Viagens pelas trilhas dos mapas
   
 
Outros Quinhentos: Carlos Vogt
Projeto Resgate reencontra a História

500 anos impulsiona memória arquitetônica

Cultura como patrimônio histórico

Ritual dos 500 anos também é objeto de pesquisa

Objetos contam a história do Brasil
Outros 500 quer construir um novo país

Índios ainda lutam por direitos básicos

Pataxós lutam pelo Monte Pascoal
Interesse por mapas históricos cresceu com os 500 anos

Nau Capitânia, o símbolo que não navegou

Piada de brasileiro:
Paulo Miceli

A História e os interesses da nação:
Ulisses Capozoli

Dois projetos audiovisuais, duas formas de refletir:
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As comemorações na mídia:
Eneida Leal Cunha

Na mídia portuguesa, alguma crítica, muito ufanismo:
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O Brasil em português de Portugal:
Jesiel de Oliveira Filho

Histórias & Personagens:
Zélio Alves Pinto

Poema
 


Entre projetos, comemorações e acontecimentos relacionados às comemorações dos 500 do Brasil e, a conseqüente reflexão crítica daí gerada, ocorreu um aquecimento do comércio de objetos ligados à história do Brasil, como observou o comerciante Luís Caetano da Nóbrega, proprietário de um antiquário em São Paulo. Entre as várias questões que surgem neste cenário, uma é bastante polêmica no que concerne à preservação do patrimônio histórico brasileiro: a venda de mapas antigos e cartas náuticas.

Segundo Nóbrega, o interesse por antigüidades aumentou tanto do ano passado para cá que, na exposição inaugurada em seu antiquário no dia 12 de março deste ano, 85% dos itens foram vendidos em 15 dias. O acervo, que pertencia a um único dono, foi vendido para três clientes, dois bancos e uma senhora que não quis ser identificada. As peças que compunham este acervo: 150 mapas e cartas náuticas dos séculos XVI, XVII, XVIII. Provenientes da Holanda, França e Inglaterra os mapas custavam de R$ 500, no caso de pequenos mapas destacados de atlas, a R$ 4 mil, quando se tratavam de mapas maiores do século XVIII. O que era considerada a "melhor" coleção pelos expositores, um conjunto de 10 mapas da costa brasileira datados de 1683, foi adquirido por uma única pessoa.

O diretor do Centro de Memória da Unicamp (CMU), Paulo Miceli, acredita que é arriscado dizer que os mapas à venda que retratam o Brasil, sejam originais, pois tudo o que existe em cartografia sobre o descobrimento já é conhecido há tempos. O primeiro mapa mundi em que se faz referência à existência do País, o Planisfério de Cantino, foi feito por um cartógrafo português, que teria sido subornado por um espião italiano. Acredita-se que o mapa tenha sido desenhado nos Armazéns da Índia, em Lisboa, onde eram confeccionados os mapas na época. Em outubro de 1502, o mapa chegou à Itália e, atualmente, permanece no Museu Estense, em Módena (Itália).

Na opinião do diretor do Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha, almirante Max Justo Guedes, um estudioso de mapas há 55 anos, Cantino é uma preciosidade. "Eu acho que é o planisfério mais importante que já foi feito, porque ele revela aos europeus o restante do mundo". Buscando debater a importância do Planisfério de Cantino, o almirante está colaborando na organização de um evento em Lisboa programado para ser realizado em 2002, ano em que o mapa completa 500 anos de existência.

O comércio de mapas brasileiros, dentro e fora do País, não é recente. O almirante Max Guedes lembra que, ao vir de Portugal para o Brasil, em 1808, Dom João VI trouxe consigo tudo o que havia sobre cartografia brasileira e mundial na Biblioteca Real em Portugal, e o material nunca mais foi devolvido.

De acordo com a lei 4.845, de 19 de novembro de 1965, todas as obras de arte - desenhos, pinturas e gravuras - e ofícios datados até 1889, fim do período monárquico, não podem sair do Brasil. A diretora do Departamento de Identificação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Célia Corfino, diz que a lei não é respeitada e que a equipe do Instituto não é suficiente para fiscalizar. A legislação ainda determina que o governo tenha preferência na compra de acervos de valor histórico e cultural mas, o que vem correndo é uma intensa sobreposição da mercantilização destes acervos em detrimento do seu valor como patrimônio. Acabam sendo favorecidos aqueles que têm maior poder de compra, como é o caso de empresas ou compradores individuais beneficiados nos leilões. "Atualmente, no Brasil, há uma soberania do privado em detrimento do público", lamenta Célia Corfino. "Quando ocorre um leilão, o Iphan deveria receber o catálogo, porém isso não acontece. Nós temos uma legislação excelente, só precisamos de mecanismos de fiscalização mais eficientes", frisa a diretora.

Célia Corfino ainda ressalta que a legislação exige que o governo tenha conhecimento do deslocamento de bens de valor histórico, só que isso, na prática, também não ocorre. Um estudo do Iphan sobre os objetos tombados - peças cerâmicas, de arte sacra, arqueológicas - mostrou que 800 deles desapareceram, saqueados principalmente de igrejas e museus. A diretora do Departamento de Identificação do Iphan ressalta que um trabalho junto à Interpol tem surtido efeito e 100 peças foram devolvidas aos respectivos locais de origem. Há ainda um outro tipo de comércio, pela Internet, extremamente difícil de ser fiscalizado, esclarece Célia Corfino. A informação mais recente recebida pelo Iphan, informa a diretora, é que há um antiquário baiano com site nos Estados Unidos oferecendo obras brasileiras dos séculos XVII e XVIII.

O almirante Max Justo Guedes faz questão de citar a riqueza dos acervos brasileiros, como os da Biblioteca Nacional, da Biblioteca da Marinha, do Serviço Geográfico, do Exército e do Itamarati. "O grande problema é que muita coisa se perdeu. Eu já vi bibliotecas importantíssimas serem vendidas para o exterior", lamenta o almirante. Ele acredita que, embora o Ministério da Cultura tenha colaborado para a preservação destes acervos, há uma grande precariedade de recursos que afeta a preservação e a aquisição de obras de arte. "Em 1972, ainda havia recursos públicos para a aquisição de obras de arte, e o Museu Naval levou para suas instalações o primeiro Atlas do mundo, o Theatrum orbis terrarum, criado na Antuérpia em 1570, que custou R$ 2 mil. Ele é composto por 53 mapas e cada um, desenhado nas chamadas 'cartas', está avaliado hoje em US$ 6 mil", salienta o almirante. Uma alternativa encontrada pela direção do Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha foi a criação da Liga dos Amigos do Museu Naval, um grupo privado que se empenha em contribuir comprando objetos que enriqueçam o acervo.

   
           
     

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Atualizado em 10/04/2001

   
     

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