Robôs
com Inteligência Artificial
Rodrigo
de Almeida Siqueira
Uma
nova modalidade de comunicação está se tornando realidade
dentro da Internet. A conversa entre seres humanos e robôs virtuais
já é possível através dos recursos da Inteligência
Artificial. Programados para conversar sobre os mais diversos assuntos, esses
robôs, também conhecidos como chatterbots (chat=conversa,
bot=robô feito de software), são na verdade sofisticados programas
de computador que conseguem entender e responder coerentemente as frases e
perguntas dos usuários como se fossem pessoas em uma sala de bate-papo.
Durante
milhões de anos de evolução do cérebro humano,
a capacidade de comunicação social através da linguagem
foi bastante aprimorada e esta é uma característica geralmente
não encontrada em máquinas ou computadores. A interface ideal
de comunicação entre homem e máquina deveria ser similar
à forma de comunicação entre seres humanos, ou seja,
através da linguagem natural. A tecnologia já está evoluindo
para que logo possamos dizer “Computador, copie para o disquete o texto
que acabei de salvar”.
Mas
podem as máquinas pensar? Esta é a famosa pergunta feita em
1950 por Alan Turing, um dos pais da computação moderna. Turing
acreditava que a própria pergunta pode levar a novas definições
das palavras “máquina” e “pensar”, propondo
também novas definições de inteligência. Ele propôs
um experimento chamado “Teste de Turing” onde uma pessoa conversaria
escrevendo através de dois terminais com um computador e com um outro
humano. Caso esta pessoa não conseguisse, depois de alguns minutos,
descobrir qual dos dois interlocutores era a máquina e qual era o humano,
então a máquina do outro lado poderia ser considerada como sendo
inteligente.
O
primeiro experimento feito para tentar realizar o “Teste de Turing”
foi chamado de Eliza, um programa criado em 1966 pelo pesquisador Joseph Weizenbaum,
do MIT, que simulava uma psicóloga virtual usando trechos das frases
dos usuários para compor as respostas e estimulava o “paciente”
a se aprofundar cada vez mais nos detalhes dos seus problemas.
Exemplo
de diálogo com a Eliza:
Eliza:
Olá, conte-me o seu problema.
Usuário:
Eu não me relaciono bem com as outras pessoas.
Eliza: E por que você acha que você não se relaciona
bem com as outras pessoas?
Usuário:
Pois estou sempre sozinho.
Eliza: Desde quando você se sente sempre sozinho?
Usuário: Desde a época da escola.
Eliza: Por favor, fale-me mais sobe a época da escola.
Usuário:
Eu não tinha muitos amigos.
Eliza: O que você poderia fazer agora para ter muitos amigos?
Hoje
em dia os robôs evoluíram e conseguem ter recursos como memória,
manter contexto durante a conversa, buscar respostas em diversas bases de
dados, compreender gírias e abreviações, responder em
diversos idiomas e até ficar horas conversando sem repetir as respostas,
com dezenas ou centenas de usuários ao mesmo tempo.
Ainda
existem muitas limitações nas questões relacionadas à
Inteligência Artificial. Uma das limitações é o
próprio desconhecimento que temos sobre os mecanismos da inteligência
natural humana, seja dos processos cerebrais ou dos processos mentais e da
consciência. À medida que descobrimos mais sobre os mecanismos
humanos de inteligência, mais conseguimos simular e reproduzir seu funcionamento
nos computadores. Ainda não se sabe quais são os limites dessa
capacidade de simulação, pois o cérebro possui estruturas
completamente diferentes e de complexidade muito maior do que os computadores
atuais. A maior limitação atual da Inteligência Artificial
é não conseguir realizar tarefas que não podem ser expressas
por modelos matemáticos ou lógicos, como tarefas que requerem
intuição ou capacidade de relacionar informações
aparentemente sem conexão.
Um
dos desafios é fazer com que o computador, que é uma máquina
que geralmente entende somente a comandos específicos, possa realmente
entender e responder a frases no nosso idioma. E existe o problema que a linguagem
humana não é exata como a linguagem da máquina. Por exemplo
as perguntas “Qual é o seu nome?” ou “Como você
se chama?” são sintaticamente distintas mas possuem o significado
idêntico. Este é um dos problemas da lingüística
computacional e para resolvê-lo foi preciso criar um processador sintático
(que trata da sintaxe das palavras) e um analisador semântico (que trata
do significado da frase).
Através
de uma técnica conhecida como “Processamento de Linguagem Natural”,
aliada a uma gigantesca base de conhecimento sobre assuntos do mundo real,
os chatterbots atuais podem ser utilizados para entretenimento, suporte online,
portais corporativos, jogos, projetos educacionais, culturais, treinamentos,
call centers e auxílio no ensino à distância. A aplicação
depende apenas do conteúdo criado por redatores e programadores que
ensinam o personagem formando a base de conhecimento.
Entre
os benefícios que um chatterbot proporciona, destacam-se:
Baixo
custo com atendentes reais, permitindo que estes possam se concentrar em tarefas
mais produtivas;
Facilidade para os visitantes de um site encontrarem informações
(basta perguntar, ao invés de precisar navegar por todo o site e ler
grandes quantidades de texto);
A navegação torna-se mais excitante, estimulando os visitantes
a conhecerem melhor outras áreas do site. Ao tornar a informação
mais amigável e acessível, proporciona mais conforto ao internauta.
