Impacto
sobre ecossistemas do Brasil é incerto
Pouco
se conhece sobre os efeitos das mudanças climáticas
globais nos diversos ecossistemas brasileiros. Apesar de alguns
fenômenos observados evidenciarem uma relação
entre as mudanças climáticas globais e alterações
na biodiversidade animal e vegetal dos ecossistemas, as informações
não são muito precisas. Provavelmente, a seca na região
do semi-árido nordestino será mais intensa, mas as
conseqüências exatas sobre as espécies de plantas
e animais desse ecossistema ainda são uma incógnita.
O aumento da temperatura média global poderá causar
o declínio populacional de plantas e animais e já
tem sido observado que algumas espécies de árvores
têm florescido mais cedo. Além disso, já foi
atribuída às mudanças climáticas a proliferação
de certas espécies de insetos.
Os
ecossistemas brasileiros responderão diferentemente às
modificações climáticas globais, mas ainda
não é possível determinar quais biomas serão
mais afetados nem como isso ocorrerá, pois ainda não
existem estudos científicos conclusivos. Em alguns casos,
o desconhecimento pode ser prejudicial para o planejamento regional
a longo prazo. Segundo Paulo Tagliane, professor da Fundação
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), o planejamento costeiro
brasileiro não tem levado em consideração as
alterações ambientais a longo prazo. Ele afirma que,
ainda se assume que o clima e outras variáveis são
relativamente estáveis. "Isso pode ser prejudicial para
o planejamento costeiro, no que diz respeito, por exemplo, à
implantação de construções no litoral,
pois sabe-se que o aumento da temperatura está diretamente
relacionado à elevação dos níveis do
mar devido ao aumento das concentrações dos gases
do efeito estufa", explica ele.
Tagliane
afirma também que as alterações climáticas
sobre a costa brasileira ainda são imperceptíveis,
o que não significa que ela não será afetada.
Ele conta que a relação entre as alterações
climáticas globais e a redução de estoques
pesqueiros brasileiros é pouco conhecida.
José
Domingos Gonzalez Miguez, coordenador-geral de Mudanças Globais
do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), afirma
que os estudos de vulnerabilidade dos ecossistemas brasileiros são
muito importantes para a elaboração de programas específicos,
que visem a adaptação aos impactos climáticos.
Ele diz que, como os impactos são diferentes em cada região,
os programas teriam que ser elaborados também regionalmente.
"Existem estudos preliminares que apontam tendências,
mas ainda há incerteza da relação dos fenômenos
que estão ocorrendo e sua atribuição à
mudança do clima. Contudo, há necessidade de aumentar
as pesquisas nessas áreas, considerando a falta de modelos
detalhados que indiquem cenários de aumento de temperatura
e precipitação até 2100".
Apesar
de importantes, os programas regionais ainda não estão
sendo empregados. Um dos motivos é que ainda não existe
uma metodologia de pesquisa eficaz. Além disso, o Brasil
ainda está em estágio inicial nos estudos sobre mudanças
climáticas.
Os
estudos regionais são importantes para determinar como o
clima pode influenciar a biodiversidade de cada ecossistema, utilizando
programas computacionais específicos que podem modelar e
prever o comportamento de cada bioma. Miguez diz que o nível
de detalhamento desse tipo de estudo demanda muito tempo para ser
concluído, mas já existem algumas iniciativas nacionais.
"A maioria dos estudos utilizam informação dos
modelos de circulação global (que analisam tanto a
biosfera como a atmosfera), que na maior parte dos casos são
simplificados no que diz respeito a modelagem do hemisfério
sul pois foram elaborados para fazer simulações nas
condições dos países do hemisfério norte
(onde estão os centros que desenvolvem os modelos). Uma simulação
dessas utiliza modelos que projetam o que acontecerá, em
100 anos, em 50000 pontos da biosfera e 20 pontos na atmosfera,
ou seja é feito o equacionamento dinâmico em cerca
de um milhão de pontos", explica o pesquisador. Segundo
ele, há ainda outros tipos de estudo, que analisam a implicação
de um dado aumento de temperatura (2 ou 3º C) em um sistema
ou impactos socioeconômicos de eventos extremos em doenças
como dengue e malária. "Esse último tipo de estudo
está sendo desenvolvido pela Fundação Osvaldo
Cruz", exemplifica. "Outros estudos analisam efeitos específicos
sobre espécies", completa.
Miguez
diz que os impactos adversos projetados pelo IPCC, que apontam várias
conseqüências sobre os ecossistemas naturais, dão
uma idéia da vulnerabilidade dos ecossistemas brasileiros.
Entre os efeitos podem estar: a redução geral no potencial
de produção agrícola na maior parte das regiões
tropicais e subtropicais; a disponibilidade reduzida de água
em regiões onde já era escassa; o risco maior de enchentes;
e maior demanda por refrigeração devido a maiores
temperaturas no verão, entre outros efeitos.
(JS)
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