Os robôs
estão chegando
Teodiano
Freire Bastos Filho
Você
certamente já deve
ter ouvido falar do robô que anda, dança, chuta
bola, e ainda do robô-gato, robô-cachorro,
robô-peixe, entre muitos outros. O jornal El
País, da Espanha,
publicou recentemente as últimas novidades em
robótica, apresentadas na Exposição
Universal de Aichi (Japão). Essas novidades vão
desde robôs-recepcionistas, como a Actroid (uma
espécie de corruptela de Actress
e Android),
que é uma humanóide fabricada pela empresa
Kokoro, feita de silicone, que gesticula ao falar, tal como os seres
humanos, e reconhece até 40.000 frases em quatro idiomas
diferentes, além de outros robôs curiosos como o
Papero, o Wakamaru, o Mujiro, o Alsok, o Ligurio e vários
outros.
O Papero (da
empresa Nec Corporation)
é um robô de 38,5 cm de altura e seis quilos de
peso, que foi desenvolvido para brincar e cuidar de
crianças. Ele está conectado a um telefone
celular e também à Internet, o que permite que
criança e adulto se comuniquem por esse meio.
Também é possível ao adulto ver,
através de um monitor de seu ambiente de trabalho, o que a
criança está fazendo, já que os olhos
de Papero são na verdade duas câmeras de
vídeo que podem transmitir imagens. O Papero
também tem sensores que lhe permitem deslocar-se sem
colisões, responder verbalmente às
carícias (e também aos maus- tratos), girar a
cabeça em direção à pessoa
que lhe está falando e reconhecer sua voz. Além
disso, dança, canta, lê histórias e
responde às perguntas feitas (cujas respostas são
obtidas da Internet). A construção desse
robô foi apoiada por uma organização
estatal japonesa que promove o desenvolvimento e a pesquisa de
robôs (NEDO) e, inclusive, já existem no
Japão alguns desses robôs em creches, escolas e
centros de recreação para crianças. A
idéia do Ministério de
Educação do Japão é
familiarizar as crianças com os robôs, fazendo com
que brinquem e joguem com eles e assim poder aproveitar todas as
possibilidades que os robôs oferecem.
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Outros
robôs apresentados nessa
exposição universal foram os robôs
Nagara-3 (da Gifu Industries), capaz de jogar futebol; o Mujiro (da
Tmsuk Co.), um robô de segurança, usado para
eliminar objetos suspeitos; o Alsok (da Shogo Security Services), usado
para vigilância à noite e para entreter as pessoas
de dia; o Wakamaru (da Mitsubishi), que é um recepcionista
robótico; o I-Foot (da Toyota), uma cadeira de
“pernas” que pode transportar pessoas portadoras de
deficiência; os robôs degustadores da Nec, que
são dotados do sentido do paladar e permitem identificar os
ingredientes dos alimentos; e o robô Tao Aicle (da Fujitsu),
que é uma cadeira de rodas “inteligente”
usada para o transporte de pessoas doentes.
É
surpreendente para
nós, brasileiros, como os japoneses convivem com os
robôs. Um exemplo disso é o caso de uma
trabalhadora japonesa que já não suportava o
dia-a-dia dentro de casa com o filho único de 3 anos de
idade e que quando viu pela primeira vez o Papero, sentiu que era o que
estava buscando. Ela disse se sentir mais segura se tem um
robô como o Papero em casa do que deixar o seu filho aos
cuidados de uma empregada (estrangeira, no caso do Japão,
já que a escassez e o alto custo da mão-de-obra
nauele país não permite a um cidadão
de classe média ter uma empregada doméstica
japonesa). Diz também que assim se livra da idéia
de ter um segundo filho.
Não
é somente no
Japão: os robôs pouco a pouco estão
chegando aos ambientes domésticos em todo o mundo, inclusive
um deles já pode ser encontrado no Brasil. Trata-se do
robô aspirador de pó Trilobite, da empresa
Electrolux, que no Brasil custa pouco menos que R$ 7.000,00. Foi
desenvolvido na Suécia e trabalha sozinho, limpando o piso
com muita eficiência. Funciona com 4 motores e possui
sensores de ultra-som para detectar e desviar de obstáculos
(como paredes e móveis). O robô aspirador vem
ainda com fitas magnéticas para delimitar a área
de atuação, evitando que ele caia de escadas, e
funciona com três programas diferenciados de limpeza,
dependendo de cada necessidade. Quando a área
está limpa, ele procura sozinho o recarregador de bateria.
Para o seu quintal, você pode usar um robô cortador
de grama, por exemplo, o robô RL500 ou o robô Lawn
Nibbler, o qual corta a grama numa área definida, cujo
perímetro é demarcado por emissores de
rádio-freqüência. Enquanto corta a grama,
o robô desvia-se de obstáculos
(árvores, brinquedos, animais, crianças, etc.).
