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Ciência, Tecnologia e Inovação: desafios e contraponto
Carlos Vogt
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Sistema de C & T é gerido por diversas instituições
Fundos garantem injeção de novos recursos à tecnologia
Programas especiais financiam pesquisas
Fapesp é modelo no fomento à ciência e tecnologia
A inovação tecnológica nas grandes empresas
Incubadoras geram empregos e inovações
Comunidade científica faz prévia para conferência nacional
O Brasil tem cientistas, mas faltam empregos
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O intinerário da pesquisa no Brasil:
Evando Mirra
Os desafios para transformar conhecimento em valor econômico:
Roberto Nicolsky
Livro Verde pode ampliar conceito de política científica:
Ulisses Capozoli
Interação Rhodia-universidades no Brasil:
Saul D'Ávila
Quando o setor produtivo faz C&T:
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Incubadoras propiciam inovação tecnológica e geração de empregos

Em um mundo globalizado, inovação tecnológica e competitividade passam a ser palavras-chaves para o desenvolvimento econômico de um país e para conquistar espaço junto à economia internacional. Neste cenário, as incubadoras de empresas surgem com um papel crucial na supressão de demandas do mercado.

As incubadoras proporcionam condições favoráveis para que as micro e pequenas empresas desenvolvam serviços e produtos e conquistem uma posição no mercado. Estas empresas, somadas às de médio porte, representam 98% das empresas existentes no setor industrial, comercial e de serviços no país, além de empregar cerca de 53% da população economicamente ativa, como foi apontado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). "O maior crescimento de novos postos de emprego está nas pequenas empresas e naquelas que acabaram de surgir. Além disso, pesquisas mostram que pequenas empresas obtêm melhor retorno por empregado e por cada dólar investido", afirmou a presidente da Assciação Nacional de Incubadoras de Empresas (NBIA) dos Estados Unidos, Dinah Adkins, em entrevista para a Com Ciência. O espantoso é que cerca de 80% das novas empresas brasileiras fecham as portas antes de completar 1 ano de vida, número que cai para 20% quando passam pelo processo de incubação, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos e Europa.

A idéia das incubadoras não é novidade. O precursor das incubadoras modernas surgiu em 1959 no estado de Nova Iorque (EUA), quando uma fábrica da Massey Ferguson fechou, deixando milhares de residentes desempregados. Joseph Mancuso, comprador da fábrica resolveu sub-alugar o espaço para pequenas empresas iniciantes, que compartilhavam equipamentos e serviços.

Já nos anos 70 na região do Vale do Silício, nos Estados Unidos, as incubadoras apareceram como meio de incentivar universitários recém-graduados a disseminar suas inovações tecnológicas em um mercado empreendedor. Atualmente somam-se cerca de 900 incubadoras nos Estados Unidos, fazendo deste o país mais desenvolvido neste ramo, seguido pela Alemanha e a Coréia, que vem desenvolvendo rapidamente programas de incubadoras. Desde então, o movimento das incubadoras vêm conquistando espaço em inúmeros países do mundo, como forma de beneficiar não apenas universitários, mas também empreendedores que queiram consolidar micro e pequenas empresas com base tecnológica. Dinah Adkins, estima que hajam 3.000 ou mais incubadoras em todo o mundo.

Conferência Mundial de Incubadoras de Empresas

De 23 a 26 de outubro de 2001, será realizada no Rio de Janeiro, a Conferência Mundial de Incubadoras de Empresas. O evento é destinado a gerentes de incubadoras, técnicos de agências governamentais na área de desenvolvimento econômico, ciência e tecnologia, investidores e gestores de fundos de capital de risco, administradores de parques tecnológicos, consultores, pesquisadores e demais interessados no processo de criação e desenvolvimento de novas empresas. Estarão em pauta principalmente o empreendedorismo e o capital de risco. A Conferência é patrocinada pelo MCT, Finep e CNPq. A Anprotec pretende impressionar os participantes nacionais e estrangeiros com a estrutura do sistema brasileiro de incubadoras de empresas e na geração de tecnologias avançadas nacionais.

