Efeito estufa desequilibra a vida no planeta
Desde que surgiu a polêmica sobre o efeito estufa, vários
foram os estudos desenvolvidos para que os cientistas tentassem
compreendê-lo. Para a comunidade ciencífica, não
há mais dúvidas de que os riscos são reais
e que as predições do Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCC),
que assessora a ONU nesse tema, são sólidas. A seriedade
dos relatórios do IPCC, escritos com o consenso de centenas
de cientistas da maior parte dos países do mundo e lançados
a cada cinco anos, é ressaltada por diversos pesquisadores.
Há várias linhas de pesquisa sobre o efeito estufa.
De acordo com o pesquisador do Departamento de Física da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Hamilton Pavão,
"o efeito estufa é um problema real, que gera controvérsias".
Segundo ele, algumas apontam para o aquecimento global como um fenômeno
natural. No entanto, os relatórios do IPCC sugerem a influência
da ação humana em relação ao aumento
do efeito.
O professor do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília
(UnB), Carlos Klink, acredita que a presença do homem contribui
para a mudança do clima global. Segundo ele, a concentração
de gases provocada pelo efeito estufa leva ao aquecimento da Terra
e a cada dia mais cientistas se preocupam em avaliar os estoques,
sumidouros e o ciclo do carbono no planeta, a partir do estudo dos
ecossistemas. "Como resultado desses inúmeros estudos,
estamos chegando à conclusão de que as concentrações
de gases (como o CO2) e a temperatura global nunca atingiram os
níveis atuais, mesmo quando se 'olha' para os últimos
150 mil anos ou mais", afirma.
Na opinião de Pavão, da UFMS, a Terra passou por
grandes variações naturais de temperatura, portanto,
o aquecimento global pode ser resultado de transformações
características da própria evolução
do planeta. Mas é certo que a ação humana contribui
para potencializar tais mudanças. "Os dados mostram
um aumento na concentração atmosférica dos
gases que contribuem para o efeito estufa e, conseqüentemente,
uma maior absorção da radiação infravermelha
na toposfera, o que provoca um aumento na temperatura da Terra",
esclarece.
O coordenador de Ensino, Documentação e Programas
Especiais do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), Volker
Kirchoff, destaca que as pesquisas sobre o efeito estufa têm
qualidade. Porém, ele acha que assim como há pessoas
sérias, há quem se aproveite dessa situação
em benefício próprio. "Mais divulgação,
mais preocupação pelo assunto significa mais verbas
para a própria pesquisa. Daí, alguns exageram",
avalia. Para ele, o problema do efeito estufa ainda é "polêmica
de cientista" e falta muito a ser feito para resolver a questão.
"Infelizmente, não temos feito muita coisa. Basta olhar
os resultados da ECO-92", ressalta.
Mas, assim mesmo, têm surgido alguns trabalhos de referência
na avaliação do efeito estufa. Entre eles o Experimento
em Grande Escala da Biosfera - Atmosfera na Amazônia (LBA),
o Programa das Américas para Estudos das Mudanças
Climáticas Globais no Continente Americano (IAI), sediado
em São José dos Campos e o IHDP, Instituto que estuda
como as mudanças climáticas alteram a vida do homem.
A experiência com educação e treinamento de
cientistas e outros que vão lidar com a tomada de decisões
sobre o meio ambiente fez com que Carlos Klink, da UnB, coordenasse
o curso anual sobre mudanças climáticas do Instituto
Nacional de Educação do Brasil, do qual participam
executivos, educadores, profissionais da comunicação,
estudantes e quem mais se interessar. O curso tem como objetivo
orientar os formadores de opinião pública. Ele explica
que, na mesma linha, há também o trabalho de disseminação
de informações do Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia (Ipam) que, com outros institutos de pesquisa
fundaram o Observatório do Clima e o Fórum
Brasileiro de Mudanças Climáticas.
Aquecimento global
A entrada da radiação solar tem de ser equilibrada
por uma saída de calor enviada pela Terra.
Quando atinge superfície a superfície da Terra a
radiação transforma-se em calor e é, em parte,
retornada para o espaço quando, devido à existência
dos gases de efeito estufa, fica aprisionada na Terra. Desse modo,
a atmosfera atua como uma cobertura ou como o vidro de uma estufa,
daí o nome efeito estufa.
O efeito estufa é um processo natural que ocorre porque
o acúmulo de gases, que formam uma barreira que impede o
calor do Sol de sair da atmosfera. Esse fenômeno é
o que mantém o planeta aquecido e possibilita a vida na Terra.
Entretanto, quando a concentração desses gases é
excessiva, mais calor fica retido na atmosfera.
