Incubadoras
propiciam inovação tecnológica e geração
de empregos
Em
um mundo globalizado, inovação tecnológica
e competitividade passam a ser palavras-chaves para o desenvolvimento
econômico de um país e para conquistar espaço
junto à economia internacional. Neste cenário, as
incubadoras de empresas surgem com um papel crucial na supressão
de demandas do mercado.
As
incubadoras proporcionam condições favoráveis
para que as micro e pequenas empresas desenvolvam serviços
e produtos e conquistem uma posição no mercado. Estas
empresas, somadas às de médio porte, representam 98%
das empresas existentes no setor industrial, comercial e de serviços
no país, além de empregar cerca de 53% da população
economicamente ativa, como foi apontado pelo Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). "O maior
crescimento de novos postos de emprego está nas pequenas
empresas e naquelas que acabaram de surgir. Além disso, pesquisas
mostram que pequenas empresas obtêm melhor retorno por empregado
e por cada dólar investido", afirmou a presidente da
Assciação Nacional de Incubadoras de Empresas (NBIA)
dos Estados Unidos, Dinah Adkins, em entrevista para a Com Ciência.
O espantoso é que cerca de 80% das novas empresas brasileiras
fecham as portas antes de completar 1 ano de vida, número
que cai para 20% quando passam pelo processo de incubação,
a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos e Europa.
A
idéia das incubadoras não é novidade. O precursor
das incubadoras modernas surgiu em 1959 no estado de Nova Iorque
(EUA), quando uma fábrica da Massey Ferguson fechou, deixando
milhares de residentes desempregados. Joseph Mancuso, comprador
da fábrica resolveu sub-alugar o espaço para pequenas
empresas iniciantes, que compartilhavam equipamentos e serviços.
Já
nos anos 70 na região do Vale do Silício, nos Estados
Unidos, as incubadoras apareceram como meio de incentivar universitários
recém-graduados a disseminar suas inovações
tecnológicas em um mercado empreendedor. Atualmente somam-se
cerca de 900 incubadoras nos Estados Unidos, fazendo deste o país
mais desenvolvido neste ramo, seguido pela Alemanha e a Coréia,
que vem desenvolvendo rapidamente programas de incubadoras. Desde
então, o movimento das incubadoras vêm conquistando
espaço em inúmeros países do mundo, como forma
de beneficiar não apenas universitários, mas também
empreendedores que queiram consolidar micro e pequenas empresas
com base tecnológica. Dinah Adkins, estima que hajam 3.000
ou mais incubadoras em todo o mundo.
Conferência
Mundial de Incubadoras de Empresas
De
23 a 26 de outubro de 2001, será realizada no Rio de
Janeiro, a Conferência
Mundial de Incubadoras de Empresas. O evento é
destinado a gerentes de incubadoras, técnicos de agências
governamentais na área de desenvolvimento econômico,
ciência e tecnologia, investidores e gestores de fundos
de capital de risco, administradores de parques tecnológicos,
consultores, pesquisadores e demais interessados no processo
de criação e desenvolvimento de novas empresas.
Estarão em pauta principalmente o empreendedorismo
e o capital de risco. A Conferência é patrocinada
pelo MCT, Finep e CNPq. A Anprotec pretende impressionar os
participantes nacionais e estrangeiros com a estrutura do
sistema brasileiro de incubadoras de empresas e na geração
de tecnologias avançadas nacionais.
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No
Brasil, as primeiras incubadoras surgiram em São Carlos (SP),
Campina Grande (PB), Florianópolis (SC) e Rio de Janeiro,
em 1987, após a criação da Associação
Nacional de entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias
Avançadas (Anprotec). Hoje, o país se destaca na América
Latina com 180 incubadoras nas últimas 2 décadas,
sendo 135 em funcionamento, que abrigam cerca de 1100 empresas,
em contraste aos 10 processos de incubadoras iniciados em 1997 pela
Argentina.
