http://www.comciencia.br/reportagens/2005/10/02.shtml
Autor: Sabine
Righetti | ||
De onde vêm os robôs? A idéia de robô é bastante antiga e sua origem divide pesquisadores de diversas áreas. Apesar da falta de consenso sobre quando surgiu o primeiro robô, sabe-se que o termo nasceu primeiro na ficção científica e, mais tarde, foi aplicado à ciência. Apesar de não haver uma definição precisa sobre o que é um robô, há alguns pontos de convergência, mesmo que seja sobre uma definição negativa. Uma delas é a idéia que nem toda máquina é um robô. No entanto, muitas das que estão hoje ao nosso redor são sim pequenos robôs, mesmo sem nos darmos conta disso. A maioria dos autores "define" robô como uma máquina (dispositivo) utilizada para realizar trabalho em substituição ao ser humano. De acordo com o pesquisador Ronald Arkin, do Instituto de Tecnologia da Geórgia (Estados Unidos) e atualmente trabalhando no Laboratório Dinâmico de Inteligência da Sony, em Tóquio (Japão), “um robô é uma máquina capaz de extrair informações do ambiente e usar conhecimento sobre o mundo de modo a se mover com segurança e com um propósito". Arkin é autor do livro Robótica baseada em comportamento (Behavior-based Robotics), publicado pela editora do MIT, em 1998. Já para Matt Mason, diretor do Instituto de Robótica da Universidade Carnegie Mellon, que fica em Pittsburg, Estados Unidos, definir o que é um robô não é tão simples assim. De acordo com ele, geralmente as pessoas chamam de robô uma máquina que se assemelhe a um ser humano ou a um outro animal. “Existem muitas maneiras de definir. Minha preferida é uma a conexão inteligente da percepção à ação”, explica. O problema, explica o pesquisador, é dizer o que se entende por inteligência e por percepção ou, ainda, definir o quão perto uma máquina está do ser humano. “Se você tem uma atitude muito liberal, permissiva sobre estas coisas, é difícil excluir qualquer máquina do conceito de robô. Se você tiver uma atitude mais estrita, você pode acreditar que nenhum robô foi produzido ainda”, afirma. Para tentar responder à pergunta, o pesquisador recorreu à Wikipedia, uma enciclopédia interativa disponibilizada na Internet. “O Wikipedia define o robô como um dispositivo mecânico que executa tarefas automatizadas, de acordo com a supervisão humana direta, um programa predefinido ou um conjunto de guias, usando técnicas de inteligência artificial. Novamente é difícil quando você tenta uma definição precisa, mas acredito que essa definição corresponde ao uso popular da palavra robô". Se, para a Wikipedia – cujas definições são as que mais se aproximam do senso comum, já que são oferecidas pelos usuários que colaboram com o sistema –, o trabalho do robô deve necessariamente ser realizado sob a supervisão de um humano, para alguns pesquisadores a idéia é diferente. De acordo com Augusto Loureiro da Costa, que trabalha com inteligência artificial na Universidade Federal da Bahia (UFBA), um robô pode ser programável para a realização de uma variedade de tarefas com um controle ou supervisão humana (robôs semi-autônomos) ou também pode trabalhar de forma totalmente autônoma. Assim, pela concepção de Costa, uma aeronave não tripulada, por exemplo, pode ser considerada um robô aéreo, mesmo que receba comandos humanos de fora da nave. Transformação De acordo com Costa, o conceito de robô aplicado na ciência foi mudando com o tempo. Até o final dos anos 1980, predominavam os robôs manipuladores – os primeiros utilizados na indústria –, que eram braços mecânicos montados em uma base fixa sob o controle de um sistema computacional. Exemplos desses robôs são as máquinas que realizam pintura automotiva. Em seguida, nos anos 1990, começaram a aparecer os robôs móveis – dispositivos eletromecânicos montados sobre uma base não fixa, que age sob o controle de um sistema computacional equipado com sensores e atuadores que permitem que ele realize diferentes trajetórias em um certo ambiente. Os dois robôs enviados a Marte, Spirit e Opportunitty, são exemplos de robôs móveis. Há ainda um terceiro tipo de robôs, os híbridos, que são a combinação dos robôs manipuladores e móveis. De acordo com Matt Mason, de Pittsburg, os robôs têm apresentado um papel importante também na exploração científica. “Em