Inovação
tecnológica e produção de conhecimento nas
grandes empresas
A inovação
e o conhecimento são, hoje, os principais fatores que determinam
a competitividade de setores, países e empresas. A capacitação
das empresas na produção e no uso do conhecimento
é fundamental na corrida para a competitividade. As etapas
de invenção e inovação são interativas,
e isso é percebido pelo crescente aumento das atividades
de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas instituições
responsáveis pela comercialização das inovações:
as empresas. Ciência e tecnologia (C&T) não são
independentes e têm envolvimento sinérgico.
Deve-se
entender que inovação não é algo que
ocorra apenas em países avançados, em indústrias
de alta tecnologia. O processo inovativo ocorre quando a empresa
domina e implementa o design e a produção de bens
e serviços que sejam novos para ela, independente do fato
de serem novos ou não para os seus concorrentes. Dessa forma,
pode se avaliar o esse processo não apenas em gastos de P&D,
mas na contribuição dada por produtos novos às
vendas, nos diferentes setores industriais.
O
perfil de investimento em P&D nas grandes empresas
Num estudo chamado Pesquisa da Atividade Econômica Paulista
(Paep), a Fundação Sistema Estadual de Análise
de Dados (Seade), fez uma avaliação da atividade econômica
na grande maioria das empresas do estado de São Paulo, inclusive
as atividades de P&D.
Das
firmas industriais em São Paulo, 24,8% introduziram produtos
ou processos tecnologicamente modificados nos anos de 1994 a 1996.
Essa informação corresponde a amostra analisada de
industrias com mais de 5 funcionários. Na Alemanha, essa
participação das empresas, no ano de 1995, foi 53%.
A porcentagem de firmas inovadoras na França em 94-95 foi
41%. Na Itália, no período de 1981 a 1985, foi 35%.
Entretanto, o Brasil não ocupa a posição muito
inferior no ranking dos países industrializados, por exemplo,
a Austrália apresenta índice de 26% de firmas inovadoras
e a Espanha, no período de 92 a 94, 17,3%.
É
preciso considerar, entretanto, que os anos que o estudo abrange
são peculiares. Até 1990 as empresas contavam com
ambiente protegido, o que não proporcionou incentivo para
que investissem em tecnologia. Na década de 90, houve abertura
de mercado e foi inserida a concorrência com novas empresas.
Entretanto, a recessão e inflação dificultaram
os investimentos. A estabilização econômica,
a partir de 1994, proporcionou crescimento substancial nos dois
anos seguintes. Essas condições econômicas,
e a liberação do fluxo de capital, atraíram
investimentos e, particularmente, fusões e aquisições
das companhias locais. A maior competição forçou
as companhias a se reestruturarem para que pudessem sobreviver.
O período esteve marcado por uma renovação
intensa dos produtos e processos na maioria dos setores industriais
do Brasil.
Observa-se
que os setores que concentram maior esforço tecnológico,
ou sejam, empregam maior número de funcionários nas
atividades de P&D são os setores de computadores, materiais
eletrônicos e telecomunicações e transportes
(aviação e ferroviária). Mais de vinte setores
empregam menos que 3% dos seus funcionários para atividades
de pesquisas. Esses setores incluem, por exemplo, indústria
química e farmacêutica (cuja maior parte das atividades
de P&D é feita na matriz), têxtil, alimentício,
veículos automotivos, etc.
Ironicamente,
os setores que agregam maior volume de cientistas e engenheiros
são chamados setores não baseados na ciência,
tais como refinamento de óleo, metais básicos, produtos
plásticos e de borracha, produtos minerais não metálicos
e polpa e papel. Também o setor químico é assim
considerado, porque a maioria da atividade de P&D é em
petroquímica básica e intermediária.
Observa-se
que as indústrias que têm maior atividade em P&D
são aquelas controladas total ou parcialmente por capital
estrangeiro. As empresas controladas totalmente por capital nacional
em geral acreditam que a inovação se dá adquirindo
tecnologia, não produzindo conhecimento ou desenvolvendo
processos inovativos. Assim, o grupo que apresenta melhor performance
inovativa é o grupo das transnacionais. O tamanho das empresas
também influencia no desempenho tecnológico. As maiores
empresas são as que mais investem em P&D e a reconhecem
como fonte de inovação. Entretanto, a maior parte
das atividades de P&D se resumem aos processos de adaptação
dos produtos e processos para o mercado nacional. Além disso,
no Brasil são realizadas também as adaptações
para os outros mercados sul americanos e, possivelmente, esse fator
que explica a maior intensidade e atividade tecnológica observada
nas grandes transnacionais. As empresas nacionais ainda não
reconhecem as atividades de P&D e o processo inovativo como
essenciais para que se tornem competitivas.
É
importante considerar os fatores de competitividade das empresas
transnacionais: um deles é o acesso a capital de investimento
por menor custo (se comparados pelos preços pagos pelas firmas
locais) e seu maior tamanho. O aspecto mais relevante é o
acesso aos vários tipos de conhecimento e transferência
de tecnologia das matrizes, o que facilita a aceleração
da renovação de produtos e processos. A situação
geral é que os processos e produtos tecnologicamente novos
são originados nos paises industrializados, onde as empresas
mantêm seus maiores centros de P&D.
O
Brasil no mercado internacional
As políticas de inovação nos anos 90 supunham
que a tecnologia seria facilmente transferida e/ou adquirida no
mercado internacional e que as subsidiárias das empresas
transnacionais teriam relevante papel no processo de captação
tecnológico, trazendo investimentos externos e tecnologia
das matrizes e também pressionando a modernização
das empresas locais. Resultou disso uma intensa competição
entre os governos para atrair investimentos das transnacionais,
concedendo vários incentivos locais. O problema desse tipo
de medida é que não foi acompanhada por outras que
exigissem determinados desempenhos das empresas. Isso provocou diminuição
do encadeamento com a economia local e esses empreendimentos têm
impacto negativo na balança comercial.
O ajuste
produtivo de grande parte das empresas tem se constituído
em uma estratégia defensiva de racionalização
da produção, visando reduzir custos, através
principalmente do "enxugamento da produção".
Os aspectos positivos desse ajuste foram o aumento da eficiência,
a não desindustrialização, o aumento da qualidade
dos produtos, a redução dos prazos de produção
e entrega e a utilização de novas técnicas
de organização. Levou, entretanto, ao abandono das
linhas de produtos de maior valor tecnológico, caracterizando
um processo oposto à tendência internacional, o downgrading
da produção.
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