Arquivos
abertos e novas maneiras
de disponibilizar informação na Internet
Novos
modelos de divulgação da pesquisa científica,
novas formas de avaliação. A submissão de um
artigo a uma revista científica seguida de avaliação
pelos pares. Essas e outras formas tradicionais de procedimento
de publicação científica podem estar com os
dias contados por causa dos chamados "arquivos abertos".
Embora não pretendam substituir as revistas impressas tradicionais,
os arquivos abertos propiciam a difusão rápida e automática
das informações. O mundo da informação
vai migrar para a Internet?
O agravamento
do desequilíbrio entre o preço de assinaturas de publicações
periódicas, e o orçamento das bibliotecas universitárias
e de investigação fez surgir os arquivos abertos.
Os
arquivos abertos são repositórios de trabalhos científicos
em forma digital, que não foram avaliados ou arbitrados.
O primeiro deles, o arXiv.org, surgiu em 1991, por iniciativa de
Paul Ginsparg, do Los Alamos National Laboratory, e desempenhou
papel importante junto à comunidade científica de
Matemática, Física, Astronomia e Ciência da
Computação.
Eles
são arquivos digitais que incluem não só versões
eletrônicas preliminares de documentos científicos,
mas também artigos aceitos para publicação
pelo processo de revisão tradicional por pares. Além
disso, aceitam também anotações e atualizações
feitas pelos autores ou comentários feitos pelos pares.
Na
verdade, os arquivos abertos são Bibliotecas Digitais desenvolvidas
na WWW por cientistas e para cientistas, constituindo-se em fóruns
privilegiados para difusão de resultados e debate científico,
ficando entre a comunicação formal e a informal. No
início, o arXiv.org tinha cerca de 100.000 artigos e, em
média, cada artigo era consultado pelo menos 70 vezes. O
volume de artigos tem crescido de forma exponencial, mas, apesar
de sua crescente popularidade, os arquivos abertos não são
aceitos como citação de produtividade do pesquisador,
e nem reconhecidos pelas agências de fomento.
Devido
ao grande impacto causado, foi criada em 1999, em Santa Fé,
no México, a Open
Archives Iniciative (OIA), com a finalidade de promover mecanismos
técnicos e estruturas organizadas que assegurassem a inter-operação
dos repositórios, facilitando a conversão dos vários
sistemas já existentes em um modelo inovador de comunicação
científica.
Publicações
científicas na Internet
Uma
das preocupações dos editores de revistas científicas
impressas que resistem à migração para a Internet
é perder o controle sobre um dos empreendimentos mais lucrativos
do mundo. As grandes revistas científicas são altamente
lucrativas.
Além
disso, pesquisadores mais velhos também resistem ao uso da
Internet, pois preferem ler um texto impresso do que na tela do
computador. No entanto, especialistas afirmam que essa resistência
tende a desaparecer com os jovens cientistas.
A publicação
eletrônica deve substituir, se não totalmente, pelo
menos em grande parte, as revistas impressas atuais. A produção
de um artigo é cara. Começa com o custo de enviar
o manuscrito para os árbitros, a seleção, a
preparação dos gráficos, a formatação,
a edição da cópia, o envio das provas finais
ao autor para aprovação, a preparação
dos reprints e, finalmente, a produção dos fascículos.
O Brasil
vem tomando algumas medidas para disponibilizar na Internet o maior
número de informações possível ao maior
número de pessoas. Pesquisadores, Agências de Fomento,
Universidades, Bibliotecas, várias são as iniciativas.
Em
1994, nasceu, por exemplo, o Hospital Virtual Brasileiro, iniciativa
do Núcleo de Informática Biomédica (NIB) da
Unicamp. Em seguida surgiu o e*pub, Grupo de Publicações
Eletrônicas em Medicina e Biologia do mesmo núcleo.
A primeira publicação eletrônica brasileira
foi a Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São
Paulo, e voltada exclusivamente para os cientistas.
Em
1997, nascia o Scielo, criado
pela Fapesp, Bireme (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação
em Ciências da Saúde) e por editores das dez mais importantes
publicações científicas nacionais, com a finalidade
de disponibilizar a produção científica brasileira
via Internet, com os mesmos critérios de qualidade do processo
tradicional.