Carnegie Mellon temos trabalhado também com exploração robótica na Terra”, conta. Atualmente, os robôs têm diferentes formas e suas aplicações são variadas. No mercado, as aplicações que mais chamam a atenção são na medicina, como os robôs cirúrgicos - máquinas com habilidade para operar através de incisões muito pequenas. Pode-se destacar ainda a possibilidade de operações à distância, tele-comandadas por meio da robótica. Para Mason, o desenvolvimento da ciência atual teve uma importante participação dos robôs. “Muitos manipuladores robóticos são usados na automatização do laboratório. Em laboratórios de robôs biomédicos é possível executar procedimentos médicos com grande precisão e confiabilidade, além de haver menor probabilidade de contaminar amostras”, explica. Mas é difícil dizer ao certo quando os robôs passaram a ser usados na ciência. Acredita-se que tenha sido na década de 1950. “Eu atribuo como o primeiro trabalho usando sistemas físicos para a cibernética o pesquisador Grey Walter, na Inglaterra, que desenvolveu uma tartaruga robótica e relatou seus resultados na revista Scientific American, na década de 1950”, conta Ronald Arkin, da Geórgia. A idéia
dos pesquisadores é que, no futuro, os robôs sejam capazes de
aprender, raciocinar, tomar decisões, planejar e executar tarefas e
até usar alguns sentidos como visão. Se inteligentes, os robôs
seriam quase-seres humanos? De acordo com os pesquisadores a resposta é
não, já que o que diferenciaria seres humanos de robôs
é a capacidade de se emocionar – dos humanos. Quase humanos: essa é a preocupação De acordo com a pesquisadora Adriana Kurtz, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os robôs e similares são uma preocupação constante da literatura de ficção científica e no cinema. O conceito de robô, como dito, surgiu primeiro na ficção científica, numa peça teatral da década de 1920, do dramaturgo tcheco Karel Capec. Na peça, havia um robô com forma humana capaz de executar tarefas simples e repetitivas em lugar do homem. A expressão robô deriva da palavra tcheca robota, que significa trabalho ou, segundo alguns autores, trabalho escravo. “Por essa origem ‘artística’, os robôs eram vistos inicialmente como um homem-máquina de modo integral ou parcialmente (braços mecânicos). Ou seja, procuravam reproduzir os movimentos humanos”, esclarece o pesquisador Paulo Victor Fleming, coordenador do grupo de robótica e mecatrônica da Universidade de Salvador (Unifacs). “Até hoje o cinema continua explorando a idéia básica de uma máquina ‘inteligente’ capaz de realizar tarefas humanas”, complementa. No filme recente Eu, robô – adaptação da seminal coletânea de contos de Isaac Asimov, publicada em 1950 - o autor propõe algumas leis que sintetizariam certas inquietações humanas com o perigo robótico, como “um robô nunca deve atacar a um ser humano, nem omitir socorro a um ser humano em perigo” ou “um robô deve sempre obedecer às ordens dadas pelos seres humanos”. Para Fleming, o auge da imaginação deste "homem-máquina" no cinema foi a série Robocop, lançada 1989. Pela literatura da ficção científica, Robocop não é um robô, mas sim um cyborg - ser formado por carne e máquinas cibernéticas. A diferença entre os robôs, replicantes e cyborgs está justamente na sua estrutura. O robô é formado de matéria inorgânica, os replicantes de matéria orgânica manipulada e os cyborgs por matéria orgânica e inorgânica. Além dos robôs e dos cyborgs, o cinema já explorou muito a possibilidade de simbioses entre o corpo humano e máquinas, como nos replicantes de Blade Runner (filme de Ridley Scott, de 1982). Mas se a definição de robôs traz a idéia de uma “máquina escrava” para “servir o homem”, por que os robôs causam uma espécie de receio aos humanos? “Primeiro por uma questão econômica: ninguém gosta da idéia de ter seu emprego perdido para um robô”, esclarece Ronald Arkin. “Além disso, o termo nasceu na ficção científica, por isso há um romantismo em cima do que é realmente um robô”, acrescenta o pesquisador. Mas o professor Mason, de Pitsburg, prefere responder aos temores com um otimismo irônico: “Por enquanto, ainda não temos motivos para temer uma conspiração de robôs”. Leia mais: | ||
| ||
Atualizado em 10/10/2005 | ||
http://www.comciencia.br |