A
energia que vem do Sol
Vivemos todos os dias em contato com a energia mais expressiva do planeta, a do sol. E o Brasil tem fortes motivos
para utilizar essa energia gerada em abundância, já que é
um dos países mais ricos no mundo em incidência de raios solares,
principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Apesar disso, a geração
de energia solar é ainda pequena e um dos principais motivos é
a falta de investimentos em pesquisas para desenvolver sistemas mais eficientes,
que poderiam assegurar o uso eficiente da energia solar.
“A pesquisa em energia solar está restrita a alguns centros de
pesquisa, com recursos modestos. No momento, começam a surgir fontes
de financiamento mais significativas e esperamos colher os frutos de tais investimentos
nos próximos anos”, diz a pesquisadora Elizabeth Marques Duarte
Pereira, hoje coordenadora do Green Solar, grupo que é referência
em estudos sobre energia solar, da PUC-MG.
Custo alto para pouca eficiência
Ao longo dos anos o maior desafio para a ciência nessa área, foi,
e ainda é, desenvolver equipamentos que convertam, com eficiência
e baixo custo, a radiação solar em eletricidade. Talvez esteja
aí a razão da tímida geração de eletricidade
a partir da energia solar que o país possui.
Transformar energia solar em elétrica depende fundamentalmente de uma
unidade chamada de célula fotovoltaica, que converte diretamente a radiação
solar em eletricidade. Os primeiros estudos sobre esses componentes foram realizados
em 1839.
As células fotovoltaicas são constituídas basicamente
de materiais semicondutores. O silício é o material mais empregado e está entre os oito elementos químicos mais abundantes do planeta ao lado do ferro, do oxigênio, magnésio, níquel, enxofre, cálcio e alumínio e têm sido explorado para diversas utilizações. Em busca de uma maior equilíbrio ambiental, a ciência vem buscando materiais alternativos e com maior eficiência energética.
A eficiência do atual sistema de energia solar ainda é baixa se
comparada a de outras fontes de geração de eletricidade. Existe
apenas um fabricante no Brasil de tecnologia fotovoltaica, mas sua capacidade
é ociosa por falta de mercado. Se houvesse um aumento da demanda, preços
seriam mais baixos, pois o custo de produção do equipamento seria mais baixo.
Tudo isso exige uma série de ações como investimentos
pesados nas indústrias para nacionalização dos equipamentos
e também em centros de pesquisas de energias renováveis, e ainda
abertura de linhas de crédito para facilitar a aquisição
dos equipamentos. Esses são os desafios, a curto e longo prazo, para ampliar
o sistema de geração de energia renovável dentro do modelo
energético brasileiro.
Projetos pilotos que utilizam os sistemas fotovoltaicos estão conectados
à rede elétrica do Instituto de Eletrotécnica e Energia
(IEE) da USP e no sistema do Cepel (Centro de Pesquisas em Energia Elétrica),
da Eletrobrás, no Rio de Janeiro. A instalação faz parte
de uma pesquisa que estuda a viabilidade econômica do sistema. “No
caso dessa tecnologia acho que o desafio maior, a curto prazo, é político,
depois vem a questão econômica e, por fim, o desenvolvimento técnico,
diz a professora Eliane Fadigas, do Departamento de Engenharia e Automação Elétrica,
da Escola Politécnica da USP.
Água quente e baixo consumo de eletricidade
Hoje, no Brasil, a aplicação em maior escala da energia que vem
do sol está no uso de aquecedor solar para substituir o chuveiro elétrico.
Mesmo assim a utilização ainda é pequena perto do potencial
oferecido, pois o custo do aquecedor é elevado comparado com o preço
do chuveiro elétrico.
Mesmo o chuveiro tendo potência elétrica alta e crescente, o que
representa maior consumo de energia elétrica, a diferença de preço
é significativa. O valor de um chuveiro chega a ser 15 vezes menor que
o de um aquecedor. Uma aparelhagem instalada em uma residência de médio
porte tem um custo final de R$ 300,00 por metro quadrado, enquanto um chuveiro
elétrico é vendido no mercado por R$ 20,00 em média.
No Brasil, existem cerca de 30 fabricantes de aquecedor solar. Os aparelhos
oferecidos são desenvolvidos com tecnologia nacional, mas ainda depende
de material importado.
Nos últimos dois anos, 600 mil metros quadrados de coletores foram instalados
no país. Só em Belo Horizonte 860 prédios funcionam com
aquecimento solar. São 250 sistemas coletivos de médio e grande
portes, capazes de aquecer acima de 2 mil litros de água por dia, em
residências, hospitais e hotéis.
O modelo exige altos investimentos para o aproveitamento ideal, em contrapartida,
apresenta muitas vantagens: contribui diretamente na redução de
demanda de eletricidade no horário de pico, minimiza o impacto ambiental
e mantém o abastecimento contínuo de água quente, pelo
fato da energia solar não precisar ser transportada. Essa fonte renovável
de energia oferece, ainda, entre outros benefícios, economia nos investimentos
governamentais.
Programas de incentivo
Uma das principais políticas de incentivo ao desenvolvimento de fontes
alternativas, começou mais efetivamente em 94, com o Prodeem (Programa
de Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios). O programa
do governo federal, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, foi
criado para atender localidades isoladas da rede elétrica convencional.
A iniciativa garantiu a instalação de 8 mil equipamentos, a maioria
alimentado por energia solar. Os dispositivos foram instalados em prédios
públicos, centros comunitários, escolas e postos de saúde.
Mas a falta de manutenção deixou boa parte dos equipamentos sem
funcionar. O Ministério de Minas e Energia recomendou, depois de uma auditoria,
a reformulação do programa.
