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A influência dos novos padrões ambientais no mercado de minerais industriais

José Mário Coelho

Os minerais industriais são todos os não-metálicos e os minerais não-energéticos, extraídos e processados para fins industriais, incluindo-se também nessa categoria a parte dos minerais metálicos consumidos em aplicações não-metalúrgicas. O setor dos minerais industriais, em geral, é pouco conhecido, por apresentar características específicas em termos de aplicação e de comercialização. Cerca de 200 minerais industriais podem ser encontrados nas mais diversas aplicações industriais e em seus produtos, desempenhando importante papel em muitas complexas e sofisticadas aplicações industriais em todo o mundo.

É crescente a conscientização da opinião pública da necessidade de serem postas em prática os conceitos de desenvolvimento sustentável, como também de serem alcançados níveis cada vez mais altos na proteção do meio ambiente. Esses fatos vêm causando um grande impacto na regulamentação das normas ambientais impostas pelos órgãos ambientais, na escolha por determinados produtos pelos consumidores, e no processo de decisão das empresas, relativo a seus produtos e processos. Essas ações, por seu turno, têm criado reflexos no mercado dos minerais industriais.

Neste trabalho pretende-se apresentar, de uma maneira preliminar, os principais padrões na área ambiental que vêm produzindo os maiores impactos na indústria de minerais industriais.

Principais desenvolvimentos na área ambiental

São quatro os principais desenvolvimentos ou “ondas”, que atualmente vêm sendo implementadas na área ambiental, e que têm importantes implicações no mercado dos minerais industriais:

  1. Substituição de materiais devido a reais ou prováveis riscos à saúde e ao meio ambiente;
  2. Alteração de rotas de produtos recicláveis não tóxicos dos aterros sanitários, em especial nas áreas metropolitanas;
  3. O reuso de rejeitos de mineração para aumentar a sustentabilidade das atuais e antigas minas e pedreiras;
  4. Maior amplitude das normas de emissão do ar, efluentes líquidos e recuperação ambiental.

A primeira “onda”.
Na década de 70 foram iniciados estudos para reduzir e controlar a exposição aos minerais de amianto, e, as várias indústrias que utilizavam o amianto. Naquela época, começaram a desenvolver estudos para sua substituição na fabricação de diversos produtos (materiais de fricção, tubos, telhas, materiais para isolamento térmico e de proteção ao fogo, roupas especiais, etc.). Já na década de 60 o ¨conceito de amianto¨ foi estendido aos minerais de partículas alongadas. Como exemplo tem-se o talco e a antofilita, que foram objetos de vários estudos. O governo norte-americano, através da sua agência de proteção ambiental, estabeleceu um programa para eliminação de quase todos os produtos que utilizam amianto, com prazo final em 1996. A França proibiu a utilização de amianto em habitações e está promovendo a sua retirada, através de reformas financiadas, de todas as edificações, residências e escritórios, que possuem esse material. Esses fatos estão afetando o mercado mundial de amianto, sendo que nos Estados Unidos ocasionou o seu desmantelamento.

Na Figura 1 pode-se verificar que, apesar da proibição do seu uso nos principais países desenvolvidos, a produção mundial desse bem mineral, que sofreu uma grande redução na década de 90, vem aumentando a partir de 2001, graças ao aumento de consumo nos países em desenvolvimento.

Figura 1 Produção Mundial 1999-2004
Fonte: Sumário Mineral, 2005.


Na Figura 2 é apresentada a produção de amianto no Brasil no período de 1999 a 2004.

Figura 2 Produção Brasileira 1980 - 1995
Fonte: Sumário Mineral, 2005

Observa-se que a produção brasileira de amianto também não sofreu os efeitos das restrições ambientais, e ao contrário disto, vem se beneficiando com a redução da produção nos países desenvolvidos, aumentando sua exportação para países em desenvolvimento.

A segunda “onda”, das imposições ambientais visando o desenvolvimento sustentável é a modificação de rota de materiais não tóxicos, passíveis de serem reciclados nos aterros sanitários, principalmente em áreas urbanas, quer seja por falta de incentivos econômicos (através da cobrança de uma sobretaxa para disposição desses materiais) ou por meio de regulamentações ou programas de reciclagem, muitos deles baseados em minerais industriais. A mudança de custo dentro das indústrias é também um fator de extrema importância. Nas grandes cidades e rodovias, principalmente, é comum o reaproveitamento do asfalto, que tem um grande percentual de pedra britada e outros agregados. A reciclagem do vidro, utilizado principalmente na fabricação de garrafas, diminui sensivelmente o consumo de vários minerais industriais, dentre eles a areia industrial e o feldspato que tem na indústria vidreira o principal consumidor. O reuso de rejeitos de mineração, que visa aumentar a sustentabilidade das atuais e antigas minas e pedreiras, está sendo implementada em larga escala, sendo uma importante fonte de suprimento de minerais industriais, como é o caso do fino de pedreira que está sendo utilizado em substituição às areias naturais e como fonte de feldspato. O reuso econômico dos rejeitos da lavra e dos resíduos do beneficiamento diminui os custos de recuperação das áreas mineradas.

