Armas químicas e biológicas são antiga estratégia
Usar substâncias químicas e agentes biológicos como armas não é uma novidade dos últimos tempos. Desde a antigüidade, os militares já se encantavam pelo poder das armas biológicas. Durante a dominação romana, os exércitos tinham especialistas que envenenavam as fontes de água potável que abasteciam as cidades. Além dessa tática, chegaram a utilizar germes de pessoas doentes de cólera, peste ou lepra, com o intuito de fazer com que as doenças enfraquecessem as forças do inimigo.
Nos séculos XVIII e XIX, os colonizadores europeus utilizaram a mesma estratégia, introduzindo a sífilis, a gripe, a varíola, o tifo e a tularemia, para aniquilar as populações nativas de outros continentes, técnica usada também no Brasil (veja notícia publicada em Com Ciência).
Em
busca de documentos
|
O Instituto
Socioambiental (ISA), ONG de defesa da diversidade cultural
e ambiental no país, está reunindo informações sobre possíveis
atos de guerra biológica promovida contra populações indígenas
brasileiras. Entre os principais documentos que a ONG busca
localizar está o Relatório Figueiredo, um conjunto de informações
coletadas em 1968, pelo então procurador geral da república,
Jader Figueiredo. O relatório revelava o massacre de aldeias
inteiras com dinamite, rajadas de metralhadora e envenenamento
por açúcar misturado com arsênico.
|
Entre 1940 e 1944, na campanha da Coréia contra a Manchúria, os japoneses bombardearam
onze cidades com material contaminado com peste e tifo. O número
de mortos nunca foi avaliado. E nos campos de concentração de prisioneiros
de guerra, os japoneses injetaram em prisioneiros de origem mongol,
britânica, americana e coreana, soluções com princípios ativos de
diversas enfermidades epidêmicas, resultando na morte de, no mínimo,
mil prisioneiros.
Após a Segunda Guerra Mundial, nos anos 50 e 60, o Governo dos
Estados Unidos instalou no estado de Maryland, um complexo de laboratórios
militares, conhecido como Forte Detrick, onde foram realizados mais
de mil experimentos voltados ao desenvolvimento de armas biológicas.
Em relação às armas químicas, na Primeira Guerra, os exércitos alemão,
francês e britânico utilizaram gases venenosos para aniquilar os
soldados do exército inimigo. Foram utilizados gás de cloro e de
mostarda, a partir de 1916. Isso foi permitido pelo poder da indústria
química do século19.
Uma primeira experiência com o gás foi feita em 3 de janeiro de
1915. Os alemães lançaram gás de cloro em cartuchos sobre as trincheiras
inimigas, mas as baixas temperaturas inibiram o efeito da substância.
Porém, em abril do mesmo ano, o exército alemão usou o gás novamente.
Nessa ocasião, uma densa névoa verde-cinza, típica do gás de cloro,
que foi expelido de 520 cilindros, começou a soprar em direção às
linhas de um regimento franco-argelino que sustentava a posição.
Os soldados fugiram, tentaram se esconder ou se proteger com máscaras
improvisadas. Alguns conseguiram, outros não. Psicologicamente,
o ataque deu grande resultado, pois os soldados abandonaram suas
posições deixando armas e mochilas no local.
Ainda em 1915, em setembro, os ingleses deram a sua resposta a esse
ataque, jogando sobre os alemães entrincheirados, uma substantiva
quantidade de gás de cloro. Se nos primórdios desse tipo de recorrência
ao gás mortífero era costume utilizar grandes cilindros para despejar
veneno ao sabor da direção em que o vento soprava, em seguida avançou-se
para o uso de um cartucho próprio, capaz de lançar cápsulas de gás
venenoso a enorme distância.
Foi a partir do ano de 1916, especialmente durante a longa batalha
de Verdun, travada entre alemães e franceses, que o gás entrou em
cena de vez. E desta vez estreou-se um novo gás, muito mais tenebroso
em seus efeitos do que o cloro - o chamado gás de mostarda (dichlorethylsulphide).
De cor amarelada forte, ele mostrou-se capaz de devastar as linhas
adversárias mesmo em meio às tropas equipadas com máscaras antigases.
Em contato direto com qualquer parte da pele da vítima, de imediato,
ele levantava bolhas amareladas, atacando em seguida os olhos e
as vias respiratórias. Além disso, tinha a capacidade de permanecer
fazendo efeito durante um tempo bem superior do que os outros, como
o gás lacrimogêneo (lachrymator), não-mortal, e o de cloro,
seja o fosfogênico ou o difosgênico.
Desde então, a paisagem da guerra das trincheiras foi marcada pela
presença sistemática dos vapores do gás de mostarda que, utilizado
por ambos os lados, passou a ser o manto sombrio e enfumaçado que
cobria os soldados em seus últimos momentos de vida.
