Programas
especiais financiam pesquisas em C&T
O primeiro
programa criado para complementar os recursos governamentais no
financiamento da C&T foi o Programa de Apoio ao Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (PADCT). Implantado em 1985,
com contrapartida de recursos nacionais aos recursos do Banco Mundial,
o programa tinha como objetivos a formação de parcerias;
a capacitação de recursos humanos; a aplicação
de conhecimentos científicos e tecnológicos de modo
mais efetivo; e a melhora do desempenho do setor de C&T.
Os
PADCT I e II investiram um total de US$ 470 milhões em 4.500
projetos, por acordos realizados em 1981 e 1991. Além dos
efeitos diretos dos investimentos, os projetos foram considerados
fundamentais para o processo de aprendizagem na forma de selecionar
projetos de C&T e avaliados para custeio, o que influenciou
todo o setor de C&T no Brasil.
Em
1998, o Banco Mundial aprovou a renovação da terceira
fase do programa. O PADCT III prevê o aumento dos investimentos
em C&T, de 0,7% para 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro
e a expressiva participação do setor privado, da ordem
de 30% a 40%, bem como dos Governos dos estados. Ao total, deverão
ser aplicados US$700 milhões, para o período de seis
anos, em duas etapas, sendo a primeira de US$3l0 milhões.
Com
os recursos restantes do PADCT III, que teriam que ser devolvidos
ao banco mundial, foi criado em março deste ano, o programa
Institutos do Milênio. A iniciativa de criação
dos Institutos
do Milênio iniciou-se em 1998, pela junção
de dois esforços independentes. Em um, a liderança
do Banco Mundial incluiu a C&T dentro de suas estratégias
de auxiliar na formação de capital humano nos países
do terceiro mundo. Ao mesmo tempo, o governo do Chile tentava com
vizinhos do Cone Sul viabilizar um programa de fortalecimento da
capacidade científica da região.
Através
da associação com o Instituto de Estudos Avançados
em Princenton, Nova Jersey, estes dois esforços uniram-se
em junho de 98, com a convocação proposta pelo governo
do Chile com suporte financeiro da Carnegie Corporation de Nova
York. A convocação permitiu colocar juntos representantes
da comunidade científica do Chile e internacional, governos
do Cone Sul, setor privado e Banco Mundial.
Este
encontro levou ao estabelecimento em janeiro de 2000, da primeira
iniciativa de implantação dos Institutos do Milênio,
no Chile, com recursos do Banco Mundial e do Governo chileno.
Posteriormente,
também em 2000, a iniciativa de criação dos
Institutos do Milênio ocorreu no México, África
e Vietnã. Em 2001, foi iniciada no Brasil com recursos de
US33,5 milhões do empréstimo do Banco Mundial e igual
valor como contrapartida do Governo brasileiro.
Desde
o anúncio de sua criação, o programa foi alvo
de críticas de diversas sociedades científicas. Elas
manifestaram o receio de que essa iniciativa limite a base de pesquisa,
produza resultados apenas imediatos e, assim, comprometa a permanência
e o futuro da produção científica nacional.
De
acordo com a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC), Glaci Zancan, há uma preocupação
muito grande com a concentração de recursos em poucas
lideranças, quando seria necessário expandir a base
do sistema com a criação de núcleos sobre novas
"cabeças". Um ponto favorável, segundo ela,
é que o programa não deve em nenhum momento retirar
recursos de outros. "No Brasil há a tendência
de se criar um programa e matar outros. Isso é o que não
pode acontecer", diz.
A falta
de perspectiva após os três anos do programa inquieta
alguns dos pesquisadores que concorreram aos recursos. Um dos três
projetos pré-selecionados na região Norte foi o Biodiversidade
Amazônica: Bases para o desenvolvimento sustentável
da região, coordenado por William Magnusson, do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Durante o programa
serão criadas 20 parcelas para estudos intensivos na área
e formação de consórcios (universidades, grupos
comunitários e ONG's) para ordenar as pesquisas sobre a biodiversidade.
Para começar esse processo, o orçamento do Instituto
do Milênio é suficiente. Porém a longo prazo
pretende-se criar 200 sítios integrados. Apesar de aparentemente
ambicioso, isto daria somente um sítio para cada 40.000 km2
da Amazônia brasileira legal.
