Ação do MST
se mantém no governo Lula
A clara preferência do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) pelo governo Lula nas eleições
do ano passado não garantiu nenhuma trégua nas
ocupações neste ano. Em ações
espalhadas por todo o país, o movimento procura pressionar
o governo para que acelere o processo de assentamento de novas
famílias, do mesmo modo como agiu no governo passado.
As ocupações têm acontecido, geralmente,
em territórios sob litígio - os quais os proprietários
afirmam ser produtivos e o MST não. Mas, atualmente,
têm atingido também territórios da transnacional
Monsanto, produtora de sementes transgênicas.
Muitas organizações de pequenos produtores
rurais de todo o mundo, assim como o MST, são contrárias
ao patenteamento de sementes e à industrialização
da produção dos grãos. Elas criticam,
principalmente, o fato de os fazendeiros serem obrigados a
fazer pagamentos às empresas donas das patentes todas
as vezes em que forem utilizar as sementes no plantio. É
costume desses agricultores reservar parte de sua produção
para ser replantada na safra seguinte.
Em maio e junho o MST realizou duas ocupações
de fazendas da Monsanto. A mais recente aconteceu no dia 2
de junho, quando 200 sem terra entraram pelos fundos da fazenda
da empresa em Santa Helena (GO) e montaram acampamento. Na
propriedade são plantados 307 hectares, sendo sete
com sementes transgênicas experimentais autorizadas
pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio). No Paraná, o MST ocupou, em 16 de maio, uma fazenda
de 43 hectares. A justiça já concedeu a reintegração
de posse para a empresa mas a polícia militar paranaense
até agora não cumpriu o mandato. O MST diz querer
a expropriação das terras da Monsato para a
reforma agrária e acusa a empresa de produzir sementes
transgênicas ilegalmente no país.
Resistência às ocupações
tem sido violenta
O desfecho
mais grave das ações do MST aconteceu na Paraíba,
onde um sem terra foi morto e dez ficaram feridos, três
com gravidade. Eles foram atingidos por tiros quando, no último
dia 4 junho, tentavam se instalar na fazenda São José,
na cidade de Jacaraú. O proprietário rural Marcos
Antônio Barbosa, conhecido como Napoleão, e seus
funcionários dispararam contra os sem terra e Antonio
Chaves da Silva foi atingido no peito. Mais tarde, o Incra revelou
que Napoleão, que é membro da Associação
dos Plantadores de Cana-de-Açúcar da Paraíba,
não é o dono da fazenda São José.
Na mesma região, na Zona da Mata, mas no
estado de Pernambuco, o movimento ocupou em maio uma fazenda
no município de Trucunhaém. Nessa ocasião
foram destruídos tratores e casas. Estão no
local 350 sem terras. O objetivo do movimento é chamar
a atenção do Incra e pedir prioridade para a região,
que acumula casos de violência.
Outra região de grande conflito é
o Pontal do Paranapanema, no estado de São Paulo. Nas
últimas semanas foi iniciado um grande acampamento
na cidade de Presidente Epitácio, com mais de 800 barracas.
Segundo o MST a região tem mais de 1 milhão
de hectares em terras devolutas, sendo 240 mil dessas já discriminadas
pelo Incra. A imprensa chama a movimentação
de superacampamento do Rainha, em referência à
José Rainha Júnior, militante que se notabilizou
por sua atuação na região. Rainha está
oficialmente afastado da militância mas conta com o
apoio dos membros do MST do Pontal. Ele é acusado de
má gestão dos recursos e está sendo avaliado
pela direção nacional do MST.
A região de Araçatuba pode, em breve,
se equiparar ao Pontal do Paranapanema em termos de conflitos.
Segundo o MST a região tem 5.200 sem terras. No início
de junho 300 deles ocuparam a fazenda Rosa Branca. Depois
de uma decisão judicial, que determinou a desocupação
da área, os agricultores mudaram-se para a fazenda
vizinha, Araçá. A fazenda Araçá
foi declarada improdutiva pelo Incra em 2001, mas os proprietários
conseguiram impedir a desapropriação judicialmente.
O caso ainda aguarda um parecer final em primeira instância
da justiça. A justiça também determinou
que os sem terras se mantivessem a 20 km da fazenda Araçá,
para evitar novas ocupações no local.
A justiça barrou recentemente uma desapropriação
que poderia assentar um terço dos acampados no Rio
Grande do Sul. O proprietário de uma fazenda de 13
mil hectares, no município de São Gabriel, conseguiu
uma liminar contra a desapropriação da área
alegando que não foi informado previamente pelo Incra
sobre o dia e a hora da vistoria em sua fazenda, o que é
obrigatório por lei. De acordo com o MST o proprietário
Alfredo Southall tem dívidas com o INSS, a Receita Federal
e o Banco do Brasil que chegam a R$ 32 milhões. Southall
confirma dever apenas R$ 9 milhões.
Mas o caso mais curioso de ocupação
aconteceu no último dia 2, no município de Bonito,
no Mato Grosso do Sul. 350 famílias de agricultores
ligados ao MST, que ocupam a fazenda Aruanã desde 12
de maio, tentaram chegar à sede da fazenda, que pertence
ao reverendo coreano Sun Myung Moon. Os caseiros responderam
com tiros para o alto e ninguém ficou ferido. Eles
não registraram queixa na polícia pois não
gostariam de admitir que possuem armas, o que comprometeria a imagem
da seita liderada pelo reverendo Moon. O Incra declarou que
a fazenda de Moon é produtiva.
(RE)
|