Segundo
o presidente da Anprotec, Luis Bermúdez, houve um crescimento
de 35% no número de incubadoras em 2000, em relação
ao ano anterior e atualmente as cerca de 135 empresas geram 5.200
empregos nos 23 estados brasileiros em que estão presentes.
A grande maioria nas regiões Sul e Sudeste. Já são
500 empresas graduadas que geraram por volta de 2.800 empregos.
O
Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas (PNI), do Ministério
de C&T, procura agregar esforços institucionais e financeiros
locais, regionais e nacionais, com o intuito de maximizar a geração
e consolidação do movimento em todo o país.
Participam do PNI as seguintes instituições: Ministério
de C&T, Secretaria de Política Tecnológica Empresarial
(Septe), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos
(Finep), Ministério de Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior, por meio da Secretaria de Desenvolvimento
da Produção (SDP), Banco do Nordeste, Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),
Serviço de Aprendizagem Industrial (Senai), a Anprotec e
o Instituto Euvaldo Lodi (IEL).
Funcionamento
Existem basicamente três tipos de incubadoras: as que abrigam
empresas com base tecnológica (EBT), que desenvolvem produtos
a partir de resultados de pesquisas aplicadas; empresas dos setores
tradicionais, que já detém tecnologia largamente difundidas
e que querem agregar valor aos seus produtos através do melhoramento
do nível tecnológico que utilizam; e as incubadoras
mistas que apoiam empresas dos dois tipos anteriores.
São
elas que vão amparar o empreendedor fornecendo infra-estrutura,
capacidade técnica, gerencial e administrativa para que idéias
sejam transformadas em produtos ou processos. O espaço alugado,
até um período de dois anos, pode variar de 20 a 100m2
por módulo, e conter equipamentos básicos (computadores,
fax e telefone).
O
processo de incubação tem início nos editais
que são publicados periodicamente em cada incubadora. Os
projetos enviados passam por etapas de pesquisa de mercado, desenvolvimento
de um protótipo e da produção em escala antes
de serem propriamente incubados. O novo empreendedor vai se deparar
com total apoio gerencial e tecnológico por meio de consultorias
e cursos, o que se faz necessário uma vez que muitos candidatos
jamais tiveram um negócio, ou mesmo sua experiência
na área empresarial poderia comprometer o andamento do empreendimento.
Depois
de graduadas, a maior parte das empresas continua instalada na região
de onde foi incubada ou passa a fazer parte de um Parque Tecnológico.
Este ambiente é propício para um desenvolvimento mais
intensivo de tecnologia e se assemelha às incubadoras por
dispor de uma infra-estrutura compartilhada. Os empreendimentos,
de uma forma geral, giram em torno das áreas de informática
e software, telecomunicações e eletro-eletrônica,
agroindústria e biotecnologia.
Segundo
Luís Bermúdes, "a importância do movimento
das incubadoras em uma determinada localidade e, por conseqüência,
em nível nacional, é que o efeito demonstrativo de
que, com poucos recursos e com uma infra-estrutura de apoio a custos
compartilhados e reduzidos, é possível gerar empreendimento
de tecnologia neste país."
Universidade-Empresa,
uma importante relação "Dizer que a universidade
vai fazer a inovação, não é possível.
Nenhuma universidade do mundo faz isso. O ambiente de inovação
para chegar ao mercado se realiza dentro das empresas", afirma
Bermúdez, presidente da Anprotec. Para ele, o brasileiro
tem a cultura de sempre buscar o melhor fora do país, como
ocorreu com a tecnologia. "Agora, como lá fora está
cada vez mais difícil co-obter tecnologia de forma barata,
as empresas começam a procurar as universidades. Então
este fluxo deve ser incrementado".
Esse
papel das incubadoras como um mecanismo, inclusive, de transferência
de tecnologia, serve para facilitar com que pesquisadores, estudantes
de pós-graduação ou graduação,
consigam levar suas idéias inovadoras para o mercado.