"Se
o Instituto é do Milênio, e não somente para
os primeiros três anos, precisará desenvolver uma estrutura
administrativa e base de financiamento abrangentes", afirma
Magnusson. A continuidade das pesquisas após o período
de três anos é possível, na opinião do
pesquisador, caso seja reformulada a base administrativa do programa,
permitindo financiamento estrangeiro. Ele admite que sem uma estrutura
brasileira para absorver os recursos internacionais, a atuação
dos estrangeiros pode tornar-se polêmica. "Se o financiamento
não for obtido através de edital, será fácil
obter financiamento estrangeiro para o nosso Instituto do Milênio,
mas seria muito mal se o Instituto fosse visto como uma iniciativa
estrangeira, em vez de uma proposta brasileira para atender às
demandas dos povos amazônicos", completa.
Estrutura
O programa está dividido em dois grupos. No primeiro estão
agrupados os institutos de excepcional nível científico
em sua área de atividade. No segundo, os institutos atuantes
em áreas estratégicas, que deverão formar redes
de pesquisa em Ciências do Mar, Ciências do Amazonas,
Ciências do Semi-Árido. Já foi anunciado também
o instituto para Popularização da Ciência e
estuda-se a possibilidade de se criar outro em Ciências do
Pantanal.
No
Grupo 1 foram apresentadas 206 pré-propostas. Dessas, 57
foram pré-selecionadas sendo que apenas 20 serão aprovadas.
As propostas pré-selecionadas abrangem as seguintes áreas
do conhecimento: Medicina, Biologia, Farmacologia, Bioquímica,
Química, Engenharias, Física, Biofísica, Agronomia,
Matemática, C&T de Alimentos, Economia, Geociências
e Psicologia.
Aos
projetos apresentados no Grupo 1 estão destinados R$ 60 milhões
e para o Grupo 2 R$ 30 milhões. Os recursos serão
desembolsados durante três anos consecutivos, distribuídos
em parcelas anuais, a partir da contratação. Paralelamente,
o CNPq alocará R$ 15 milhões em bolsas para fixação
de pesquisadores. O volume total de recursos alocados no programa
é de R$ 105 milhões.
O Grupo
Consultivo de C&T do PADCT III atua como Comitê Assessor
para os Institutos do Milênio e é responsável
pela seleção dos projetos. É formado por 12
especialistas, metade dos quais estrangeiros atuando em instituições
dos Estados Unidos Chile, Índia, Bélgica, França
e Suíça. As propostas são avaliadas por critérios,
tais como: mérito (originalidade, inovação
científica, metodologia); resultados esperados (metas, impactos,
transferências); abrangência (caráter multi e
interdisciplinar); resultados acadêmicos (formação
de recursos humanos); parcerias (níveis de integração);
qualificação da equipe; infra-estrutura disponível
para a execução do projeto; adequação
do orçamento proposto à execução do
projeto.
A divulgação do resultado da seleção
das propostas do Grupo 1 está prevista para 28 de setembro
e a contratação dos projetos selecionados ocorrerá
em outubro e, em novembro, será o início do desembolso
da primeira parcela dos recursos. O resultado do Grupo 2 só
será divulgado em outubro e apenas cinco projetos terão
financiamento. Recentemente o MCT anunciou a criação
do Instituto do Milênio para a Popularização
da Ciência, que integraria o Grupo 2 com uma previsão
de orçamento de R$ 3 milhões para três anos.
O secretário
de coordenação das Unidades de Pesquisa do MCT, João
Steiner, explicou que o diferencial do modelo induzido (Grupo 2)
é que concentra o foco em tema considerado prioritário
pelo MCT. Os cinco Institutos do Milênio em áreas definidas
- o Pantanal pode ser o quinto, ainda não confirmado - têm
a função de congregar competências. A verba
será usada para articular uma rede de pesquisadores de múltiplas
origens, com um coordenador e sede numa instituição,
responsável pela gestão dos recursos.
Pronex
Outro programa de incentivo à pesquisa científica
é o Programa de Apoio a Núcleos de Excelência
(Pronex), criado em 1996. O propósito do programa, segundo
a versão oficial do governo brasileiro, é consolidar
o processo de desenvolvimento científico e tecnológico
do Brasil, por meio do apoio continuado a grupos organizados de
pesquisadores, em permanente interação, com reconhecida
competência e tradição em suas áreas
de atuação.
