Aquecimento
global já pode ser sentido
Desde
a criação, a Terra sempre esteve em constantes mudanças
de temperatura, em ciclos de milhares de anos de aquecimento e glaciação
causados por fenômenos naturais. A partir da Revolução
Industrial, o planeta passou a enfrentar uma nova realidade: a mudança
de temperatura causada pelo homem através da poluição.
Este problema começou a ser sentido nos microclimas, com
o aumento da temperatura nos grandes centros urbanos e mais recentemente
no macroclima, com o aumento do nível do mar, uma ameaça
em escala global que pode causar escassez de alimentos e graves
problemas sociais.
São
vários os fatores, apontados por ecologistas e cientistas,
que provocam essas mudanças climáticas, tais como
o efeito estufa, buraco na camada de ozônio, poluição
atmosférica e aumento na produção de gás
carbônico. A principal conseqüência é o
aquecimento do clima da Terra, provocando o aumento da temperatura
dos oceanos e o derretimento das geleiras. Entre previsões
apocalípticas e a realidade há uma grande distância,
já que as projeções com modelos matemáticos
levam em conta diferentes variáveis, mas o fato é
que o planeta está ficando mais quente e o nível do
mar está subindo.
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Vista da praia da Ilha Tuvalu
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Há
alguns fatos que podem ser considerados como indícios do
aquecimento global e da elevação dos oceanos. O nível
do mar está subindo e em alguns lugares os efeitos já
estão sendo sentidos. A ilha Tuvalu, que fica no Sul do Oceano
Pacífico, enfrenta o aumento da ocorrência de ciclones
tropicais na última década, causados pelo aumento
da temperatura das águas superficiais do oceano, o que interfere
na ocorrência das tempestades. Mas o problema maior é
a elevação do nível do mar, inundando as áreas
mais baixas, com a água salgada contaminando a água
potável e a agricultura. Os líderes da população
de 11 mil habitantes decidiram abandonar a ilha neste ano, e serão
recebidos pelo governo da Nova Zelândia.
Na
Holanda, onde boa parte do território da costa do país
foi construído através de diques no mar do Norte,
há muita preocupação com a subida das águas
e são feitos monitoramentos constantes.
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Nukufetau
é um dos nove atóis da Ilha Tuvalu
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Os
pesquisadores Joseph Harari e Carlos Augusto Sampaio França,
do Instituto Oceanográfico da USP, afirmam que o caso das
ilhas Tuvalu é um exemplo de variação global
das condições climáticas do planeta, segundo
os dados apresentados na literatura científica. "A elevação
do nível médio do mar não é uma questão
catastrófica ou alarmante, mas uma questão preocupante
que pode se tornar alarmante. O controle das emissões de
gases na atmosfera é imprescindível", afirma
o Harari.
Harari
diz que a elevação do nível do mar não
se dá apenas devido ao derretimento de gelo e aumento de
massa, mas também pela expansão térmica da
massa líquida do oceano e conseqüente aumento de volume.
Cálculos matemáticos indicam que o efeito da expansão
térmica é bem mais importante do que o derretimento
das geleiras.
Segundo
ele, é preciso esclarecer alguns pontos no processo do aumento
das águas. "O buraco da camada de ozônio não
tem relação direta com o efeito estufa, apesar de
ambos terem uma origem comum: a poluição causada pelas
atividades humanas. Portanto, não há relação
direta entre os aumentos do buraco na camada de ozônio e a
elevação do nível do mar", explica Harari.
Os
níveis da água do mar
Um dos trabalhos mais respeitados pela comunidade científica
é o do pesquisador Bruce Douglas, chamado Global Sea Level
Rise, publicado no Journal of Geophysical Research em
abril de 1991. Douglas fez um estudo sobre as tendências dos
níveis marítimos com modelos de cálculo, levando
em conta a reação dos continentes em degelo. Um efeito
que deve ser considerado é que a crosta terrestre também
tem movimentos verticais e ao ocorrer o derretimento de gelo, acontece
uma redistribuição de massa no interior dos continentes.
Desta forma, quando a crosta "sobe", o nível do
mar "desce" em relação a ela.
Os
dados apresentados por Bruce Douglas levam em consideração
as variações locais, nas proximidades das terras em
degelo, e as variações globais. Segundo o cientista,
há uma elevação de nível do mar em termos
globais de 1,8 milímetros por ano, com desvio padrão
de 0,8 milímetros. Outro dado importante é fornecido
pelo IPCC (Intergovernmental
Panel on Climate Chance, sigla em inglês), que indica
um aumento de 10 a 20 centímetros no nível médio
global dos oceanos no século XX.
No
Brasil, há trabalhos publicados pelo Instituto Oceanográfico
da USP que confirmam o aumento do Oceano Atlântico na costa
brasileira. Nas medições feitas em Cananéia,
no litoral sul do estado de São Paulo, desde o ano de 1955
até 1990, foi calculada uma taxa de elevação
de 4,1 milímetros por ano. Em outro relatório, do
Instituto Oceanográfico, feito na cidade de Santos, entre
1944 e 1989, ocorreu uma elevação média de
1,1 milímetros por ano, segundo Joseph Harari, um dos autores
das duas publicações.
Nas
medições e cálculos das médias de elevação,
é importante levar em consideração os efeitos
locais (erosão, atividades humanas, engenharia e ocupações)
e o efeito global, que é o aquecimento do planeta. Também
existem variações temporais do nível do mar
que podem influir nos números de longos períodos.
