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Mesmo que se questionem a validade e o conteúdo das comemorações dos 500
anos do Brasil, não se pode negar-lhes o mérito de ter evidenciado a importância
da preservação da memória nacional. Parte importante dessa memória está
materializada nos prédios e construções arquitetônicas de diferentes estilos,
realizados por artistas, arquitetos, engenheiros, carpinteiros, pedreiros
e outros personagens que foram agentes da história brasileira dos últimos
500 anos. Para recuperá-la e conservá-la foram lançados alguns projetos
que tiveram por objeto o patrimônio arquitetônico, buscando mapeá-lo,
dizer em que condições se encontravam e quais deveriam ser as prioridades
na restauração.
O mais abrangente deles, o Projeto Monumenta, foi idealizado pelo
Ministério da Cultura, e lançado no fim de 1999. Ainda em execução, é
pioneiro em termos de abrangência nacional e ação continuada, objetivando
a restauração e a promoção da auto-sustentabilidade dos principais conjuntos
de patrimônio histórico e urbanos do país, entre eles os das cidades do
Rio de Janeiro, Recife, Olinda, Ouro Preto, São Paulo, Salvador e São
Luís.
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Casario
Cidade Baixa - Século XVIII Porto Seguro (BA). Fonte:
9º sub-regional IPHAN.
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O Projeto
Monumenta conta ainda com a colaboração das prefeituras municipais
e com um financiamento de U$ 200 milhões pelo BID (Banco Interamericano
de Desenvolvimento) e governo federal. Para as sete cidades, serão investidos
U$ 130 milhões. O restante será dividido entre Congonhas, Diamantina e
Tiradentes (MG), Alcântara (MA), Antônio Prado (RS), Belém (PA), Brasília,
Cachoeira (BA), Carapicuíba (SP), Corumbá (MS), Goiânia (GO), Icó (CE),
João Pessoa (PA), Lençóis (BA), Natividade (TO), Oeiras (PI), Pelotas
(RS), Penedo (AL), Porto Alegre (RS) e São Francisco do Sul (SC). Apesar
de parecer alto, o valor é pequeno se comparado ao que foi gasto
em um projeto semelhante do governo espanhol. Apenas Barcelona recebeu
um montante de U$600 milhões para restauração do seu patrimônio histórico.
A lista das 20 cidades foi preparada por uma comissão com representantes
de todas as regiões do país, além de especialistas de universidades, que
se basearam em dados levantados pelo Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (Iphan) que
incluía 101 cidades. No entanto, estar na lista da comissão é apenas o
primeiro passo para que a cidade seja candidata a receber verbas para
o projeto, mas ainda vai depender se o projeto faz parte das prioridades
da prefeitura, se a cidade não está inadimplente com o governo federal,
etc. Assim, algumas cidades podem deixar de participar do projeto.
Segundo o coordenador do projeto, Cyro Lyra, do Iphan de Brasília, até
o momento apenas um edifício começou a ser restaurado na cidade de Ouro
Preto (MG). No entanto, teve suas obras interrompidas, já que a prefeitura
está inadimplente com o governo federal. Cidades como Rio de Janeiro,
Olinda, Recife e Ouro Preto, que assinaram convênios com o Ministério
Cultura em abril ou maio de 1999, elegeram novas gestões municipais no
ano passado, o que prejudicou o andamento do projeto de revitalização.
De acordo com Lyra, o primeiro ano de projeto foi um pouco difícil graças
às eleições, mas cinco anos deverão ser suficientes para a revitalização
de sítios urbanos ou conjuntos de monumentos tombados em pelo menos 20
cidades.
Uma outra parte do Projeto Monumenta é o Inventário Nacional do
Patrimônio Histórico, que também recebe verbas do BID, do governo federal
brasileiro e da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) da UFMG.
O projeto foi criado pelo Iphan e realizado pela Escola de Arquitetura
da Universidade Federal de Minas Gerais (EA-UFMG).