A terceira “onda” trata da ampliação das exigências nas normas de recuperação ambiental.
Do ponto de vista de mercado dos minerais industriais tem-se a geração de novos produtos de turfa. A turfa para absorção de óleo está substituindo os materiais argilosos para limpeza de áreas que sofrem derrames acidentais, principalmente da indústria de petróleo. A turfa também está se mostrando muito eficiente elemento filtrante para remoção de rejeitos tóxicos no tratamento secundário de efluentes e na eliminação de odores. Um outro uso da turfa é sua mistura com uma solução de polímeros na remoção de metais tóxicos da drenagem ácida de minas. A vermiculita vem sendo utilizada na remoção de metais poluentes por adsorção, uma vez que possui maior área específica e maior capacidade de troca iônica do que as argilas.

A quarta “onda” é a que exige controles mais rígidos para emissões atmosféricas e efluentes líquidos.
A diminuição da emissão de gases (dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e hexafluoreto de enxofre (SF6), hidrofluorcarbonos (HFCS) e perfluorcarbonos (PFCS)) para o atendimento do Tratado de Quioto, que estabelece metas e prazos para controlar os gases que são: a redução de 5,2% das emissões entre 2008-2012, comparando-se aos índices de 1990.

Uma série de problemas ambientais afetam a indústria de cimento, em particular a alta emissão de dióxido de carbono durante a fabricação do clinquer. A adição de metacaulim calcinado, a uma temperatura menor que a exigida para o clinquer, além de diminuir sensivelmente a emissão de CO2, ser menos intensiva no consumo de energia, reduzir os custos monetários e ambientais, aumenta a resistência do concreto, contribuindo para a sustentabilidade da construção civil no futuro. Já se observa um aumento de cerca de 20% das exportações de clinquer pela Votorantim Cimentos para o Canadá e Estados Unidos.

Um significativo regulamento implementado nos Estados Unidos e no Canadá, com relação ao controle de emissões atmosféricas, é o que controla a chuva ácida através da redução de emissões de S02. Uma maneira de desulfurização dos efluentes gasosos é por meio da utilização de calcário como um reagente alcalino. Esse mercado tem uma tendência muito grande de crescer, à medida que todas as empresas sejam obrigadas a adaptar suas instalações para atendimentos aos novos regulamentos. A utilização de calcário na redução de emissão de S02 tem um outro reflexo nos minerais industriais que é o crescente volume de gesso “sintético” produzido como subproduto da desulfurização. Somente nos Estados Unidos está prevista uma produção de 5 milhões de t/ano de gesso sintético comercial proveniente da desulfurização, que equivale a mais de três vezes a produção brasileira que em 2004 atingiu 1,47 milhões de t.

A indústria de papel e de celulose vêm sofrendo consideráveis mudanças visando atender às novas exigências determinadas para os efluentes líquidos, onde estão sendo estipuladas: diminuição do DBO, redução/eliminação de descargas de dioxinas e organocloratos, mudança de processo de alcalino para básico e mudança de atitude dos consumidores por papel reciclado. Para atendimento dessas exigências os minerais industriais utilizados nessa industria vem sofrendo vários impactos quanto ao seu consumo. Os minerais utilizados nessa indústria podem ser divididos em três grupos, de acordo com a tendência de crescimento, conforme discriminado no quadro 1.

Considerações finais

Atualmente há um aumento de consciência da necessidade da proteção do meio ambiente, onde o ser humano é o seu mais importante componente. Toda a indústria mineral tem que analisar detalhadamente os problemas relativos à saúde de um modo mais amplo, tanto do lado do trabalhador quanto do consumidor, devendo ter em mente que só quando bem manipulados os minerais são seguros. Essa indústria, e as de transformação que utilizam esses bens minerais, devem ter um cuidado constante com a saúde dos trabalhadores, pois já em 1556, o médico Georgius Agricola constatou doenças pulmonares em mineiros das regiões da Bohemia e da Silésia e as correlacionou com a exposição ao pó de sílica.


José Mário Coelho é Professor do Departamento de Geologia da UFRJ.

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Atualizado em 10/11/2005

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