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Espécies têm programas de preservação

Há algumas décadas os ecologistas vêm chamando a atenção para a necessidade de preservação do ecossistema terrestre. A natureza vem dando sinais de descontentamento, algumas vezes de forma amena e em outras de forma avassaladora, obrigando os homens a rever seus procedimentos nos cuidados para com a Terra e seus habitantes. Importantes iniciativas preservacionistas estão em curso em todo mundo. No Brasil, existem vários projetos de preservação da fauna marinha, espalhados ao longo de nosso extenso litoral. Entre eles, destaca-se o projeto Tamar, criado em 1980 e pioneiro na área de preservação.

A prática de matar as fêmeas de tartarugas marinhas que buscam as praias para a desova, quase acabou levando as espécies à extinção. As comunidades tinham na coleta dos ovos e na venda dos animais uma fonte de renda. Um levantamento da situação das tartarugas em todo litoral brasileiro, que durou cerca de dois anos, revelou um panorama alarmante. Em vista dos resultados, o oceanógrafo Guy Marcovaldi, atual coordenador nacional do projeto, buscou a implantação de trabalhos com a finalidade de proteger as cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas em risco de extinção: Caretta caretta, Chelonia mydas, Dermochelys coriacea, Eretmochelys imbricata e Lepidochelys olivacea.

Para tentar reverter o quadro encontrado, considerado grave, o Projeto Tamar decidiu estabelecer inicialmente três campos de trabalho nos principais pontos de reprodução: a Praia do Forte, na Bahia; Pirambu, em Sergipe e Regência, no Espírito Santo. Atualmente, o projeto conta com 21 estações que garantem o nascimento de cerca de 350 mil filhotes por ano.

Fonte: imagem autorizada pelo Projeto TAMAR

Outros projetos vêm seguindo a receita principal do projeto Tamar, envolvendo as comunidades locais e oferecendo novas opções de trabalho. Experiências bem sucedidas têm se multiplicado, dentre as quais destacam-se os projetos Peixe-Boi, Baleia Jubarte, Sotalia, Baleia Franca, Golfinho Rotator e Mamíferos Marinhos.

Marcas distintivas: envolvimento da comunidade e turismo orientado
A primeira providência para a implantação do Tamar foi envolver a comunidade local, pela conscientização da necessidade de preservação das espécies. Como, na maioria dos casos, a prática de venda dos ovos e captura dos animais adultos era a única fonte de renda para muitas famílias, os pesquisadores optaram pela contratação dos próprios pescadores para fazer a coleta dos ovos e levá-los para o lugar de proteção.

A iniciativa tem dado frutos: são milhares de filhotes nascendo anualmente, já que as fêmeas podem cumprir seu ciclo reprodutivo sem serem molestadas. Além disso, são produzidos e comercializados artigos com a identificação do projeto - camisetas, bonés, chaveiros, bonecos de pelúcia - que se constituem em fonte de sobrevivência para 400 famílias e uma forma de arrecadação de recursos para a continuidade do projeto.

Esse envolvimento da comunidade está bastante presente em uma das atividades do Instituto Jubarte que, além do projeto Baleia Jubarte, mantém também o Programa de Educação Ambiental, com atividades em Caravelas, no sul da Bahia. Da mesma forma, os Centros de Visitantes instalados nas principais bases do projeto Tamar no país também atuam na educação ambiental, através de turismo planejado, gerando empregos para as comunidades e auxiliando na auto-sustentação do projeto. De forma análoga, os projetos Jubarte e Peixe-Boi também produzem camisetas, souvenirs e bonecos alusivos aos animais sob sua proteção.

Efeitos colaterais: especulação imobiliária nas áreas de atuação
Como decorrência da instalação de projetos dessa natureza em praias remotas do litoral brasileiro, há uma tendência de desenvolvimento da região à sua volta, principalmente devido ao afluxo de turistas. A perspectiva de valorização imobiliária acentuada é freqüentemente detectada por especuladores e pode precipitar a aquisição de grandes glebas de terra com vistas ao loteamento futuro. Esse procedimento tende a causar problemas para a comunidade local.

Com relação ao projeto Tamar, o economista do Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia, Geroge Souto Rocha, que desenvolveu trabalhos na região em que está instalado o projeto Tamar na Bahia, afirma que "houve um crescimento muito grande na região, causador de especulação imobiliária, mas, não é possível afirmar que tenha sido somente pela implantação do projeto Tamar".

Perguntado sobre essa questão, José Truda Palazzo Jr., coordenador do Projeto Baleia Franca, afirma que esta nunca foi adequadamente analisada. "Em teoria, a presença de um projeto de proteção ambiental deveria inibir a especulação e fomentar soluções de gestão adequada da ocupação humana mas acredito que isso não acontece, ou porque os projetos são muito focados no seu animal-alvo, ou porque não querem se indispor com a comunidade do entorno (e, no litoral, o loteador e o corretor de imóveis costumam ser pessoas influentes...)". Ele afirma que o projeto Baleia Franca está se estabelecendo em Itapirubá com o apoio de proprietários de pousadas, que não têm interesse no adensamento irracional da ocupação. "Como vamos 'morar' aqui em definitivo, estamos nos interessando pelo tema e comprando algumas brigas com loteadores inescrupulosos... vamos ver no que dá. Mas acho que a presença dos projetos deveria ser um fator de estímulo para que a região se desenvolvesse de maneira sustentável, dando um sonoro não à prática predatória de lotear sem limites a costa brasileira."

