Na
agricultura clonagem não é novidade
Na
agricultura, a clonagem é uma técnica já bastante
utilizada. Segundo Luis Carlos da Silva Ramos, diretor do Centro
de Genética, Biologia Molecular e Fitoquímica do Instituto
Agronômico de Campinas, as plantas podem ser propagadas de
duas maneiras: assexuada e sexuada. "Sexuada é a tradicional,
via semente. Você planta uma semente e nasce uma planta. Assexuada,
é via clonagem", afirma. Ele explica que tradicionalmente
isso é feito por estacas. "Você tem uma planta,
corta o caule dela em várias partes e planta. Cada uma dessas
novas plantas é uma cópia idêntica à
original". A vantagem dessa tecnologia é que se obtém
uniformidade. As plantas possuem todas a mesma cor, o mesmo sabor
e apresentam o mesmo período de maturação.
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Ramos
mostra laboratório onde clones de plantas são
desenvolvidos
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Ele
ressalta que o ambiente onde será plantada a muda também
pode interferir, mas se as plantas tiverem a mesma constituição
genética, o controle é maior. Isso é muito
importante para culturas de plantas (principalmente com fins comerciais),
porque facilita o cultivo e a colheita, e porque daí se obtém
produtos de mesma qualidade.
Ramos
afirma que o objetivo principal da aplicação da clonagem
na agricultura é atingir a uniformidade, mas com a seleção
genética é possível conseguir também
multiplicar plantas que já foram modificadas, que são
mais resistentes a pragas ou doenças, ou que produzem frutos
melhores, por exemplo.
Podemos
considerar que existem dois tipos de plantas: de polinização
cruzada e de auto-fecundação. As que precisam de macho
e fêmea para dar frutos, como o pinheiro do Paraná
(o resultado disto é que sempre há plantas híbridas)
e as que, se ficarem sozinhas, sem nenhuma intereferência
do homem, produzem sementes, como o tomate, o arroz e o feijão.
No
caso do tomate, a parte masculina produz grãos de pólem
que são expelidos, com pequenos movimentos, e atingem a parte
feminina da flor, onde fica o ovário. Então ocorre
a fertilização e o fruto cresce. Esse é o processo
de fecundação, a própria flor possui a parte
feminina e masculina.
Por
outro lado, há plantas que têm problemas de incompatibilidade
e nesses casos é preciso provocar a fertilização.
Como no caso do café Robusta: o pólem não consegue
fertilizar as plantas e estas precisam ser cruzadas, perdendo-se
a padronização. Em conseqüência disso,
faz-se a clonagem dessas plantas, para se obter a uniformidade.
Isso não ocorre com o café Arábica.
No
caso do café Robusta, escolhem-se duas plantas mais resistentes
às condições ambientais e faz-se estacas dessas
plantas, que se cruzam e produzem as sementes. Obtém-se,
desta forma, maior uniformidade do que se as plantas fossem deixadas
para se fecundar naturalmente. "Uma plantação
de clones, a não ser que o terreno seja muito acidentado
e variável, é muito uniforme", diz Ramos.
A clonagem
tem sido usada tradicional e vastamente também na produção
de laranja, de uva, de morango, de figo, de goiaba, pêssego,
manga, abacate e outras árvores frutíferas.
Desde
que virou cultura em larga escala comercial, a laranja é
produzida por clonagem. Ramos esclarece que na agricultura, também
se usam técnicas de propagação associadas.
No caso da laranja, usa-se a enxertia, que consiste na retirada
de uma gema (ou broto), implantada no caule de uma planta adulta
e com maior resistência às condições
do solo, como o limão cravo, por exemplo. A planta que serve
de base é chamada de cavalo e a que está sendo enxertada
é o cavaleiro ou copa. Assim consegue-se a produção
mais rápida e uniforme de frutos. Se produzida via semente,
a laranjeira leva aproximadamente seis anos para começar
a dar frutos e é mais susceptível a doenças
vindas do solo do que o limão. A enxertia é feita
com plantas da mesma espécie ou próximas. Com isso
garante-se frutos de melhor qualidade. No caso da manga, por exemplo,
para produção de frutos de qualidade superior, usa-se
como base a espécie coquinho, por exemplo, que é mais
resistente.
