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  Guerra e Ciência
Doenças tropicais despertam interesses militares

Sabe-se que em Washington, nos Estados Unidos, existem grandes laboratórios para pesquisas de medicamentos e vacinas destinadas às doenças tropicais. Qual é exatamente o interesse americano em investir nessas pesquisas? Para o diretor da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Wilson Alecrim, o interesse é fundamentalmente militar. O governo americano, segundo ele, considera as doenças tropicais como "estratégia militar".

Caso os Estados Unidos viessem, algum dia, a fazer uma intervenção militar na Amazônia, seus soldados não seriam vítimas das doenças características dessa região. Não haveria riscos de se repetir o que ocorreu em guerras passadas, como na 2ª Guerra Mundial e Guerra do Vietnã, quando a malária foi um dos grandes inimigos norte-americanos. "Eles sabem quais as doenças que existem em cada área da Amazônia. Sabem como se prevenir e atuar", diz o pesquisador amazonense.

A malária não preocupa mais as Forças Armadas americanas. Os esforços de guerra levaram o governo dos Estados Unidos a fazer grandes investimentos em pesquisa sobre essa doença e, na década de 80, o laboratório do Exército americano inventou a Mefloquina, um dos mais importantes medicamentos usados no mundo para combater a doença.

Arbovírus
Os arbovírus são vírus mantidos em natureza. Os estudos sobre as arboviroses (doenças causadas por esse grupo de vírus) é importante em todos os continentes onde se apresentam sob forma endêmica ou epidêmica. A natureza da doença produzida no homem varia conforme o tipo de arbovírus responsável pela infecção. A maioria provoca uma síndrome febril com ou sem exantema, enquanto outros determinam quadro hemorrágico ou de encefalite, acompanhado de significante letalidade. No Brasil, em particular na Amazônia brasileira, coabitam em número bastante elevado inúmeras espécies de dípteros hematófagos (mosquitos, flebotomíneos, maruins) e de vertebrados silvestres. Essa diversidade de espécies e seu número constituem um achado único no mundo e propiciam condições ambientais favoráveis à manutenção do vírus na natureza. Os arbovírus constituem o maior grupo conhecido de vírus com cerca de 535 membros registrados no Catologue of Arthropod-borne and Selected Vertebrate Viruses of the World. Aproximadamente 100 são conhecidos por infectar seres humanos, 40 infectam animais domésticos e pelo menos 10 podem causar epidemias.

Atualmente, o foco de interesse dos pesquisadores são os vírus, dentre eles o arbovírus da Amazônia. Mas não só dos pesquisadores americanos. A Fundação de Medicina Tropical do Amazonas tem convênios com laboratórios alemães e cubanos, além dos próprios norte-americanos, para melhorar o conhecimento desses vírus. Não existe a possibilidade, segundo Alecrim, de que os resultados dessas pesquisas possam de alguma forma serem utilizados para uma futura guerra. "Porém, o uso do conhecimento científico para a guerra é o que chamo de anti-ciência", esclarece.

Existe um rígido controle em todos os laboratórios em que são feitas as pesquisas. Tanto no que se refere à proteção pessoal dos pesquisadores, para que não sejam contaminados, quanto à disseminação dos conhecimentos. Os laboratórios são chefiados por pesquisadores brasileiros, tendo os pesquisadores estrangeiros acesso limitado às informações consideradas de segurança nacional.

Além disso, um protocolo de trabalho a ser estabelecido com o Comando Militar da Amazônia (CMA) permitirá que as informações consideradas de interesse militar sejam repassadas para o Exército brasileiro. "A perspectiva é dominar o conhecimento desses vírus, que são elementos importantes para o país, e repassá-lo para as Forças Armadas brasileiras, para que conheçam bem o terreno onde vão atuar", explica Alecrim.

(LC)
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Atualizado em 10/06/2002
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