Telemedicina
tem aplicações de interesse para o Brasil
Recursos
escassos, distribuição irregular, grandes distâncias
entre os centros de excelência em medicina e os locais mais
carentes. Dificuldades na área da saúde que podem
ser diminuídas com a telemedicina. Segundo Renato Sabbatini,
professor do Núcleo de Informática Biomédica
da Unicamp, telemedicina é definida como o uso de recursos
da informática e telemática para a transmissão
de dados biomédicos e controle de aparelhos a distância.
Suas aplicações vão desde a obtenção
de dados para fins de diagnóstico até mesmo a telecirurgia,
em fase de experimentação. Outra possibilidade é
a educação a distância, auxiliando na atualização
de profissionais da saúde que atuam em regiões afastadas.
Para
utilizar os sistemas é necessário a obtenção
de equipamentos e de softwares específicos. A infra-estrutura
tecnológica necessária varia de acordo com a complexidade
do processo, podendo-se utilizar desde sistemas de telefonia convencional,
até sistemas de redes digitais de alta velocidade na transmissão
de imagens e em videoconferências, por exemplo, o que permite
a troca de grandes volumes de informações em tempo
real entre os usuários do sistema. As informações
médicas, quando digitalizadas, podem ser processadas de várias
maneiras. Em relação a dados quantitativos, a informática
pode tratá-los estatisticamente e formar bancos de dados.
Para imagens, a utilização de filtros digitais pode
realçar detalhes que normalmente passariam desapercebidos,
permite manipular a imagem com rotação, zoom e edições,
acrescentando texto ou indicando uma região de interesse
com setas, por exemplo.
A telemedicina
teve início durante a corrida espacial, na década
de 60, quando as funções vitais de astronautas, no
espaço, eram monitoradas, na terra, por médicos da
Nasa. Com o desenvolvimento tecnológico, chegou-se a Europa.
Em alguns países, como a Itália e a Inglaterra, a
transmissão de dados para diagnósticos já existe
desde a década de 70, transformando-se hoje em redes sofisticadas,
interligando pequenas localidades a grandes centros de estudos de
universidades. Com o envelhecimento da população européia,
o crescimento da telemedicina auxilia o monitoramento de pacientes
idosos que têm doenças crônicas ou degenerativas,
facilitando o home care e propiciando socorro e tratamento mais
rápidos em emergências. Com isso, os gastos governamentais
e de previdências privadas são reduzidos, racionalizando
custos sem afetar a qualidade dos serviços médicos.
No Canadá e Estados Unidos a telemedicina auxiliou as comunidades
rurais a ganhar melhores serviços, propiciando telediagnósticos,
teleconsultas e a obtenção de segunda opinião,
diminuindo riscos e aumentando o conforto dos pacientes. "Existem
projetos nos Estados Unidos, em que os familiares podem ter contato,
à distância, com o paciente internado, em um hospital
de cidade grande, usando a videoconferência. Um programa muito
interessante do Hospital Beth Israel, coloca em contato as mães,
com seus bebês prematuros enquanto estão internados
na UTI neonatal, o que resulta na diminuição de quase
30% a mortalidade dessas crianças, e abrevia o tempo de internação",
exemplifica Sabbatini.
Apesar
da boa rede de telecomunicações existente e do nível
de sofisticação da informática no país,
os sistemas de telemedicina ainda são raros no Brasil. "
Menos de 2% das universidades brasileiras têm projetos ativos",
explica Sabbatini. O Brasil possui 104 faculdades de Medicina e
mais de 40 hospitais universitários. Ele destaca o trabalho
das faculdades de medicina da UFPE, PUC-Paraná, Faculdade
de Medicina da USP, o Núcleo de Informática Biomédica
da UNICAMP e a UNIFESP (Escola Paulista de Medicina) como exemplos
de projetos em atividade. A boa notícia é que há
projetos em andamento em todo o país. Na rede privada, os
hospitais de São Paulo lideram o uso da telemedicina. Em
nível federal a Fundação Pioneiras Sociais,
tem uma rede interconectando vários dos hospitais Sarah Kubitscheck
e há outros projetos para a região amazônica,
com o auxílio de satélites do SIVAM permitindo a troca
de dados.
No
Brasil, as vantagens da telemedicina podem ser muito grandes, facilitando
o acesso a informações e diagnósticos, principalmente
nas localidades onde os serviços são precários
e também na educação continuada de profissionais
da saúde. Contando com uma extensa rede de telecomunicações,
e dispondo de vários avanços da informática,
o Brasil pode beneficiar-se muito com a telemedicina que levará
assistência especializada a regiões remotas. A distância
entre o tempo de diagnóstico e o tratamento diminui, o que
aumenta a rapidez e a eficiência dos serviços médicos,
justificando o investimento em equipamentos. "O Brasil possui
um bom estado de desenvolvimento tecnológico na informática,
bem como um sistema extenso e funcional de telecomunicações,
que dispõe de modernos recursos de telefonia pública
e celular, sistemas de transmissão de dados, ligação
por satélite em todo o território nacional, redes
Internet e Bitnet, etc. Se os bancos brasileiros já utilizam
com grandes vantagens essa portentosa e eficiente infraestrutura,
porque não o pode fazer o setor de saúde ?" pergunta
Sabbatini.
Renato
Sabbatini classifica as aplicações da telemedicina
em cinco tipos fundamentais, que podem crescer com a sofisticação
da tecnologia e as necessidades médicas:
- O
telediagnóstico é o envio remoto de sinais e imagens
médicas, dados laboratoriais e outras informações
para auxiliar diagnósticos.
- A
telemonitoração é utilizada no acompanhamento
de pacientes à distância, podendo oferecer serviços
de vigilância e alarme.
- A
teleterapia é o controle de equipamentos à distância.
- A
teledidática é o uso das redes telemáticas
para cursos médicos à distância.
- A
telefonia social possibilita assistência dinâmica
através dos recursos de telefonia convencional adaptando-os
para necessidades de deficientes físicos e como apoio à
medicina preventiva.
- A
telefonia social possibilita ainda o telesocorro, muito útil
para pessoas idosas que vivem sozinhas e podem ter auxílio
médico mais acurado e rápido em casos de emergência.
(AB)
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