O código aberto e suas promessas contraditórias
Mauro Sant'Anna
Um novo setor de atividade econômica surgiu e evoluiu nos últimos trinta anos: o segmento de software. Entre vários países, o Brasil também participa desse mercado com muito sucesso. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisa Econômica da USP (FIPE), as empresas de software do país detêm 300 mil vagas de empregos e oferecem salários que chegam a ser três vezes maiores do que a média no país.
Ao longo desses anos desenvolveram-se diversas formas de licenciamento de software. O cliente pode comprar uma caixinha e usá-la em apenas um micro ou comprar certo número de licenças em função da quantidade de pessoas que usarão o mesmo produto em computadores diferentes. Ou ainda fechar um contrato com número ilimitado de licenças, que podem ser perpétuas ou por um período de tempo limitado.
O acesso ao código-fonte também varia conforme o tipo de licença. Quando trabalhei na década de oitenta com Turbo Pascal e produtos da Turbo Power Software o código-fonte era aberto, embora não se tornasse propriedade do usuário. Na época, a IBM também permitia acesso à fonte de alguns de seus produtos como, por exemplo, o sistema de entrada de dados em Assembly 370.
As formas de distribuição também variam muito, desde caixas adquiridas em lojas especializadas até licenças compradas de vendedores que visitam empresas de maneira semelhante à de representantes de outras mercadorias. A partir dos anos oitenta se popularizou uma fórmula de distribuição exclusiva de software conhecida como shareware. No shareware você pode copiar indiscriminadamente um produto de software, com alguma restrição, e comprá-lo depois de testado.
Em 1989, Richard Stallman criou um tipo de licença que chamou de copyleft, mas que hoje é mais conhecida como open source, que é a base do software livre. A licença desse tipo que se tornou mais conhecida é a GNU General Public License, que se caracteriza por incluir a fonte do produto junto com a licença e permitir modificações que sejam compartilhadas com a comunidade de desenvolvedores.
Para os usuários, o open source parece ter caído do céu, pois o software não apenas pode ser copiado à vontade como também, aparentemente, apresenta custos que tendem a zero. Uma questão importante que se faz aqui é: como os desenvolvedores de software sobreviverão se não puderem vender seus produtos, como fazem hoje? Curiosamente, várias empresas brasileiras e estrangeiras que promovem o Linux, o sistema operacional de código aberto, sobrevivem das vendas de licenças de software comercial fechado.
Outro aspecto importante é que o software aberto não é gratuito, como muitos pensam, porque exige serviços de implantação, manutenção, treinamentos de pessoal, usando muitas vezes ferramentas incompatíveis entre si e, conseqüentemente, de baixa produtividade e altos custos. Existem estudos que apontam inclusive que o custo total de uso do software aberto é maior do que o do software comercial.
Outro grande problema é quem dá garantia. No caso do software aberto a resposta é simples: ninguém. Não há garantia quanto à continuidade do produto, ao conserto de eventuais defeitos, à adaptação a novos equipamentos, à compatibilidade com outros produtos e à não-violação de licenças ou patentes de terceiros.
Outro mito sobre o software de código aberto é o de ser mais seguro porque existem milhões de desenvolvedores verificando o tempo todo se há falhas em seu código-fonte. No entanto, se o usuário precisar de suporte técnico dificilmente encontrará auxílio abundante e muito menos gratuito.
Como se percebe o software livre está longe de cumprir todas as promessas que fazem ao seu modelo de desenvolvimento, distribuição, licenciamento e negócios.
Mauro Sant'Anna é diretor da Architettura, empresa especializada em soluções de tecnologia e participante do programa Microsoft Certfied Partner. O autor do artigo foi indicado por Eduardo Campos, gerente de estratégia de mercado da Microsoft Brasil.