Vida extraterrestre: a grande odisséia humana
   
 
Pedradas cósmicas: Carlos Vogt
O acordo Brasil-EUA

O programa espacial chinês:
Alberto Betzler

Alcântara e as comunidades tradicionais

CLA ameaça território étnico:
Alfredo Berno de Almeida

Barreira do Inferno
A Estação Espacial Internacional, um projeto científico?

Exploração espacial e desenvolvimento:
Ronaldo Garcia

A corrida espacial
Exobiologia:
Oscar Toshiaki Matsuura

Vida extraterrestre:
José Renan de Medeiros

Observatórios e a divulgação da ciência

Formação de sistemas planetários:
Carlos Alberto de Oliveira Torres

Ascenção e queda de satélites

Pedras no caminho:
Ulisses Capozoli

Cometas, asteróides e meteoros
O que matou os dinossauros?

Bólidos caem no Amazonas:
Ramiro de la Reza

Poema
 

José Renan de Medeiros

De todas as questões que fascinam o espírito humano, aquelas sobre nossa origem, de onde viemos e para onde vamos estão certamente entre as mais presentes no nosso pensamento. Quando Nicolau Copérnico (1473-1543), Johannes Kepler (1572-1630) e Galileo Galilei (1564-1642) mostraram que, na realidade, é nosso planeta Terra que gravita e não o Cosmos, o ser humano descobriu a existência de um espaço infinito em torno de si.

Esta angustiante verdade levou-o a perceber que somos apenas um ponto no meio do infinito. Esta foi, talvez, a maior revolução no pensamento humano: tomar conhecimento do infinitamente grande e do infinitamente pequeno. Entre o átomo e o Universo está o Ser Humano. Entre uma partícula elementar e uma galáxia está o planeta Terra. Mas seríamos nós o único foco de vida em todo o Cosmos? Entre bilhões e bilhões de estrelas que povoam o Universo, seria o Sol uma singularidade, abrigando o único planeta com condições para o desenvolvimento e evolução da Vida?

Quando Michel Mayor, astrônomo da Universidade de Genebra, anunciou em 1995 a descoberta do primeiro planeta extra-solar, uma resposta sólida a uma destas questões apareceu: nós não somos únicos no Cosmos, pelo menos do ponto de vista de sistema planetário. Este primeiro planeta extra-solar tem as dimensões de Júpiter e orbita uma estrela da Constelação de Pegasus. Desde então, cerca de 50 novos planetas extra-solares foram descobertos. A maioria destes, como regra, apresenta uma composição gasosa e dimensões próximas daquelas de Júpiter, alguns estando localizados dentro do que nós chamamos de "zona habitável". Ou seja, planetas cujas distâncias até suas estrelas são iguais às distâncias da Terra e de Marte até o Sol.

Com a descoberta dos novos sistemas planetários, surgiu então uma questão natural: quando serão descobertos planetas extra-solares telúricos, ou seja, planetas rochosos do tipo terrestre? Este será, sem dúvidas, o primeiro passo real para a descoberta de atividade biológica fora do sistema solar e de Vida extraterrestre. Mas, pouco ainda é conhecido sobre os outros planetas do sistema solar, alguns dos quais, como Marte, Júpiter e Saturno, apresentando condições potenciais para o desenvolvimento de algum tipo de atividade biológica. Parece então natural caminharmos em direção aos pilares da criação, buscando os primeiros sinais de Vida extraterrestre aqui mesmo na nossa vizinhança, dentro do próprio sistema solar, antes da grande Odisséia nas estrelas.

Projeto Marte: Mito e Realidade - Uma das hipóteses que mais têm fascinado a imaginação popular é aquela sobre a possível existência de Vida em Marte. Desde a invenção do telescópio, há cinco séculos atrás, esta hipótese vem inspirando inúmeros estudos, científicos ou puramente especulativos. Os períodos de particular interesse têm sido aqueles em que Marte mais se aproxima da Terra, fato que ocorre a cada 15 anos, nos quais a distância entre Marte e a Terra é de apenas 56 milhões de quilômetros (isto corresponde a, aproximadamente, 19 mil vezes a distância entre Natal e São Paulo!). O próximo avizinhamento acontecerá em 2003. Durante um destes avizinhamentos, no fim do século XIX, o astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli anunciou ter observado imensas linhas retas cortando a superfície marciana.

