2005,
o ano de Einstein *
Antônio
Cleves Nunes Oliveira
O
ano de Einstein marca o centenário dos três trabalhos de Einstein
publicados em 1905. Mas, porque toda essa euforia nas universidades e centros
de física ao redor do mundo? O que foram estes trabalhos e que importância
tiveram para o desenvolvimento da física e a tecnologia moderna? São
eles: movimento browniano; o efeito fotoelétrico com o qual Einstein
ganhou seu único prêmio Nobel; e a relatividade especial.
Lembre-se
que Einstein, popularmente conhecido por sua cabeleira branca e a língua
de fora, tinha só 26 anos em 1905. A seguir descrevemos dois desses trabalhos.
Em
1827, o biólogo Robert Brown notou que ao olhar grãos de pólen
em água, através de um microscópio, o pólen ziguezagueava
por todos os lados. Ele chamou esse movimento em ziguezague de “movimento
browniano” em sua homenagem, mas, infelizmente Brown não deu uma
explicação para o efeito em pauta. O primeiro dos três artigos
que Einstein publicou em 1905 finalmente trouxe uma explicação
para o problema de Brown.
Todas
as coisas em volta de nós são feitas de átomos e moléculas.
A idéia de átomos foi introduzida desde os antigos gregos e, um
século antes de Einstein, o grande químico John Dalton sugeriu
que todos as substâncias químicas eram feitas de moléculas
pequeninas invisíveis, as quais por sua vez eram compostas de átomos
menores ainda. O problema foi que não se tinha prova nenhuma de sua existência,
até que Einstein explicou o fenômeno do movimento browniano.
Einstein
imaginou que o ziguezague dos grãos de pólen no movimento browniano
era devido às moléculas de água atingindo os pequenos grãos
de pólen. Os grãos de pólen eram visíveis, mas as
moléculas de água não. Einstein mostrou também que
era possível dizer quantas moléculas atingiam os grãos
de pólen e quão rápido elas se moviam, apenas olhando o
movimento dos grãos de pólen. Importantíssimo mesmo foi
que esse trabalho fez predições acerca das propriedades dos átomos
que podiam ser testadas experimentalmente. O físico francês Jean
Perrin usou essas predições para calcular o tamanho de átomos
e remover qualquer dúvida remanescente sobre a existência dos mesmos.
Na
física do século 20, duas idéias floresceram, totalmente
revolucionárias: a relatividade e a teoria quântica. Embora Einstein
seja mais conhecido por sua teoria da relatividade, ele teve um papel fundamental
no desenvolvimento da teoria quântica. E foi sua contribuição
a essa última, explicando o efeito fotoelétrico, que deu a ele
o Prêmio Nobel em 1921.
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Figura do efeito fotoelétrico |
O
efeito fotoelétrico é o nome dado á observação
de que quando um pedaço de metal é iluminado com luz, uma pequena
corrente elétrica flui através do metal. A luz passa sua energia
aos elétrons, nos átomos do metal, permitindo a eles se moverem
dentro do mesmo, produzindo a corrente. Contudo, nem todas as cores de luz afetam
os metais dessa maneira. Não importa quão brilhante uma luz vermelha
seja, mesmo assim ela não produzirá nenhuma corrente elétrica
em um metal, mas uma luz azul mesmo bem tênue, resultará numa corrente
fluindo no metal. O problema com esse resultado intrigante no que concerne a
essas duas cores, é que ele não pode ser explicado se a luz é
vista do ponto de vista de uma onda. Ondas grandes têm grandes quantidades
de energias enquanto ondas pequenas têm pouca. Portanto, se a luz tem
um caráter ondulatório, seu brilho afeta a quantidade de energia
no sentido de que quanto mais brilhante a luz, maior a onda e mais energia ela
terá. Dessa forma, as diferentes cores da luz são definidas pela
quantidade de energia que elas possuem. Einstein percebeu que a única
maneira de se explicar o efeito fotoelétrico era dizer que a luz, em
vez de ser uma onda, como era geralmente aceito até então, é,
na verdade, feita de muitos pacotes pequenos de energia chamados fótons
que se comportam como partículas. Einstein não foi a primeira
pessoa a usar a idéia de fótons, mas foi o primeiro a usar os
fótons como ponto de partida para uma explicação em vez
de um conveniente “chute” para explicar alguns resultados esquisitos
como o fez Max Planck em 1901 para explicar a análise da intensidade
da luz em função do comprimento de onda da radiação
proveniente de uma cavidade incandescente. Exemplos de utilização
desse efeito fotoelétrico são as portas de elevadores, alarmes
de segurança de bancos, segurança de peças de valores em
exposições e museus etc.
A
explicação de Einstein para o efeito fotoelétrico foi somente
o começo de uma avalanche de descobertas as quais se tornaram a teoria
quântica. Nessa teoria, luz não é somente uma partícula
ou apenas uma onda; ela pode ser tanto uma coisa como a outra, dependendo de
como ela é medida. E foi descoberto mais tarde que mesmo os elétrons
não são apenas partículas (dentro de um tubo de televisão),
mas são também ondas (nos chips de computador e de celulares).
Nos dias atuais, cem anos depois, essa contribuição de Einstein
tem dado à sociedade uma vida cheia de conforto como, por exemplo, os
já citados telefones celulares e computadores, cd-players, palmtops,
localizadores GPS, nanodispositivos (spintrônica), nanosensores para exames
médicos e quem sabe, em um futuro não tão distante, o computador
quântico e o teletransporte de objetos.
Antonio
Cleves Nunes Oliveira é professor titular e diretor do Instituto de Física
da Universidade de Brasília (UnB).
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Este artigo foi publicado originalmente no Jornal da Ciência, em 14 de
fevereiro de 2005.
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