As
críticas ao Pronex são baseadas na falta de continuidade
na distribuição de recursos financeiros para os projetos,
pelo fato da liberação dos recursos depender de votação
na Câmara dos Deputados. Em resposta, o governo sinaliza com
a estabilidade do Pronex e aumento dos recursos nos próximos
anos.
O projeto
Identidades: Reconfigurações de Cultura e Política,
do Centro de Migrações Internacionais (Cemi), do Instituto
de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp) é um dos prejudicados com atrasos nos
repasses da verba. O projeto, iniciado em 1997, com duração
prevista para quatro anos, visa consolidar um programa transdisciplinar
de pesquisas comparativas sobre migrações. Já
está na metade do quinto ano e ainda não teve a liberação
da verba restante (R$ 93.860,00). "Só pudemos dar prosseguimento
às pesquisas porque a maioria de nós contava com verbas
adicionais de outras fundações (nacionais e internacionais).
Mas, mesmo assim, tivemos que cancelar viagens de pesquisa, reuniões
anuais e contratos com estagiários, além de protelar
a finalização das pesquisas", comenta a coordenadora
do projeto, Bela Feldman-Bianco.
Nelson
Mello, assessor da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), afirma
que "o processo de liberação de recursos para
o Proxex tem um caminho burocrático a percorrer, com análises,
autorizações, e limitações impostas
pela execução orçamentária, que acabam
levando muitas vezes a prejuízos no cumprimento de cronograma
de desembolso", o que revela ser consistente a preocupação
apresentada pela pesquisadora.
O programa,
na opinião de Bela Bianco, faz parte da redefinição
política científica do país, a qual privilegia
a divisão de grandes verbas entre poucos selecionados. Com
a única vantagem de garantir a diversidade entre os projetos.
O grande problema, como ressalta, é a falta de seriedade
nos repasses das verbas, o que gera o desperdício de dinheiro
público. Ela conclui que, na situação atual,
é difícil planejar pesquisas contando com o Pronex.
Apesar de todas as dificuldades, o projeto do Cemi permitiu, em
2000, a elaboração de 25 livros, 44 capítulos
de livros e 101 artigos.
Para
o governo, este Programa é positivo pelo potencial de fomento
à pesquisa, além da consolidação de
um sistema eficaz de monitoramento, que possibilite a visão
panorâmica do cenário de C&T no país e oriente
objetivamente uma política de distribuição
de recursos públicos para o setor. Os responsáveis
pelos órgãos de formulação de política
em C&T alegam que representa uma importante contribuição
para o crescimento da qualidade, da produtividade e da eficácia
da C&T no Brasil.
Organizações
Globo criam Cátedras de Pesquisa
As
Organizações Globo criaram este ano, o programa
Cátedras Globo de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico
com o objetivo de contribuir para a construção
da base científico-tecnológica do país.
Entre as áreas de pesquisa a serem apoiadas, Tecnologias
da Informação e Conhecimento (telecomunicações,
informática, eletrônica, materiais e computação
gráfica) e Tecnologias Educacionais (educação
continuada e à distância, redes, multimídia
e hipermídia para capacitação de professores
e construção de ambientes de aprendizagem),
são duas delas, bem como Desenvolvimento de Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas (tendências e mudanças
comportamentais diante da convergência de mídias
nas áreas de comunicação social, antropologia,
sociologia e psicologia). As universidades escolhidas para
o programa já realizaram a fase de seleção
das propostas. A seleção final, ainda sem data
definida, será feita por uma comissão com representantes
da Rede Globo, da Fundação Roberto Marinho,
da Unesco e de órgãos estaduais de apoio à
pesquisa (Fapesp, Faperj e Fap-DF).
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Desde
sua criação, o Pronex possui 206 projetos contratados,
desenvolvidos em 14 estados do país, contabilizando 40 instituições
de pesquisa, entre elas universidades públicas federais,
estaduais e privadas, institutos públicos federais e estaduais
de pesquisas, além de outros tipos de instituição.
Esses
206 projetos estão distribuídos nas áreas de
Ciências da Vida (80), Ciências Exatas e da Terra (55),
Ciências Humanas e Sociais (24) e Tecnologia (47). O total
dos recursos alocados para estes projetos é de cerca de R$
188 milhões. Até o final do primeiro semestre desse
ano foram desembolsados R$ 124,500 milhões. O restante dos
recursos será liberado até 2005, conforme o cronograma
de cada projeto.
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