Um
dos idealizadores do projeto, Rogério Meneghini, Diretor
do Centro de Biologia Molecular Estrutural do Laboratório
Nacional de Luz Síncrotron, acredita que a avaliação
constante pelos pares é um "dogma que deve ser mantido".
Meneghini afirma não ser barato manter um banco de dados
como o Scielo pois o texto passa por um trabalho de identificação
de itens como autor, título, resumo, palavras-chave, o que
implica em manter um grupo de profissionais bem treinados e uma
boa infraestrutura computacional.
Atualmente
o Scielo conta com 71 revistas indexadas, sendo que seu acesso é
totalmente gratuito. "Como o compromisso da Fapesp é
apoiar o empreendimento por mais dois anos, teremos então
de pensar em outras formas de financiamento, como o acesso pago",
diz Meneghini. Mas, afirma, como o Scielo não tem fins lucrativos,
um eventual pequeno repasse aos usuários não excederá
o custo de edição.
Meneghini
conclui que "o Scielo está se tornando um sucesso, outros
países já estão participando com as suas revistas
científicas como Chile, Cuba e proximamente o México,
a Venezuela, Portugal e Espanha". O Scielo contém também
dados de citações1
e índice de impacto2,
os quais permitem estudos interessantes de sociologia da ciência
no Brasil".
Outro
exemplo de sucesso é o site da Fundação
Biblioteca Nacional. O programa Biblioteca Nacional sem Fronteiras
visa à criação de uma biblioteca digital concebida
de forma ampla com um ambiente onde estão integradas as coleções
digitalizadas, os recursos humanos e os serviços oferecidos
ao cidadão.
Ler
a Bíblia de Moguncia, uma das obras impressas mais antigas
do mundo, apreciar gravuras de Debret, ouvir Villa-Lobos, tudo isso
e muito mais pode ser feito pela Internet. Essa iniciativa busca
consolidar a inserção da Fundação Biblioteca
Nacional na sociedade de informação, segundo Renata
Frade, assessora de imprensa da instituição.
Para
desenvolver o programa, foi criada, em janeiro de 2001, pelo Presidente
da Fundação, Eduardo Portella, uma Comissão
Coordenadora de Bibliotecas e Arquivos Digitais dos acervos pertencentes
à Instituição. Esse programa coloca a Biblioteca
Nacional na vanguarda das bibliotecas da América Latina,
igualando-a às maiores obras via Internet, transformando-a
em uma Biblioteca sem Fronteiras. Um de seus pontos fundamentais
é o atendimento ao cidadão. Para isso, emprega as
melhores ferramentas tecnológicas nos serviços on-line
com atendimento personalizado e cursos à distância,
alcançando assim seus objetivos.
A Biblioteca
sem Fronteiras está chegando a 500 mil documentos digitalizados.
Até o final de julho, os Anais da Biblioteca Nacional, publicação
ainda corrente, que contém cerca de 50 mil páginas
recuperadas, também estarão disponíveis.
A Fundação
Biblioteca Nacional criou recentemente a Biblioteca Digital, que
oferece cerca de 150 livros e textos digitalizados. O incentivo
foi a participação brasileira no 22º Salão
do Livro de Paris.
A Universidade
de São Paulo, lançou, também em agosto de 2001,
o projeto Cidade do Conhecimento
com a finalidade de estimular a comunicação entre
alunos de vários níveis escolares e profissionais
de diferentes áreas. A idéia é explorar as
possibilidades de comunicação criadas pelas novas
tecnologias para construir "comunidades de conhecimento",
espaço onde a produção de conhecimento é
coletiva.
São
tantos os movimentos, em todo o mundo, no sentido de disponibilizar
a informação para o maior número possível
de pessoas, quer seja através dos arquivos abertos, da disponibilização
de acervos, ou da criação de bancos de dados como
o Scielo que, ao que parece, temos subsídios para responder
à pergunta inicial: o mundo da informação vai
migrar para a Internet.
(LO)
Notas
- citações:
número de vezes que um artigo é "citado"
por outros pesquisadores em seus trabalhos. Quando o próprio
autor se refere ao seu trabalho é denominado auto-citação.
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- índice
de impacto: medida do número médio das citações
obtidas por um artigo publicado. [voltar]
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