Projetos de presevação pelo mundo
Existem projetos de preservação de espécies em todo o mundo. Um exemplo significativo é o Marine Conservation Society, na Inglaterra, que trabalha na preservação de espécies de tartarugas ameaçadas de extinção. Outro exemplo de preservação de espécies de tartarugas ameaçadas é o Marine Biodiversity Conservation Project - Projeto de Conservação dea Biodiversidade Marinha que atua Con Dao National Park, no Vietnã.

O Centro de Mamíferos Marinhos (Marine Mammal Center) trabalha com o socorro aos mamíferos marinhos orfãos, reabilitando o animal para voltar a sua vida normal, após ter sua saúde recuperada. Além de desenvolver programas de conscientização da população para a necessidade de preservação dos mamíferos marinhos

Uma breve cronologia
Projeto Tamar - criado em 1980 pelo antigo IBDF, atual IBAMA, é o pioneiro na área de preservação. Sua finalidade é proteger as cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil: Caretta caretta, Chelonia mydas, Dermochelys coriacea, Eretmochelys imbricata e Lepidochelys olivacea. A partir de 1988, as atividades administrativas, técnicas, científicas e a captação de recursos passaram a ser gerenciadas pela Fundação Pró-Tamar.
Coordenador do Projeto: Guy Marcovaldi.

Instituto Baleia Jubarte (IBJ) - organização não governamental sem fins lucrativos, sediada em Caravelas, BA, foi criada em 1996. Atualmente o Instituto desenvolve diversos projetos de relevância, dentre os quais o projeto Baleia Jubarte, o projeto Sotalia e o Programa de Educação Ambiental.

Projeto Baleia Jubarte - criado em 1988 para estudar e proteger essas baleias em sua época de cria e reprodução. A baleia Jubarte freqüenta as águas do Banco dos Abrolhos, situadas no sul da Bahia e norte do Espírito Santo, no período de junho a novembro, para acasalamento e cria. Coordenadora do projeto: Márcia Engel.

Projeto Sotalia - estuda o boto cinza Sotalia fluviatilis, espécie de golfinho que só existe no Oceano Atlântico, distribuindo-se do Brasil até o Caribe. Coordenador do projeto: Paulo André de Carvalho Flores.

Programa de Educação Ambiental do IBJ - realiza atividades de educação ambiental em Caravelas, BA, desde 1997. Atualmente o Instituto Baleia Jubarte também realiza as atividades do projeto Abrolhos, em parceria com a Conservation International, o American Museum of Natural History/NY e a International Fundation for Animal Welfare.


Projeto Peixe-Boi - criado em 1990 como Centro Nacional de Conservação e Manejo de Sirênios ou Centro Peixe-Boi/Ibama, em Itamaracá, Pernambuco. Em 1998, passa a ser o Centro Nacional de Pesquisas, Conservação e Manejo de Mamíferos Aquáticos. Sua principal preocupação é a recuperação de filhotes de peixe-boi órfãos que ficam encalhados nas praias.Coordenador do projeto Peixe-Boi: Regis Pinto de Lima.

Projeto Baleia Franca - criado em 1981, dedicado à pesquisa e à conservação da segunda espécie de baleia mais ameaçada de extinção no planeta, em águas brasileiras. O Projeto Baleia Franca é administrado pela Coalizão Internacional da Vida Silvestre - IWC/BRASIL, continua sua intensa campanha no sentido de alertar autoridades e empresários do setor turístico para o enorme potencial que a espécie representa para o turismo ecológico no estado de Santa Catarina.
Coordenador do projeto Baleia Franca - José Truda Palazzo Junior.

Projeto Golfinho Rotator - criado em 1990, como uma organização não Governamental (ONG), sem fins lucrativos, com a principal finalidade de monitorar o impacto causado pelo turismo de observação dessa espécie e a sua captura acidental por redes de pesca.
Coordenador do projeto: José Martins da Silva Jr.

Fonte: imagem autorizada pelo Projeto Golfinho Rotator

Projeto Mamíferos Marinhos (Mama) - criado em 1995, o projeto é uma entidade sem fins lucrativos, com a instalação da base de pesquisa na Barra do Paraguaçu, Baía de Todos os Santos (BTS). A prioridade do projeto é incentivar a proteção dos cetáceos da costa baiana, a partir do desenvolvimento das seguintes atividades: Estudar a situação e preservação dos mamíferos marinhos ao longo do litoral; conhecer a bioecologia destes animais, observando os locais de maior incidência.
Coordenador: Luciano Wagner Dorea Reis.

(LO)

 
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Atualizado em 10/03/2003
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