No Brasil, as primeiras incubadoras surgiram em São Carlos (SP), Campina Grande (PB), Florianópolis (SC) e Rio de Janeiro, em 1987, após a criação da Associação Nacional de entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas (Anprotec). Hoje, o país se destaca na América Latina com 180 incubadoras nas últimas 2 décadas, sendo 135 em funcionamento, que abrigam cerca de 1100 empresas, em contraste aos 10 processos de incubadoras iniciados em 1997 pela Argentina.

Segundo o presidente da Anprotec, Luis Bermúdez, houve um crescimento de 35% no número de incubadoras em 2000, em relação ao ano anterior e atualmente as cerca de 135 empresas geram 5.200 empregos nos 23 estados brasileiros em que estão presentes. A grande maioria nas regiões Sul e Sudeste. Já são 500 empresas graduadas que geraram por volta de 2.800 empregos.

O Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas (PNI), do Ministério de C&T, procura agregar esforços institucionais e financeiros locais, regionais e nacionais, com o intuito de maximizar a geração e consolidação do movimento em todo o país. Participam do PNI as seguintes instituições: Ministério de C&T, Secretaria de Política Tecnológica Empresarial (Septe), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, por meio da Secretaria de Desenvolvimento da Produção (SDP), Banco do Nordeste, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Serviço de Aprendizagem Industrial (Senai), a Anprotec e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL).

Funcionamento
Existem basicamente três tipos de incubadoras: as que abrigam empresas com base tecnológica (EBT), que desenvolvem produtos a partir de resultados de pesquisas aplicadas; empresas dos setores tradicionais, que já detém tecnologia largamente difundidas e que querem agregar valor aos seus produtos através do melhoramento do nível tecnológico que utilizam; e as incubadoras mistas que apoiam empresas dos dois tipos anteriores.

São elas que vão amparar o empreendedor fornecendo infra-estrutura, capacidade técnica, gerencial e administrativa para que idéias sejam transformadas em produtos ou processos. O espaço alugado, até um período de dois anos, pode variar de 20 a 100m2 por módulo, e conter equipamentos básicos (computadores, fax e telefone).

O processo de incubação tem início nos editais que são publicados periodicamente em cada incubadora. Os projetos enviados passam por etapas de pesquisa de mercado, desenvolvimento de um protótipo e da produção em escala antes de serem propriamente incubados. O novo empreendedor vai se deparar com total apoio gerencial e tecnológico por meio de consultorias e cursos, o que se faz necessário uma vez que muitos candidatos jamais tiveram um negócio, ou mesmo sua experiência na área empresarial poderia comprometer o andamento do empreendimento.

Depois de graduadas, a maior parte das empresas continua instalada na região de onde foi incubada ou passa a fazer parte de um Parque Tecnológico. Este ambiente é propício para um desenvolvimento mais intensivo de tecnologia e se assemelha às incubadoras por dispor de uma infra-estrutura compartilhada. Os empreendimentos, de uma forma geral, giram em torno das áreas de informática e software, telecomunicações e eletro-eletrônica, agroindústria e biotecnologia.

Segundo Luís Bermúdes, "a importância do movimento das incubadoras em uma determinada localidade e, por conseqüência, em nível nacional, é que o efeito demonstrativo de que, com poucos recursos e com uma infra-estrutura de apoio a custos compartilhados e reduzidos, é possível gerar empreendimento de tecnologia neste país."

Universidade-Empresa, uma importante relação "Dizer que a universidade vai fazer a inovação, não é possível. Nenhuma universidade do mundo faz isso. O ambiente de inovação para chegar ao mercado se realiza dentro das empresas", afirma Bermúdez, presidente da Anprotec. Para ele, o brasileiro tem a cultura de sempre buscar o melhor fora do país, como ocorreu com a tecnologia. "Agora, como lá fora está cada vez mais difícil co-obter tecnologia de forma barata, as empresas começam a procurar as universidades. Então este fluxo deve ser incrementado".

