De onde vêm
os robôs?
A idéia
de robô é bastante antiga e sua origem divide pesquisadores de
diversas áreas. Apesar da falta de consenso sobre quando surgiu o primeiro
robô, sabe-se que o termo nasceu primeiro na ficção científica
e, mais tarde, foi aplicado à ciência. Apesar de não haver
uma definição precisa sobre o que é um robô, há
alguns pontos de convergência, mesmo que seja sobre uma definição
negativa. Uma delas é a idéia que nem toda máquina é
um robô. No entanto, muitas das que estão hoje ao nosso redor
são sim pequenos robôs, mesmo sem nos darmos conta disso.
A
maioria dos autores "define" robô como uma máquina
(dispositivo) utilizada para realizar trabalho em substituição
ao ser humano. De acordo com o pesquisador Ronald Arkin, do Instituto de Tecnologia
da Geórgia (Estados Unidos) e atualmente trabalhando no Laboratório
Dinâmico de Inteligência da Sony, em Tóquio (Japão),
“um robô é uma máquina capaz de extrair informações
do ambiente e usar conhecimento sobre o mundo de modo a se mover com segurança
e com um propósito". Arkin é autor do livro Robótica
baseada em comportamento (Behavior-based Robotics), publicado
pela editora do MIT, em 1998.
Já
para Matt Mason, diretor do Instituto de Robótica da Universidade Carnegie
Mellon, que fica em Pittsburg, Estados Unidos, definir o que é um robô
não é tão simples assim. De acordo com ele, geralmente
as pessoas chamam de robô uma máquina que se assemelhe a um ser
humano ou a um outro animal. “Existem muitas maneiras de definir. Minha
preferida é uma a conexão inteligente da percepção
à ação”, explica. O problema, explica o pesquisador,
é dizer o que se entende por inteligência e por percepção
ou, ainda, definir o quão perto uma máquina está do ser
humano. “Se você tem uma atitude muito liberal, permissiva sobre
estas coisas, é difícil excluir qualquer máquina do conceito
de robô. Se você tiver uma atitude mais estrita, você pode
acreditar que nenhum robô foi produzido ainda”, afirma.
Para
tentar responder à pergunta, o pesquisador recorreu à Wikipedia,
uma enciclopédia interativa disponibilizada na Internet. “O Wikipedia
define o robô como um dispositivo mecânico que executa tarefas
automatizadas, de acordo com a supervisão humana direta, um programa
predefinido ou um conjunto de guias, usando técnicas de inteligência
artificial. Novamente é difícil quando você tenta uma
definição precisa, mas acredito que essa definição
corresponde ao uso popular da palavra robô".
Se,
para a Wikipedia – cujas definições são as que
mais se aproximam do senso comum, já que são oferecidas pelos
usuários que colaboram com o sistema –, o trabalho do robô
deve necessariamente ser realizado sob a supervisão de um humano, para
alguns pesquisadores a idéia é diferente. De acordo com Augusto
Loureiro da Costa, que trabalha com inteligência artificial na Universidade
Federal da Bahia (UFBA), um robô pode ser programável para a
realização de uma variedade de tarefas com um controle ou supervisão
humana (robôs semi-autônomos) ou também pode trabalhar
de forma totalmente autônoma. Assim, pela concepção de
Costa, uma aeronave não tripulada, por exemplo, pode ser considerada
um robô aéreo, mesmo que receba comandos humanos de fora da nave.
Transformação
De
acordo com Costa, o conceito de robô aplicado na ciência foi mudando
com o tempo. Até o final dos anos 1980, predominavam os robôs
manipuladores – os primeiros utilizados na indústria –,
que eram braços mecânicos montados em uma base fixa sob o controle
de um sistema computacional. Exemplos desses robôs são as máquinas
que realizam pintura automotiva. Em seguida, nos anos 1990, começaram
a aparecer os robôs móveis – dispositivos eletromecânicos
montados sobre uma base não fixa, que age sob o controle de um sistema
computacional equipado com sensores e atuadores que permitem que ele realize
diferentes trajetórias em um certo ambiente. Os dois robôs enviados
a Marte, Spirit e Opportunitty, são exemplos de robôs
móveis. Há ainda um terceiro tipo de robôs, os híbridos,
que são a combinação dos robôs manipuladores e
móveis. De acordo com Matt Mason, de Pittsburg, os robôs têm
apresentado um papel importante também na exploração
científica. “Em Carnegie Mellon temos trabalhado também
com exploração robótica na Terra”, conta.
