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Confarad, o primeiro congresso sefaradi do Brasil |
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Teve lugar no Rio de Janeiro, em novembro último, o primeiro Congresso Sefaradi do Brasil que reuniu não só descendentes de judeus de origem espanhola e portuguesa, como também estudiosos dos aspectos históricos deste grupo humano. "No âmbito das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, esta será uma oportunidade única de divulgar para as novas geracões um capítulo pouco conhecido da história do Brasil, Portugal e Espanha", assinala Alberto Nasser, presidente do Conselho Sefaradi e do Confarad. O país comemora também os 500 anos dos Pereira, Nogueira, Oliveira, Gomes, Pinto, Moreira e outras tantas famílias de origem espanhola e portuguesa que, em correntes migratórias sucessivas, do Descobrimento até a Independência, ajudaram a construir a nação brasileira. São os chamados cristãos-novos, judeus sefaradim em sua origem, que hoje representam cerca de 35% da população, especialmente nos estados da Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraíba. Há 30 anos, a pesquisadora Anita Novinski, do departamento de história da USP e também do Arquivo de Portugal, dedica-se ao minucioso trabalho de resgate da história destas famílias, que para fugir dos rigores da Santa Inquisição, aceitaram a fé católica, emigraram para o Brasil, embora secretamente continuassem a cultivar certos hábitos e tradições judaicos, que se incorporaram à cultura tradicional. Anita Novinski é autora de seis livros, entre eles "Ibérica Judaica". O principal destaque do Congresso foi a exposição de Torahs, o pergaminho sagrado dos judeus, que contém os cinco livros do Antigo Testamento. Entre as relíquias está a Torah mais antiga do mundo, datada do Século XIII, que pertencia à coleção particular do Imperador Dom Pedro II. Atualmente está guardada no Museu Nacional. Especialmente para a ocasião, vieram ainda uma Torah do século XVI, da Turquia, e outra cjua provável origem teria sido a primeira sinagoga das Américas, instalada em Recife, no início do Século XVII. Um pouco de história Diversos episódios político-militares ocorridos a partir do século XIV vieram comprometer a harmonia até então existente entre os habitantes de diferentes crenças da Península Ibérica. Quase que ao mesmo tempo em que as caravelas de Colombo e Cabral singravam os mares à procura de novas terras, uma imensa legião de refugiados judeus era obrigada a abandonar às pressas os territórios da Espanha e, posteriormente, de Portugal, em busca de um refúgio seguro. Os judeus habitavam a Península Ibérica há 15 séculos e ostentavam, em sua grande maioria, nomes e sobrenomes portugueses e espanhóis. Além disso, possuíam um imenso orgulho de sua condição "Sefaradi", ou seja, naturais de Sefarad, que, em hebraico, era - e ainda é - o nome geográfico da Península Ibérica. Apesar da exiguidade do tempo e dos riscos de uma viagem para o desconhecido, muitas famílias fizeram questão de carregar a chave das suas casas, pois sonhavam em poder retornar, um dia, à sua querida Sefarad. Além das chaves, da saudade dos parentes e amigos que não puderam ou não quiseram partir, essas famílias levaram também seu idioma, suas canções, sua culinária e sua cultura. Diversos países do Mediterrâneo mais a Holanda e as terras do Novo Mundo receberam levas e mais levas de judeus refugiados. A Diáspora Sefaradi representou, para os judeus ibéricos, uma dupla provação. Somando-se à perda de todos os bens era preciso aprender às pressas novos hábitos e idiomas para poder sobreviver nos países que os acolheram. Em seus novos lares, os sefaradis continuaram vivendo como se ainda estivessem na Espanha e em Portugal. Nas ruas, falavam francês, flamengo, turco, árabe, grego e as demais línguas das nações que lhes deram abrigo, mas no interior das suas casas e sinagogas usavam o "ladino", uma mistura de espanhol e português. Afora a língua, os judeus ibéricos mantiveram intactos seus hábitos alimentares, seus provérbios e sua harmoniosa música, preservando para a atual geração, de uma forma mágica, o cotidiano dos seus ancestrais espanhóis e portugueses de 500 anos atrás. A partir dos séculos XIX e XX numerosas famílias de judeus de origem ibérica e oriental começaram a imigrar para o Brasil. Estabeleceram-se, inicialmente, na região amazônica e, mais tarde, nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Eram judeus um pouco diferentes dos que chegavam da Europa Central. Muitos ostentavam sobrenomes lusos ou hispânicos (Pinto, Rodrigues, Maya, Barros, Mendes, Cordeiro, Pereira) e falavam um idioma bastante parecido com o português corrente. O que eles não poderiam imaginar é que uma enorme parcela da população brasileira descendia dos "cristãos-novos", seus irmãos que haviam permanecido na Espanha e em Portugal e obrigados à conversão. Muitos desses cristãos-novos tinham participado da epopéia dos descobrimentos (Gaspar da Gama ), das primeiras Capitanias Hereditárias (Fernando de Noronha), da introdução da cana de açúcar no Nordeste (Diogo Fernandes), da fundação de São Paulo (Padre José de Anchieta) e da fantástica expansão territorial realizada pelos bandeirantes (Raposo Tavares). Sem esquecer a saga intelectual e existencial de Antonio José da Silva, alcunhado de "o judeu", cuja obra teatral é da maior importância e cuja vida e época estão brilhantemente retratadas no livro Vínculos do Fogo: Antonio José da Silva, o judeu, e outras histórias da inquisição em Portugal e no Brasil (Cia das Letras, 1992), de Alberto Dines. Os sefaradis tinham sempre uma música para cada ocasião, desde a aurora até o crepúsculo. Entoavam canções para celebrar o nascimento, o namoro, o noivado, o casamento, as brigas conjugais e até mesmo a terrível dor de cotovelo. As mais lindas melodias de ninar e os mais belos poemas de amor de todos os tempos fazem parte desse fantástico repertório medieval ibérico que os Sefaradis conseguiram preservar intocado por vários séculos. Colaborou neste artigo: Nelson Menda, médico-traumatologista e organizador do Confarad. |
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Atualizado em 10/12/2000 |
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