No início do século passado, o astrônomo americano Percival Lowell defendeu, com convicção, que tais estruturas em forma de linhas seriam, efetivamente, grandes canais artificiais, construídos por uma civilização mais avançada do que a terrestre. Desde então, pseudo-marcianos habitaram a imaginação popular nas mais diferentes formas e situações.

Entretanto, a partir de 1962, estas fantasias e mitos começaram a ser definitivamente apagados quando diversas sondas espaciais norte-americanas e russas, enviadas ao planeta Marte, mostraram que tais hipotéticos canais eram, na realidade, grandes canyons naturais, com comprimentos e profundidades enormes, resultantes da evolução natural do planeta. Além disso, inúmeras missões espaciais ao longo das últimas duas décadas, inclusive com pouso e análise da matéria constituinte da própria superfície marciana, mostraram a inexistência de qualquer sinal de Vida inteligente naquele planeta. Entretanto, continua viva a discussão sobre a possibilidade da existência de microorganismos marcianos, particularmente microorganismos fósseis que poderiam ter vivido há milhões de anos, quando Marte era mais quente e úmido.

A partir de agosto de 1996, tal hipótese tornou-se mais sólida com a descoberta, por cientistas da Nasa e da Universidade de Stanford, de um meteorito de origem marciana contendo um aparente microorganismo em estado fóssil. Este meteorito, denominado ALH84001, pesando 1,9 kg, havia sido encontrado na Antártida em 1984. Um aspecto fundamental no estudo do planeta Marte, é que, com ele, poderemos entender como será o futuro da Terra e, neste contexto, a água também exerceu um papel fundamental na história geológica marciana.

Após o envio a Marte de várias sondas espaciais - entre as quais pode-se destacar as duas naves Viking que pousaram na superfície marciana em julho e setembro de 1976, a Mars Observer e a Global Surveyor que efetuaram um levantamento detalhado do solo e da superfície do planeta, foi iniciado então um projeto mais ambicioso, constituído por várias missões, visando ao envio de naves levando veículos móveis e robôs para a sua exploração. A primeira destas missões, a Mars Pathfinder e seu jipinho Sojourner, que pousaram em Marte em julho de 1997, forneceu informações fundamentais sobre sua superfície e sua atmosfera. A presença de água na superfície marciana num passado recente, bem como uma variação diária regular na temperatura e na pressão foram observados nos dados coletados nesta missão.

Durante o inverno marciano o frio é tal que 20 a 30 por cento da superfície congela, formando um enorme bloco de anidrido de carbono sólido. Cerca de 95 por cento da atmosfera marciana é composta de gás carbônico. Após a Mars Pathfinder, duas novas missões foram enviadas: a Mars Climate Orbiter e a Polar Lander. Entretanto, ambas se perderam ao chegarem naquele planeta. Apesar disso, o Projeto Marte da Nasa já anunciou um novo programa de viagens, com uma missão a cada dois anos, já a partir do ano corrente.

Para abril próximo está programado o envio da missão Mars Surveyor, com o objetivo de preparar e testar combustível para foguetes, usando gases da própria atmosfera marciana. Em 2003, uma outra missão deverá coletar amostras do solo marciano e trazê-las para análise aqui na Terra. Esta será a primeira missão programada para trazer uma sonda espacial enviada a Marte de retorno à Terra. Para os anos seguintes, 2005, 2007, 2009, 2011 e 2013, a Nasa e a Agência Espacial Européia programaram a realização, em conjunto, de missões semelhantes à Mars Surveyor, onde, além da coleta de material, aperfeiçoarão as técnicas de pouso, decolagem, passeios em carrinhos teleguiados, além de executarem experimentos com combustíveis propelentes e motores. O objetivo maior de todas estas missões: uma primeira viagem tripulada em torno de 2015!

Projeto Júpiter - Projeto Saturno

Dois outros lugares dentro do sistema solar aparentam oferecer condições para a existência de algum tipo de atividade biológica e, portanto, de organismos vivos: as luas Europa e Titã, que orbitam os planetas Júpiter e Saturno, respectivamente. A sonda Galileo, que entrou na órbita de Júpiter em dezembro de 1995, após 3 anos de viagem, mostrou que a superfície da lua Europa é coberta por uma camada de gelo de cerca de 10 a 30 quilômetros de espessura. Abaixo desta camada parece existir um oceano d'água com cerca de 100 quilômetros de profundidade sobre um núcleo rochoso, onde haveria uma intensa atividade geológica liberando calor. Para examinar em detalhes estas aparentes características da lua Europa, a Nasa está programando, já para 2003, a missão Europa Orbiter.

