimentos podem alcançar os do Genoma
Os
investimentos do governo dos Estados Unidos na área de nanociência
e nanotecnologia (N&N) vêm aumentando a cada ano. O orçamento
para o ano de 2003 teve um aumento de 17% em relação
ao deste ano. Essa política tem o objetivo de manter a posição
norte-americana no topo da lista das descobertas de novas tecnologias.
Da mesma forma como aconteceu com a microeletrônica e com
as pesquisas com o genoma, a N&N desponta como a nova área
da ciência que recebe grandes investimentos, tendo em vista
várias aplicações práticas.
Nos
últimos três anos, a N&N se firmou como uma das
prioridades para os investimentos norte-americanos. É uma
área relativamente nova, que passou a receber maior atenção
durante o governo do presidente Bill Clinton, na década de
90, devido ao empenho do então vice-presidente Al Gore. Em
2000, o governo americano criou um grande programa, reunindo 10
departamentos e agências independentes, chamado National
Nanotechnology Initiative (NNI, Iniciativa Nacional de Nanotecnologia)
(www.nano.gov).
Participam deste grupo os departamentos de Defesa, de Energia, de
Justiça, de Transportes, de Agricultura, a Agência
de Proteção Ambiental, a Nasa, o Instituto Nacional
de Saúde, o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia
e a Fundação de Ciências Naturais.
Com
a organização da Iniciativa Nacional de Nanotecnologia
o governo passou a distribuir investimentos e deu suporte para pesquisas
desenvolvidas em centros interdisciplinares. No ano de 2001, o total
investido (somando o setor público e privado) foi de US$
463 milhões. Em 2002, os investimentos chegaram a U$ 604
milhões - no mesmo ano, o setor púbico dos EUA investiu
US$ 434,3 milhões no Projeto Genoma Humano. Em 2003, o orçamento
previsto para a N&N é de US$ 710 milhões.
A National
Science Foudation (NSF, Fundação Nacional de Ciência,
em inglês) foi o órgão que mais recebeu investimentos
nos três últimos anos. Do total previsto para 2003,
U$ 221 milhões devem ir exclusivamente para a entidade. Os
recursos são divididos nas áreas de ciências
biológicas, computação, engenharia, geociências,
ciências sociais, educação, matemática
e física. As duas últimas recebem a maior parte, US$
103 milhões em 2003.
O Departamento
de Defesa vem em segundo lugar, com US$ 201 milhões para
o próximo ano, refletindo o direcionamento bélico
do governo de George Bush e a relação entre o desenvolvimento
de novas tecnologias e a estratégia militar. Os investimentos
em N&N na área de defesa têm aplicações
na marinha, na aeronáutica e no exército dos Estados
Unidos. São projetos de desenvolvimento de nanoestruturas,
nanocompostos, nanoeletrônica, nanomagnetismo e nanofotônica.
São
várias as possibilidades dessas tecnologias na área
militar, desde a melhoria dos armamentos e da comunicação
até a criação de roupas para os soldados, que
estão sendo desenvolvidas com vantagens e equipamentos superiores
aos atuais uniformes militares. O exército americano também
tem feito investimentos de pesquisa básica na University
Affiliated Research Center (UARC), no Institute for Soldier
Nanotechnologies (Instituto de Nanotecnologia para Soldados,
em inglês). O objetivo desse centro de excelência é
usar a nanotecnologia para a criação de materiais
que possibilitem a proteção e a sobrevivência
dos soldados em condições de risco.
Na
Nasa, há duas linhas de investimentos inseridas no orçamento:
Nanociência Básica e Pesquisa em Nanotecnologia. Os
recursos vão para diversos programas de pesquisas físicas
e biológicas e de tecnologia espacial, em três áreas
de desenvolvimento: de materiais e estruturas; de nanoletrônica;
de computação, sensores e fabricação
de componentes espaciais. As pesquisas estão direcionadas
para a exploração da zona de convergência entre
a nanotecnologia, biotecnologia e informação tecnológica.
Os
departamentos e as agências do governo dos Estados Unidos
que recebem os investimentos englobam várias áreas
de aplicação. No National Institute of Standarts
and Technology (NIST, Instituto Nacional de Normas e Tecnologias,
em inglês), por exemplo, as pesquisas referem-se às
áreas de eletrônica molecular, computação
quântica e nanomagnetismo.
Nos
setores de saúde e de proteção ambiental a
área mais estudada é a biotecnologia. A Agência
de Proteção Ambiental pesquisa as implicações
da nanotecnologia para reduzir impactos ambientais e economizar
materiais e energia. Na área de biotecnologia, a agência
faz pesquisas para o monitoramento de pesticidas e análise
de alimentos.
O futuro da N&N
Por ser recente, com menos de 10 anos, os investimentos e as pesquisas
em N&N nos Estados Unidos, somando recursos privados e públicos,
ainda não atingiram a quantidade de recursos como o Projeto
Genoma, por exemplo, tratado como prioridade. O pesquisador Henrique
Eisi Tomo, do Instituto de Química da USP, diz que a expectativa
para o futuro da N&N é que ela alcance o mesmo status
da genética, mesmo porque, com seu caráter interdisciplinar,
engloba áreas do próprio Projeto Genoma. "A N&N
está deslanchando, numa fase de conscientização
e de impacto", avalia Henrique Toma.
Nessa
fase de "propaganda", a N&N está sendo assimilada
pela sociedade. A maioria dos experimentos ainda estão em
fase de testes, mas a concepção da N&N já
tem ampla divulgação. O tempo de amadurecimento para
as aplicações práticas varia conforme a área
de pesquisa. Segundo as projeções do pesquisador Henrique
Tomo, a nanotecnologia de materiais para a produção
de polímeros deve chegar ao mercado em um ou dois anos. Já
a tecnologia de eletrônicos e de fármacos deve esperar
mais cinco anos para ter aplicações práticas.
"A
nanotecnologia molecular, que é a área mais nobre,
deve demorar de 10 a 15 anos para se estabelecer", diz Tomo.
Ela foi uma das propostas do pesquisador Eric Drexler, que trouxe
de volta as discussões sobre a nanotecnologia em 1992, referindo-se
às construções "átomo por átomo".
Segundo sua proposta, objetos podem ser produzidos a partir de moléculas,
com a manipulação de átomos individualmente.
(GP)
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