Atividades
humanas promovem aumento do efeito estufa
Os
gases precursores do efeito estufa, como o gás carbônico
(CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e o vapor d'água
(H2O) são responsáveis pelo chamado "efeito-estufa"
(leia mais sobre o efeito estufa). Misturando-se
à atmosfera, eles a fazem se comportar como uma estufa, retendo
o calor solar próximo à superfície terrestre.
Isso evita que o planeta se torne (como a Lua, por exemplo) tórrido
de dia e gélido durante a noite, inviabilizando a vida como
a conhecemos. Em excesso, entretanto, o efeito estufa causa um superaquecimento
(como ocorre em Vênus, com atmosfera muito densa), que pode
levar a conseqüências funestas, como o derretimento de
parte das calotas polares e a conseqüente elevação
do nível dos oceanos, inundando o litoral dos continentes
(e eventualmente pequenos países insulares inteiros).
Para
o pesquisador Augusto José Pereira Filho, do Instituto de
Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
da USP, há muitos fatores que determinam o clima. Os principais
ocorrem na atmosfera, na crosta terrestre, nas geleiras, nos oceanos,
na biosfera, nos gases e nos efeitos causados pela atividade humana.
"Juntando tudo não dá para afirmar se a temperatura
vai aumentar ou diminuir, a atmosfera é muito complexa, mas
há um consenso do aumento da temperatura". Segundo ele,
com as altas temperaturas podem ocorrer fenômenos mais violentos
ao redor do globo, como tempestades e furacões, com prejuízos
para a agricultura e a distribuição de água
para uma população da Terra em crescimento.
Pereira
Filho explica que existem mudanças climáticas e variações
climáticas. As mudanças climáticas ocorrem
em grandes espaços de tempo e as variações
climáticas são as oscilações que ocorrem
nos vários fatores que juntos interferem no clima. A Terra
passou por várias mudanças, alternando períodos
de glaciação e interglaciação, onde
ocorrem grandes oscilações climáticas. Para
ele, não se pode afirmar que o clima da Terra está
mudando porque toda informação é muito recente.
E o
que tem provocado o aumento excessivo de emissão de gases
de efeito estufa na atmosfera? Em grande parte são as atividades
humanas, em busca do desenvolvimento econômico, do conforto
e das comodidades da vida moderna.
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Fonte: Compilação
de dados em Gribbin (1978), McCarthy et al. (1986), em Kemp,
D. Global Environmental Issues |
Arnaldo
Cesar da S. Walter, professor do curso de Planejamento Energético
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que o que
provoca o efeito estufa são processos como o da respiração
(das pessoas, das plantas, dos animais), ou o uso dos CFCs, que
liberam diõxido de carbono, bem como processos orgânicos
de fermentacao que liberam metano, tais como o processo de digestao
de animais ruminantes, fermentacao do lixo ou de biomassa e, e tambem
acidentes como vazamentos de gás ou petróleo.
O padrão
de emissão de CO2 apresenta diferenças entre um país
e outro. O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC, na sigla
em inglês) de 2001, demonstrou que os países desenvolvidos
foram responsáveis por cerca de 50% das emissões de
CO2 relacionadas à energia. O funcionamento de fábricas,
o uso de transportes urbanos e rodoviários, a geração
de energia elétrica e o aquecimento dos lares vêm sendo
obtidos pela queima de derivados desses combustíveis fósseis
que em sua combustão, emitem grandes quantidades de dióxido
de carbono para a atmosfera. O nível total de emissão
de CO2 em 2000, segundo o IPCC, foi de 6,5 bilhões de toneladas/ano.
Outro
processo resultante da ação humana que emite CO2 para
a atmosfera em quantidade excessiva são as queimadas e derrubadas
de florestas (mudanças no uso da terra). É nesse setor
que está o maior comprometimento do Brasil em relação
à emissão global, devido ao desmatamento. Na queima
de florestas, as emissões de CO2 decorrem do processo de
liberação do carbono contido na biomassa. Segundo
Walter, no processo de limpeza para plantio de pastagens e outras
culturas (soja, por exemplo), o Brasil emite gases de efeito estufa.
Outra questão levantada pelo professor é que o Brasil
é considerado "vilão" porque destrói
as suas florestas, mas EUA e Europa já desmataram anteriormente
para criar áreas de pastagens e de agricultura comercial.
A queima
de lixo também contribui para a emissão de GEE. A
produção de lixo costuma ser proporcional à
riqueza e aos hábitos de uma população, mas
há diferenças entre um país e outro. "Certamente
a população americana contribui muito mais nesse setor,
bem como os chineses, porque a população é
muito grande", afirma.
"O
setor de transporte é também extremamente relevante
no que se refere às emissões de GEE pois é,
majoritariamente baseado na combustão de derivados de petróleo",
afirma Suzana Kahn, professora da UFRJ. Ela explica que o processo
de combustão implica, necessariamente, a emissão de
CO2, principal gás de efeito estufa. No Brasil, o setor de
transporte é responsável por quase a metade do consumo
de petróleo, na forma de diesel e gasolina. Ela acrescenta
que há ainda o querosene de aviação e o óleo
combustível, usados em menor quantidade.