Para a limpeza
do piso de casas, empresas,
indústrias ou salões de festas, pode-se usar o
robô RoboScrub (das empresas Denning Mobile Robotics e
Windsor Industries), ou o RoboKent, desenvolvido pela Kent Corporation.
Ele realiza a limpeza de forma autônoma (em ambientes de
geometria retangular) ou de forma guiada por um operador. A Robosoft
também fabrica robôs de limpeza de pisos, como o
Auto VacC 6, o qual pode realizar a limpeza de ambientes por controle
remoto, através de ensino-repetição ou
autonomamente. Essa empresa fabrica também robôs
para limpeza de fachadas de edifícios e até de
telhados de vidro. Mais uma empresa que comercializa robôs
para limpeza de pisos é a Dyson, fabricante do
robô DC06. Trata-se de um robô a rodas,
autônomo e de pequenas dimensões, que realiza
aspiração automática a
vácuo. Seu pequeno tamanho permite que se desloque por baixo
de cadeiras e mesas, efetuando a limpeza desses locais,
inacessíveis para os outros robôs de limpeza.
Além disso, utiliza cinqüenta sensores, para, entre
outras funções, detectar e desviar de
obstáculos, detectar escadas (de forma a não
cair) e até para proteger-se, ou seja, ele desliga quando,
por exemplo, é atacado por um animal ou agarrado por
alguém. Além disso, durante a
operação de aspiração de
pó, executa uma trajetória em espiral, o que
resulta numa cobertura eficiente da área sob limpeza.
Outra novidade
em robótica
é o Wakamaru, um simpático robô de um
metro de altura que atua tanto como recepcionista quanto como
vigilante. O Wakamaru possui uma câmera omnidirecional na
cabeça e outra para a captura frontal de imagens,
através dos olhos. Reconhece voz, fala em quatro idiomas e
também usa linguagem corporal. Desloca-se através
de rodas e usa sensores de infravermelho para detectar
obstáculos em seu caminho. Outro exemplo de robô
vigilante, mas não tão novo, é o
iRobot. Trata-se de um robô dotado de câmera de
vídeo, microfone, alto-falante e sensores
anticolisão. É possível
teleoperá-lo via Internet, recebendo de volta o som e as
imagens do ambiente onde o robô se encontra. Pode-se,
inclusive, transmitir para o robô comandos para que ele emita
sons, como se falasse por você. O iRobot também
é capaz de subir e descer escadas.
Com tantos novos
robôs aparecendo
no mercado, imagina-se que em um futuro próximo eles
não somente serão usados para limpar o
chão, cortar a grama, proteger casas e empresas, extinguir
incêndios, desativar bombas, realizar
operações cirúrgicas, inspecionar e
limpar tubulações, dutos de petróleo e
lugares perigosos para o ser humano, já que, nos
próximos cinco anos, empresas do Japão devem
realizar negócios da ordem de 45 a 60 bilhões de
reais na comercialização de robôs
orientados a serviços de vigilância,
informação, limpeza, ajuda doméstica,
e também para assistência a pessoas idosas e para
portadores de deficiência. No Brasil, várias
universidades possuem grupos de pesquisa em robótica. A
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) possui
vários desenvolvimentos de robôs móveis
a rodas e a patas. Uma pesquisa atualmente realizada na Ufes
é robotizar uma cadeira de rodas, de forma que ele possa ser
comandada por piscadas de olhos, movimentos do globo ocular e
até pelo pensamento.
O Japão
domina o mercado de
robôs no mundo: tanto no mercado de
aplicações não usuais, como
é o caso de robôs domésticos quanto em
robôs utilizados na indústria: é quase
a metade dos mais de oitocentos mil robôs existentes no mundo
todo. O Brasil participa desse bolo com cerca de 0,6% dos
robôs do mundo (em torno de 5.000 robôs, instalados
principalmente na indústria automobilística), mas
revela um crescimento enorme no número de robôs
nos últimos cinco anos.
O primeiro
robô industrial surgiu
na década de 60, construído pela empresa
Unimation, e embora o número de robôs
já beire o milhão de unidades, ainda se
prevê um rápido crescimento desse
número, principalmente devido ao aumento do custo da
mão-de-obra, à necessidade cada vez maior do
aumento de produtividade, de melhoria da qualidade final de um produto,
de realização de tarefas perigosas, que o homem
não pode realizar, e à queda do custo dos
robôs. Esses robôs manipuladores vêm
sendo bastante utilizados na indústria, em tarefas como
soldagem, pintura, montagem de peças e
inspeção de defeitos.
