Popularização da Internet no Brasil
   
 

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Apresentado em 31 de janeiro ao Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, o computador popular vem consolidando um desafio feito por volta de setembro de 2000 pelo Ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, ao coordenador do Comitê Gestor da Internet, Ivan Moura Campos. Na época, o Ministro externou sua preocupação em como popularizar o acesso à Internet em escolas públicas, como parte de uma das metas mais ambiciosas do governo: universalizar o uso da Internet no Brasil.

"Lembra daqueles carros financiados, a muito tempo atrás, pela Caixa Econômica Federal; o Pé-de-boi, o Caiçara e o Teimoso, era o Volkswagen, V-Magen e Gordine? Eram uns carros com o mínimo necessário e as pessoas iam fazendo um upgrade e, eles acabavam virando igualzinho um carro normal. Não tem um jeito de fazer um computador assim?"
(Ministro Pimenta da Veiga, ao propor o projeto segundo Ivan Moura Campos)

Dois problemas apresentados no época eram o alto custo das linhas de comunicações e o custo do computador. O primeiro problema foi sanado através do Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) que é responsável por colocar acesso à rede onde não é comercialmente viável. O Fust recebe 1% da receita das empresas de telecomunicações e, neste ano, deverá receber R$1 bilhão, dos quais 50% deverão ser destinados à Educação, e o restante à Saúde Pública e informatização de bibliotecas públicas.

Já o problema do alto custo dos computadores foi levado, pelo próprio Moura Campos - ex-professor do Departamento de Ciências da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - à três professores com Ph.D. em sistemas operacionais, desta universidade, que aceitaram o desafio de produzir um software enxuto, sem perder a funcionalidade requerida, e que contivesse um sistema operacional, um navegador de Internet e mais três programas utilitários - um editor de texto, uma planilha e um editor de transparências (o que equivaleria ao Word, Excel e Power Point do Windows).

Em apenas 40 dias, a equipe do professor Sérgio Vale Aguiar Campos, da UFMG, conseguiu desenvolver um computador com preço reduzido, equivalente a R$600, graças a isenção de impostos e ausência de drives de disquete e CD-Rom. No entanto, os fabricantes deverão deixar a entrada para os drives disponíveis para que o usuário possa acrescentar outras funções. O computador tem ainda memória Flash, de 16 MB, modem de 56KB, monitor de 14 polegadas, mouse, teclado e, embora não consiga gravar arquivos, consegue armazenar o programa Linux (software aberto que permite ao usuário ser livre para executar, distribuir e modificar o programa) acoplado a um navegador de Internet. "A UFMG vai disponibilizar este software e continuar fazendo upgrades (aperfeiçoamentos). O código fonte é aberto e de domínio público, para quem quiser usar", afirmou o coordenador do Comitê Gestor da Internet.

A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) publicou um edital para que as empresas de telefonia encaminhem propostas de elaboração de projetos para a instalação completa de linhas de rede. As empresas Embratel, Telemar, Brasil Telecom e a Telefônica deverão se candidatar. O Fust também está investindo, junto à Anatel, em um projeto que deverá garantir maior velocidade e tarifas mais baixas para usuários da Internet via linha discada, é o chamado 0i00 (leia-se: zero-i-zero-zero). Através de um código fornecido aos seus assinantes, o provedor de acesso terá condições de diferenciar chamadas convencionais daquelas de acesso à Internet. Assim, além de descongestionar as centrais telefônicas, o serviço terá tarifas reduzidas, beneficiando o usuário. O projeto 0i00 também prevê condições especiais de acesso para escolas e hospitais públicos. Ele deverá entrar em operação ainda no primeiro semestre deste ano.

Já entre os investidores interessados em fabricar o computador (hardware) estão a Gradiente e a Samurai (empresa que projetou as urnas eletrônicas para o governo federal), além de representantes da Malásia e da América Latina. Para Ivan Moura Campos, não haverá exclusividade ou contratos com ninguém. "Trata-se de um modelo exportável. Não é apenas o Brasil que precisa desta solução. Isso abre, inclusive, uma perspectiva de produção. Com o projeto, será muito mais fácil atrair os fabricantes de microeletrônica para virem para cá". Ele explicou também que o setor ainda importa a maior parte de seus componentes de microeletrônica. "Com a vinda de fabricantes para o Brasil haverá não apenas um alívio na balança comercial, mas representa, principalmente, uma chance de o país se apropriar do ciclo de inovação tecnológica de um produto", avalia.

Uma vez fechado o acordo com alguma empresa, o governo prevê que até junho de 2001 o computador popular já esteja sendo produzido. "Acho que o governo respondeu de maneira impecável. Primeiro porque foi ele quem fez o desafio, o próprio Ministro Pimenta da Veiga. E depois, as ações conseqüentes mostram o nível de atenção, de interesse e de vontade política que o governo está tendo com o projeto. Eu estou muito esperançoso", revela Moura Campos.

