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Carlos Vogt

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Na agricultura clonagem não é novidade

Na agricultura, a clonagem é uma técnica já bastante utilizada. Segundo Luis Carlos da Silva Ramos, diretor do Centro de Genética, Biologia Molecular e Fitoquímica do Instituto Agronômico de Campinas, as plantas podem ser propagadas de duas maneiras: assexuada e sexuada. "Sexuada é a tradicional, via semente. Você planta uma semente e nasce uma planta. Assexuada, é via clonagem", afirma. Ele explica que tradicionalmente isso é feito por estacas. "Você tem uma planta, corta o caule dela em várias partes e planta. Cada uma dessas novas plantas é uma cópia idêntica à original". A vantagem dessa tecnologia é que se obtém uniformidade. As plantas possuem todas a mesma cor, o mesmo sabor e apresentam o mesmo período de maturação.

Ramos mostra laboratório onde clones de plantas são desenvolvidos

Ele ressalta que o ambiente onde será plantada a muda também pode interferir, mas se as plantas tiverem a mesma constituição genética, o controle é maior. Isso é muito importante para culturas de plantas (principalmente com fins comerciais), porque facilita o cultivo e a colheita, e porque daí se obtém produtos de mesma qualidade.

Ramos afirma que o objetivo principal da aplicação da clonagem na agricultura é atingir a uniformidade, mas com a seleção genética é possível conseguir também multiplicar plantas que já foram modificadas, que são mais resistentes a pragas ou doenças, ou que produzem frutos melhores, por exemplo.

Podemos considerar que existem dois tipos de plantas: de polinização cruzada e de auto-fecundação. As que precisam de macho e fêmea para dar frutos, como o pinheiro do Paraná (o resultado disto é que sempre há plantas híbridas) e as que, se ficarem sozinhas, sem nenhuma intereferência do homem, produzem sementes, como o tomate, o arroz e o feijão.

No caso do tomate, a parte masculina produz grãos de pólem que são expelidos, com pequenos movimentos, e atingem a parte feminina da flor, onde fica o ovário. Então ocorre a fertilização e o fruto cresce. Esse é o processo de fecundação, a própria flor possui a parte feminina e masculina.

Por outro lado, há plantas que têm problemas de incompatibilidade e nesses casos é preciso provocar a fertilização. Como no caso do café Robusta: o pólem não consegue fertilizar as plantas e estas precisam ser cruzadas, perdendo-se a padronização. Em conseqüência disso, faz-se a clonagem dessas plantas, para se obter a uniformidade. Isso não ocorre com o café Arábica.

No caso do café Robusta, escolhem-se duas plantas mais resistentes às condições ambientais e faz-se estacas dessas plantas, que se cruzam e produzem as sementes. Obtém-se, desta forma, maior uniformidade do que se as plantas fossem deixadas para se fecundar naturalmente. "Uma plantação de clones, a não ser que o terreno seja muito acidentado e variável, é muito uniforme", diz Ramos.

A clonagem tem sido usada tradicional e vastamente também na produção de laranja, de uva, de morango, de figo, de goiaba, pêssego, manga, abacate e outras árvores frutíferas.

Desde que virou cultura em larga escala comercial, a laranja é produzida por clonagem. Ramos esclarece que na agricultura, também se usam técnicas de propagação associadas. No caso da laranja, usa-se a enxertia, que consiste na retirada de uma gema (ou broto), implantada no caule de uma planta adulta e com maior resistência às condições do solo, como o limão cravo, por exemplo. A planta que serve de base é chamada de cavalo e a que está sendo enxertada é o cavaleiro ou copa. Assim consegue-se a produção mais rápida e uniforme de frutos. Se produzida via semente, a laranjeira leva aproximadamente seis anos para começar a dar frutos e é mais susceptível a doenças vindas do solo do que o limão. A enxertia é feita com plantas da mesma espécie ou próximas. Com isso garante-se frutos de melhor qualidade. No caso da manga, por exemplo, para produção de frutos de qualidade superior, usa-se como base a espécie coquinho, por exemplo, que é mais resistente.

Segundo o pesquisador do IAC, existe também a chamada 'clonagem moderna', que surgiu na década de 70, via produção de células. "Nesse caso você retira células de uma planta e transforma em uma nova planta", explica Ramos. Com essa técnica é possível produzir uma quantidade muito grande de plantas, limitada apenas pelo espaço físico do laboratório onde serão desenvolvidos os embriões.

Sequência de desenvolvimento de clone de uma planta de café.
Fotos cedidas por Luis C. Ramos/IAC

No laboratório, as células são multiplicadas em meios de cultura. Coloca-se um pedaço da folha em um meio de cultura, que forma um calo, a partir do qual forma-se um embrião, que depois é transferido para saquinhos, já com terra. Ali o embrião se transforma em muda para ser plantada já no terreno onde a planta será cultivada. Uma folhinha produz muitos calos e muitos embriões.

Essa técnica é extremamente importante para produzir árvores como eucalipto, pinus ou outras plantas para reflorestamento.

Ramos explica que há também uma técnica que produz o embrião sem passar pela fase de calo, através de modificação na indução de alguns genes. "Induz-se a célula da planta a adotar uma diferenciação. Você tem uma célula da folha, que deixa a ser 'de folha' para ser uma célula embrionária. Esse processo é induzido com hormônios (reagentes), ou reguladores de crescimento, que são sintéticos", explica o pesquisador.

O processo de clonagem em alguns casos, principalmente via micropropagação (a partir de células), tem um custo mais alto e daí decorre resistência de alguns produtores a aderir a essas novas técnicas. Não apenas pelo custo, mas também porque eles ainda não têm a certeza de que obterão melhores resultados. Há também a questão da tradição de plantio e em algumas situações, o aumento da produção não é tão desejável, havendo o risco de o preço do produto ficar tão baixo que inviabilizaria a atividade. Ou seja "a demanda por tecnologia é menor do que os avanços da pesquisa", nota Ramos.

Luis Carlos Ramos conta que a clonagem em plantas é usada também para fazer o que é chamado de 'limpeza viral'. "A maioria das plantas, quando fica no campo, acumula doenças, transmitidas por pulgões e microganismos. Existe um procedimento que consegue restaurar a saúde da planta. Recupera-se uma parte muito pequena desta planta, algo em torno de 0,2 mm do ápice, que é colocada em vidros com meio de cultura (uma espécie de gelatina que alimenta o ápice) para que ela cresça ali dentro e ela será então uma planta sadia", explica. Dessa matriz saudável, produz-se novas mudas todas sadias, que são levadas ao campo e inicia-se uma nova produção. Obtém-se com isso maior produtividade. Pode-se usar esta técnica na produção de morango, laranja, banana, batata, entre outros.


Clonagem vegetal no Brasil

Segundo Ramos, o Brasil está bastante adiantado nas pesquisas em clonagem vegetal. Em conhecimento e desenvolvimento, não está atrás dos países desenvolvidos, mas sim em demanda da tecnologia por parte dos agricultores. Na área de reflorestamento, no entanto, devido ao empenho das grandes empresas de celulose instaladas no país em replantar florestas, a tecnologia vem sendo bastante explorada.

Existem empresas de biotecnologia que investem em pesquisas de clonagem de plantas, mas são poucas e com pouco mercado, se comparado ao tamanho potencial do mercado do país. A tendência, no entanto, é que a procura por esse tipo de produto aumente de acordo com a difusão da tecnologia.

(SP)

 

Atualizado em 10/12/2001

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