O objetivo principal desta missão será, particularmente, confirmar se este oceano d'água encontra-se efetivamente no estado líquido. Havendo uma resposta positiva, o próximo passo será o envio de uma sonda com um robô para analisar in situ a composição do gelo da lua Europa, na busca de substâncias orgânicas.

O Projeto Saturno consiste na maior missão interplanetária realizada até o presente: A Missão Cassini, em homenagem ao astrônomo franco-italiano Jean Dominique Cassini que, em 1675, descobriu os anéis daquele planeta. A sonda Cassini, um projeto conjunto da Nasa e da Agência Espacial Européia, partiu em direção a Saturno em 6 de outubro de 1997, levando a bordo uma mini-sonda denominada Huygens, devendo entrar em sua órbita em novembro de 2004.

O objetivo principal da missão é analisar a superfície da lua Titã, também considerada um sítio provável para a existência de algum tipo de atividade biológica. A mini-sonda Huygens pousará na superfície de Titã para busca e análise in situ de material orgânico.

A Odisséia nas estrelas

A grande aventura pela busca de Vida fora do planeta Terra caminha, necessariamente, para as estrelas. A descoberta do primeiro planeta extra-solar, em 1995, deu origem a uma grande corrida entre Europa e Estados Unidos à procura de planetas semelhantes à Terra e, conseqüentemente, de sinais de atividade biológica fora do sistema solar.

A Nasa já está desenvolvendo o projeto Origins composto de várias missões espaciais a serem realizadas até 2015. Neste ano, será colocado numa órbita a cerca de 1,5 milhões de quilômetros da Terra um experimento denominado Terrestrial Planet Finder, consistindo de um conjunto de telescópios de cerca de 2 metros de diâmetro, interligados, compondo uma área com as dimensões de um campo de futebol.

A Agência Espacial Européia, por sua vez, está desenvolvendo o projeto Darwin e também, em torno de 2015, colocará no espaço um experimento com as mesmas características do norte-americano. Antecipando-se a estes grandes projetos, a Agência Espacial Francesa, contando, em princípio, com a participação do Brasil, colocará no espaço, já em 2004, um satélite denominado COROT, visando a descoberta de planetas extra-solares telúricos.

O que se busca nestes experimentos é, primeiro, a identificação de planetas telúricos do tipo terrestre com atmosferas ricas em oxigênio e sinais de água, para uma subseqüente procura por matéria orgânica. Entretanto, antecipando-se a estas fantásticas missões espaciais, vários grandes projetos estão sendo realizados aqui na superfície terrestre, envolvendo telescópios gigantes ultramodernos. Entre estes, podem ser citados os projetos americanos Keck, com dois telescópios de 10 metros de diâmetro, e Magellanes, com dois telescópios de 6,5 metros de diâmetro, o projeto japonês Subaru, com um telescópio de 10 metros de diâmetro, o projeto europeu VLT (Very Large Telescope), com quatro telescópios de 8 metros de diâmetro, além dos projetos Gemini, pertencente a um consórcio internacional que conta com a participação brasileira, com dois telescópios de 8 metros, e SOAR (Southern Observatory for Astrophysical Research), este último, um projeto brasileiro em consórcio com os EUA.

A partir destes projetos estão sendo identificadas e estudadas as estrelas potenciais em torno das quais deverão ser efetuadas as buscas por planetas extra-solares. Todos estes projetos representam janelas abertas de onde poderemos enxergar e estabelecer, de forma sólida, respostas para as questões fundamentais: onde estão os pilares da criação? São eles uma dádiva singular do planeta Terra? São eles uma regra no Universo? Apesar destas interrogações ainda persistirem, é maravilhoso saber que as matérias constituintes da base da Vida - hidrogênio, oxigênio e carbono - estão presente por quase todo o Universo, fazendo parte do ciclo de Vida das estrelas!

José Renan de Medeiros (Ph.D.) do Departamento de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

   
           
     

Esta reportagem tem
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19
documentos
Bibliografia | Créditos

   
     
   
     

 

   
     

Atualizado em 10/02/2001

   
     

http://www.comciencia.br
contato@comciencia.br

© 2001
SBPC/Labjor
Brasil