A nova fase prevê que as concessionárias de energia elétrica
fiquem responsáveis por ensinar a comunidade a lidar com os sistemas
de geradores de energia alternativa. Com a revitalização do Prodeem,
cerca de 600 cidades do Nordeste serão beneficiadas. A ação do Programa é direcionada às populações
mais pobres, um benefício que gera também saúde e melhor
qualidade de vida garantindo o desenvolvimento das comunidades com as instalações
de casas de farinha e hortas comunitárias, e fixando o homem em sua região,
reduzindo a migração para as áreas urbanas.
Outras iniciativas de estatais e concessionárias de energia elétrica
promovem o desenvolvimento de tecnologias de energia solar no Brasil, como os estudos desenvolvidos nos principais centros de pesquisas e universidades públicas do país.
Campos de pesquisa
O Laboratório de Energia Solar (LES), da Universidade Federal da Paraíba,
é uma das entidades pioneiras no estudo do aproveitamento da energia
solar no Brasil. Com trabalhos publicados desde 1973 participou do desenvolvimento
nacional de aquecedores solares.
O equipamento, desenvolvido ao longo dos anos por vários centros de pesquisa
do país, ganha formas e tecnologias diversificadas. O Centro Incubador
de Empresas Tecnológicos (Cietec), da Universidade de São Paulo,
em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (Ipen)
e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), desenvolveu o Aquecedor
Solar de Baixo Custo para substituir o chuveiro elétrico em comunidades
pobres.
Outra tecnologia desenvolvida com canos de plásticos (PVC), oferece temperatura
de até 75ºC para um banho. O sistema “faça você
mesmo” foi desenvolvido pelo engenheiro eletrônico Augustin Woelz,
fundador da ONG Sociedade do Sol. Woelz, coloca o projeto à disposição
de qualquer pessoa ou entidade pela internet, pelo site.
O sistema pode ser montado a um custo médio de R$ 100,00.
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolveu um sistema de refrigeração
solar. O projeto, criado em 1999, atende os pequenos produtores de leite que não
têm acesso à energia elétrica e precisam conservar o leite
produzido para a comercialização. A pesquisa desenvolvida pela
equipe do Departamento de Engenharia Mecânica da UFPE recebeu consultoria
do introdutor do sistema no Brasil, Rogério Kluppel. O departamento recebeu
também novos recursos do Banco do Nordeste, e desde 2001 está
aperfeiçoando o projeto de refrigeração para leite em temperatura
mais adequada. “O refrigerador consegue chegar a uma temperatura de 7ºC,
mas a intenção é conseguir 5ºC, temperatura ideal
para conservar o leite”, explica a coordenadora do projeto, Ana Rosa Mendes
Primo.
Na Unicamp, o Laboratório de Polímeros Condutores e Reciclagem
desenvolve um projeto com células fotoeletroquímicas de plástico
para conversão de energia solar em elétrica. Os dispositivos são
promissores substitutos das células fotovoltaicas de silício.
A pesquisa é um avanço fundamental na busca de materiais alternativos
e mais eficientes para o processo de conversão da radiação
solar em eletricidade.
O Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas
Gerais trabalha no projeto de construção e operação
de um secador solar para produtos agrícolas. A secagem artificial não
é economicamente viável para os pequenos produtores, por causa
os altos custos de aquisição e operação do aparelho.
Já o secador solar com métodos de secagem eficientes e com baixos
custos, vem sendo testado nas últimas décadas. Foram desenvolvidos
secadores com princípios de funcionamento diversos. O protótipo
da UFMG utiliza uma chaminé solar como secador.
Foram feitos ensaios com produtos agrícolas mostrando que a chaminé
solar reduz consideravelmente o tempo de secagem e promove escoamento de ar
quente sem a necessidade de meios adicionais ou externos. O que não acontece
com a maioria dos modelos desenvolvidos, que trabalham através de bombeamento,
forçando a saída do ar.
O novo modelo ainda está em estudo. “Nossa experiência com
o protótipo mostrou a necessidade de investigações mais
detalhadas e adequação geométrica ao material a ser secado.
Mas os primeiros resultados já são positivos”, diz o coordenador
do projeto, Márcio Fonte Boa Cortez.
Avanços
O Grupo de Estudos em Energia da PUC- MG, conhecido como Green Solar, trabalha com
pesquisa, ensino e extensão em energia Solar. O grupo desenvolve, em parceria
com a prefeitura de Belo Horizonte e a Eletrobras, projetos sociais com
uso de aquecedores solares.
Atualmente o Green desenvolve um projeto para fornecer banho quente a mais
de 5 mil garis. Para isso serão instalados em onze regionais da capital
mineira, aquecedores solares de água, diminuindo assim o consumo de energia
elétrica.
Além desse, outros projetos sociais deram credibilidade ao departamento
coordenado pela professora Elizabeth Pereira. Este ano, o Green ganhou o primeiro
simulador solar da América Latina, um aparelho que vai ajudar ainda mais
nas pesquisas sobre energia solar.
O equipamento é composto por oito lâmpadas de 5.000W, o que equivale
a 50 lâmpadas comuns. O aparelho possui abrangência semelhante à
da radiação solar, criando as mesmas condições climáticas
dos raios solares, só que controlada. “A independência que
teremos das condições climáticas, que limitam muitas vezes
a continuidade dos trabalhos experimentais e ensaios, irá agilizar e
potencializar os resultados já obtidos”, conta Pereira.
O simulador solar foi doado ao Green pela Eletrobras que, através
do Banco Mundial, trouxe o aparelho do Instituto Fraufoner, na Alemanha, considerado
o mais avançado em estudos sobre energia solar. “Parcerias estão
sendo estabelecidas com centros de pesquisa internacionais, criando-se condições
adequadas à realização de novos projetos”, destaca
a professora.
(CD)
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