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Antiga
Câmara e Cadeia - Cidade
de Ouro Preto (MG), 1964. Gravura de Renée Lefèvre
do livro Minas: cidades barrôcas. Ed. USP
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O foco do
inventário são sítios urbanos da
costa do descobrimento, que
têm clara relevância cultural e histórica para o país. Dentro do
estado da Bahia foram selecionados os seguintes sítios: Porto Seguro e
Santa Cruz de Cabrália (cidades fundadas pelos portugueses no século XVI);
Arraial d'Ajuda, Trancoso e Vale Verde (vilas fundadas pelos Jesuítas
no século XVI); e Caraíva (vila fundada no século XIX). Fazem parte do
inventário cerca de 800 imóveis.
Trabalharam no projeto aproximadamente 33 pessoas para, num primeiro momento,
levantar a história da ocupação do território e da evolução urbana dos
sítios. Em seguida, foram analisadas as características arquitetônicas
e o estado de conservação dos imóveis e dos sítios, além da situação sócio-econômica
dos habitantes. Então, a base de dados foi digitalizada e foi confeccionada
uma planta cadastral dos sítios. Maquetes eletrônicas foram feitas, o
que permitiu um registro tridimensional e uma divulgação digital do formato
dos sítios. Desse modo, foi possível fazer a simulação e o estudo das
intervenções arquitetônicas e urbanística nos mesmos.
O inventário foi concluído em junho de 2000, gerando a produção de uma
série de 10 CD-Roms que foram distribuídos para várias instituições, além
de 1 CD-Rom para divulgação do projeto dirigido para o público em geral
- em fase final de acabamento. Segundo Frederico de Paula Tofani, coordenador
do projeto e professor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal
de Minas Gerais (EA-UFMG), um relatório deverá ser encaminhado à Unesco
como parte do processo de avaliação do tombamento desses sítios como "Patrimônio
Cultural da Humanidade".
De acordo com Etelvina Rebouço, diretora do Iphan de Salvador, até junho
de 2001, haverá um levantamento do Patrimônio Histórico de Salvador, Lençóis
e Cachoeira (BA), através de uma vista aérea. O projeto é financiado,
na maior parte, pela prefeitura de Salvador e realizado pela Escola de
Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Outro projeto interessante, integrante da programação oficial do comitê
executivo para as comemorações do V Centenário do Descobrimento do Brasil
- MET (Ministério do Esporte e Turismo), o Projeto Brasil-500 Anos
de Arquitetura tinha como objetivo inicial a realização de uma mostra
nacional e internacional para celebrar a diversidade da arquitetura brasileira.
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) foi a idealizadora do projeto,
através do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, e recebeu o apoio
do Comitê Executivo para as Comemorações do V Centenário do Descobrimento
do Brasil, Ministério do Esporte e Turismo, Governo do Estado de Pernambuco,
Facepe (Fundação de Amparo àPesquisa do Estado de Pernambuco),
Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e Confea (Conselho
Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia).
Fortes
Brasileiros
O site,
lançado pelo historiador português Carlos Castanheira Cruz, tem
objetivo de mostrar uma visão portuguesa sobre a nossa História.
Reúne fotos e textos explicativos de fortes de 18 estados brasileiros,
com um foco na arquitetura e história. "A nossa linha de pesquisa
vai um pouco mais além do descobrimento. Ela se concentra na parte
de colonização, de fixação do elemento à terra. De certa maneira,
em termos de história militar, isso aconteceu através do processo
de fortificações" afirmou.
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Segundo a
idéia inicial, a mostra seria composta por painéis, livros, vídeo, ciclo
de palestras, mesas-redondas e CD-Rom. No entanto, o projeto foi inviabilizado
por falta de patrocínio. Apenas o livro, com dois volumes, cada um com
300 páginas, conseguiu patrocínio da Caixa Econômica Federal e será lançado
em dezembro próximo. "Os outros produtos não despertaram interesse e portanto,
não foram viabilizados, embora haja uma chance de aumentar o interesse
dos patrocinadores com o lançamento do livro", explicou um dos coordenadores
do projeto Cláudio Cruz, da UFPE.
A mostra
virtual pode ser visitada na Internet onde foram reunidas obras significativas
de arquitetura e suas interfaces: urbanismo, paisagismo e design de
interiores. No site da mostra pode-se visitar 9 salas de arquitetura indígena,
popular, linguagens clássicas da arquitetura brasileira, arquitetura moderna
(1930 a Brasília), arquitetura de Brasília, anos 60 e 70, anos
80, anos 90 e desenhando o futuro. Pode-se ver fotos e um texto explicativo
sobre cada estilo.
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