Um
dos obstáculos que pesquisadores podem enfrentar é
quanto a participação de lucros de uma empresa e tempo
de dedicação, já que têm seus compromissos
para com a universidade, o que pode prejudicar esta relação.
Entretanto, inúmeras iniciativas tem sido estimuladas no
sentido de estreitar a relação universidade-empresa.
para otimizar essa parceria.
A
mais importante delas talvez seja o Projeto de Lei nº 257,
de 2000, que trata sobre incentivo à pesquisa e à
inovação tecnológica, de autoria do senador
Roberto Freire (PPS) e que poderá representar um enorme avanço
nessa parceria. A proposta procura incentivar a participação
de pesquisadores e professores universitários junto às
empresas, através de participação sobre os
ganhos econômicos resultantes da criação intelectual
ou produção técnico-científica inovadora
à qual tenham contribuído. Para tanto, fica estabelecido
que colaborações são permitidas por prazo não
superior a cinco anos, e para o desenvolvimento de atividade ou
projeto de pesquisa científica ou tecnológica de alta
relevância para o interesse nacional; licenciar-se do cargo
que ocupa, por prazo certo, para desenvolver atividade empresarial
relativa à produção de bens diretamente decorrentes
de sua criação ou invenção.
Incubanet
quer desenvolver economia de Pernambuco
A
Incubanet, Rede de Incubadoras de Empresas de Pernambuco,
surgiu no final de 2000, para coordenar o trabalho das incubadoras
do estado. Diferencia-se das outras incubadoras por avaliar,
com maior rigor, os projetos submetidos para incubação,
que passam por três pareceres de especialistas que avaliam
a tecnologia, o negócio, a capacitação,
o aperfeiçoamento, o desenvolvimento do plano de negócio
e qualidade. Dentro de mais um ano, espera-se mais cinco incubadoras
na rede. A expectativa é estimular o processo empreendedor
de formação das instituições de
ensino, e conseguir ampliar a participação de
empresas de base tecnológica para desenvolver a nova
economia do estado.
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Pelo
projeto, os órgãos e entidades da administração
pública, de caráter científico ou tecnológico,
especialmente as universidades públicas, poderão celebrar
convênios de prestação de serviço ou
contratos de pesquisa, explorar patentes e licenças, bem
como criar serviços voltados para a industrialização
ou comercialização de produtos e serviços diretamente
decorrentes de atividade técnico-científica inovadora
por eles desenvolvida. No projeto de lei também está
prevista a dotação de recursos para a assinatura dos
principais periódicos científicos, nacionais e estrangeiros,
pelas instituições públicas de ensino e pesquisa.
Inspirado
pela Lei nº 99-587 du 12 juillet 1999 sur l'innovation et
la recherche, da República Francesa, o projeto está
em tramitação no Senado. A chefe de gabinete do senador
Freire esclareceu que o relator do projeto, o senador Leomar Quintanilha,
embora reconheça o mérito desse, acredita que o projeto
de lei no 257 altera algumas relações entre a universidade
e o setor privado, como alterações nas carreiras do
setor público, e que deveriam estar sendo julgadas pelo executivo
e não pelo legislativo.
O
senador Roberto Freire (PPS) é autor do projeto de
lei que trata do incentivo à
pesquisa e à inovação tecnológica
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Na
justificativa do projeto em questão, Roberto Freire salienta
que não se pode pretender maiores avanços no setor
de inovação tecnológica caso as universidades
brasileiras e das demais instituições de pesquisa
ficarem na dependência apenas dos escassos recursos orçamentários
que, de ano para ano, decrescem de valor. "Ora, podendo elas
dispor de outras fontes de recursos, por certo poderão sempre
melhorar os seus laboratórios e outros equipamentos necessários
ao mister, como também aperfeiçoar os seus recursos
humanos", conclui.
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