Segundo
o pesquisador do IAC, existe também a chamada 'clonagem moderna',
que surgiu na década de 70, via produção de
células. "Nesse caso você retira células
de uma planta e transforma em uma nova planta", explica Ramos.
Com essa técnica é possível produzir uma quantidade
muito grande de plantas, limitada apenas pelo espaço físico
do laboratório onde serão desenvolvidos os embriões.
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Sequência
de desenvolvimento de clone de uma planta de café.
Fotos cedidas por Luis C. Ramos/IAC
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No
laboratório, as células são multiplicadas em
meios de cultura. Coloca-se um pedaço da folha em um meio
de cultura, que forma um calo, a partir do qual forma-se um embrião,
que depois é transferido para saquinhos, já com terra.
Ali o embrião se transforma em muda para ser plantada já
no terreno onde a planta será cultivada. Uma folhinha produz
muitos calos e muitos embriões.
Essa
técnica é extremamente importante para produzir árvores
como eucalipto, pinus ou outras plantas para reflorestamento.
Ramos
explica que há também uma técnica que produz
o embrião sem passar pela fase de calo, através de
modificação na indução de alguns genes.
"Induz-se a célula da planta a adotar uma diferenciação.
Você tem uma célula da folha, que deixa a ser 'de folha'
para ser uma célula embrionária. Esse processo é
induzido com hormônios (reagentes), ou reguladores de crescimento,
que são sintéticos", explica o pesquisador.
O processo
de clonagem em alguns casos, principalmente via micropropagação
(a partir de células), tem um custo mais alto e daí
decorre resistência de alguns produtores a aderir a essas
novas técnicas. Não apenas pelo custo, mas também
porque eles ainda não têm a certeza de que obterão
melhores resultados. Há também a questão da
tradição de plantio e em algumas situações,
o aumento da produção não é tão
desejável, havendo o risco de o preço do produto ficar
tão baixo que inviabilizaria a atividade. Ou seja "a
demanda por tecnologia é menor do que os avanços da
pesquisa", nota Ramos.
Luis
Carlos Ramos conta que a clonagem em plantas é usada também
para fazer o que é chamado de 'limpeza viral'. "A maioria
das plantas, quando fica no campo, acumula doenças, transmitidas
por pulgões e microganismos. Existe um procedimento que consegue
restaurar a saúde da planta. Recupera-se uma parte muito
pequena desta planta, algo em torno de 0,2 mm do ápice, que
é colocada em vidros com meio de cultura (uma espécie
de gelatina que alimenta o ápice) para que ela cresça
ali dentro e ela será então uma planta sadia",
explica. Dessa matriz saudável, produz-se novas mudas todas
sadias, que são levadas ao campo e inicia-se uma nova produção.
Obtém-se com isso maior produtividade. Pode-se usar esta
técnica na produção de morango, laranja, banana,
batata, entre outros.
Clonagem vegetal no Brasil
Segundo
Ramos, o Brasil está bastante adiantado nas pesquisas em
clonagem vegetal. Em conhecimento e desenvolvimento, não
está atrás dos países desenvolvidos, mas sim
em demanda da tecnologia por parte dos agricultores. Na área
de reflorestamento, no entanto, devido ao empenho das grandes empresas
de celulose instaladas no país em replantar florestas, a
tecnologia vem sendo bastante explorada.
Existem
empresas de biotecnologia que investem em pesquisas de clonagem
de plantas, mas são poucas e com pouco mercado, se comparado
ao tamanho potencial do mercado do país. A tendência,
no entanto, é que a procura por esse tipo de produto aumente
de acordo com a difusão da tecnologia.
(SP)
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