Resultado de 10 anos de desenvolvimento, a empresa brasileira Insite desenvolveu
o programa InBot (www.inbot.com.br),
que é um dos mais sofisticados para construir atendentes virtuais e
já foi utilizado por empresas como Petrobras, TIM e Unilever para criar
personagens que conversam através da Internet. Um dos casos de maior
sucesso atualmente é o robô chamado Ed, do Conpet, o programa
nacional da racionalização do uso dos derivados do petróleo
e do gás natural, ligado à Petrobras e ao Ministério
de Minas e Energia. Ele foi desenvolvido para conversar sobre assuntos ligados
ao meio ambiente, uso racional de energia, derivados de petróleo, gás
natural, dicas de economia, qualidade do ar, biocombustíveis, programas
educacionais e fontes alternativas de energia. Através do endereço
http://www.conpet.gov.br/ed/ é possível conhecer e conversar
com o robô.
Exemplo
de diálogo com o Ed:
Ed:
Olá, eu sou Ed, o robô. Minha missão é
ajudar na preservação de energia e de outros recursos naturais.
Sobre o que você quer conversar?
Usuário:
O que você faz?
Ed: O que faço? Leio muito, estudo bastante e converso mais
ainda. Trabalho aqui no Conpet e estou sempre pronto para conversar sobre
o que você quiser.
Usuário:
Como posso economizar energia em casa?
Ed: Você pode economizar energia de várias maneiras,
tomando banhos menos demorados, desligando a TV quando ninguém estiver
assistindo, apagando as luzes quando as pessoas saírem dos ambientes,
fechando a porta da geladeira após pegar alguma coisa nela, as lâmpadas
incandescentes devem ser substituídas por lâmpadas fluorescentes
ou compactas.
Usuário:
Quais são as principais fontes alternativas de energia?
Ed: Energias alternativas, que têm baixo custo ambiental,
como a energia solar, a energia eólica (dos ventos) e a produzida
por óleos vegetais (biodiesel e biomassa), por exemplo.
Usuário:
Mas, o que é a biomassa?
Ed: Biomassas são matérias de origem vegetal ou animal
que podem ser aproveitadas como fonte de produção de calor
ou eletricidade, tal como cana-de-açúcar, óleos vegetais,
madeira, dejetos orgânicos ou resíduos das indústrias
agrícola e alimentícia.
Usuário:
Obrigado. Até logo, vou indo...
Ed: De nada, às ordens! Mas volte logo, pois adorei conversar
com você!
O
Ed é um personagem que foi concebido para compreender e responder
a mais de 20.000 tipos de frases e assuntos diferentes, tendo o seu conteúdo
alimentado por “professores de robôs”, uma equipe formada
por programadores, jornalistas, redatores e uma psicóloga. A equipe
também analisa as conversas dos usuários para inserir novas
informações e aperfeiçoar constantemente as respostas,
tentando sempre manter as conversas agradáveis, bem humoradas e informativas.
O robô Ed conversa atualmente com mais de 8000 pessoas por mês,
e chega a responder mais de 30.000 frases em um único dia.
No
futuro próximo, esses robôs poderão conversar não
somente através de texto mas também com reconhecimento de
voz (serão capazes de ouvir) e síntese de voz (serão
capazes de falar) e as pessoas poderão ter assistentes pessoais virtuais
inteligentes para ajudar nas atividades do dia-a-dia.
Exemplo
de diálogo de um usuário com a Sete Zoom que, entre 2001 e
2003, foi a modelo virtual do site da Close-Up:
Sete
Zoom: Fui contratada pela Close-up. Agora sou garota propaganda.
Por essa você não esperava, hein!?
Usuário: Como é o seu trabalho?
Sete Zoom: Dei uma mudada na minha vida. Era fotógrafa.
Agora, como você está vendo, sou garota propaganda!
Usuário: Você estuda também?
Sete Zoom: Ah, não!! Depois de duas faculdades, estou dando
um tempo nos estudos. Fiz uns cursos por aí...
Usuário: Que faculdades?
Sete Zoom: Comecei a fazer duas faculdades: história e jornalismo...
Usuário: Você se considera inteligente?
Sete Zoom: Como gosto de gente inteligente, procuro ser também!!
Usuário: Onde você mora?
Sete Zoom: Moro com a Abigail na Vila Mariana. Adoro isso aqui.
Usuário:
Quem é Abigail?
Sete Zoom: Abigail é uma amigona minha, divido apê
com ela.
Usuário: Depois a gente conversa mais, tenho uma reunião
agora.
Sete Zoom: Boa reunião! Depois você me conta como
foi.
Mais
informações:
InBot:
Software de Inteligência Artificial para criação de
personagens virtuais:
www.inbot.com.br
Conpet:
programa nacional da racionalização do uso dos derivados do
petróleo e do gás natural:
www.conpet.gov.br
Insite
- Soluções Internet:
www.insite.com.br
Rodrigo
de Almeida Siqueira é sócio e diretor de tecnologia da Insite.
Coordenador do Grupo de Lingüística da Insite, possui 20 anos
de experiência em programação e desenvolveu seu primeiro
chatter bot em 1984. Pesquisador de Processamento de Linguagem Natural (NLP)
e de formas eletrônicas de organização do conhecimento.
E-mail: rodrigo@insite.com.br
|