Editorial:
Ciência, Tecnologia e Inovação: desafios e contraponto
Carlos Vogt
Reportagens:
MCT busca construir agenda para a ciência brasileira
Sistema de C & T é gerido por diversas instituições
Fundos garantem injeção de novos recursos à tecnologia
Programas especiais financiam pesquisas
Fapesp é modelo no fomento à ciência e tecnologia
A inovação tecnológica nas grandes empresas
Incubadoras geram empregos e inovações
Comunidade científica faz prévia para conferência nacional
O Brasil tem cientistas, mas faltam empregos
Artigos:
O intinerário da pesquisa no Brasil:
Evando Mirra
Os desafios para transformar conhecimento em valor econômico:
Roberto Nicolsky
Livro Verde pode ampliar conceito de política científica:
Ulisses Capozoli
Interação Rhodia-universidades no Brasil:
Saul D'Ávila
Quando o setor produtivo faz C&T:
Adermerval Garcia
Poema
Bibliografia
Créditos

 

 

Inovação tecnológica e produção de conhecimento nas grandes empresas

A inovação e o conhecimento são, hoje, os principais fatores que determinam a competitividade de setores, países e empresas. A capacitação das empresas na produção e no uso do conhecimento é fundamental na corrida para a competitividade. As etapas de invenção e inovação são interativas, e isso é percebido pelo crescente aumento das atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas instituições responsáveis pela comercialização das inovações: as empresas. Ciência e tecnologia (C&T) não são independentes e têm envolvimento sinérgico.

Deve-se entender que inovação não é algo que ocorra apenas em países avançados, em indústrias de alta tecnologia. O processo inovativo ocorre quando a empresa domina e implementa o design e a produção de bens e serviços que sejam novos para ela, independente do fato de serem novos ou não para os seus concorrentes. Dessa forma, pode se avaliar o esse processo não apenas em gastos de P&D, mas na contribuição dada por produtos novos às vendas, nos diferentes setores industriais.

O perfil de investimento em P&D nas grandes empresas
Num estudo chamado Pesquisa da Atividade Econômica Paulista (Paep), a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), fez uma avaliação da atividade econômica na grande maioria das empresas do estado de São Paulo, inclusive as atividades de P&D.

Das firmas industriais em São Paulo, 24,8% introduziram produtos ou processos tecnologicamente modificados nos anos de 1994 a 1996. Essa informação corresponde a amostra analisada de industrias com mais de 5 funcionários. Na Alemanha, essa participação das empresas, no ano de 1995, foi 53%. A porcentagem de firmas inovadoras na França em 94-95 foi 41%. Na Itália, no período de 1981 a 1985, foi 35%. Entretanto, o Brasil não ocupa a posição muito inferior no ranking dos países industrializados, por exemplo, a Austrália apresenta índice de 26% de firmas inovadoras e a Espanha, no período de 92 a 94, 17,3%.

É preciso considerar, entretanto, que os anos que o estudo abrange são peculiares. Até 1990 as empresas contavam com ambiente protegido, o que não proporcionou incentivo para que investissem em tecnologia. Na década de 90, houve abertura de mercado e foi inserida a concorrência com novas empresas. Entretanto, a recessão e inflação dificultaram os investimentos. A estabilização econômica, a partir de 1994, proporcionou crescimento substancial nos dois anos seguintes. Essas condições econômicas, e a liberação do fluxo de capital, atraíram investimentos e, particularmente, fusões e aquisições das companhias locais. A maior competição forçou as companhias a se reestruturarem para que pudessem sobreviver. O período esteve marcado por uma renovação intensa dos produtos e processos na maioria dos setores industriais do Brasil.

Observa-se que os setores que concentram maior esforço tecnológico, ou sejam, empregam maior número de funcionários nas atividades de P&D são os setores de computadores, materiais eletrônicos e telecomunicações e transportes (aviação e ferroviária). Mais de vinte setores empregam menos que 3% dos seus funcionários para atividades de pesquisas. Esses setores incluem, por exemplo, indústria química e farmacêutica (cuja maior parte das atividades de P&D é feita na matriz), têxtil, alimentício, veículos automotivos, etc.

Ironicamente, os setores que agregam maior volume de cientistas e engenheiros são chamados setores não baseados na ciência, tais como refinamento de óleo, metais básicos, produtos plásticos e de borracha, produtos minerais não metálicos e polpa e papel. Também o setor químico é assim considerado, porque a maioria da atividade de P&D é em petroquímica básica e intermediária.

Observa-se que as indústrias que têm maior atividade em P&D são aquelas controladas total ou parcialmente por capital estrangeiro. As empresas controladas totalmente por capital nacional em geral acreditam que a inovação se dá adquirindo tecnologia, não produzindo conhecimento ou desenvolvendo processos inovativos. Assim, o grupo que apresenta melhor performance inovativa é o grupo das transnacionais. O tamanho das empresas também influencia no desempenho tecnológico. As maiores empresas são as que mais investem em P&D e a reconhecem como fonte de inovação. Entretanto, a maior parte das atividades de P&D se resumem aos processos de adaptação dos produtos e processos para o mercado nacional. Além disso, no Brasil são realizadas também as adaptações para os outros mercados sul americanos e, possivelmente, esse fator que explica a maior intensidade e atividade tecnológica observada nas grandes transnacionais. As empresas nacionais ainda não reconhecem as atividades de P&D e o processo inovativo como essenciais para que se tornem competitivas.

É importante considerar os fatores de competitividade das empresas transnacionais: um deles é o acesso a capital de investimento por menor custo (se comparados pelos preços pagos pelas firmas locais) e seu maior tamanho. O aspecto mais relevante é o acesso aos vários tipos de conhecimento e transferência de tecnologia das matrizes, o que facilita a aceleração da renovação de produtos e processos. A situação geral é que os processos e produtos tecnologicamente novos são originados nos paises industrializados, onde as empresas mantêm seus maiores centros de P&D.

O Brasil no mercado internacional
As políticas de inovação nos anos 90 supunham que a tecnologia seria facilmente transferida e/ou adquirida no mercado internacional e que as subsidiárias das empresas transnacionais teriam relevante papel no processo de captação tecnológico, trazendo investimentos externos e tecnologia das matrizes e também pressionando a modernização das empresas locais. Resultou disso uma intensa competição entre os governos para atrair investimentos das transnacionais, concedendo vários incentivos locais. O problema desse tipo de medida é que não foi acompanhada por outras que exigissem determinados desempenhos das empresas. Isso provocou diminuição do encadeamento com a economia local e esses empreendimentos têm impacto negativo na balança comercial.

O ajuste produtivo de grande parte das empresas tem se constituído em uma estratégia defensiva de racionalização da produção, visando reduzir custos, através principalmente do "enxugamento da produção". Os aspectos positivos desse ajuste foram o aumento da eficiência, a não desindustrialização, o aumento da qualidade dos produtos, a redução dos prazos de produção e entrega e a utilização de novas técnicas de organização. Levou, entretanto, ao abandono das linhas de produtos de maior valor tecnológico, caracterizando um processo oposto à tendência internacional, o downgrading da produção.

Atualizado em 10/09/2001

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