As linhas de crédito serão fornecidas pela Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil ou pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Estima-se que as parcelas do financiamento girem em torno de R$ 20 por mês, o que deverá beneficiar milhões de brasileiros. De acordo com Moura Campos, hoje, apenas cerca de 7% da população brasileira está conectada à Internet, enquanto que nos Estados Unidos são mais de 40% da população. "De acordo com a Network Wizard, o Brasil está em 12º lugar no rank mundial em número de conexão. Até o fim deste ano, nós estaremos em 10º lugar no mundo",diz ele, otimista.

O projeto recebeu financiamento de R$154 mil do Comitê Gestor da Internet. Apesar de parecer pouco para um projeto desta dimensão, serviu para desenvolver o software, pagar pessoal e ainda restou uma parte que deverá ser utilizada para ajustes finais. "Eu conversei com uns amigos americanos sobre os custos de um projeto deste nos Estados Unidos. A primeira resposta foi de que, só de advogado, precisaríamos de uns 500 mil dólares. E depois, mais uns 500 mil para começar", adverte. Para ele, uma vantagem que existe no Brasil é que as pessoas, principalmente no meio acadêmico, ainda são motivadas por entusiasmo e paixão pelo trabalho.

O projeto proposto pela UFMG pode representar, no entanto, uma limitação para aqueles que precisam ir além de consultar uma informação na tela, como frisou o diretor da Rede de Informação do Terceiro Setor (RITS), Carlos Alberto Afonso. "Claro, ele (o computador) permite, com um investimento adicional, incluir discos etc, mas isso, como dizem os ingleses, defeats the purpose (foge da finalidade). Por outro lado este micro pode ser muito útil para implantação maciça a baixo custo de terminais inteligentes de consulta, por exemplo, ligando unidades de saúde de todo país à internet". Segundo Afonso, ainda há uma segunda limitação do equipamento, relativa à limitação da funcionalidade dos programas propostos, já que existe uma memória permanente de 16 MB (um computador tradicional tem cerca de 64 MB de memória).

O diretor do RITS critica o fato da própria Anatel ser baseada em tecnologia Microsoft que exige um navegador Microsoft, fazendo com que várias opções do site não funcionem ou até derrubem navegadores como o Explorer, Opera e Konqueror. "Se o lado da oferta de conteúdo não garante o acesso a partir de tecnologias abertas do lado do usuário, como estender efetivamente o acesso universal com soluções como o micrinho de rede?", questiona.

Leia mais sobre o Computador Popular em notícia publicada pela revista Com Ciência.

UFMG convida toda a comunidade para debater sobre o computador popular

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) promove, nos dias 21 e 22 de março, um debate sobre o projeto do computador popular.
O evento pretende congregar a comunidade envolvida em Linux (empresas, fabricantes de hardware, instituições educacionais, interessados, a própria Conectiva - empresa que distribui Linux no país - e, provavelmente, o Ministro Pimenta da Veiga), para discutir o edital da Anatel e as possibilidades de cooperação entre todos os grupos.
"Trata-se de um projeto daqui para sempre, até aparecer uma idéia melhor do que o Linux. Por isso, a colaboração precisa ser grande, para podermos desenvolver aplicativos e cada vez mais funcionalidade a recipientes de tal forma que tenhamos uma plataforma de domínio público, de graça, para quem quiser fabricar equipamento e colocar este software dentro dela", esclarece o coordenador do Comitê Gestor da Internet, Ivan Moura de Campos.

Com Ciência: O projeto do computador popular pode ser considerado pioneiro?
Ivan Moura Campos: Eu tenho até muito orgulho de falar que nós não somos o único grupo do Brasil capaz de fazer isso. Existem outros grupos nas universidades brasileiras que têm perfeitas condições para isso. Este foi o grupo que surgiu na hora certa, no momento certo. Para poder coordenar o projeto, prestar contas ao ministro e ao Presidente da República, eu, por conveniência pessoal e, também, por se tratar um centro de excelência como a UFMG, escolhi uma equipe daqui, mas poderia ter sido outra.

Com Ciência: Qual a vantagem, para as escolas públicas, de um computador sem disco rígido?
Ivan Moura Campos:
Para que você vai ter um PC com disco, CD-Rom, DVD, disquete etc? Para poder colocar vírus numa rede local de uma escola? Quer dizer, você tem um PC para ser o servidor, mas as máquinas que os alunos usam podem ser todas desta categoria. É muito mais barata e não tem partes móveis. Se estragar, coloca-se outra porque não há o que consertar. A eletrônica não envelhece. A manutenção é mais simples e pode ser feita a distância pelas próprias empresas telefônicas. É irreal imaginar que as escolas terão um especialista em Windows NT".

 

   
           
     

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Atualizado em 10/03/2001

   
     

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