As novidades que
têm aparecido na
área de robótica são todas de um outro
tipo de robô: os robôs móveis.
Diferentemente dos robôs manipuladores industriais, que
possuem uma base fixa, um robô móvel
autônomo é livre para mover-se em todas as
direções. Os robôs móveis
começaram a aparecer na década de 70, mas somente
na década de 80 começaram a surgir os primeiros
robôs móveis autônomos. Além
das aplicações comentadas, eles podem ser
empregados em outras tarefas, que vão do transporte de
peças em uma indústria, até para
substituir o homem na exploração de locais
perigosos, como águas profundas, áreas
radioativas, crateras de vulcões, ambientes espaciais e
mesmo outros planetas. Exemplos mais recentes de
aplicações desses tipos de robôs em
outros planetas foram os robôs Sojourner,
Spirit
e Opportunity
que a Nasa enviou a Marte em 1997 e 2004.
Entre os robôs móveis,
um tipo que sempre chama a atenção é o robô humanóide.
A Honda Motors foi a primeira empresa a começar as pesquisas para o
desenvolvimento desse tipo de robôs, em 1986. Dez anos mais tarde apareceu
o primeiro robô humanóide que foi o P2, capaz de andar, subir
escadas e empurrar um carrinho de compras. Esse robô tinha 1,82 m de
altura e 210 Kg de peso. Nove meses depois apareceu o robô humanóide
P3, com menores dimensões. Entretanto, o robô humanóide
estrela da Honda somente foi lançado em 2000 e foi o famoso Asimo,
com 1,20 m de altura e 43 Kg de peso. A Sony também desenvolveu o seu
robô humanóide, o SDR-3X, de 50 cm de altura e 5 kg de peso,
que joga futebol e até dança, e também o robô Qrio
que, além do que faz o SDR-3X, é capaz de subir e descer escadas
e até correr. A empresa Kawada também tem o seu robô humanóide:
o HRP-2 (com um custo de quase novecentos mil reais). Esse robô pode
ser usado para inspeções perigosas e para dirigir veículos
e máquinas industriais como guindastes e escavadeiras.
Esse tipo de
robô
humanóide não parece assustar os japoneses. Um
deles disse que como não estão habituados a que
estranhos entrem nas suas casas, o robô, por ser uma
máquina, leva vantagem em relação ao
ser humano, pois ele não te trai, não te rouba e
somente fala quando você quer. Em uma recente pesquisa feita
no Japão, mais de um terço dos entrevistados
dizia preferir a companhia de um animal doméstico do que a
de um homem. Então, os robôs-animais foram um
tremendo sucesso: fazia companhia e não era
necessário comprar ração e, se o bicho
fosse um cachorro, tampouco era necessário
levá-lo para passear e para o ritual de banho, escova e
secagem. Assim, surgiram vários desses robôs para
entretenimento: o robô-peixe da Mitsubishi, que possui um
aspecto tão realista que somente uma
inspeção minuciosa permite verificar que
não se trata de um peixe real; o robô-cachorro
Aibo, da Sony, com vários recursos de inteligência
artificial embutidos, que lhe dão a capacidade de aprender
através da técnica de tentativa e erro ao levar
bronca do seu dono e assim descobrir o que pode ou não
fazer. Já existe até uma nova versão
desse robô-cachorro, com capacidade de achar a tomada para
recarregar suas baterias, e reconhecer a voz e o rosto de seu dono. O
Aibo pode ainda ter sua personalidade controlada por computador e pode
ser controlado por e-mail. Hoje já se pode ver
até time de futebol formado por vários Aibo: e
eles fazem gol e ainda comemoram colocando as patinhas dianteiras para
cima! Por mil e quinhentos dólares (no Brasil
poderá custar bem mais do que R$ 3.000,00) você
pode ter um cachorrinho desses em casa. Quando os robôs
são usados em conjunto para a
realização de uma determinada tarefa (como
é o caso dos cachorrinhos jogadores de futebol), tem-se um
sistema multirrobôs. Existem até projetos
internacionais como o RoboCup
e o Mirosot, que utilizam um jogo de futebol de robôs como
foco central de pesquisa em técnicas de
inteligência artificial aplicada à
robótica. A Escola Politécnica da USP possui um
time de futebol de robôs, o Futepoli, que foi classificado em
segundo lugar no Torneio Internacional Mirosot, em 1998, na
França. Outras instituições no Brasil
também desenvolveram equipes de futebol de robôs,
como a Bravo (CenPRA/Campinas), a MineiRosot (UFMG) e a Unesp (Bauru),
que é a atual campeã da
competição brasileira de futebol de
robôs.
