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Conflito
e Cultura a partir da obra de Freud
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Freud: Conflito e Cultura, a polêmica exposição norte-americana, chega ao Brasil neste mês de outubro. Quando montada nos EUA causou uma série de protestos por parte de vários grupos, discordantes ou da obra freudiana, ou da celebração a ele feita pela mostra. Organizada em 1998 pela Biblioteca do Congresso de Washington, detentora do maior acervo sobre Freud em todo o mundo, a mostra traz para o Brasil mais de 140 peças, entre livros, documentos e objetos pessoais. Inclui ainda mesmo uma réplica do divã - o original não sai do Museu Freud de Londres -, além de outros móveis de seu consultório e antiguidades.
A chegada da exposição ao Brasil coincide com os 100 anos da A Interpretação dos Sonhos, obra tida por muitos como marco inicial da teoria psicanalítica. Também neste ano são comemorados os 101 anos do aniversário de Durval Marcondes, um dos primeiros médicos a estudar a teoria freudiana no Brasil. Dividida em três blocos: Os anos de formação, contendo a biografia de Freud, com ênfase em alguns a marcos da vida pessoal e profissional; O indivíduo: terapia e teoria, tratando da evolução dos principais conceitos; Do indivíduo à sociedade, sua expansão para o campo social e cultural; a mostra Conflito e Cultura levantou protestos nos EUA desde seu planejamento, em 1995.
Segundo os críticos, estariam sendo usados dinheiro e edifícos públicos para fazer uma apologia a Freud, sem dar espaço às contestações. A pressão feita através de um abaixo-assinado - realizado por um grupo de 50 intelectuais, entre psiquiatras, historiadores e líderes feministas - provocou o adiamento e a transformação do objetivo da mostra. Com isso, ela passou também a investigar a influência de Freud e da psicanálise no século XX, e como a herança do pensamento freudiano é contestada. Assim foram incluídos no catálogo artigos de críticos de Freud, como os filósofos Frank Cioffi e Arnold Grünbaum, da psicanalista Muriel Dimen - sobre a "Relação paradoxal entre psicanálise e feminismo" - e do neurologista Oliver Sacks, que também participou do abaixo-assinado. Foram incluídas ainda vitrines com comentários de L. Wittgenstein (1942) e J.M. Cattel (1926), ambos contrários à psicanálise, além de um painel na entrada com a seguinte pergunta: "Ele foi um cientista, um escritor, um gênio ou uma fraude?". Segundo Michael Roth, curador da exposição e organizador da coletânea de ensaios que leva o nome da mostra (veja resenha), procurou-se questionar o que as pessoas tem como garantido e não convencê-las. O impacto de Freud nos norte-americanos Os Estados Unidos são ao mesmo tempo o país onde as teorias de Freud tiveram uma maior penetração na cultura e também onde surgiram as críticas mais sérias à sua obra. O artigo de Edith Kurzweil, também no livro Freud: Conflito e Cultura, "A receptividade da psicanálise nos Estados Unidos", relata como esta chegou em duas etapas, a primeira quando Freud visita a Universidade Clark, Massachussets, em 1909 - ocasião em que o próprio Freud disse que trazia a "peste" aos Estados Unidos - e a segunda quando os psicanalistas europeus migram fugindo da guerra em 1940. Na segunda década de 1900 formaram-se várias organizações filiadas à IPA (International Psichoanalytical Association, criada por Freud e 42 colaboradores em 1910). Contudo, segundo a autora, na América, não foram realizadas muitas pesquisas clínicas e teóricas, mas, paradoxalmente, só nos Estados Unidos a psicanálise teve um impacto geral na cultura, sendo incorporada e popularizada. Segundo o prório Freud, eles se contentaram depressa demais com as aparências superficiais e chegaram com excessiva facilidade a verdades que outros lutaram por descobrir. Com isso, analistas médicos sentiram necessidade de guardar distância dos praticantes populares, os "leigos", mantendo-os fora de suas organizações e ignorando as regras da IPA, contrárias a essa segregação. Para Kurtzweil, "a receptividade dada à psicanálise passou por muitas fases, acompanhando as mudanças ocorridas na cultura, os grandes avanços nas terapias medicamentosas e comportamentais e os progressos do saber psicanalítico". Sempre houve tensões e mal-entendidos, entre os psicanalistas e o meio intelectual e cultural. Só em 1995, a partir de um processo movido pelos psicólogos norte-americanos, estes puderam ser aceitos como membros qualificados na APA (American Psichoanalytical Association). Conflito e Cultura no Masp No Brasil, a exposição Freud: Conflito e Cultura, também teve dificuldades para sua inauguração, que não foram, entretanto, causadas por protestos. Programada inicialmente para 26 de setembro, no Museu de Arte de São Paulo (Masp), foi adiada para 9 de outubro devido ao extravio de parte dos objetos para a Jamaica. O fato foi chamado por Leopoldo Nosek, psicanalista e curador da mostra no Brasil, de um "ato falho" - referência irônica a um termo da psicanálise. O comentário aconteceu durante o Simpósio Inaugural da mostra, realizado de 29 de setembro a 1 de outubro no auditório do Masp. Outros simpósios ocorrerão no Masp paralelamente à mostra, como instrumento de reflexão e debate do legado freudiano. Entre eles, o intitulado Brasil: Psicanálise e Modernismo, terá uma exposição de mesmo nome organizada em São Paulo por um grupo de psicanalistas e intelectuais, como contraponto à mostra norte-americana. |
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Atualizado em 10/10/2000 |
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