Guerras atuais
Na Guerra do Vietnã, os Estados Unidos utilizaram o napalm e agente
laranja. O napalm é uma misturade gasolina com uma resina espessa
da palmeira que lhe deu o nome e que, em combustão, gera
temperaturas a 1.000ºC. Se adere à pele, queima músulos
e funde os ossos, além de liberar monóxido de carbono,
fazendo vítimas por asfixia.
O agente laranja é um herbicida que derruba as folhas das
árvores. Foi chamado assim porque era guardado pelos soldados
em tonéis cor-de-laranja. Foi usado pelo exército americano,
com a aprovação do presidente John Kennedy, desde 1961 até 1971,
com o objetivo de privar os guerrilheiros vietnamitas de suas fontes
de alimento e de proteger os invasores norte-americanos de seus
ataques. É por isso que enormes descargas desses venenos se concentraram
nas zonas em torno das bases norte-americanas e dos campos de pouso
de aviões, assim como nas proximidades das rotas terrestres e fluviais.
|
Foto
tirada em 1972, que mostra a menina Kim Phuc, de 9 anos fugindo
nua com outras pessoas da fumaça de napalm, pulverizado sobre
os campos do Vietnã. Foto: Nick Ut. Fonte: BBC.
|
Os efeitos destruidores do napalm devem-se, em grande parte, ao
seu componente principal, a dioxina, um dos produtos tóxicos mais
potentes, que perturba as funções hormonais, imunizantes e reprodutivas
do organismo. Trinta anos depois da guerra, vê-se ainda nas ruas
das cidades e nos campos gente mutilada - sem pernas, sem braços,
cegas, com os corpos disformes. Esses problemas estão, em grande
parte, ligados ao uso de desfolhantes nas operações militares freqüentemente
classificadas de a maior guerra ecológica da história da humanidade.
Mesmo nos Estados Unidos, os efeitos ainda são notados nos ex-combatentes
e em suas famílias. Entre os sintomas apresentados estão: cegueira,
diabetes, câncer da próstata e dos pulmões, deformação de braços
e pernas, entre outros.
Mais recentemente, em 1995, integrantes da seita apocalíptica Verdade
Suprema promoveram um ataque a um trem do metrô de Tóquio. Eles
levaram gás sarin dentro de sacos plásticos, escondidos embaixo
do banco. Quando deixaram os vagões, os terroristas furaram os sacos
plásticos com a ponta do guarda-chuva. O ataque causou a morte de
12 pessoas e deixou cinco mil feridos. O gás sarin, provoca um "curto-circuito"
no organismo, com sangramentos e vômitos, que também levam à morte.
O sarin pode matar em questão de minutos, após a exposição. A substância
penetra no corpo por inalação, ingestão, ou também pelos olhos,
ou pela pele.
Os sintomas mais comuns são olhos lacrimejantes e salivação, ocorre
também a contração das pupilas, também ocorre sudorese(suor excessivo),
bem como dificuldade de respirar, visão turva, náusea, vômito, espasmos
e dor de cabeça. A morte se dá pelo ataque à musculatura, ou seja,
no momento em que ocorre o ataque à musculatura corporal, ocorre
a incapacidade da sustentação de funções como a respiração, pois
ocorre a paralisia dos músculos.
O atentado de Tóquio mostra como é fácil disseminar um agente químico
no ar.
O mais recente uso de arma biológica foi a contaminação por carbúnculo,
ou antraz, ocorrida nos Estados Unidos, após os ataques desse país
ao Afeganistão, na busca pelo terrorista Osama bin Laden. Esporos
da bactéria Bacillus anthracis foram enviados por carta para políticos
e profissionais da imprensa. Quatro pessoas morreram e 13 contraíram
antraz desde o início de outubro, em meio a receios de que os Estados
Unidos estariam sendo alvo de um ataque biológico.
O efeito devastador do antraz já havia sido descoberto em 1979,
quando uma liberação acidental de esporos de antraz ocorreu em um
instituto biológico de Sverdlovsk, na Rússia. Setenta e nove casos
de antraz inalado foram registrados e 68 foram fatais.
No início da década de 1940, a Grã-Bretanha detonou bombas de antraz
experimentais em uma ilha remota da costa nordeste da Escócia chamada
Gruinard. Ela foi interditada até 1990, quando autoridades britânicas
descontaminaram a ilha com centenas de toneladas de formaldeído.
O antraz humano tem três formas clínicas principais: cutâneo, pulmonar
e gastrointestinal. O antraz cutâneo é o resultado da introdução
do esporo através da pele; o antraz pulmonar, resultado de inalação,
através do trato respiratório; e o antraz gastrointestinal, de ingestão.
Se não for tratado, o antraz, em todas suas formas, pode conduzir
a septicemia e morte. O tratamento precoce do antraz cutâneo conduz
normalmente à cura, e o tratamento precoce de todas as formas é
importante para recuperação. Em pacientes com antraz gastrointestinal
a taxa de mortalidade varia de 25% a 75%. A taxa de mortalidade
para antraz respiratório pode chegar de 90 a 100%.
(S.P.)
|