Esse papel das incubadoras como um mecanismo, inclusive, de transferência de tecnologia, serve para facilitar com que pesquisadores, estudantes de pós-graduação ou graduação, consigam levar suas idéias inovadoras para o mercado.

Um dos obstáculos que pesquisadores podem enfrentar é quanto a participação de lucros de uma empresa e tempo de dedicação, já que têm seus compromissos para com a universidade, o que pode prejudicar esta relação. Entretanto, inúmeras iniciativas tem sido estimuladas no sentido de estreitar a relação universidade-empresa. para otimizar essa parceria.

A mais importante delas talvez seja o Projeto de Lei nº 257, de 2000, que trata sobre incentivo à pesquisa e à inovação tecnológica, de autoria do senador Roberto Freire (PPS) e que poderá representar um enorme avanço nessa parceria. A proposta procura incentivar a participação de pesquisadores e professores universitários junto às empresas, através de participação sobre os ganhos econômicos resultantes da criação intelectual ou produção técnico-científica inovadora à qual tenham contribuído. Para tanto, fica estabelecido que colaborações são permitidas por prazo não superior a cinco anos, e para o desenvolvimento de atividade ou projeto de pesquisa científica ou tecnológica de alta relevância para o interesse nacional; licenciar-se do cargo que ocupa, por prazo certo, para desenvolver atividade empresarial relativa à produção de bens diretamente decorrentes de sua criação ou invenção.

Incubanet quer desenvolver economia de Pernambuco

A Incubanet, Rede de Incubadoras de Empresas de Pernambuco, surgiu no final de 2000, para coordenar o trabalho das incubadoras do estado. Diferencia-se das outras incubadoras por avaliar, com maior rigor, os projetos submetidos para incubação, que passam por três pareceres de especialistas que avaliam a tecnologia, o negócio, a capacitação, o aperfeiçoamento, o desenvolvimento do plano de negócio e qualidade. Dentro de mais um ano, espera-se mais cinco incubadoras na rede. A expectativa é estimular o processo empreendedor de formação das instituições de ensino, e conseguir ampliar a participação de empresas de base tecnológica para desenvolver a nova economia do estado.

Pelo projeto, os órgãos e entidades da administração pública, de caráter científico ou tecnológico, especialmente as universidades públicas, poderão celebrar convênios de prestação de serviço ou contratos de pesquisa, explorar patentes e licenças, bem como criar serviços voltados para a industrialização ou comercialização de produtos e serviços diretamente decorrentes de atividade técnico-científica inovadora por eles desenvolvida. No projeto de lei também está prevista a dotação de recursos para a assinatura dos principais periódicos científicos, nacionais e estrangeiros, pelas instituições públicas de ensino e pesquisa.

Inspirado pela Lei nº 99-587 du 12 juillet 1999 sur l'innovation et la recherche, da República Francesa, o projeto está em tramitação no Senado. A chefe de gabinete do senador Freire esclareceu que o relator do projeto, o senador Leomar Quintanilha, embora reconheça o mérito desse, acredita que o projeto de lei no 257 altera algumas relações entre a universidade e o setor privado, como alterações nas carreiras do setor público, e que deveriam estar sendo julgadas pelo executivo e não pelo legislativo.


O senador Roberto Freire (PPS) é autor do projeto de lei que trata do incentivo à pesquisa e à inovação tecnológica

Na justificativa do projeto em questão, Roberto Freire salienta que não se pode pretender maiores avanços no setor de inovação tecnológica caso as universidades brasileiras e das demais instituições de pesquisa ficarem na dependência apenas dos escassos recursos orçamentários que, de ano para ano, decrescem de valor. "Ora, podendo elas dispor de outras fontes de recursos, por certo poderão sempre melhorar os seus laboratórios e outros equipamentos necessários ao mister, como também aperfeiçoar os seus recursos humanos", conclui.

Atualizado em 10/09/2001

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