Apesar
de não ser considerado um país altamente industrializado,
o Brasil possui um parque industrial razoável, a ponto de
também contribuir com o aumento da emissão dos GEE.
Não é o maior responsável, mas representava,
em 1990, 38% do consumo de energia, sendo 58% da queima do petróleo,
16% da queima de madeira, 12% da queima de coque, 10% da queima
carvão e 4% da queima do gás natural, segundo dados
de José Goldemberg, secretário do Meio Ambiente do
estado de São Paulo.
Segundo
Vicente Schmoll, técnico corporativo da área de meio
ambiente da Petrobrás, a indústria do petróleo,
apesar de mal afamada, não emite quantidades de GEE muito
superiores em comparação a outros setores industriais.
Na
indústria do petróleo, a principal fonte de emissão
de CO2 é no processo de combustão, além das
perdas de metano nas diversas etapas do processo. Schmoll conta
que, de 90 a 98, a empresa fez um levantamento - para o inventário
de emissão de gases que vem sendo elaborado pelo Ministério
da Ciência e Tecnologia - sobre o consumo global da Petrobrás,
de forma a estimar todo o combustível utilizado nas operações
de todas as plantas da empresa.
É
nos processos de extração, separação,
refino e transporte que se queima os combustíveis e se emite
os GEEs. Foi feita uma estequiometria (cálculo da proporção
entre reagentes e produtos em uma reação química)
de combustão para calcular a quantidade de CO2 emitido nos
processos de combustão. Na ocasião, em 1998, a estimativa
de emissão global foi de aproximadamente 25.875 mil toneladas
por ano, para todas as operações da empresa.
Segundo
Schmoll, para o petróleo ser separado há uma fase
de destilação e outra de craqueamento, nas quais uma
grande quantidade de energia é necessária, seja para
gerar vapor ou para aquecer o óleo que será destilado.
O vapor é usado para aquecimento durante todo o processo
e armazenagem de óleos pesados (óleos combustíveis
e asfaltos) e é produzido, em geral, com a queima de óleo
combustível ou gás natural.
As
principais medidas da Petrobrás para a mitigação
estão concentradas no aumento da eficiência energética
e no uso de gás natural, que é consumido em menor
quantidade para produzir o mesmo número de kilowatts de potência,
emitindo, consequentemente, menos GEE em relação ao
óleo combustível.
Efeitos
na agricultura
Um outro tipo de emissão de relevância no Brasil é
aquela proveniente da ação dos ruminantes. O país
é detentor do maior rebanho bovino comercial do mundo. Essa
questão chega a preocupar pesquisadores e essa emissão
está sendo mensurada e computada no inventário e em
outros documentos que apontam os principais causadores do aumento
dos gases de efeito estufa.
O gás
eliminado para a atmosfera na atividade de bovinos, búfalos,
cabras e ovelhas é o metano, que resulta da digestão
do alimento pelas bactérias presentes no interior do rúmen,
que estão no estômago dos animais. Uma pesquisa que
está sendo realizada pela Embrapa Pecuária Sudeste
em parceria com a Embrapa Meio Ambiente, demonstrou que um bezerro,
de cerca de 400 kg, emite cerca de 70 kg de metano por ano.
O setor
agropecuário contribui com o aumento do acúmulo de
GEE também pela agricultura. O cultivo do arroz irrigado
representa uma das principais fontes antrópicas de metano
para a atmosfera. Não é o caso do Brasil mas da Ásia,
onde o arroz é a principal atividade agrícola. Do
total de metano gerado pela cultura do arroz, 90% é atribuído
ao continente asiático, segundo o relatório do IPCC
de 1996.
Outros
tipos de emissão
Nos aterros sanitários, queima-se o gás liberado a
partir do lixo por medida de segurança. Isso porque o metano
que resulta do processo de fermentação da matéria
orgânica armazenada sob a terra, pode pegar fogo caso um raio
ou um fósforo aceso venham a atingir essa matéria
orgânica. Se isso ocorrer, há o risco de explodir.
O gás
liberado pelo lixo é basicamente metano que, quando é
queimado, é emitido em forma de dióxido de carbono
e que contribui com o aumento do efeito estufa. A emissão
por resíduos é, em geral, proporcional à população.
Os
CFCs, gases que também aumentam o efeito estufa, são
regulados, desde 1987, pelo Protocolo de Montreal, que prevê
a redução de sua emissão. Eles foram usados
no passado em larga escala nos sistemas de refrigeração
e nos aerossóis. O objetivo da redução dos
CFCs é minimizar outro efeito na natureza, a destruição
da camada de ozônio, que por sua vez, contribui também
para que haja mudanças climáticas no planeta.
(SP)
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