O Instituto de Pesquisas da Marinha e o avanço tecnológico militar brasileiro
Parecem ressurgir no Brasil dúvidas à respeito dos riscos da militarização
do uso e desenvolvimento de tecnologias que podem ter como finalidade
a criação de armas nucleares. "País controlará enriquecimento do
urânio", reportagem publicada no jornal Folha de S. Paulo
(Brasil, 24/05/02), levantou a suspeita de que a Marinha, cedendo
tecnologia ao projeto de enriquecimento do urânio desenvolvido pelo
INB (Indústrias Nucleares do Brasil), poderia estar se beneficiando
dos seus resultados com a intenção, por exemplo, de criar submarinos
nucleares e, até mesmo, uma bomba atômica. No entanto, essas suspeitas
não trazem grandes novidades. O avanço tecnológico ocorrido principalmente
após a II Guerra Mundial desencadeou modificações nas forças armadas
de todo o mundo. No Brasil, a Marinha implantou, em 1959, um órgão
de pesquisas, o IPqM (Instituto de Pesquisas da Marinha), para tentar
acompanhar o desenvolvimento científico que ocorria no chamado Primeiro
Mundo, e também nos países comunistas, em especial na área da eletrônica.
O IPqM foi instalado na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. O
local, estrategicamente localizado na costa, foi escolhido em razão
da proximidade da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro),
com a qual já se planejava integração técnica e científica.
Embora seu principal objetivo seja a pesquisa com finalidades militares,
o Instituto já desenvolveu, durante a década de 70, atividades diversificadas,
sendo algumas de alcance social. Biologia marinha, energia solar,
biomassa, nutrição (concentração de proteínas encontradas em pescado)
e saúde (como o combate à esquistossomosse) foram alvo de estudos
que cessaram com a criação do Instituto do Mar Almirante Paulo Moreira
(IEAPM). Esse órgão, também pertencente à Marinha, ficou responsável
pela biologia marinha, sendo que as outras atividades foram simplesmente
canceladas. Assim, o IPqM passou a dedicar-se com exclusividade
ao campo militar.
No Instituto, as pesquisas são realizadas por cinco grupos distintos:
armas, guerra eletrônica, acústica submarina, sistemas digitais
e materiais. O grupo de armas está voltado para a área de armamentos
e já foi responsável pela conclusão de alguns projetos, como a criação
do Foguete FAZ-375 (utilizado em fragatas) e do Foguete "Chaff"
(construído para auto-defesa de mísseis do tipo "inteligente", isto
é, orientados por radar) e a Mina de Fundeio de Contato, que tem
a função de proteger portos e instalações marítimas contra navios
e submarinos, fazendo parte das estratégias de defesa do litoral
brasileiro. Esse grupo dispõe, ainda, de um laboratório de metrologia
em fase de implantação, uma oficina mecânica e um banco fixo para
testes com motores de foguetes. Dentre todos, o projeto mais ousado
do grupo de armas é o Torpedo Nacional, ainda em fase de estudos.
Na área de guerra eletrônica, o IPqM realiza trabalhos com microondas,
rádio-frequência, comunicações, eletroótica e eletrônica digital.
Um dos projetos mais importantes desenvolvidos por esse grupo foi
o equipamento CME Radar (Contramedidas Eletrônicas) ET/SLQ-1. Esse
radar despista ou bloqueia outros radares de vigilância, direção
de tiro e aqueles que guiam mísseis, que operam na faixa de microondas.
A acústica submarina e o sistema sonar são pesquisados através da
análise e do processamento de sinais, estudos sobre a propagação
do som, transdutores eletroacústicos e equipamentos acústicos. Dentre
os projetos concluídos, destacam-se o Sistema de Previsão de Alcance
e Traçado de Raios Sonoros (Spars), que permite prever, através
de programas para microcomputadores e a partir da temperatura da
água e da velocidade do som no mar, o alcance de um sonar, bem como
avaliar o desempenho de um sistema de sonares em condições ambientais
variáveis. Já o Alvo Sonar Multifrequência auxilia na realização
de exercícios anti-submarinos (lançamento de torpedos acústicos
e posicionamento de submarinos). Também foi criado o equipamento
para Testes de Dispositivos de Varredura de Minas, que permite detectar
minas implantadas no mar com objetivos militares.
Atividades nas áreas de explosivos, química fina, pirotecnia e materiais
especiais para aplicações navais ficam sob a responsabilidade do
grupo de materiais. Dentre os projetos já concluídos estão o propelente
COMPOSITE (utilizado na propulsão de mísseis e foguetes) e os explosivos
auxiliares para mísseis.
O último grupo que compõe o IPqM é responsável pelo desenvolvimento
de sistemas digitais, dentre os quais o Sistema Simulador de Treinamento
Tático. Esse simulador é formado por equipamentos e programas para
o treinamento e a avaliação das tripulações dos navios da Esquadra
da Marinha, simulando situações do cotidiano dos oficiais. Há também
o Simulador de Propulsão das Fragatas Classe Niterói, que, através
de modelos matemáticos (modelo dos motores a diesel principais e
das turbinas de gás), simula integralmente a propulsão dessa classe
de navios e apresenta em mostradores analógicos as informações necessárias
para o monitoramento e a identificação de problemas existentes no
sistema.
(S.N.)
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