Atualmente,
os robôs têm diferentes formas e suas aplicações
são variadas. No mercado, as aplicações que mais chamam
a atenção são na medicina, como os robôs cirúrgicos
- máquinas com habilidade para operar através de incisões
muito pequenas. Pode-se destacar ainda a possibilidade de operações
à distância, tele-comandadas por meio da robótica. Para
Mason, o desenvolvimento da ciência atual teve uma importante participação
dos robôs. “Muitos manipuladores robóticos são usados
na automatização do laboratório. Em laboratórios
de robôs biomédicos é possível executar procedimentos
médicos com grande precisão e confiabilidade, além de
haver menor probabilidade de contaminar amostras”, explica.
Mas é
difícil dizer ao certo quando os robôs passaram a ser usados
na ciência. Acredita-se que tenha sido na década de 1950. “Eu
atribuo como o primeiro trabalho usando sistemas físicos para a cibernética
o pesquisador Grey Walter, na Inglaterra, que desenvolveu uma tartaruga robótica
e relatou seus resultados na revista Scientific American, na década
de 1950”, conta Ronald Arkin, da Geórgia.
A idéia
dos pesquisadores é que, no futuro, os robôs sejam capazes de
aprender, raciocinar, tomar decisões, planejar e executar tarefas e
até usar alguns sentidos como visão. Se inteligentes, os robôs
seriam quase-seres humanos? De acordo com os pesquisadores a resposta é
não, já que o que diferenciaria seres humanos de robôs
é a capacidade de se emocionar – dos humanos.
A tentativa de desenvolvimento de emoção dos robôs –
principalmente nos robôs de entretenimento - é cada vez mais
trabalhada pelos cientistas. Uma das mais recentes inovações
nesse sentido, apresentada ainda neste ano, é o Aibo (AI roBOt) da
Sony: um cão robótico, cujo nome significa companheiro em japonês,
que interage com humanos. Ele possui vinte motores para andar, jogar futebol,
sentar, deitar. Além disso, ele é programado para expressar
emoções (alegria, tristeza, medo, desgosto, surpresa, raiva)
e para “ter instintos” (brincadeiras, busca, fome, sono etc).
Quase
humanos: essa é a preocupação
De acordo
com a pesquisadora Adriana Kurtz, da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), os robôs e similares são uma preocupação
constante da literatura de ficção científica e no cinema.
O conceito de robô, como dito, surgiu primeiro na ficção
científica, numa peça teatral da década de 1920, do dramaturgo
tcheco Karel Capec. Na peça, havia um robô com forma humana capaz
de executar tarefas simples e repetitivas em lugar do homem. A expressão
robô deriva da palavra tcheca robota, que significa trabalho ou, segundo
alguns autores, trabalho escravo.
“Por
essa origem ‘artística’, os robôs eram vistos inicialmente
como um homem-máquina de modo integral ou parcialmente (braços
mecânicos). Ou seja, procuravam reproduzir os movimentos humanos”,
esclarece o pesquisador Paulo Victor Fleming, coordenador do grupo de robótica
e mecatrônica da Universidade de Salvador (Unifacs). “Até
hoje o cinema continua explorando a idéia básica de uma máquina
‘inteligente’ capaz de realizar tarefas humanas”, complementa.
No
filme recente Eu, robô – adaptação da seminal
coletânea de contos de Isaac Asimov, publicada em 1950 - o autor propõe
algumas leis que sintetizariam certas inquietações humanas com
o perigo robótico, como “um robô nunca deve atacar a um
ser humano, nem omitir socorro a um ser humano em perigo” ou “um
robô deve sempre obedecer às ordens dadas pelos seres humanos”.
Para Fleming, o auge da imaginação deste "homem-máquina"
no cinema foi a série Robocop, lançada 1989. Pela literatura
da ficção científica, Robocop não é um
robô, mas sim um cyborg - ser formado por carne e máquinas cibernéticas.
A diferença entre os robôs, replicantes e cyborgs está
justamente na sua estrutura. O robô é formado de matéria
inorgânica, os replicantes de matéria orgânica manipulada
e os cyborgs por matéria orgânica e inorgânica. Além
dos robôs e dos cyborgs, o cinema já explorou muito a possibilidade
de simbioses entre o corpo humano e máquinas, como nos replicantes
de Blade Runner (filme de Ridley Scott, de 1982).
Mas se a
definição de robôs traz a idéia de uma “máquina
escrava” para “servir o homem”, por que os robôs causam
uma espécie de receio aos humanos? “Primeiro por uma questão
econômica: ninguém gosta da idéia de ter seu emprego perdido
para um robô”, esclarece Ronald Arkin. “Além disso,
o termo nasceu na ficção científica, por isso há
um romantismo em cima do que é realmente um robô”, acrescenta
o pesquisador. Mas o professor Mason, de Pitsburg, prefere responder aos temores
com um otimismo irônico: “Por enquanto, ainda não temos
motivos para temer uma conspiração de robôs”.
(SR)
Leia mais:
-Ciência
e ficção: o futuro antecipado
-Golem,
homuluculus, robôs, andróides e cyborgs
-Cyberpunk,
a ficção científica contemporânea