Um
caso que mistura os fatores regional e global é o aumento
do nível da água em Veneza, na Itália. Nos
últimos 100 anos o nível do mar subiu 30 centímetros,
uma preocupação para os habitantes e as autoridades
em uma cidade que vive do turismo e tem vários edifícios
históricos. Segundo as informações de Bruce
Douglas, o mar do Mediterrâneo sobe em média 1,4 milímetros
por ano, o que indicaria a elevação global do aquecimento
da Terra. Mas Veneza também tem influências locais
importantes, como a construção de um aeroporto com
retirada de água subterrânea e compactação
do solo, abaixamento da crosta e subida relativa do mar.
O
derretimento do gelo
O
fenômeno do derretimento das geleiras acontece no Pólo
Norte e no Pólo Sul. O mais preocupante com relação
ao aumento do nível global dos oceanos é o derretimento
das camadas de gelo na Antártica, no Pólo Sul, porque
as geleiras estão sobre um continente enquanto o gelo do
Pólo Norte está sobre a água. A Antártica
reúne cerca de 90% de todo o gelo da Terra e, segundo projeções
do IPCC, se todo este gelo fosse derretido o mar subiria 60 metros.
É
preocupante também o derretimento das geleiras montanhosas.
A água que desce das montanhas contribui para aumentar o
nível do mar. Nos últimos 30 anos, o derretimento
do gelo das montanhas está sendo verificado em vários
continentes, nos Andes, nos Alpes e nos EUA.
As
geleiras existentes sobre os continentes do Hemisfério Norte
tem grande influência no aumento das águas, segundo
informações de cientistas nos EUA publicadas na revista
Science. De acordo com esse estudo, as geleiras de montanhas
no Alasca derreteram mais rápido nos últimos cinco
anos do que nas últimas quatro décadas e contribuíram
em 9% na elevação do nível do mar nos últimos
50 anos. De acordo com esses cálculos, a cada ano o derretimento
das geleiras no Alasca eleva em 0,02 milímetros o nível
dos oceanos, mais do que em qualquer outra região glacial.
Somente a Geleira Malaspina perde 2,7 quilômetros cúbicos
de água por ano.
No
Hemisfério Sul também se constata o derretimento do
gelo. Na ilha Rei George, do arquipélago das Ilhas Shetland,
cerca de 7% da área coberta de gelo foi perdida nos últimos
50 anos, com aumento da temperatura em 1,03 graus centígrados.
O Brasil coleta informações meteorológicas
na Antártica através de imagens de satélites,
monitoradas pelo Laboratório de Pesquisas Antárticas
e Glaciológicas (Lapag) do Departamento
de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Há
dados que apontam um aumento de temperatura, desprendimento de icebergs
e recolhimento das geleiras. Pesquisas de outros países como
o Canadá e os Estados Unidos, apontam um aumento de 2 a 2,5
graus centígrados na temperatura da península norte
da Antártica.
Efeitos na ilha Rei George
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1956
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2000
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Redução
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Ilha
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1188 km2
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1139 km2
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49 km2
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Calota de gelo
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1109 km2
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1044 km2
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65 km2
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Altas
temperaturas
O primeiro semestre do ano de 2002 foi o segundo mais quente nos
últimos 150 anos, desde quando começaram as medições
pelo escritório de Meteorologia do Reino Unido. A temperatura
média global de 2002 pode bater o recorde até o final
do ano e ultrapassar a do ano de 1998. Pesquisas usando modelos
numéricos indicam mudanças na temperatura causadas
pelo efeito estufa que concentram mais energia na atmosfera, como
um "cobertor" sobre o planeta. Há projeções
que apontam dados bastantes catastróficos levando em conta
os níveis atuais de emissão de gás carbônico
na atmosfera, com resultados como a desertificação.
Um
exemplo de probabilidade catastrófica foi calculado no
Hadley Centre no Reino Unido e apresentado em julho na cidade
de Manaus, numa conferência científica sobre a biosfera.
Segundo essas previsões, no ano de 2050, o super aquecimento
da Terra causado pela emissão de gases, irá provocar
um desequilíbrio ecológico na Floresta Amazônica,
que morreria asfixiada. Isso porque as altas temperaturas aumentariam
o número de microorganismos no solo, que passariam a emitir
um excesso de dióxido de carbono contribuindo para aumentar
o efeito estufa.
Microclima
Em São Paulo, as medições do clima são
feitas na Estação Meteorológica da Água
Funda, próxima ao zoológico. A estação
é a mais antiga do Brasil e vai completar 70 anos. As medições
são monitoradas pelo Instituto Astronômico e Geofísico
(IAG) da USP. Segundo Augusto Pereira Filho, professor de ciências
atmosféricas, "as mudanças de temperaturas não
são significativas, mas no que se refere ao microclima da
cidade de São Paulo, pode-se afirmar que o clima mudou com
a urbanização dos últimos 50 anos". Essas
alterações no microclima se repetem em todas as grandes
cidades
com o aumento da temperatura e a diminuição da umidade,
causados pela falta de área verde, pelo concreto e asfalto,
pela construção de prédios que impedem a ventilação,
pelo aumento da atividade industrial e da poluição
proveniente dos carros. "Antes, São Paulo era conhecida
como a 'terra da garoa', mas hoje a garoa no final da tarde está
mais rara, no inverno nem chega a cair e é mais comum na
periferia", diz Pereira Filho.
Outro
fator de alteração no microclima, que gera vários
prejuízos, são as violentas tempestades de verão
que acontecem na cidade de São Paulo, causando inundações
e mortes. Isso ocorre porque a radiação do solo durante
todo o dia quente cria sobre a cidade uma "ilha de calor".
Como São Paulo está próxima do oceano, no final
da tarde a brisa marítima entra em contato com o ar quente
acumulado durante o dia, provocando as tempestades.
(GP)
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