Ao longo do século XX, a temperatura global aumentou em
torno de 0,6ºC. A década de 90 foi considerada a mais
morna e o ano de 1998 o mais quente desde que se iniciou, em 1861,
o registro instrumental da temperatura. A previsão é
que a temperatura global aumente em média 3º C até
o final do século XXI. Com um aumento nos pólos da
ordem de 7º C e inferior a 3º C na região tropical.
O IPCC publicou, em julho de 2001, três volumes de relatórios
sobre as mudanças climáticas. O primeiro volume Mudança
do Clima 2001: a base científica aponta que a concentração
do CO2 na atmosfera está em seu nível mais elevado
em 400 mil anos.
A partir da Revolução Industrial, o nível
de CO2 - um dos gases principais do efeito estufa - aumentou 31%.
Sendo o CO2 é um gás que absorve radiação
infravermelha, com o aumento de sua concentração a
temperatura tende a subir. O CO2 aumentou em concentração
de 280 ppm (partes por milhão), em 1850, a 365 ppm, em 2000.
As projeções indicam concentração da
ordem de 700 ppm no fim deste século.
O segundo volume do relatório do IPCC (Mudança
do Clima 2001: impactos, adaptação e vulnerabilidade)
avalia como os sistemas naturais e humanos são sensíveis
à mudança do clima. Algumas conseqüências
das mudanças climáticas são ressaltadas no
relatório, tais como freqüência de seca ou de
inundação em algumas áreas; desaparecimento
de algumas espécies de animais e aumento no nível
do mar.
A saúde humana poderá também ser posta em
risco. É previsível um aumento de doenças como
malária e cólera. Sociedades mais pobres e menos desenvolvidas
seriam as mais vulneráveis a tais problemas. A habilidade
das pessoas em adaptar-se às mudanças climáticas
depende de fatores como riqueza, tecnologia, infra-estrutura e acesso
aos recursos naturais. Além disso, as sociedades mais pobres
do mundo dependem mais de recursos como hídricos e agrícolas,
justamente os sistemas que mais deverão sofrer os efeitos
da mudança do clima.
O que pode ser feito para impedir uma mudança do clima?
O terceiro volume do relatório do IPCC (Mudança
do Clima 2001: mitigação) se propõe a responder
essa pergunta. Nele são apresentados seis cenários
diferentes para o futuro. Aqueles que conduzem às emissões
reduzidas de CO2 baseiam-se no desenvolvimento sustentável.
No cenário em que os combustíveis fósseis permanecem
como fonte de energia predominante se prevê que as emissões
CO2 no século XXI estejam entre cinco e sete vezes mais altas
do que em 1990.
A questão mais relevante, hoje, do ponto de vista
científico, de acordo com o pesquisador da Universidade de
São Paulo (USP), o físico Paulo Artaxo, é descobrir
e quantificar o efeito das partículas de aerossóis
no clima. Parte dessas partículas resfriam a superfície,
mas parte delas absorvem radiação solar e tem efeito
de aquecimento. "Em particular as partículas emitidas
em queimadas na Amazônia, que têm alto conteúdo
de carbono grafítico, absorvem significante radiação
solar, aquecendo a atmosfera e esfriando a superfície",
explica.
Ciclo do carbono
Os ecossistemas terrestres (incluindo vegetação
e solo) desempenham importante papel no ciclo do carbono. A vegetação
retira CO2 da atmosfera através do processo da fotossíntese.
O carbono retorna para a atmosfera na forma de CO2 através
de processos biológicos (respiração e decomposição
da matéria morta). Esse balanço entre retirada de
carbono da atmosfera (fotossíntese) e retorno para atmosfera
(respiração, decomposição) é
desequilibrado pelo desflorestamento. As queimadas são a
maior contribuição brasileira para o efeito estufa,
em função da emissão de dióxido de carbono
(CO2).
De acordo com Artaxo, a floresta amazônica desempenha tanto
o papel de fonte de emissão de CO2 quanto de sorvedouro do
mesmo. Na estação chuvosa, a floresta amazônica
é um sorvedouro de carbono na ordem de 1 tonelada por hectare
por ano. Porém, na estação seca, as queimadas
revertem esse quadro, com grandes emissões de CO2 para a
atmosfera global. "Sem dúvida, um programa mais efetivo
de controle de queimadas é importante de ser implantado no
Brasil", afirma o pesquisador.
Não é à toa que um dos principais estudos
que está sendo realizado na Amazônia por pesquisadores
do LBA é o da ciclagem do carbono. O LBA está operando
12 torres, em diferentes ecossistemas, com a finalidade de entender
como funciona o ciclo do carbono na floresta amazônica. Muitos
dos mecanismos ainda não são compreendidos, tais como
a relação da taxa de mortalidade de árvores
e o tempo de reciclagem. A taxa de mortalidade de árvores
é muito alta e o tempo de reciclagem é curto comparado
com florestas temperadas.
(LC e RB)
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