Conflito e Cultura a partir da obra de Freud
   
 
Poema
Conflito e cultura
Freud na cultura brasileira
Cronologia

Fim do séc. XIX: efervescência científica
 
O que é psicanálise
Maurício Knobel

 

Sonho, o despertar de um sonho
Fabio Herrmann
 
Freud e Jung: a cisão com o príncipe herdeiro
Ulisses Capozoli
 
Freud e Lacan
Marcia Szajnbok
 
Freud e Reich: duas matrizes
André Valente de Barros Barreto
 
A psicanálise no Brasil
Luiz Carlos Uchôa Junqueira Filho
 
Cartas freudianas
Mariza Corrêa
 
Psquiatria psicanalítica
Sílvio Saidemberg
 
Do começo ao fim
Daniel Delouya
 
Psicanálise e arte
Giovanna Bartucci
 
Coincidência ou Freud explica?
Carlos Vogt
 

Pré-história do sonho
Yannick Ripa

Homenagem a Hélio Pellegrino
Miriam Chnaiderman

 

Freud: Conflito e Cultura, a polêmica exposição norte-americana, chega ao Brasil neste mês de outubro. Quando montada nos EUA causou uma série de protestos por parte de vários grupos, discordantes ou da obra freudiana, ou da celebração a ele feita pela mostra. Organizada em 1998 pela Biblioteca do Congresso de Washington, detentora do maior acervo sobre Freud em todo o mundo, a mostra traz para o Brasil mais de 140 peças, entre livros, documentos e objetos pessoais. Inclui ainda mesmo uma réplica do divã - o original não sai do Museu Freud de Londres -, além de outros móveis de seu consultório e antiguidades.

O divã que Freud utilizava em seu consultório, na Berggasse 19, não sai do Museu Freud, em Londres.

A chegada da exposição ao Brasil coincide com os 100 anos da A Interpretação dos Sonhos, obra tida por muitos como marco inicial da teoria psicanalítica. Também neste ano são comemorados os 101 anos do aniversário de Durval Marcondes, um dos primeiros médicos a estudar a teoria freudiana no Brasil.

Dividida em três blocos: Os anos de formação, contendo a biografia de Freud, com ênfase em alguns a marcos da vida pessoal e profissional; O indivíduo: terapia e teoria, tratando da evolução dos principais conceitos; Do indivíduo à sociedade, sua expansão para o campo social e cultural; a mostra Conflito e Cultura levantou protestos nos EUA desde seu planejamento, em 1995.

Freud era um grande colecionador de antiguidades. Algumas dessas peças fazem parte da exposição.

Segundo os críticos, estariam sendo usados dinheiro e edifícos públicos para fazer uma apologia a Freud, sem dar espaço às contestações. A pressão feita através de um abaixo-assinado - realizado por um grupo de 50 intelectuais, entre psiquiatras, historiadores e líderes feministas - provocou o adiamento e a transformação do objetivo da mostra. Com isso, ela passou também a investigar a influência de Freud e da psicanálise no século XX, e como a herança do pensamento freudiano é contestada.

Assim foram incluídos no catálogo artigos de críticos de Freud, como os filósofos Frank Cioffi e Arnold Grünbaum, da psicanalista Muriel Dimen - sobre a "Relação paradoxal entre psicanálise e feminismo" - e do neurologista Oliver Sacks, que também participou do abaixo-assinado. Foram incluídas ainda vitrines com comentários de L. Wittgenstein (1942) e J.M. Cattel (1926), ambos contrários à psicanálise, além de um painel na entrada com a seguinte pergunta: "Ele foi um cientista, um escritor, um gênio ou uma fraude?". Segundo Michael Roth, curador da exposição e organizador da coletânea de ensaios que leva o nome da mostra (veja resenha), procurou-se questionar o que as pessoas tem como garantido e não convencê-las.

O impacto de Freud nos norte-americanos

Os Estados Unidos são ao mesmo tempo o país onde as teorias de Freud tiveram uma maior penetração na cultura e também onde surgiram as críticas mais sérias à sua obra. O artigo de Edith Kurzweil, também no livro Freud: Conflito e Cultura, "A receptividade da psicanálise nos Estados Unidos", relata como esta chegou em duas etapas, a primeira quando Freud visita a Universidade Clark, Massachussets, em 1909 - ocasião em que o próprio Freud disse que trazia a "peste" aos Estados Unidos - e a segunda quando os psicanalistas europeus migram fugindo da guerra em 1940. Na segunda década de 1900 formaram-se várias organizações filiadas à IPA (International Psichoanalytical Association, criada por Freud e 42 colaboradores em 1910). Contudo, segundo a autora, na América, não foram realizadas muitas pesquisas clínicas e teóricas, mas, paradoxalmente, só nos Estados Unidos a psicanálise teve um impacto geral na cultura, sendo incorporada e popularizada. Segundo o prório Freud, eles se contentaram depressa demais com as aparências superficiais e chegaram com excessiva facilidade a verdades que outros lutaram por descobrir.

Com isso, analistas médicos sentiram necessidade de guardar distância dos praticantes populares, os "leigos", mantendo-os fora de suas organizações e ignorando as regras da IPA, contrárias a essa segregação.

Para Kurtzweil, "a receptividade dada à psicanálise passou por muitas fases, acompanhando as mudanças ocorridas na cultura, os grandes avanços nas terapias medicamentosas e comportamentais e os progressos do saber psicanalítico". Sempre houve tensões e mal-entendidos, entre os psicanalistas e o meio intelectual e cultural. Só em 1995, a partir de um processo movido pelos psicólogos norte-americanos, estes puderam ser aceitos como membros qualificados na APA (American Psichoanalytical Association).

Conflito e Cultura no Masp

No Brasil, a exposição Freud: Conflito e Cultura, também teve dificuldades para sua inauguração, que não foram, entretanto, causadas por protestos. Programada inicialmente para 26 de setembro, no Museu de Arte de São Paulo (Masp), foi adiada para 9 de outubro devido ao extravio de parte dos objetos para a Jamaica. O fato foi chamado por Leopoldo Nosek, psicanalista e curador da mostra no Brasil, de um "ato falho" - referência irônica a um termo da psicanálise. O comentário aconteceu durante o Simpósio Inaugural da mostra, realizado de 29 de setembro a 1 de outubro no auditório do Masp.

Outros simpósios ocorrerão no Masp paralelamente à mostra, como instrumento de reflexão e debate do legado freudiano. Entre eles, o intitulado Brasil: Psicanálise e Modernismo, terá uma exposição de mesmo nome organizada em São Paulo por um grupo de psicanalistas e intelectuais, como contraponto à mostra norte-americana.

   
           
     

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Atualizado em 10/10/2000

   
     

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