Entretenimento
Voltando ao tema
de robôs de
entretenimento, houve recentemente o lançamento do
robô- gato, chamado de NeCoRo, desenvolvido pela empresa
japonesa Omron. O NeCoRo possui sensores táteis,
acústicos e visuais, que são utilizados para
detectar a forma pela qual é tratado pelo seu dono. Ele emite
até 48 sons típicos de gatos e realiza movimentos
de patas, orelhas, olhos e cabeça, para demonstrar seus
“sentimentos”.
Quando o tema
é referente a
robôs de pequenas dimensões, são
vários os grupos de pesquisa no mundo que vêm
desenvolvendo micro e nano robôs. Os microrrobôs
são utilizados para a exploração de
ambientes de dimensões reduzidas, como, por exemplo, a
exploração interna do corpo humano. Um desses
projetos é desenvolvido pelo MIT, nos Estados Unidos, onde
está sendo construído um robô com menos
de 4 cm para a detecção de doenças do
cólon. Um outro projeto é o Darpa, onde
está sendo construído um microrrobô de
8 cm de comprimento; este contém um sistema de
sucção nas patas, que o torna apto a explorar
ambientes reduzidos, sendo capaz, inclusive, de subir paredes e passar
por cima de obstáculos. Já a tecnologia de
nanorrobótica (robôs da ordem de
milésimo de milímetro) visa principalmente
aplicações na medicina, como a
eliminação de acúmulos de
substâncias orgânicas indesejadas (tumores, placas
de gordura nas paredes das artérias e coágulos
sangüíneos).
Robôs
também
são utilizados dentro d’água e no ar.
Para ambientes subaquáticos, existem os robôs
submarinos que são de dois tipos: o ROV, que pode ser
controlado remotamente, e o AUV, que opera autonomamente. Esses
robôs têm sido aprimorados para operar em grandes
profundidades (até quatro mil metros) e áreas de
risco, onde os mergulhadores não podem operar. Os ROVs podem
realizar diversas tarefas, utilizando para isso braços
mecânicos e ferramentas especializadas. Entre as
aplicações realizadas por esses robôs
estão a investigação visual das partes
submersas de navios, pontes e plataformas, monitoramento de
colônias de peixes, controle de
poluição subaquática, controle de
devastação da vida marinha,
localização de depósitos de
combustíveis nucleares, execução de
operações tecnológicas em plataformas
marítimas, inspeção visual de
estruturas subaquáticas de oleodutos e gasodutos,
inspeção de barragens e
explorações marítimas para fins de
pesquisa. Só para se ter uma idéia de valores,
uma expedição de inspeção
de um navio naufragado usando o ROV Hercules custa, por dia, 40.000
dólares. Com relação ao robô
aéreo, o Centro de Pesquisa Renato Archer (CenPRA) de
Campinas está construindo um deles na forma de um
dirigível (Projeto Aurora) para a
realização de sobrevôos de
inspeção em florestas, estradas, fazendas,
cidades, cursos de rios, etc. Outro centro de pesquisa envolvido com
esse tipo de pesquisa é o Spawar Systems Center San Diego
(Estados Unidos), que desenvolve robôs aéreos para
várias aplicações: controle de
incêndios, detecção de áreas
minadas e com armadilhas militares, proteção de
tropas militares, exploração de áreas
contaminadas (químicas, biológicas e nucleares),
etc.
Há ainda
robôs
saltadores, escaladores, tosadores de ovelha, buscador de bombas,
robô explorador de vulcões, robô
limpador de casco de navios, robô agrícola e
até robô hospitalar. Um exemplo de sucesso no uso
de robôs em mais de cem hospitais de todo o mundo
é o robô HelpMate. Este robô realiza uma
tarefa corriqueira em um hospital: transportar documentos e
medicamentos entre as salas do hospital. É um trabalho
simples, mas que toma muito tempo de auxiliares de enfermagem,
enfermeiras e trabalhadores de um hospital.
Quem sabe em um
futuro não muito
longíquo não tenhamos esses robôs como
companheiros do dia a dia? Ou será que isso só
pode acontecer no Japão? Um diretor do Departamento de
Desenvolvimento Tecnológico da NEDO (Japão) diz
que como os japoneses, desde a antiguidade, estão
acostumados a viver com muitas divindades, isso facilita a que vejam os
robôs como amigos e não com uma
conotação negativa de insubmissão e
arrogância do homem contra o Criador.
Teodiano
Freire Bastos Filho é professor do Departamento de
Engenharia Elétrica da Universidade Federal do
Espírito Santo (Ufes) e um dos autores do livro
Robótica industrial: Aplicação na
indústria de manufatura e de processos. O autor é
também o coordenador do “IV Congresso
Ibero-Americano sobre Tecnologias de Apoio a Portadores de
Deficiência”, a ser realizado em
Vitória, de 20 a 22 de fevereiro de 2006.